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Nulidades dos atos processuais

5. NULIDADES QUE CONTAMINAM AS SENTENÇAS

5.1. Nulidades dos atos processuais

O processo, conforme já visto em item próprio, é o instrumento utilizado pelas partes para alcançar o bem da vida objeto do conflito de interesses. É composto de uma sucessão de atos, conhecidos como atos processuais, desde a propositura da ação até o seu termo final.

Conforme ensina Arruda Alvim, o ato, para ser processual, tem que ser praticado ou trazido ao processo.231 Os atos processuais constituem uma espécie dos atos jurídicos em geral, com a diferença de que pertencem ao processo e nele produzem efeitos diretos e imediatos na relação jurídica processual.232

Esses atos processuais, para produzirem efeitos válidos, têm que ser elaborados ou produzidos conforme a lei, sob pena de nulidade. A nulidade pode ser definida como “o estado em que se encontra um ato, que o torna passível de

deixar de produzir seus efeitos próprios e, em alguns casos, destróem-se os já produzidos”.233

Marcelo Cinelli de Paula Freitas define a nulidade processual como

“um estado de anormalidade do ato originado na carência de algum de seus

231“O ato, para ser processual, tem que ser necessariamente praticado no processo, ou sermpre trazido a este. Todo e qualquer ato relativo ao processo, mas materialmente elaborado antes do início ou fora deste somente adquirirá relevância jurídica e, então, produzirá efeitos precisamente quando for constituído o processo. É neste sentido que se há de ler o artigo 158, caput. A palavra imediatamente, do art. 158, caput, há de ser interpretada como significando que os atos produzem imediatamente efeitos processuais, desde que trazidos ao processo, e não a partir da manifestação unilateral, ou mesmo bilateral (negócios processuais), mas antes de levadas, uma e outros, ao juiz”. ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil, cit., v. 1, p. 462.

232FREITAS, Marcelo Cinatti de Paula. Nulidades da sentença cível. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. p. 6. 233WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do processo e da sentença, cit., p. 112.

elementos constitutivos, ou em vícios acerca dos mesmos, que potencialmente os coloca em situação de serem declarados judicialmente inválidos.”234

Teresa Arruda Alvim Wambier adverte que não se pode confundir ou assimilar as nulidades civis às processuais, já que aquele direito é privado, ao passo que este é publico, regido, portanto, por princípios totalmente diferentes.235 A jurista236, com propriedade, cita os princípios que norteiam o sistema de nulidades, bem como exemplifica sua ocorrência no CPC:

a) o processo é um conjunto de formas. O afastamento dessas formas é que dão ensejo às nulidades. Essas formas237 constituem uma garantia às partes para defesa de seus direitos. (Arts 156 e 157 do CPC);238

b) as formas têm caráter instrumental, vale dizer, são meios para atingir determinados fins. Se estes forem atingidos, não se há de falar em nulidades. (Arts. 154; 214, § 2º; e 244 do CPC);239 c) não há nulidade sem prejuízo. Se não houve prejuízo à parte

(o prejuízo deve ser entendido como direito ao contraditório), não existe porquê se declarar a nulidade. Trata-se de princípio de relevo na teoria das nulidades. A jurisprudência é sólida no

234FREITAS, Marcelo Cinatti de Paula. op. cit., p. 33. 235Id. Ibid., p. 126.

236Id. Ibid., p. 139-150.

237Teresa Arruda Alvim Wambier leciona: “No que diz com o plano processual, não se questiona mais a idéia de Justiça em relação à norma de direito material a ser aplicada, isto é, refoge ao âmbito das considerações relativas ao processo a questão da justiça do conteúdo da regra a ser aplicada (que, sob certo enfoque, também é uma decisão, só que do Poder Legislativo). À esfera processual interessa a forma de obtenção da decisão do magistrado”. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do processo e da sentença, cit., p. 154.

238Art. 156. Em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso do vernáculo. Art. 157. Só poderá ser junto aos autos documento redigido em língua estrangeira, quando acompanhado de versão em vernáculo, firmada por tradutor juramentado.

239Art. 154. Os atos e termos processuais não dependem de forma determinada senão quando Nulidades do

processo e da sentença, cit., p. 139-150.a lei expressamente a exigir, reputando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencheram a finalidade essencial.

Art. 214.

§ 2º. Comparecendo o réu apenas para argüir a nulidade e sendo esta decretada, considerar-se-á feita a citação na data em que ele ou seu advogado for intimado da decisão.

Art. 244. Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz considerará válido o ato, se realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade.

sentido de não decretar a nulidade dos atos processuais, se não houver prejuízo à parte.240 (Arts. 249, § § 1º e 2º; 250, parágrafo único do CPC;241

d) nulidades instituídas no interesse das partes, ainda que absolutas, são sanáveis. (Arts. 284, 13, do CPC)242

e) nulidades instituídas no interesse público são insanáveis. (Art. 113 do CPC)243

f) maximização das atividades jurisdicionais. Deve-se obter o máximo de rendimento possível da atividade jurisdional, evitando-se, assim, em obediência ao princípio da economia processual, decretação de nulidades desnecessariamente. (Art. 245 do CPC)244

240PROCESSUAL CIVIL – RECLAMAÇÃO TRABALHISTA – INDEFERIMETNO DA INICIAL – PROCEDIMENTO INADEQUADO – ART. 250, DO CPC – PRINCÍPIOS DA ECONOMIA PROCESSUAL E DA INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS – (...) III – A jurisprudência está firmada, quanto à aplicação do art. 250 do CPC, no sentido de que não é nulo o processo se o réu não argüir a nulidade ou se não tiver havido prejuízo para ele. De qualquer modo, o processo deve ser adaptado a todo tempo, com aproveitamento dos atos praticados. IV – Apelação provida. (TRF 2ª R. – AC 94.02.08165-8 – RJ – 2ª T. – Rel. Juiz Cruz Netto – DJU 21.06.2001).

241Art. 249.

§ 1º. O ato não se repetirá nem se lhe suprirá a falta quando não prejudicar a parte.

§ 2º. Quando puder decidir do mérito a favor da parte a quem aproveite a declaração da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato, ou suprir-lhe a falta.

Art. 250.

Parágrafo único. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados, desde que não resulte prejuízo à defesa. 242Art. 284. Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos nos artigos 282 e 283, ou

que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor a emende, ou a complete, no prazo de 10 (dez) dias.

Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.

Art. 13. Verificando a incapacidade processual ou a irregularidade da representação das partes, o juiz, suspendendo o processo, marcará prazo razoável para ser sanado o defeito. Não sendo cumprido o despacho dentro do prazo, se a providência couber:

I - ao autor, o juiz decretará a nulidade do processo; II - ao réu, reputar-se-á revel;

III - ao terceiro, será excluído do processo.

243Art. 113. A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser alegada, em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente de exceção.

244Art. 245. A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos autos, sob pena de preclusão.

Parágrafo único. Não se aplica esta disposição às nulidades que o juiz deva decretar de ofício, nem prevalece a preclusão, provando a parte legítimo impedimento.

g) princípio da causalidade ou da concatenação. Os atos processuais dependem uns dos outros. Um ato nulo contamina de nulidade todos os posteriores. (Arts. 248 e 249 do CPC);245 h) toda vez que uma parte se manifestar no processo, a outra

também tem o direito de fazê-lo, sob pena de nulidade por violação do princípio do contraditório. (Art. 398 do CPC);246 i) pelo princípio da proteção tem-se que a parte que praticou o

ato viciado não pode levantar seu vício, pois não é lícito a ninguém beneficiar-se da própria torpeza. (Art. 245 do CPC); j) o princípio da celeridade norteia o processo civil, bem por

isso, quanto menos tempo o processo durar, melhor para todos, o que implica em aproveitar os atos processuais o quanto seja possível. (Art. 245 do CPC);

k) para que se chegue à verdade no processo, deve ser concedida às partes ampla liberdade para produção de provas e a garantia da imparcialidade do juízo. (Arts. 247 e 214 do CPC)247;

l) as nulidades devem ser expressamente previstas em lei. É o que chamamos de princípio da especificidade. (Art. 246 do CPC);248

245Art. 248. Anulado o ato, reputam-se de nenhum efeito todos os subseqüentes, que dele dependam; todavia, a nulidade de uma parte do ato não prejudicará as outras, que dela sejam independentes.

Art. 249. O juiz, ao pronunciar a nulidade, declarará que atos são atingidos, ordenando as providências necessárias, a fim de que sejam repetidos, ou retificados.

§ 1º. O ato não se repetirá nem se lhe suprirá a falta quando não prejudicar a parte.

§ 2º. Quando puder decidir do mérito a favor da parte a quem aproveite a declaração da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato, ou suprir-lhe a falta.

246Art. 398. Sempre que uma das partes requerer a juntada de documento aos autos, o juiz ouvirá, a seu respeito, a outra, no prazo de 5 (cinco) dias.

247Art. 247. As citações e as intimações serão nulas, quando feitas sem observância das prescrições legais. Art. 214. Para a validade do processo é indispensável a citação inicial do réu.

§ 1º. O comparecimento espontâneo do réu supre, entretanto, a falta de citação.

§ 2º. Comparecendo o réu apenas para argüir a nulidade e sendo esta decretada, considerar-se-á feita a citação na data em que ele ou seu advogado for intimado da decisão.

248Art. 246. É nulo o processo quando o Ministério Público não for intimado a acompanhar o feito em que deva intervir.

m) pelo princípio da eficácia do ato viciado, temos que todo ato processual, ainda que viciado, é eficaz, até que essa eficácia seja desconstituída pelo Poder Judiciário, ou então, sanada pela preclusão. O Art. 485 cuida das hipóteses legais que ensejam ação rescisória e serão tratadas em item próprio.

5.2. Classificação

Existem quatro tipos de defeitos que podem macular os atos jurídicos: a inexistência, a nulidade (absoluta ou relativa), a anulabilidade e a mera irrregularidade.

O ato processual inexistente é aquele que, por faltar um elemento fundamental exigido pela lei, possui vício tão grave que sequer pode ser considerado como ato processual. É problema anterior ao da validade. Não se pode aferir a validade de algo que não existe, que sequer ingressou no mundo jurídico.

Washington de Barros Monteiro conceitua o ato inexistente como o nada e assegura que a rigor não é necessária declaração judicial de sua inexistência, pois jamais chegou a existir e não é possível invalidar o que não existe.249

Parágrafo único. Se o processo tiver corrido, sem conhecimento do Ministério Público, o juiz o anulará a partir do momento em que o órgão devia ter sido intimado.

249MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: parte geral. 37. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 275.

Humberto Theodoro Júnior define o ato inexistente como aquele que não reúne os mínimos requisitos de fato para a sua existência como ato jurídico, nem mesmo a aparência exterior.250

A lei, de uma forma geral, não diz quando o ato processual é inexistente. Cabe ao intérprete fazê-lo e para tanto deverá avaliar se o ato processual preencheu os requisitos de validade exigidos pela lei. Se lhe faltar algum elemento essencial à sua formação, deverá ser reputado inexistente. Um exemplo de ato inexistente é a sentença proferida por quem não é e nunca foi juiz ou quem não era mais juiz do processo no momento em que o sentenciou. Arruda Alvim sustenta que devem ser considerados como inexistentes os processos que se tenham constituído sem um ou mais pressupostos processuais de existência.251

A doutrina, no entanto, não é pacífica acerca da categoria dos atos processuais inexistentes. Ovídio Batista252, Leonardo Greco253 e Antônio Janyer DallÁgnol Júnior254, por exemplo, negam sua existência.

Entendemos que os atos inexistentes devem integrar o rol dos vícios processuais pelo fato de existirem situações teratológicas no mundo dos fatos que definitivamente não se enquadram nem como nulidades absolutas nem como nulidades relativas. A construção dessa teoria tem mais efeitos práticos do que científicos, até porque nos filiamos à corrente que sustenta a necessidade de um processo judicial para declarar a inexistência de ato processual eventualmente considerado como tal.

250THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil, cit., v. 1, p. 280. 251ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil: parte geral, cit., v.1, p. 478.

252SILVA, Ovídio Batista da. Curso de direito de processo civil. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1998. v. 1, p. 219-220.

253GRECO, Leonardo. O processo de execução. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. v. 2, p. 270.

254DALL’AGNOL JÚNIOR, Antônio Janyer. Invalidades processuais: algumas questões. Conferências. Revista

A nulidade absoluta é vício insanável que atinge os atos jurídicos gravemente afetados em sua formação, salvo quando a lei autorize a sua convalidação. É vício que viola norma protetora do interesse público. A nulidade absoluta ocorre quando na formação do ato jurídico não são observados os requisitos tidos como indispensáveis pela lei.255

O ato jurídico absolutamente nulo pode ser invalidado de ofício pelo juízo, não havendo necessidade de as partes o argüirem. Eles têm uma espécie de vida aparente ou artificial, pois na verdade não são aptos a produzir a eficácia que se espera do ato jurídico. Essa vida perdura até que o juiz decrete o ato privado de validade.256

Muito embora o ato jurídico absolutamente nulo não seja convalidado com o tempo (durante a marcha processual, até o prazo final para propositura da ação rescisória), é necessária declaração judicial o invalidando. Até que isso ocorra, o ato nulo produz efeitos, como se válido fosse.

A nulidade relativa é aquela que, apesar de viciar o ato em sua formação, torna-se sanável se a parte prejudicada não requerer sua invalidação, ou seja, o ato nulo se convalida pela preclusão. Trata-se de violação do direito da parte e não de norma de interesse público (como no caso da nulidade absoluta). É a regra geral do CPC; a nulidade absoluta constitui exceção.257

255José Frederico Marques aponta, entre outras, as seguintes nulidades absolutas: “O Código de Processo Civil considera, de modo expresso, como absolutamente nulos: a) – os atos decisórios de juiz absolutamente incompetente (art.. 113, § 2º); b) - a intimação publicada em órgão oficial, quando dela não constar ‘os nomes das partes e de seus advogados, suficientes para sua identificação’; c) – a citação e a intimação, ‘quando feitas sem a observância das prescrições legais’ (art. 247); d) – o negócio jurídico que distribua o ônus da prova de maneira diversa da prevista no artigo 333, I e II, quando recair sobre direito indisponível ou tornar excessivamente difícil à parte o exercício de sua pretensão na ação processual (art. 333, parágrafo único); e) - a execução, se o título que lhe servir não for certo, líquido e exigível, ou se o executado não for regularmente citado, ou se a ação for aforada antes de se verificar a condição ou de ocorrido o termo, nos casos do artigo 572 (art. 618), v.g.” MARQUES, José Frederico. op. cit., v. 2, p. 378.

256THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil, cit., v. 1, p. 281. 257Id., loc. cit., p. 281.

Para ser caracterizada a nulidade relativa, deve haver prejuízo à parte contrária àquela que lhe deu causa e há de ser alegada em determinado lapso de tempo, sob pena de preclusão. Em nada se alegando no momento oportuno, a nulidade relativa se convalida.

A anulabilidade está ligada à violação de norma de interesse da parte, de natureza dispositiva. O juiz não pode decretá-la de ofício. Deve aguardar provocação da parte, que deverá argüí-la na primeira oportunidade que tiver para falar nos autos, sob pena de preclusão e, portanto, convalidação do ato.

A semelhança entre a nulidade relativa e a anulabilidade decorre de ambas tutelarem, em caráter principal, o interesse da parte. A diferença é que a nulidade relativa ocorre quando são violadas normas cogentes e a anulabilidade, normas dispositivas.258

O último vício dos atos jurídicos é conhecido como irregularidade. Esta não constitui propriamente uma nulidade. Como seu termo expressa, constitui mera irregularidade incapaz de invalidar o ato. Teresa Arruda Alvim Wambier esclarece que não se trata de uma mácula que condene o ato à sua ineficácia, pois a irregularidade não constitui um defeito que condene o ato à perda de seus efeitos. Também não contamina os atos subseqüentes, nem influi na durabilidade dos efeitos que os atos jurídicos têm.259

Antonio J. Dall’Agnol Jr. esclarece que “o termo irregularidade

deve ser guardado para a estrita hipótese de vício não essencial, para o caso de deficiência, ou falta, daquele requisito que Carnelutti denominou de simplesmente útil à técnica”. E mais a frente, o conceitua da seguinte forma:

“irregularidade, portanto, é defeito que não diz respeito a requisito estrutural

258FREITAS, Marcelo Cinatti de Paula. op. cit., p. 43-44.

do ato, que não atinge a eficiência do suporte fático, mas tão-somente a conduta infringente de norma instituidora de dever do agente”.260

O autor classifica as irregularidades em corrigíveis e irrecorrigíveis. Por irregularidades corrigíveis cita como exemplo a ausência de rubrica ou numeração das folhas dos autos pelo escrivão. Por incorrigíveis, a perda dos prazos impróprios pelo juiz ou seus auxiliares.261

Releva notar que a classificação das nulidades na doutrina é tema tormentoso que não encontra consenso. Galeno Lacerda, por exemplo, em seu clássico Despacho Saneador, reconhece a existência das nulidades absolutas, as relativas e as anulabilidades.262

Pontes de Miranda reconhece somente a existência das nulidades, rescindibilidades e revogabilidades. Sustenta, expressamente que as anulações não existem de regra no direito processual civil brasileiro.263

José Frederico Marques reconhece a categoria dos atos processuais inexistentes, nulidades, anulabilidades e ato processual irregular.264

Humberto Theodoro Júnior apresenta como espécies de vícios do ato processual o ato inexistente, os absolutamente e os relativamente nulos.265

Teresa Arruda Alvim apresenta uma interessante classificação das nulidades. Para a autora, as nulidades podem dar-se de duas maneiras: de forma e de fundo. As nulidades de forma, se previstas expressamente em lei, são

260DALL’AGNOL JÚNIOR, Antonio J. Para um conceito de irregularidade processual. Revista de Processo, São Paulo, v. 15, n. 60, p. 27, out./dez. 1990.

261Id., loc. cit.

262LACERDA, Galeno. Despacho saneador. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 1985. p. 71.

263Tratado da ação rescisória, das sentenças e outras decisões. Campinas: Bookseller, 2003, p. 439: “As anulações não existem de regra no direito processual civil, mas apenas nulidades, rescindibilidades e revogabilidades. Quando aludimos a anulabilidades, de certo modo descemos ao direito material, mas o legislador, mesmo a respeito dos atos em processo, que são anuláveis conforme o direito material, preferiu frisar a diferença. Assim, o ato dito judicial que poderia ou pode ter decretação de anulação conforme o direito material, e, pois, é anulável, tem-se se ocorre o que se prevê no art. 486, como rescindível. Daí tais atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que ela é meramente homologatória, poderem ‘ser rescindidos, como os atos jurídicos em geral, nos termos da lei civil.’”

264MARQUES, José Frederico. op. cit., v. 2, p. 372-382.

denominadas nulidades absolutas; se não previstas em lei, nulidades relativas. As nulidades de fundo estão ligadas às condições da ação; aos pressupostos processuais positivos de existência e de validade; e aos pressupostos processuais negativos. São nulidades absolutas.266 Nelson e Rosa Nery utilizam o critério de classificação proposto por Teresa Arruda Alvim.267

Interessante frisar que um ato processual nulo contamina todos os posteriores. Se se tratar de nulidade relativa, poderá haver convalidação dos atos após a ocorrência da preclusão. Todavia, se for o caso de nulidade absoluta, não há possibilidade de saneamento, podendo ocorrer o trânsito em julgado. Nesta hipótese, a parte terá o prazo de dois anos para ajuizar ação rescisória. Esgotado esse prazo, não mais será possível desconstituir a nulidade. Em se tratando de casos de inexistência de ato processual, a parte prejudicada não fica sujeita ao prazo de dois anos após o trânsito em julgado para o ajuizamento de ação rescisória. Ela deverá ingressar com uma ação declaratória de inexistência, não sujeita a prazo prescricional.