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3. OS ORGANISMOS MULTILATERAIS E A PROTEÇÃO DO INVESTIMENTO

3.3. Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma organização internacional, com sede em Paris, que tem por finalidade a discussão do desenvolvimento e o fomento de políticas econômicas e sociais de interesse de seus membros. A Organização foi criada depois da Segunda Guerra Mundial com o nome de Organização para a Cooperação Econômica Européia e tinha o propósito de administrar e coordenar os recursos para a reconstrução da Europa no pós-Segunda Guerra Mundial. Em 1961, converteu-se no que hoje conhecemos como sendo a OCDE, com atuação transatlântica e depois mundial.

Esse organismo tem comitês especializados em temas diversos da economia internacional e das políticas públicas e, em sua atuação, coopera com organizações internacionais e regionais em todas as áreas de sua competência. Seus membros representam cerca de 65% do PIB mundial.

Segundo a convenção da OCDE73, a organização é dirigida por um conselho composto por todos os membros e dele são emanados todos os atos.

O conselho designa, todos os anos, um presidente e dois vice-presidentes. O conselho pode estabelecer um comitê executivo e corpos subsidiários.

A OCDE tem como objetivo estimular a liberação do comércio internacional de bens e serviços, assim como, em matéria de pagamentos correntes, a liberalização dos movimentos de capitais em base multilateral e não discriminatória.

Segundo o artigo 1º da convenção da OCDE, os alvos da organização serão o de promover políticas que:

(a) Realizem a maior expansão possível da economia, do emprego e do progresso da qualidade de vida dos países-membros, mantendo a estabilidade financeira e contribuindo assim com o desenvolvimento da economia mundial;

(b) Contribuam para a expansão econômica sadia dos países-membros e dos países não membros, no processo do desenvolvimento econômico; (c) Favoreçam a expansão do comércio de mundo em uma base multilateral,

não discriminatória, de acordo com obrigações internacionais.

Na perseguição destes objetivos, conforme previsão do artigo 2º, os membros concordaram que, individualmente e conjuntamente, devem:

(a) Promover o uso eficiente de seus recursos econômicos;

(b) No campo científico e tecnológico, promover o desenvolvimento de seus recursos, de modo a incentivar a pesquisa e promover o treinamento vocacional;

73 Convenção da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, assinada em Paris, 14 de dezembro de 1960. Disponível em

(c) Perseguir as políticas projetadas de modo a conseguir o crescimento econômico e a estabilidade financeira interna e externa;

(d) Unir esforços para reduzir ou abolir obstáculos à troca dos bens e os serviços, mantendo a liberação do comércio internacional; e

(e) Contribuam ao desenvolvimento econômico de países-membros e dos não-membros no processo do desenvolvimento econômico por meios apropriados e, no detalhe, pelo fluxo de capital daqueles países, tendo a consideração à importância a suas economias de receber o auxílio técnico e de fixar mercados de exportação de expansão.

A instituição atualmente reúne representantes permanentes de 30 países74 e mantém relações com outros 70 países. O Brasil não é membro da OCDE, mas tem tido participação crescente junto à organização, sendo solicitado, de forma regular, a participar de seus trabalhos.

Diante dos desafios para alcançar os objetivos da instituição, a organização edita instrumentos normativos, como decisões, tratados e recomendações, os quais se caracterizam pela natureza recomendatória e flexível, embora os dois primeiros atos sejam de natureza obrigatória.

O Artigo 5º da Convenção atribui o poder de tomar decisões à Organização. Segundo Puissonet75, as decisões da OCDE servem para estabelecer mecanismos de cooperação de caráter permanente e obrigatório.

Para PINTO76, até dezembro de 1998, havia 36 decisões em vigor na OCDE, sendo cinco (05) sobre investimentos internacionais.

74 Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Coréia do Sul, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Eslovaca, República Tcheca, Suécia, Suíça e Turquia.

75 PUISSONET, Jean-Pierre. Recommendations du service juridique de l’OCDE aux. Comitês. OCDE. 1986, p.13.

76 PINTO, Denis Fontes de Souza. OCDE: uma visão brasileira – Brasília: Instituto Rio Branco; Fundação Alexandre de Gusmão, 2000, p. 26.

A maioria dos instrumentos normativos da Organização se caracteriza pela sua vertente recomendatória e flexível, não obstante a relevância dos atos de natureza obrigatória. Dentre os atos de natureza obrigatória há os tratados, que são instrumentos negociados no âmbito da OCDE.

O Conselho da Organização decidiu negociar, no âmbito interno, temas acordados pelos países membros, dentre os quais se destaca o Acordo sobre Corrupção de Funcionários Públicos em Transações Comerciais Internacionais77, em 1997, e, até outubro de 1988, o Acordo Multilateral de Investimentos (MAI).

As recomendações são um compromisso facultativo. Atualmente, existem oito (8) relativas a investimentos no âmbito da OCDE.

Os países-membros da OCDE elaboraram o Código de Liberalização dos Movimentos de Capitais, o qual trata dos investimentos, e o Código sobre Liberalização das Operações Invisíveis, que abrange os serviços.

A OCDE publicou uma síntese sobre os Códigos de Liberalização dos Movimentos de Capitais e das Operações Correntes Invisíveis:

Os Códigos da OCDE sobre a Liberalização são aparatos jurídicos que estabelecem regras de condutas para os governos dos países-membros da OCDE. De um ponto de vista técnico, são decisões do Conselho da OCDE. O Conselho da OCDE é um órgão supremo da Organização no qual cada país tem um voto. Suas decisões, que devem ser tomadas por decisão unânime, têm força de lei para os governos membros. Não são, porém, nem um tratado nem um acordo internacional no sentido jurídico internacional, como, por exemplo, os acordos da OMC. Ambos os Códigos consistem em um conjunto de Cláusulas que, salvo algumas exceções, são globalmente iguais. A Cláusula 1 de ambos os Códigos expõe a idéia central: os membros aderem à finalidade geral de eliminação das restrições aos movimentos de capitais e às operações invisíveis entre si. O Código da OCDE sobre os Movimentos de Capitais é o único instrumento multilateral promovendo a liberalização de toda a série de movimentos internacionais de capitais, além de regras da União Européia e do Espaço Econômico Europeu. Quando foi criado em 1961, sua abrangência era bastante limitada. Desde então as economias nacionais tornaram-se, porém, mais integradas, a regulamentação dos

77 Convenção contra a Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais. 1997. Disponível em

mercados financeiros harmonizou-se e as técnicas de financiamento tornaram-se mais sofisticadas. Em conseqüência, os países-membros aumentaram progressivamente a lista das transações até esta ser considerada como completa. Hoje, o Código sobre os Movimentos de Capitais é aplicado a todos os movimentos de capitais a longo ou curto prazo entre os residentes nos países de OCDE. Alguns exemplos de tais movimentos são a emissão, venda e compra de ações, títulos e fundos de investimento, as operações do mercado monetário e os créditos, empréstimos e heranças transfronteiriços. Além disso, abrange o investimento direto estrangeiro – por exemplo, a aquisição de empresa existente por empresa estrangeira ou a criação de filial por firma multinacional. O Código das Transações Invisíveis Correntes também abrange amplamente o comércio de serviços, mas seu alcance não é tão importante. Comércio tranfronteiriço de serviços significa oferta de serviços aos residentes por parte de fornecedores não residentes e vice-versa. Os fornecedores de serviços podem ser empresas ou indivíduos. Entre os principais setores abrangidos, encontram-se os serviços bancários e financeiros, seguros, serviços profissionais, transporte marítimo e rodoviário, as viagens e o turismo. Durante estes últimos dez anos, dedicou-se muito trabalho aos serviços bancários e financeiros e aos seguros. As obrigações do Código das Operações Invisíveis Correntes foram atualizadas e ampliadas para ter em conta a tendência crescente à internacionalização nessa área. Os países da OCDE acordaram, por exemplo, que os bancos, as instituições financeiras e os seguradores estrangeiros deviam ter o direito de oferecer seus serviços através da criação de sucursais ou agências. Outra inovação diz respeito ao direito de acesso das associações e dos órgãos de auto- regulamentação, um direito essencial em muitos países para quem quiser fornecer serviços financeiros bem como determinados serviços profissionais. Todos os membros da OCDE também são membros da OMC e partes de seus instrumentos. O acordo da OMC que mais está relacionado às áreas abrangidas pelos Códigos da OCDE é o Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços (GATS). O GATS abrange não só o comércio transfronteiriço de serviços, mas também o Investimento Direto Estrangeiro (IDE) e o estabelecimento no setor de serviços. Ao invés dos Códigos, a adesão ao GATS é aberta a quase todos os países. Ambos, os GATS e os Códigos, compartilham do mesmo objetivo: investir a liberalização. O método do GATS difere do método dos Códigos em dois pontos particulares: é favorável a uma abordagem “de baixo para cima” para a definição dos compromissos individuais dos países, ao contrário da abordagem dos Códigos “de cima para baixo”, e procura alcançar seus objetivos através da negociação, e não através da liberalização unilateral e da persuasão mútua. Método de baixo para cima significa que os países podem escolher, entre os setores abrangidos pelo GATS, os setores nos quais querem se envolver. A negociação dos compromissos significa que a progressão em direção à liberalização é alcançada através de

concessões mútuas que às vezes abrangem diversos setores de serviços[...].78

A OCDE também publicou uma síntese sobre as Linhas Diretrizes para Empresas Multinacionais. Vejamos os itens 1 e 2 do texto do procedimento, que tratam de sua implantação nas seguintes palavras:

As Linhas Diretrizes para Empresas Multinacionais (as Linhas Diretrizes) são recomendações dos governos à atuação das empresas multinacionais. Fornecem princípios voluntários e padrões para uma conduta empresarial responsável e consistente com as leis adotadas. As Linhas Diretrizes objetivam assegurar que as atividades destas empresas estejam em harmonia com as políticas governamentais, de modo a fortalecer as bases de uma confiança mútua entre as empresas e as sociedades nas quais elas realizam operações, ajudar a melhorar o clima para investimentos estrangeiros e contribuir para um desenvolvimento sustentável produzido pelas empresas multinacionais. As Linhas Diretrizes fazem parte da Declaração da OCDE sobre o Investimento Internacional e as Empresas Multinacionais, os outros elementos sendo relacionados com o tratamento nacional, os requisitos contraditórios impostos às empresas, e os incentivos e desincentivos ao investimento internacional. As atividades das empresas multinacionais, através do comércio e investimento internacionais, fortalecem e intensificam os laços que ligam as economias da OCDE entre si e com o resto do mundo. Estas atividades trazem benefícios substanciais aos países de origem destas empresas, bem como aos países receptores. Estes benefícios crescem quando as empresas multinacionais propiciam produtos e serviços que os consumidores querem comprar a preços competitivos, e quando elas proporcionam um justo retorno aos fornecedores de capital. Suas atividades de investimento e comércio contribuem para o uso eficiente do capital, da tecnologia e dos recursos humanos e naturais. Facilitam a transferência de tecnologia entre as regiões do mundo e o desenvolvimento de tecnologias que refletem as condições locais. As empresas, através da formação teórica e da aprendizagem prática, também promovem o desenvolvimento do capital humano nos países hóspedes. 79

Em 1992, o Conselho da OCDE solicitou, ao então secretário-geral, a preparação de um estudo sobre as vantagens e as facilidades de um instrumento mais amplo sobre investimentos, que combinaria o Código de Liberalização dos Movimentos de Capitais e as Linhas Diretrizes para Empresas Multinacionais. Era o Acordo Multilateral de investimentos – AMI. Essas negociações tiveram início em 1995.

78ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT. Síntese dos códigos da OCDE sobre a liberalização dos movimentos de capitais e das operações correntes invisíveis = Overview OECD codes of liberalisation of capital movements and of current invisible operations. 2003. Disponível em: <www.ocde.org/bookshop/>. Acesso em: 15 maio 2007.

79ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT. Síntese linhas diretrizes da OCDE para as empresas multinacionais = Overview OECD Guidelines for multinational enterprises. 2000. Disponível em: www.ocde.org/bookshop/. Acesso em: 15 maio 2007.

Em 21 de junho de 1976, os membros da OCDE adotaram a Declaração sobre Investimento Internacional e Empresas Multinacionais e seu Anexo I, denominado Diretrizes para Empresas Multinacionais.

Em 1979, 1984 e 1991 foram realizadas revisões dessas Diretrizes.

Dunning (apud Barreto Filho, 1999) resumiu a mudança de atitudes e ações dos países membros da OCDE ocorrida na década de 80 da seguinte forma:

a) Houve uma liberalização geral de políticas com relação ao ingresso de investimento direto e à eliminação de restrições e obstáculos na maior parte de importação de capital; b)Muitos paises da OCDE substituíram procedimentos pormenorizados de autorização para investir por simples notificações ou processos de acompanhamentos; c) Muitas restrições setoriais foram eliminadas ou reduzidas; d) A redução ou eliminação de todos os controles de câmbio para ingresso de investimentos; e) Restrições a financiamento local de despesas de capital por não-residentes também foram reduzidas; f) Dispositivos foram mantidos por países membros com base em considerações de segurança nacional e de ordem pública; g) Não houve progresso no setor de serviços; e h) muitos países continuaram a exigir cláusula de desempenho.

Com relação ao tratamento nacional, a OCDE abre exceções para restrições de ordem pública e segurança nacional, com a ressalva de que as companhias pertencentes ou controladas por nacionais de outros países membros da OCDE não devem ter tratamento menos favorável que as empresas domésticas em situação semelhantes.

Segundo Barreto Filho, o sistema de exame do tratamento nacional na OCDE, de acordo com decisão do Conselho, é a seguinte:

O sistema prevê que os membros notifiquem, no prazo de 60 dias após a adoção, todas as medidas que constituam exceções ao tratamento nacional ou sobre este incidam; b) A OCDE considera a notificação com vistas a determinar se o membro está cumprindo seus compromissos para com a Declaração sobre Investimento Internacional e Empresas Multinacionais; e, c) Se algum membro considerar que outro, apesar de seus compromissos para com o Tratamento Nacional, manteve, introduziu ou reintroduziu medidas que entenda serem-lhe prejudiciais, poderá trazer a questão para a OCDE.

O caráter multidisciplinar da OCDE permite a discussão de temas em contexto abrangente e com participação de representantes de diferentes setores governamentais de seus membros. Dentre estes temas que são debatidos, merece destaque as negociações sobre regras e diretrizes a respeito de investimentos.