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DO PÓS-GUERRA ATÉ À CRISE DE RENTABILIDADE DOS ANOS 1970: ASCENSÃO E QUEDA DO FORDISMO

GLOSSÁRIO

3. AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS DIFERENTES MODELOS DE PRODUÇÃO

3.2 DO PÓS-GUERRA ATÉ À CRISE DE RENTABILIDADE DOS ANOS 1970: ASCENSÃO E QUEDA DO FORDISMO

No ano de 1913, aproximadamente, começa-se a delinear o início de outro modelo de produção, a era do Fordismo, na qual a mudança tecnológica foi ainda mais intensa e que se afirmou enfaticamente após a segunda grande guerra. A modificação da base energética, o descobrimento do motor de combustão, dos meios de comunicação (telefone, radio, televisão, etc.) foram mudanças tecnológicas importantes que afetaram substancialmente o sistema

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produtivo. Grandes inversões de capital eram necessárias para pôr em funcionamento os grandes centros produtivos e obter economias de escala associadas à produção em massa, o que favoreceu uma concentração empresarial cada vez maior e a formação de monopólio/oligopólios em vários setores. A grande empresa foi a solução aos problemas organizativos gerados pelo surgimento da tecnologia de produção em série, deixando cada vez mais subordinadas as pequenas empresas (MÉNDEZ, 1997).

Segundo Matteo (2011), o Fordismo pode ser analisado segundo três pontos de vista principais: primeiro, como princípio organizador do trabalho (paradigma industrial), o Fordismo é Taylorismo com mecanização; segundo, como estrutura macroeconómica (ou regime de acumulação), o Fordismo implica que os ganhos de produtividade resultantes dos princípios de organização adotados tenham uma contrapartida no aumento dos investimentos provenientes dos lucros e do aumento do poder de compra dos trabalhadores assalariados; e terceiro, como um sistema de regras (ou modo de regulação), o Fordismo implica um contrato de longo prazo nas relações salariais.

Conforme ressalta Gorender (1997), a produção em regime Fordista foi implantada inicialmente nos Estados Unidos, e não migrou para outro país até ao segundo pós-guerra. Durante este período, a demanda interna norte-americana revelou-se insuficiente para o volume da produção Fordista, o que ficou evidente ao eclodir a crise económica em 1929, dando início à Grande Depressão. A superprodução indicava os limites impostos pelas dimensões do mercado.

Assim, o Capitalismo Monopolista, ou o modelo Fordista de produção, assumiu diferentes características no período de 1930 a 1970. Entre estas podem-se citar as que se referem às componentes organizativas, produtivas, tecnológicas, de mercado e nas expressões territoriais. De forma sintética, estas características estão listadas no Quadro 3.

Quando se observa o regime de acumulação predominante, percebe-se que a produção era em massa e envolvia uma grande polarização entre trabalhadores qualificados e não qualificados. Além disso, havia uma crescente mecanização que se refletia em altos índices de produtividade e com consequente aumento no volume de bens de capital por trabalhador. Aumentos de salários, que resultavam em aumentos de produtividade, e garantia da demanda (em massa) da produção eram aspetos essenciais para a manutenção de todo o sistema de produção. Com isso, assegurava-se uma estabilidade dos lucros das empresas, que conseguiam utilizar a plena capacidade de produção e propiciavam o pleno emprego dos meios de produção da economia.

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Quadro 3 - Principais características do modelo Fordista de produção

Sistema Capitalista Características

Capitalismo Monopolista / Modelo Fordista (Pós 1930)

Recursos produtivos - Novos setores motrizes: automóveis, metalmecânica, química, material elétrico, petroquímico; - Incorporação de inovações no processo produtivo.

Regime de acumulação

- Produção em larga escala de bens de consumo duráveis; - O ritmo de trabalho é de controle da máquina; - Aumento da divisão social do trabalho; - Aumento dos níveis de produtividade; - Integração de todas as fases de produção; - Economias externas e de escala;

- Quanto à distribuição do valor produzido – no que se refere às classes: salários por produtividade, ganhos de capital financeiro; quanto aos grupos sociais: importância de organizações profissionais e agentes públicos; quanto às funções públicas: foco na infraestrutura física e social, proteção social; - Aumento do tamanho médio das fábricas.

Modo de regulação

- Avanços no Estado de Bem-estar e do Estado Providência; - Crescente intervenção estatal;

- Regulamentação do mercado de trabalho;

- Relações de trabalho assalariado – compensação salarial por ganhos de produtividade, negociação coletiva, proteção social, papel do Estado;

- Concorrência – monopolista, regulada pelo Estado e por acordos internacionais;

- Formas de regulação estatal – despesa pública para estabilidade económica e política anticíclica de redistribuição de lucros e bem-estar, mecanismos de regulação de mercado, participação em negociações internacionais e regulação;

- Integração no regime internacional de livre comércio e no sistema monetário de Bretton Woods (taxas de câmbio fixas, Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial etc.).

Organização espacial da indústria

- Crescimento em número e em dimensão de grandes grupos económicos (concentração do capital e da produção);

- Grande mecanização e automação, linhas de montagem e equipamentos de fabricação não flexíveis; - Áreas urbanas e industriais são as localizações preferenciais: hierarquia de regiões e cidades; - Nova divisão internacional do trabalho: fábricas para o mercado mundial.

Fonte: Méndez & Caravaca (1999), Marques da Costa (1992), Matteo (2011).

Quanto ao regime de regulação, Theis & Keiser (1998) acrescentam que o Fordismo assegurou aos trabalhadores um sistema de garantias de benefícios, tais como salários ou o Estado de bem-estar (Welfare State), sempre em forma monetária, permitindo acesso aos bens e serviços produzidos pela economia. O sistema também garantia uma economia de pleno emprego e de consumo em massa, que eram objetivos do progresso técnico e do crescimento económico, sendo o Estado, em suas ações, orientado para a consecução destes objetivos.

Essa característica é reforçada por Marques da Costa (1992) que afirma que o aumento salarial sustentava os níveis de procura elevados e acompanhava os crescentes níveis de oferta/produção promovendo o aumento do consumo e a diferenciação da estrutura da procura desses mesmos bens. Simultaneamente, e este foi um elemento marcante do Fordismo, o Estado desempenhava um duplo papel principalmente nas áreas económica e social:

- O Estado Providência: era responsável por manter o pleno emprego, aumentar o rendimento, prestar serviços públicos e aumentar a produção nacional. Assim, com o aumento

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de despesas às famílias e às empresas, alterava-se a estrutura das despesas em serviços e investimentos em capital social.

- O Estado “regulador”: aumentava-se a tributação, no controle dos mercados de trabalho, de recursos e de produtos, ao nível nacional e internacional, a partir da definição de pautas aduaneiras regulamentando os mercados.7

Outra característica deste modelo era que, ao contrário do modelo anterior onde o ritmo de trabalho era de controle humano, este passava a ser controlado pela máquina. Como consequência houve um aumento de produtividade do trabalho e uma redução dos custos de produção, gerando elevadas taxas de lucros. Além disso, a integração produtiva vertical e o aumento do uso de tecnologias que se fez associado à incorporação de inovações no processo produtivo também caracterizaram este período.

Foi precisamente a modificação do sistema de produção e de consumo caracterizado pelo crescimento em dimensão e número de grandes grupos económicos, com consequente concentração do capital e da produção e a afirmação da produção em massa de bens de consumo duráveis amparada por uma demanda elevada que ajudaram os países centrais na recuperação da crise dos anos 1930. A concentração do capital era, conforme afirma Matteo (2011), refletida numa hierarquização dos territórios, materializada por cidades de grande dimensão (em muitos casos formando áreas metropolitanas) e cuja atividade económica principal se concentrava na indústria e na grande empresa, com produção em massa.

Conforme ressalta Ferraz (1999), no Fordismo, principalmente entre as décadas de 1950/60, o avanço tecnológico e o investimento em pesquisa e desenvolvimento alcançaram níveis nunca antes imaginados. Ao mesmo tempo, a consolidação do sistema de produção Fordista em escala mundial revelava, de forma germinal, os elementos de uma nova revolução científico-industrial como a microeletrónica, o uso generalizado de produtos gerados pela química fina, bem como uma explosão da produção e consumo de bens eletroeletrónicos e de automóveis.

Uma consequência do crescente uso de tecnologias durante o Fordismo foi a libertação de mão de obra que migrou para o setor terciário à procura de empregos, principalmente nas novas atividades direta ou indiretamente ligadas à produção e ao consumo. Nesta fase, as indústrias químicas, a fabricação de alguns componentes eletrónicos e ramos

7 Essas regulamentações estarão sustentadas no General Agreement on Tariffs and Trade (GATT), de 1947. O

GATT foi estabelecido a partir de 30 de outubro de 1947 e formulou as bases institucionais de regulação do comércio no pós-guerra, e reforçada mais adiante com a criação, em 1994, da Organização Mundial de Comércio (OMC) que representou um avanço em termos de poder de atuação em relação ao GATT. Maiores detalhes ver Braun (2003).

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mais tradicionais como o agroalimentar, o têxtil e bens de consumo correntes, formavam a base do sistema produtivo de muitas regiões.

O crescimento económico no modelo Fordista ocorreu de duas formas. A primeira, mais “explosiva”, através do sistema produtivo com a introdução de novas técnicas de produção e pelo aumento do investimento. A segunda, de “expansão”, reflexo do aumento salarial e do consumo de massa.

É neste contexto que, em termos de organização espacial das indústrias se deve distinguir e ressaltar duas escalas de análise importantes, que são confirmadas por Ferrão (1987):

- Na escala nacional: a nova organização da produção concentra-se preferencialmente nas áreas urbanas, e principalmente nas mais industrializadas, onde estão associadas às economias de aglomeração e de urbanização. Ao nível das empresas aumentam as economias externas e de escala. Perdem importância os fatores de localização tradicionais como a proximidade aos inputs de produção ou energia e ganham importância as novas condições de produção e de troca. Nos grandes centros urbanos, a indústria perde em favor do setor terciário.

- Na escala internacional: essas transformações ocorrem prioritariamente nos países capitalistas mais desenvolvidos, com destaques para a Europa (do Norte) e a América do Norte, em detrimento dos restantes países periféricos. Porém, os territórios “marginais” começam a “beneficiar” deste processo desde logo pois a crescente inserção na economia processa-se fundamentalmente a partir da circulação de mercadorias, mas sem verificar significativas transformações locais nestas regiões.

No caso da Europa, nos anos 1950 o Fordismo foi particularmente intenso nas grandes aglomerações que formavam os principais centros de produção de bens e serviços, que concentravam emprego e capital e que atraíam população das áreas rurais, principalmente na Europa Ocidental (França, Reino Unido e Alemanha). Na década de 1960 esse dinamismo permaneceu na Europa Central e do Norte. Em ambos os períodos, as cidades cresciam para além dos seus limites tradicionais em direção a uma periferia que desenvolvia a função residencial e industrial, enquanto as áreas centrais polarizavam as funções de nível hierárquico superior (MARQUES DA COSTA, 2000).

A autora acrescenta ainda que a tentativa das empresas em reduzir os custos de produção fez com que muitas transferissem fases do processo produtivo para regiões do interior dos países onde existisse mão de obra com custos salariais inferiores. No geral, eram pequenas e médias cidades localizadas em regiões não metropolitanas que recebiam empresas

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filiais intensivas em trabalho e que absorviam, principalmente, mão de obra de origem rural. Muitas vezes o deslocamento destas empresas era incentivado por políticas de desconcentração demográfica e de atividades formadas pela concessão de vantagens fiscais inspiradas na teoria dos polos de crescimento.

Essa argumentação é confirmada por Lipetz (1989) que ressalta o fato de que a produtividade no modelo Fordista estava estritamente associada ao crescimento dos mercados, e, consequente ao aumento de séries e de escalas de produção. Assim, as trocas internacionais possibilitavam novos ganhos de produtividade, por meio da centralização do capital, através de uma interdependência entre as economias desenvolvidas. A expansão de empresas Fordistas para a “periferia” mais próxima (no caso europeu para a Europa do Sul, Portugal e Espanha, e Europa do Leste, Polônia, Romênia) estava associada à procura de salários mais baixos e à ampliação dos mercados, inclusive com o intuito de se estabelecer em países protegidos por barreiras alfandegárias fortes.

O mesmo autor acrescenta que as empresas Fordistas distribuíam-se conforme a região de destino pudesse ofertar o fator de produção mais apropriado ao processo de trabalho. O processo de trabalho estava dividido em três níveis, com exigências distintas: um primeiro nível de conceção, organização de métodos e de engenharia que tende a ficar no local de origem da empresa (que geralmente são os maiores centros dos países centrais); um segundo nível, o da produção qualificada, que requer uma mão de obra mais adequada e qualificada, que tende a se deslocalizar para antigas regiões industriais; e um terceiro nível de execução e de montagem desqualificadas, que é suportada por uma mão de obra pouco qualificada e que tem maior condição de se deslocalizar para a “periferia” (sendo que nestas periferias as regiões metropolitanas são as escolhas preferenciais por possuírem as características mais adequadas). Lipetz (1989) citou como exemplo a deslocalização de empresas de Paris para o interior da França e Mackinnon & Cumbers (2007) o exemplo de Londres para as periferias de Inglaterra, confirmando a hierarquia anterior.

Ao mesmo tempo, nesse processo de expansão internacional do Fordismo, estabeleceu-se uma rede de relações económicas que integrava os sistemas de forma mais ampla, cada vez mais transnacional. Destacou-se nesse período (décadas de 1950-60) o papel das empresas transnacionais/multinacionais e uma nova divisão internacional do trabalho. O que determinava a localização espacial destas empresas no exterior era principalmente a mão de obra barata e os custos de operações e de matérias-primas. As demandas internas dos países de origem destas empresas já se tornavam um elemento complicador para as suas atividades, o que explicou em parte os seus deslocamentos, principalmente a partir da década

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de 1960 (FERRAZ, 1999). Para alguns setores, como o químico e o de reparação naval, a deslocalização não era possível. Ao contrário, as indústrias que se deslocalizavam com mais facilidade eram as de eletrodomésticos e automóveis, entre outras.

Essa reorientação espacial das empresas passou a beneficiar os países não centrais de duas formas: através da expansão das empresas transnacionais e pelos investimentos estrangeiros diretos. Foi através destes movimentos que estes países conseguiram assegurar uma taxa de crescimento industrial elevada, gerando “milagres económicos” em muitos deles. Países da América Latina, como o Brasil, ou da Ásia, como a Coreia do Sul, são dois bons exemplos destes acontecimentos (FERRÃO, 1987).

É importante ressaltar, conforme afirma Lipetz (1989), que o Modelo Fordista “original”, aquele que se originou nos países centrais (EUA e Europa do Norte), só se caracterizou como um Fordismo completo nestes países. Nos restantes, havia um modelo Fordista Periférico, ou seja, um Fordismo com mecanização, associado a uma acumulação intensiva8 e com crescimento dos mercados em termos de bens de consumo duráveis, sendo periférico no sentido em que os postos de trabalho e a produção mais qualificados, principalmente, na área da engenharia, permaneceram ligados aos países centrais.

Faria Cidade, Vargas & Jatobá (2008) afirmam que a expansão do Fordismo pelo espaço mundial levou a sua racionalidade tanto para a esfera da produção como para a do consumo, refletindo-se diretamente nas dinâmicas sociais, culturais e territoriais. Após uma fase de expressivo crescimento, o modelo atingiu o seu limite e iniciou uma trajetória de declínio e crise, que levou à necessidade de uma reestruturação. Ao mesmo tempo, conforme aponta Ferrão (1987), a distribuição do tipo centro-periferia, crescente desde o início do século XIX, começou a ser posta em causa.

Neste contexto, Matteo (2011) comenta que nos países mais avançados, mais industrializados, as grandes cidades passaram por uma estagnação no seu crescimento demográfico, principalmente devido às políticas redistributivas que garantiam a permanência da população mesmo em territórios de menor produtividade. Por outro lado, nos países menos desenvolvidos, menos industrializados, poucas das grandes cidades se industrializaram e

8 De acordo com Lipetz (1989) um regime de acumulação pode ser extensivo ou intensivo, ou seja, no processo

de acumulação do capital pode haver um aumento da escala de produção, tendo em conta as normas produtivas, ou a alteração da reorganização capitalista do trabalho procurando-se uma maior produtividade e um maior coeficiente de capital. Pode-se dizer que desde a primeira revolução industrial até à primeira guerra mundial prevaleceu nos países centrais, um regime de acumulação extensivo, centrado na produção ampliada dos bens de capital e a partir da segunda guerra, um regime de acumulação intensivo, centrado no crescimento do consumo de massa.

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cresceram a ritmos acelerados, atraindo a população das restantes regiões. Como as indústrias se deslocam para estes países devido a oferta de mão de obra barata, os fluxos migratórios crescentes são necessários, o que garante uma super oferta de mão de obra contínua.

O modelo Fordista começa a entrar em crise em finais dos anos 1960, principalmente devido a uma queda de produtividade e da relação capital/produto, conduzindo a uma redução nas taxas de lucro dos empresários. A alternativa foi então a internacionalização da produção e os Estados Nacionais disciplinaram os seus mercados de trabalho e mantiveram políticas monetárias restritivas para controlar a inflação, levando à crise do emprego e do Estado- providência (MATTEO, 2011).

O declínio do Fordismo também está associado ao aumento das exportações das empresas europeias e japonesas para o resto do mundo. Este foi o ponto de partida para o fim da hegemonia americana, em especial no subsetor automobilístico. A principal crítica ao modelo Fordista americano era o grande desperdício de materiais nas linhas de montagem, a rigidez e a inflexibilidade da produção em massa e a verticalização excessiva da produção, desprezando o imenso potencial dos fornecedores de matérias-primas e componentes.

Corporações e empresas americanas em todo o mundo foram estruturadas há um século para produzir e distribuir bens e serviços em uma era de transporte ferroviário e de comunicação telefónica e postal. Seu aparato organizacional mostrou-se totalmente inadequado para lidar com velocidade, agilidade e habilidade de coleta de informação da era da tecnologia do computador (RIFKIN, 2004, p. 92).

Matteo (2011) salienta ainda que a crise do Fordismo é frequentemente interpretada como uma crise da produção em massa, vista pelo lado da demanda: estagnação dos mercados, volatilidade da demanda e saturação dos mercados centrais para os bens duráveis. Ao mesmo tempo, ela pode ser considerada como de subconsumo. Assim, Lipietz & Leborgne (1988, p. 16) chamam a atenção para o fato de que “a internacionalização e a estagnação dos rendimentos detonaram (...) a crise ‘do lado da demanda’, no fim dos anos 70. A ‘flexibilidade’ surgiu então como uma adaptação a esse último aspeto da crise, que é tão fundamental quanto o aspeto ‘lucratividade’”. Assim, deve-se entender a crise como uma articulação de causas: as internas, com o modelo de desenvolvimento, e as externas, com a internacionalização da economia, que começaram ambas a perder vitalidade no final dos anos 1960.

Conforme aponta Lipietz (1996), o começo dos anos 1970 mostrou o esgotamento das reservas de racionalização do Fordismo com queda do crescimento da produtividade e custos crescentes das máquinas, colocando em questão o financiamento dos investimentos.

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Além disso, a internacionalização excessiva dos mercados e circuitos produtivos não foi acompanhada por uma harmonização internacional dos compromissos salariais e mostrou o limite da competitividade em detrimento do crescimento dos mercados internos, ou seja, cada país acreditava ser possível pagar menos aos seus trabalhadores para poder exportar vantagens. A baixa lucratividade e a competitividade mostravam a rigidez dos contratos salariais e o Fordismo estava condenado.

Nesse contexto de enfraquecimento do modelo Fordista e de crise no começo dos anos 1970 (uma crise de rentabilidade do modelo e não de superprodução como o que ocorreu em 1929), um novo modelo de produção foi desenvolvimento, modificando a lógica económica e territorial dominante. Essa nova fase e modelo serão abordados na próxima seção.

3.3 DOS ANOS 1970 ATÉ INÍCIO DOS ANOS 1990: O MODELO DE PRODUÇÃO