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GLOSSÁRIO

2. DAS TEORIAS TRADICIONAIS ÀS TEORIAS MAIS RECENTES DE DESENVOLVIMENTO LOCAL E REGIONAL: UMA BREVE CRONOLOGIA

2.4 A NOVA GEOGRAFIA ECONÓMICA (NGE)

Os desequilíbrios regionais são explicados de diferentes formas, em diferentes teorias. Algumas teorias, como as clássicas, colocam como sendo a distribuição desigual dos recursos naturais uma das explicações dos desequilíbrios. Autores como Ottaviano & Thisse (2004) concordam que essa é a “primeira natureza” das escolhas locacionais dos agentes económicos, mas que tem um poder de explicação muito limitado sobre os desequilíbrios. Para esses autores, são os fatores da “segunda natureza”, que conseguem dar melhores explicações. A segunda natureza são forças económicas, são as ações dos seres humanos, dos agentes económicos, que após controlar a primeira decidem onde se localizar, explicando em parte os desequilíbrios económicos regionais. Entender essa dinâmica é um dos objetivos da geografia económica.

Fujita e Krugman (2004) explicam que a NGE produziu três classes de modelos: (i) regionais, conhecidos como “centro-periferia”; (ii) de sistemas urbanos e (iii) internacionais. Apesar de parecerem diferentes, a lógica de construção dos modelos é a mesma, havendo apenas algumas variações entre eles. A diferença entre o modelo centro-periferia e o de sistemas urbanos é que a primeira considera apenas duas cidades (ou regiões) e observa a dinâmica (forças de atração e repulsão) entre elas. No segundo, há n cidades e o objetivo é identificar qual a evolução em termos do tamanho e da distância entre as cidades, de modo que seja possível visualizar vários centros e várias periferias – o sistema urbano. A diferença entre estes dois modelos e o último é a mobilidade dos fatores, essencial para explicar a aglomeração nos dois primeiros modelos. O terceiro modelo procura explicar a especialização produtiva e o comércio internacional e, para isto, considera que os fatores produtivos são imóveis – não há migração, por exemplo. Neste caso, a localização (concentrada) do setor intermediário de bens manufaturados é a chave para explicar a aglomeração (SOUZA & PORTO JR., 2009, pg. 3).

2 Das teorias tradicionais às teorias mais recentes de desenvolvimento local e regional: uma breve cronologia

É necessário ressaltar que a nova geografia económica tem sua base teórica sustentada por três autores principais, quais sejam: Fujita (1988), Krugman (1991) e Venables (1996). Parte dos modelos da NGE supõe a existem de dois setores, o setor “tradicional” e o “moderno”. O setor “moderno” foi o setor industrial durante a revolução industrial e isso explicou a concentração geográfica da indústria que gerou uma demanda adicional de produtos manufaturados em muitos lugares. O final do século XX e o século XXI marcam a passagem do setor moderno para o setor de serviços. Agora as empresas não só fornecem aos consumidores e empresas industriais, mas também fornecem serviços/produtos umas às outras. A tendência para a aglomeração continua a ser reforçada pelo fato de que os serviços de negócios tendem a trabalhar mais e mais para a sede e laboratórios de pesquisa das empresas industriais, que permanecem em sua maioria localizada em grandes aglomerações urbanas.

Os conceitos por trás das teorias da NGE são simples e buscam explicar um novo período da história económica do último quartel do século XX, onde as trocas de produtos manufaturados de uma região pelos produtos manufaturados de outra região se tornaram ainda mais intensas, e também correspondem à imensa maioria das trocas mundiais, tendo estas, logicamente, um aumento tanto em quantum como preço e sendo essas realizadas maioritariamente no comércio internacional entre os países desenvolvidos. Essas trocas são explicadas basicamente pelo padrão de aglomeração (...) e a pela necessidade de consumo diversificado dos mercados sofisticados dos países desenvolvidos (COELHO, 2013, pg. 68).

Conforme ressalta Coelho (2013), dos três autores mencionados anteriormente são as obras de Paul Krugman, prêmio Nobel de economia em 2008, com o livro Geography and

trade (1991), o artigo Increasing returns and economic-geography (1991) e os livros Development, geography, and economic theory (1995) e, de forma mais consolidada e

ampliada, The spatial economy: cities, regions and international trade (1999), que dão mais sustentação à NGE.

Cinco características principais resumem os fatores principais que levaram a NEG a tentar explicar melhor e desenvolver uma teoria que desse conta de envolver todos esses fatores.

(I) the economic space is the outcome of a trade-off between various forms of increasing returns and different types of mobility costs; (II) price competition, high transport costs and land use foster the dispersion of production and consumption; therefore (III) firms are likely to cluster within large metropolitan areas when they sell differentiated products and transport costs are low; (IV) cities provide a wide array of final goods and specialized labor markets that make them attractive to consumers/workers; and (V) agglomerations are the outcome of cumulative processes involving both the supply and demand sides (OTTAVIANO & THISSE, 2004, p. 2576).

Reestruturação produtiva e desenvolvimento local - o caso do Município de Toledo, Estado do Paraná, Brasil

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A Figura 15 esquematiza as principais características da Nova Geografia Económica (NGE) segundo Fujita, Krugman e Venables e foi sintetizada por Ottaviano & Thisse (2004). As características mostram que o espaço económico deve ser analisado como o resultado da interação entre as forças de aglomeração (centrípetas) e dispersão (centrífugas). As forças centrípetas são todos os elementos que impulsionam a formação de aglomerações e forças centrífugas são as que favorecem a dispersão da atividade económica.

Figura 15 - Características da NEG segundo Fujita, Krugman e Venables

Fonte: Ottaviano & Thisse (2004, p. 2568).

A Tabela 1 apresenta um resumo das forças centrífugas e centrípetas apontadas na literatura em geral. Dos fatores apresentados, a NGE trabalha apenas com as ligações do lado das forças centrípetas, e com a imobilidade dos fatores do lado das forças centrífugas. Por outro lado, os custos de aluguéis, comutação e congestionamento, típico dos modelos da economia urbana, também têm aparecido em diversos modelos da NGE.

Tabela 1 - Forças que afetam a concentração e a dispersão geográfica segundo a NGE

FORÇAS CENTRÍPETAS FORÇAS CENTRÍFUGAS

Ligações para frente e para trás Imobilidade dos fatores de produção

Mercados de trabalho densos e especializados Aluguéis e comutação

Transbordamentos de conhecimento Custos de congestionamento

2 Das teorias tradicionais às teorias mais recentes de desenvolvimento local e regional: uma breve cronologia

É preciso ressaltar que as aglomerações tornam-se espaços privilegiados, pela sua capacidade de geração de riqueza superior aos lugares em que o setor de manufaturas está disperso. Isto ocorre porque nesses espaços há mais oportunidades de ampliar economias de escala (SOUZA & PORTO JR., 2009).

O certo é que, conforme apontam Souza & Porto Jr. (2009), o objetivo principal da NGE é explicar a formação das aglomerações económicas no espaço geográfico, discutindo sobre as decisões dos agentes económicos (em termos microeconómicos) a fim de explicar o que forma a estrutura geográfica de uma região e porque ela se forma. Uma das respostas está em se considerar que esta estrutura é o resultado da tensão de forças que atraem e repulsam a atividade económica.

Pontes & Salvador (2009) afirmam que, apesar do avanço em se incluir o espaço na análise sobre a distribuição das atividades económicas, ainda existem desafios a serem ultrapassados para que a NGE seja mais aplicável às políticas públicas. Tem-se dado pouca atenção às implicações políticas destas análises, em especial no que respeita aos efeitos nas grandes aglomerações das políticas comerciais e de transportes. Um modelo da NGE poderia complementar eficazmente a tradicional análise custo-benefício na análise de projetos de infraestrutura, por exemplo.

2.5 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O CAPÍTULO

Percebeu-se a diversidade de teorias que foram desenvolvidas de forma a descrever as diferentes formas de dinamismo das regiões consideradas em desenvolvimento ou com um desempenho socioeconómico positivo. A ideia neste trabalho não é escolher ou definir uma ou outra teoria como sendo a mais adequada para as análises do território em estudo. Pelo contrário, existem características que são positivas em todas as teorias e que podem, desde que se enquadrando nas especificidades regionais, ser uma alternativa de desenvolvimento. Por isso, pretende-se através da análise do desempenho do município de Toledo, verificar se o seu dinamismo corresponde ao esperado por alguma das teorias apresentadas, ou se possui uma performance particular.

Ao mesmo tempo, é preciso ressaltar que praticamente todas essas teorias foram desenvolvidas tomando-se como objeto de estudo regiões localizadas em países centrais. É neste contexto que Diniz, Santos & Crocco (2006) afirmam que nas regiões periféricas não se encontram as mesmas características que nos países centrais, sendo as principais diferenças:

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um espaço social baseado em relações sociais frágeis dificultando a interação entre os agentes e a inovação entre eles; em vez de ocorrer um processo de “learning inovativo” é mais fácil ocorrer um processo de “learning produtivo”, ou seja, lógica essencialmente produtiva no desenvolvimento das capacitações tecnológicas; restrita dimensão da densidade urbana e áreas de mercado, dificultando o surgimento e criação de atividades industriais e de serviços complementares à sua especialização produtiva; e entorno de subsistência. Mas serão estes fatores pertencentes à realidade de Toledo?

Também é preciso ressaltar que não se entende desenvolvimento como crescimento ou como industrialização. Não acredita-se que a industrialização seja um meio de desenvolvimento, mas sim, possa ser uma barreira que a região deve superar com relação à possibilidade de agregação de valor e criação de cadeias produtivas locais, estimulando positivamente os setores a montante e a jusante do sistema produtivo. A agregação de valor no setor industrial não precisa necessariamente ser realizada somente com grandes empresas.

Por que uma região não pode ter um conjunto de empresas pequenas e médias, que interagem entre si, que sejam inovadoras, que se preocupem em demandar matérias-primas da região e, ao mesmo tempo, que tenham interesse em ter uma grande região de abrangência, e ao mesmo tempo a região ter grandes empresas, de capital externo ou endógeno, competitivas, com grande investimento em P&D, e com grande capacidade de multiplicação local?! Acredita-se que possam coexistir todas essas realidades num mesmo “meio” e ainda assim, serem inovadoras, e constituam um bom ambiente para todas. Toda região tem uma especificidade e é esta característica que pode ser o motor do seu desenvolvimento.

E neste contexto, concorda-se com a afirmação de BRASIL (2008a) e em sua definição de desenvolvimento regional:

O desenvolvimento, entendido como processo multifacetado de intensa transformação estrutural, resulta de variadas e complexas interações sociais que buscam o alargamento do horizonte de possibilidades de determinada sociedade. Deve promover a ativação de recursos materiais e simbólicos e a mobilização de sujeitos sociais e políticos, buscando ampliar o campo de ação da coletividade, aumentando sua autodeterminação e liberdade de decisão. Nesse sentido, o verdadeiro desenvolvimento exige envolvimento e legitimação de ações que promovem ruturas e, portanto, envolve tensão, eleição de alternativas e construção de trajetórias históricas, com horizontes temporais de curto, médio e longo prazo. A construção social e política de trajetórias sustentadas de desenvolvimento deve promover a inclusão de parcelas crescentes das populações marginalizadas, a incorporação sistemática dos frutos do progresso técnico, a endogeneização dos centros decisórios mais importantes e atenção permanente para as condições da sustentabilidade ambiental, dentre outros elementos (BRASIL, 2008a, p. 21).

A interação entre os atores e agentes locais pode-se dar de várias formas como mostraram as várias teorias. O certo é que, pensando nas características da globalização onde

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as comunicações encurtaram distâncias e a competitividade é mais acirrada, as especificidades locais devem ser incentivadas e utilizadas como fator de diferenciação no mercado. A história local, a aprendizagem associada à estrutura de produção e consolidada historicamente, acumula um conhecimento através das experiências de produção desta estrutura que devem ser utilizadas pelos agentes locais como intensificadores desta diferenciação.

O modelo ou teoria de desenvolvimento a ser seguido deve adequar-se ao território, pois as especificidades locais resultam também numa diferenciação entre todas as regiões. Por isso é importante ações específicas, sob medida, mesmo que essas ações sejam variações de conjuntos consagrados de instrumentos de apoio e de desenvolvimento e, por isso, a importância em se conhecer todas elas. Neste sentido, os próximos capítulos detalharão os diferentes modelos de produção e, em seguida, as políticas públicas associadas aos mesmos, ambos a partir do século XX, não somente para os países desenvolvidos como também para o Brasil.

3. AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS DIFERENTES MODELOS DE