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O Acordo de Promoção e Proteção Recíproca de Investimentos Brasil/Alemanha

5. O BRASIL E A PROTEÇÃO DO INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO

5.6. Análise de Modelos

5.6.2. O Acordo de Promoção e Proteção Recíproca de Investimentos Brasil/Alemanha

Interministerial nº 230 /MRE/MF do Acordo entre a República Federal da Alemanha e a República Federativa do Brasil de Promoção e Proteção Recíproca de Investimentos, encaminhada pelo presidente da República ao Congresso Nacional

3. A legislação brasileira aplicável aos capitais estrangeiros regida pelas mesmas normas básicas há mais de trinta anos evoluiu recentemente em pontos fundamentais como aqueles garantidos pelas reformas constitucionais da ordem econômica. Não obstante as auspiciosas cifras de investimentos externos registradas no País nos últimos anos, a concorrência resultante da inserção de novas economias dinâmicas no cenário internacional tem justificado a necessidade de também o Brasil conferir maior transparência e estabilidade à legislação nacional aplicável ao capital estrangeiro mediante a celebração de acordos para a promoção e proteção de investimentos. Sem descuidar-se do fato de que esses instrumentos somam-se à avaliação mais ampla sobre o ambiente macroeconômico e jurídico-político dos países receptores de investimentos na atração de novos fluxos de recursos, sabe-se que as garantias oferecidas pelos acordos podem ter importância significativa nas decisões sobre investimentos em cenário competitivo, sobretudo, para os pequenos e médios investidores. 4. O anexo acordo com a Republica Federal da Alemanha, país cujo estoque de investimentos no Brasil representa o segundo maior percentual em relação ao total de investimentos estrangeiros no País, e constitui mais um estímulo ao aumento ·do fluxo de capitais alemães para o Brasil, além de ampliar a possibilidade de acesso dos agentes nacionais aos benefícios concedidos por agências oficiais alemãs de crédito e garantias.

Os votos dos Relatores nas diferentes Comissões da Camara dos Deputados foram os seguintes:

Aprova o texto do Acordo sobre Promoção e Proteção Recíproca de Investimentos, celebrado entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Federal da Alemanha, em Bonn, em 21 de setembro de 1995; tendo pareceres: da Comissão de Economia, Indústria e Comércio, pela aprovação, com substitutivo (relator: Deputado João Fassarella); da Comissão de Finanças e Tributação, pela não-implicação da matéria com aumento ou diminuição da receita ou da despesa públicas não cabendo pronunciamento quanto à adequação financeira e orçamentária e, no mérito, pela aprovação (relator: Deputado Jovino Cândido); e da Comissão de Constituição e Justiça e de Redação, pela constitucionalidade, juridicidade e técnica legislativa, com substitutivo (relator: Deputado José Dirceu).

Vejamos, alguns pontos da apreciação do texto do acordo realizada pelo relator do Projeto de Decreto Legislativo nº 396-B, de 2000, Deputado João Fassarella.

Para o Relator, com a adesão ao acordo, ao contrário do que diz a exposição de motivos, haverá modificação da ordem jurídica interna relativa ao regime de investimentos e a justificativa de que a celebração do acordo, como a celebração dos APPls de um modo geral, deverá contribuir decisivamente para aumentar o fluxo de investimentos externos para o Brasil não é correta.

Além disso, importa saber quais seriam as principais cláusulas do Acordo Brasil/Alemanha introduzidas na ordem jurídica interna do País e que resultariam, segundo a justificativa do governo, num aumento do aporte de capitais.

Para o relator, o primeiro dispositivo a chamar a atenção refere-se à definição de "investimento" contida no artigo 1º a propriedade de bens móveis e imóveis, bem como quaisquer outros direitos reais, tais como hipotecas e penhoras. O termo é excessivamente abrangente o que dificultaria que o Brasil selecionasse os investimentos externos de acordo com eventuais políticas públicas de desenvolvimento, em detrimento do capital especulativo a curto prazo.

O outro ponto que o relator chama a atenção que merece discussão diz respeito ao que consta no seu artigo 3º, que reza:

Nenhuma das Partes Contratantes submeterá, em seu território, os investimentos de investidores da outra Parte Contratante ou os investimentos em que detenham participação os investidores da outra Parte Contratante, a um tratamento menos favorável do que o concedido aos investimentos dos seus próprios nacionais ou aos investimentos de investidores de um terceiro pais.

Através do disposto no citado artigo, cada Parte Contratante se compromete a dar, aos investidores da outra Parte, o tratamento nacional e o de nação mais favorecida. Dessa maneira, os investidores alemães no Brasil receberão, necessariamente, o mesmo tratamento dado aos investidores brasileiros ou aos investidores de uma terceira nação que porventura tenham um tratamento mais favorável.

A Constituição Federal não mais faz uma distinção entre empresa de capital nacional e a empresa estrangeira, este dispositivo dificultaria a eventual implementação de políticas diferenciadas de investimentos ou de desenvolvimento tecnológico em setores econômicos que, de acordo com o interesse nacional, poderiam ser considerados como estratégicos.

O terceiro ponto para o qual o relator chama a atenção relaciona-se ao que consta no artigo 4, o qual dispõe sobre as indenizações em caso de desapropriação.

As desapropriações são vedadas, exceto "por razões de utilidade pública", o que é condizente com as determinações da Constituição Federal sobre o tema. Porém, o referido artigo estabelece também que, no caso de desapropriação, o pagamento da indenização deve se dar de "imediato", deverá ser paga "em moeda conversível e livremente transferível".

Para o relator, o que consta do artigo 4° do acordo em pauta vai de encontro a várias disposições constitucionais (inciso III, parágrafo 4°, do artigo 182, e artigo 184), as quais determinam que, nos casos especificados, as indenizações serão pagas com títulos governamentais. Portanto, temos de apresentar cláusula interpretativa destinada a adequar tal dispositivo do Acordo aos ditames constitucionais.

O quarto dispositivo que o relator considera importante relaciona-se à livre transferência prevista no artigo 5º, esse artigo determina que:

Ambas as Partes Contratantes garantirão aos investidores da outra Parte Contratante a livre transferência das importâncias relacionadas aos investimentos, em particular, mas não exclusivamente: a) o capital e as importâncias adicionais para a manutenção ou ampliação do investimento; b) os rendimentos; c) as amortizações de empréstimos; d) o produto resultante da liquidação ou alienação total ou parcial do investimento; e) as indenizações previstas no Artigo 4º; e, f) dos pagamentos previstos no Artigo 6º.

Pondera o relator que esta cláusula é de extrema gravidade, que poderia ter efeitos sérios sobre a nossa capacidade de fazer frente a ataques especulativos.

Entretanto, as maiores ponderações do relator referem-se aos dispositivos que tratam da solução de controvérsias entre o investidor estrangeiro e o Estado que recebe os investimentos, que consta do art. 10.

Pelo texto do referido artigo, uma controvérsia não solucionada amigavelmente no prazo de seis meses deverá ser submetida a pedido do investidor a uma arbitragem internacional. Em outras palavras, o art. 10 do acordo em pauta permite que o investidor estrangeiro, passando ao largo das leis e tribunais nacionais, possa solicitar unilateralmente uma arbitragem internacional para resolver qualquer controvérsia que venha a se verificar em relação aos seus investimentos.

O próprio relator apresenta uma solução para este dispositivo, verbis:

[...] decidimos elaborar uma cláusula interpretativa sobre a questão do recurso à arbitragem internacional. Mediante tal cláusula, o "pedido" de uma arbitragem por parte do investidor internacional só de realizará se contar com a anuência expressa do Estado brasileiro. Com isto, a implementação de tal arbitragem será mera concessão do Estado, e não um direito do investidor estrangeiro ao qual o País tenha que se curvar. "

Para o relator, países do nosso continente e do mundo já assinaram acordos de proteção e promoção de investimentos sem, contudo, receber investimentos diretos em escala necessária.

Na verdade, a atração de investimentos externos, principalmente os diretos, que são os que mais interessam ao País, se dá muito mais pela existência de vantagens comparativas importantes, tais como um grande e saudável mercado interno, infra-estrutura adequada, disponibilidade de tecnologia avançada e mão-de-obra qualificada, do que por facilidades abusivas e concessões estéreis.

Ao final no seu parecer o relator mostra que, apesar de todas as críticas, acredita que, com as salvaguardas mínimas que propõe, o acordo pode ser aprovado. Entende que, com nova interpretação das cláusulas abusivas, ele poderia dar contribuição para aumentar os ingressos de capitais em nosso País.

Ressalta, ainda, que as modificações propostas ao Acordo Brasil/Alemanha foram aprovadas, na Comissão, no que tange aos Acordos Brasil/Portugal, Brasil/Suíça, Brasil/Grã-Bretanha e Brasil/Chile. Portanto, faz-se necessário que a Comissão adote o mesmo procedimento em relação ao Acordo em discussão, sob pena de criar situação discriminatória para aqueles países.

Vejamos as justificativas apresentados pelo relator Deputado João Fassarella Relator, para a Emenda Substitutiva Global

As ressalvas e as cláusulas interpretativa contidas na presente emenda substitutiva global destinam-se a adaptar os dispositivos do Acordo em pauta à nova realidade da circulação internacional de capitais, bem como à nossa ordem jurídica interna. Destaque-se que a aprovação do presente ato internacional, sem as modificações aqui propostas, criaria ambivalências incontornáveis entre algumas de suas disposições e

certas normas constitucionais e infraconstitucionais. Tais

ambivalências seriam de todo negativas para o País e para os investidores, na medida em que criariam ambiente de incerteza quanto às regras efetivamente aplicáveis aos investimentos estrangeiros. A eliminação dessas ambivalências deverá propiciar um quadro mais amigável para o investidor internacional e maior segurança jurídica para o Brasil, no que tange ao necessário controle do regime de investimentos.

Os APPIs devem ser celebrados sempre nas condições determinadas pela legislação nacional de cada país signatário do acordo e, no caso do Brasil, a adesão deve se dar com as restrições legais e constitucionais pertinentes a matéria.

Por fim convém registrar que o acordo foi retirado da apreciação do Congresso Nacional a pedido da República Federal da Alemanha.

5.6.3. O Acordo de Promoção e Proteção Recíproca de Investimentos Brasil/França