Novas perspectivas educacionais para as samborjenses

Em São Borja, surgiram novas perspectivas em termos educacionais que contemplam a comunidade geral. A primeira delas foi a UNIPAMPA que iniciou suas atividades em 2006 e oferece, atualmente, os seguintes cursos de graduação: Comunicação Social Jornalismo, Comunicação Social – Relações Públicas, Comunicação Social – Propaganda e Publicidade, Serviço Social e Ciências Sociais - Ciências Políticas. Além dos cursos de graduação, a instituição oferece também cursos de especialização lato sensu, como o já mencionado neste capítulo, na subseção 3.2.2.

A UNIPAMPA foi instituída em São Borja com o objetivo de minimizar o processo de estagnação econômica da localidade. Com isso, por meio da educação, busca viabilizar o desenvolvimento regional e promover a educação superior em uma região que apresenta difícil acessibilidade a esse nível de ensino público.

A implantação da educação pública superior concretiza um antigo sonho da população samborjense e contempla jovens e adultos, ávidos por conhecimentos e interessados em qualificação profissional. Esse benefício estende-se às mulheres de todas as idades e dos diversos níveis econômicos de São Borja e região, entretanto, após aprovação em processo seletivo ou no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), a matrícula no ensino superior restringe-se aos que possuem ensino médio comprovado nas modalidades normal ou em Educação para Jovens e Adultos (EJA). Diante disso, uma parcela de samborjenses fica excluída da oportunidade de elevar seu nível de instrução e é nessa parcela que se encontra boa parte das mulheres desse município. Mesmo assim, a UNIPAMPA apresenta mais matrículas e frequência de pessoas do sexo feminino do que do sexo masculino, nos cursos em andamento. Essa disparidade pode ser observada, atualmente, na maioria das instituições brasileiras de ensino superior, com 55,9% de matrículas de mulheres e 45,1% de matrículas de homens, de acordo com o Censo 2010.

A outra perspectiva positiva para a comunidade samborjense, em termos educacionais, foi a implantação, em 2010, do IFF. Faço parte do corpo docente dessa instituição de ensino desde o início de suas atividades em São Borja. Como professora de disciplinas básicas – português e inglês, perpasso todos os cursos dos eixos Hospitalidade e Lazer e Informação e Comunicação e todos os níveis de ensino – Integrado, Subsequente e PROEJA - disponibilizados ao público discente do IFF, campus São Borja.

O contato diário com esse público foi muito importante para o desenvolvimento deste estudo, por me fornecer informações sobre os saberes populares e a história local e, especificamente, sobre a violência contra a mulher – tod@ alun@ sabe contar um caso que ocorreu com alguém conhecido e são frequentes os depoimentos61 de alunas que vivenciaram alguma situação de violência doméstica e familiar.

Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFETs) foram criados pela lei 11.892/08 e têm por princípio favorecer a promoção do acesso das populações tradicionalmente afastadas da possibilidade de inclusão ao conhecimento, à tecnologia e à inovação. São instituições de educação superior, básica e profissional, pluricurricular e multicampi, especializadas na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino, com base na conjugação de conhecimentos técnicos e tecnológicos com sua prática pedagógica.

O IFF tem como missão promover a educação profissional, científica e tecnológica, por meio do ensino, pesquisa e extensão, com foco na formação de cidadãos críticos, autônomos e empreendedores. Pautado no princípio de desenvolvimento regional sustentável, o Campus São Borja oferece à comunidade cursos que atendam às demandas locais e regionais, como Cozinha, Eventos e Hospedagem – eixo Hospitalidade e Lazer; e Informática e Manutenção e Suporte em Informática – eixo Informação e Comunicação.

No processo seletivo para ingresso em 2012, a instituição ofereceu vagas para cursos de Licenciatura: Matemática e Física e, em meados de 2012, ofertará o curso

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Normalmente, após algum comentário que realizo ou texto trabalhado sobre a Lei Maria da Penha ou sobre a violência contra a mulher durante uma aula, algumas alunas me procuram para contar suas histórias e, muitas vezes, pedir ajuda. Ouço-as, encaminho-as para a psicóloga e/ou para a assistente social do IFF São Borja e as informo sobre a existência do Centro de Referência Viva Mulher, onde poderão receber um atendimento especializado.

de Especialização em PROEJA, em nível de pós-graduação. O campus também funciona como polo de cursos a distância, como Curso Técnico em Informática para Internet (São Borja, Cruz Alta e Quaraí), Curso Técnico em Nutrição e Dietética (Quaraí e Cachoeira do Sul), Curso Técnico em Guia de Turismo (Santana do Livramento) – todos em nível Subsequente - e Curso Técnico em Informática, em nível PROEJA (sistema prisional: São Borja), da Escola Técnica Aberta do Brasil (E- TEC).

A fim de promover a formação profissional ao maior número possível de pessoas, o IFF São Borja em parceria com as escolas municipais oferece os cursos profissionalizantes em Informática, Cozinha e Pesca, por meio do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Jovens e Adultos, na Formação Inicial e Continuada (PROEJA-FIC).

Assim como a UNIPAMPA, de modo geral, o IFF também tem uma representação discente do sexo feminino superior a do masculino, especialmente nos cursos do eixo Hospitalidade e Lazer. Nos Cursos Técnicos em Cozinha, Eventos e Hospedagem, nível Subsequente, e nos Cursos Auxiliar de Cozinha e Hospedagem, nível PROEJA, mais de 90% das matrículas e da frequência registrada é de mulheres. Entretanto, nos cursos de Informática, níveis Integrado e Subsequente, há mais pessoas do sexo masculino matriculadas e assíduas do que do feminino. O Curso de Manutenção e Suporte de Informática, nível PROEJA, mantém uma certa proporcionalidade quanto ao número de alunas e alunos.

Como professora, tenho uma formação baseada nos princípios freirianos de que somente por meio da educação é possível modificar uma sociedade e estimular o desenvolvimento pleno da cidadania. No que diz respeito às desigualdades de gênero, a educação, seja como elevação de escolaridade ou qualificação profissional, pode provocar mudanças sociais significativas, principalmente para diminuir ou, em um futuro não muito distante, extinguir as relações de poder e de dominação entre mulheres e homens.

Sempre gostei de trabalhar com as múltiplas faces provenientes de múltiplas realidades sociais e econômicas que compõem uma instituição educacional pública. Esse tipo de trabalho se tornou mais favorável no IFF São Borja, e em virtude do meu interesse pelas questões de gênero fui convidada pela direção para ser gestora do Programa Mulheres Mil.