• Nenhum resultado encontrado

SÉCULO XVIII ATÉ 1930: A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E SEUS IMPACTOS NO SISTEMA PRODUTIVO

GLOSSÁRIO

3. AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS DIFERENTES MODELOS DE PRODUÇÃO

3.1 SÉCULO XVIII ATÉ 1930: A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E SEUS IMPACTOS NO SISTEMA PRODUTIVO

ao período de 1970 até inícios da década de 1990 quando a globalização começa a desenvolver-se em larga escala. Optou-se por fazer a análise, nessa seção, somente até 1990 porque se acredita que essa década é marcante e merece ser analisada numa seção específica de forma mais detalhada;

- Por fim, a quarta parte analisa o período de 1990 até o presente. Esse período é importante, pois a globalização tornou-se completa.

3.1 SÉCULO XVIII ATÉ 1930: A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E SEUS IMPACTOS NO SISTEMA PRODUTIVO

Conforme descreve Méndez (1997), a transição do feudalismo para o capitalismo mercantil começou com a idade moderna em partes da Europa Ocidental, onde a lógica capitalista se espalhou para outros continentes, bem como nos territórios ultramarinos que caíram sob o domínio das potências europeias, embora num contexto internacional ainda

Reestruturação produtiva e desenvolvimento local - o caso do Município de Toledo, Estado do Paraná, Brasil

70

dominado por outros sistemas económicos. Durante os três séculos que estão associados com a chamada onda logística, o centro de gravidade desta incipiente economia mundial capitalista passou de cidades do norte de Itália (Veneza, Gênova) e da Península Ibérica, para o Mar do Norte onde os Países Baixos (Bruges, Antuérpia e mais tarde Amsterdão) se tornaram o foco da atividade mais densa e próspera, bem como o vértice a partir do qual a maior parte do fluxo de bens e capital de longo alcance foi estabelecida. Numa posição inferior estava tanto a Europa Mediterrânea, que começava o seu declínio histórico, como várias regiões da Europa Central e alguns portos do Báltico integrados na Liga Hanseática6 que, ao contrário, emergiram a sua atividade. Por outro lado, as colónias americanas e os enclaves indianos portugueses foram integrados como periferias dependentes e o resto do mundo é mantido fora do sistema. Neste longo período, foram estabelecidas trocas comerciais fracas entre esses territórios, quase que exclusivamente através do comércio marítimo, associado a um número limitado de produtos de alto valor (a partir de metais preciosos e especiarias, lã, trigo ou escravos) e conduzido por empresas comerciais, muitas vezes ligadas a sociedades financeiras.

O capitalismo mercantil, ou pré-industrial, foi dominante entre os séculos XVI até finais do século XVIII. Esse período caracterizava-se pela forte intervenção estatal, visando o fortalecimento do poder político e económico. O objetivo era acumular riquezas a partir da instalação de colónias, visando uma balança comercial favorável. O mercantilismo foi orientado pelas regras do exclusivo colonial, ou pacto colonial, em que cada colónia efetuava comércio exclusivamente com a sua metrópole. Estabeleceu-se assim, uma primeira divisão internacional do trabalho (DIT), conforme mostra com mais detalhes o Quadro 2.

Na transição para o século XIX ocorreu a primeira revolução industrial, e trouxe consigo a era do capitalismo industrial, ou competitivo, e grandes transformações estruturais. Conforme ressaltam Méndez e Caravaca (1999), a melhoria dos transportes permitiu a ampliação das áreas de abastecimento e de mercado e o aumento da competição e da especialização territorial, facilitando a mobilidade populacional aos centros urbanos e industriais. A concentração espacial da população e dos meios de produção acentuaram os desequilíbrios territoriais. No meio rural, a tecnificação dos meios de produção gerou um êxodo dos excedentes de mão de obra em direção às áreas urbano-industriais. Surgem, assim, espaços centrais, detentores do poder e da tecnologia dominante, e também especializados em

3 As principais características dos diferentes modelos de produção

atividades industriais e periferias abastecedoras de recursos e mercados de caráter secundário dos produtos industriais (Quadro 2).

Quadro 2 - Principais características da indústria, por revolução industrial

Sistema Capitalista Características Capitalismo Mercantil (Etapa Pré-industrial ou Manufatureira) Capitalismo Industrial (1ª Revolução Industrial) Modelo Taylorista (2ª Revolução Industrial/Finais século XIX) Recursos produtivos

- Fontes energéticas diversificadas (carbono vegetal, hidráulica, eólica); - Escasso nível de mecanização (trabalho manual);

- Capacidade tecnológica muito limitada;

- Reduzido número de trabalhadores no setor;

- Diversificação produtiva.

- Base energética: carbono mineral; - Máquina de vapor/mecanização de tarefas;

- Revolução dos transportes; - Mão de obra abundante e pouco qualificada;

- Predomínio de setores motrizes: sidero/metalurgia, têxtil, material ferroviário, armamento.

- Base energética: hidrocarbonetos, eletricidade;

- Melhora/flexibilidade dos transportes e comunicações; - Novos produtos: alumínio, plásticos.

- Exploração intensiva de recursos não renováveis.

Regime de acumulação

- Predomínio de empresas pequenas monoplanta;

- Empresas de caráter familiar; - Escassa divisão técnica e espacial do trabalho;

- Mercados predominantemente locais/municipais (exceto manufaturas de luxo); - Produção muito limitada; - Escassos vínculos interempresariais.

- Grandes empresas em indústrias pesadas frente ao predomínio PMEs; - Produção em séries limitadas; - Expansão de mercados/aumento de concorrência;

- Escassa divisão técnica do trabalho;

- Fracos vínculos interempresariais.

- Produção em grande escala; - Centralização e concentração de capital (empresas multinacionais); - Crescente importância da organização produtiva e dos técnicos (tecnoestrutura);

- Racionalização da produção, crescente divisão do trabalho (linhas de montagem);

- O ritmo de trabalho é de controle humano;

Modo de regulação - Controle “gremial”; - Empresas estatais.

- Eliminação de restrições ao desenvolvimento industrial; - Proteção tarifária (substituição de importações);

- Liberalismo económico (“laissez- faire”) frente à regulação sócio laboral;

- Estatuto Social.

- Crescente organização dos trabalhadores;

- Redução do protecionismo exterior;

- Empresas públicas em setores estratégicos;

- Políticas de desenvolvimento industrial (setoriais/horizontais/ regionais);

- Ordenamento territorial e urbano.

Organização espacial da indústria

- Dimensão territorial; - Certa concentração junto aos recursos;

- Equilíbrio rural/urbano; - Dispersão intraurbana organizada por comunidades;

- Importância do trabalho domiciliar.

- Ampliação de mercados e aumento de concorrência interterritorial; - Diminuição dos

artesanatos/manufatura rural em relação à progressiva concentração (cidades, nós de transportes); - Relações centro-periferia a escala inter-regional e internacional (metrópoles, colónias).

- Progressiva concentração/aumento das economias de aglomeração; - Complexos territoriais de produção; - Crescentes desequilíbrios rural/urbanos, inter-regionais e internacionais; - Desenvolvimento de eixos difusores;

Fonte: Méndez & Caravaca (1999), Marques da Costa (1992).

A fase de crise que caracterizou o início do século XX alterou algumas características do modelo anterior, juntamente com a segunda revolução industrial, dando origem à era do capitalismo monopolista. A primeira novidade ocorreu com uma crescente racionalização do trabalho segundo os princípios propostos por Taylor (o chamado Taylorismo), a qual se baseava na máxima fragmentação e especialização das atividades do trabalhado manual em operações elementares e repetitivas, com controle de tempo e de

Reestruturação produtiva e desenvolvimento local - o caso do Município de Toledo, Estado do Paraná, Brasil

72

movimentos, juntamente com uma avaliação constante dos rendimentos do trabalho para aumentar a produtividade.

A divisão técnica do trabalho resultante desse processo resultou numa reestruturação produtiva regional nunca antes vista. A especialização das atividades e das tarefas realizadas no interior das empresas como nas relações interempresariais e intersetoriais, são exemplos desta reestruturação. A redução dos custos de produção que deriva da simplificação de tarefas que cada trabalhador e cada empresa realizam, associada a maiores possibilidades para mecanizar ou automatizar muitas delas, contratação de pessoal especializado, ou a produção em série, foram algumas das razões que, segundo Méndez (1997), impulsionaram a divisão técnica do trabalho. De acordo com Ferrão (1987), no início do século XX o Taylorismo estava amplamente disseminado na Alemanha e, principalmente, nos EUA, com maior destaque nos setores industriais que produziam em série, como o setor de produção de automóveis.

Em relação à dimensão espacial observou-se uma crescente concentração nos principais centros urbanos deixando cada vez mais evidentes os desequilíbrios inter-regionais. Ao mesmo tempo, consolidava-se a formação de complexos territoriais de produção e de produção em larga escala.

Por isso, conforme ressalta Calvosa (2010), a organização das atividades deveria ser bem planejada, em prol de eficiência e rapidez. Isso foi o que predominou na grande indústria capitalista ao longo da primeira metade do século XX, e é um modelo que ainda está bem vivo em algumas organizações, a despeito de todas as inovações. A crise desse modelo surgiu, em grande parte, pela resistência crescente dos trabalhadores ao sistema de trabalho em cadeia, à monotonia e à alienação do trabalho superfragmentado, conforme será descrito na próxima secção.

3.2 DO PÓS-GUERRA ATÉ À CRISE DE RENTABILIDADE DOS ANOS 1970: