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6. RESTRIÇÕES À IMPLEMENTAÇÃO PELO BRASIL DE ACORDOS DE

6.1. Restrições políticas

As empresas multinacionais investem no Brasil essencialmente pelo seu mercado interno. Contudo, os IEDs orientados para as exportações são, na essência, os investimentos que buscam eficiência e têm tendência a fortalecer ainda mais o clima de investimentos. Impelidos pela concorrência global, a presença destes investimentos pode acelerar a introdução de tecnologias de ponta.

Quando um investidor vem para o país e tem como foco o mercado interno, ele enfrenta as mesmas condições e dificuldades que seus competidores. Todavia, quando o investidor tem como meta exportar, ele precisa ter garantias de que as regras do jogo não mudarão de uma hora para outra e que o país oferece estabilidade política, fiscal e nas regras de propriedade intelectual.

Se o Brasil quiser se beneficiar dos momentos favoráveis dos investimentos oriundos da globalização, deve incentivar a atração dos investimentos estrangeiros orientados para a exportação.

Para Luciana Acioly da Silva,

De modo geral, o extraordinário crescimento dos fluxos de IED nos anos 1980 e 1990, e sua desaceleração nos períodos de recessão mundial (1981-1983, 1991-1993 e 2001-2003), evidencia a natureza pró-cíclica do IED, ainda mais quando se tem em conta o fato de os momentos de maior dinamismo desses fluxos terem sido coincidentes com os períodos de reestruturação industrial e patrimonial, num contexto de crescimento das principais economias e de algumas economias em desenvolvimento. O significativo aumento nos volumes alcançados pelo IED a partir dos anos 1980, no entanto, não pode ser atribuído exclusivamente a fatores cíclicos. 131

Um melhor clima de investimentos para todos, oferece percepções de ordem prática para os formuladores de políticas públicas voltadas para o crescimento do país e para a redução da pobreza nos países em desenvolvimento.

As empresas privadas estão no centro do processo de desenvolvimento. Impulsionadas pela busca de lucros, as empresas de todos os tipos - de microempresários a companhias locais de fabricação e empresas multinacionais - investem em novas idéias e novas instalações que fortalecem a base do crescimento econômico e da prosperidade. Proporcionam mais de 90% dos empregos - criando oportunidades para as pessoas porem em prática seus talentos e melhorarem suas condições. Fornecem os bens e serviços necessários para manter a vida e elevar padrões de vida. São também a principal fonte de receita tributária, contribuindo para o financiamento público da saúde, educação e outros serviços. Portanto, as empresas são os atores centrais na busca do crescimento e da redução da pobreza [...].Como as decisões sobre investimento têm visão prospectiva, as opiniões das empresas sobre o futuro são essenciais. Muitos riscos para as empresas, inclusive respostas imprecisas de clientes e concorrentes, fazem parte do investimento e as empresas devem assumi-los. Mas os governos têm um papel importante a desempenhar na criação de um ambiente estável e seguro, inclusive na proteção de direitos de propriedade. A incerteza das políticas, instabilidade macroeconômica e as regulamentações arbitrárias também podem obscurecer as oportunidades e esfriar os estímulos para investir. 132 Por fim, o relatório conclui que

Os custos associados à negligência no cumprimento de contratos, infra-estrutura inadequada, crime, corrupção e regulamentação podem ultrapassar 25% das vendas - ou mais de três vezes o que as empresas geralmente pagam de impostos. As empresas dos países em desenvolvimento classificam a incerteza das políticas como sua principal preocupação. Esta e outras fontes de riscos relacionados às políticas - tais como a insegurança dos direitos de propriedade, a instabilidade macroeconômica e a regulamentação arbitrária - esfriam os incentivos para investir. A melhoria na previsibilidade das políticas pode aumentar a probabilidade de novos investimentos em mais de 30%. Construir a credibilidade das políticas para proporcionar às empresas a confiança para investir; Promover a confiança pública necessária para propiciar e sustentar melhorias nas políticas; Garantir que as respostas às políticas sejam elaboradas para se ajustarem às condições locais. Como as restrições podem variar muito entre países e até mesmo dentro de um mesmo país, é preciso avaliar as prioridades em cada caso.

Outro Relatório do Banco Mundial traz os seguintes esclarecimentos

Quando se trata de atrair investimentos estrangeiros diretos (IED), o Brasil é um campeão mundial. Tanto em termos absolutos quanto como proporção da sua grande economia, tem poucos parceiros entre os países em desenvolvimento e em transição. Do apogeu do seu período de substituição de importações, na década de 50, quando num ano atraiu cerca de um terço de todos os IEDs destinados naquela época aos países em desenvolvimento, passando pelo período lento da "década perdida" da América Latina, em 1980, quando os países da Ásia e de outras regiões passaram na frente, até ganhar de novo a sua posição de liderança entre os principais recipientes na segunda metade da década de 1990, com influxos de IED de US$33 bilhões no ano 2000, o Brasil é o ator que tem de ser considerado. É provável que assim continue, mesmo depois de levar em conta algumas reduções provavelmente inevitáveis em relação a esses níveis, em virtude das vendas menores de ativos de propriedade estatal. 133

Desta forma, tendo em vista um cenário internacional em que é crescente o papel das empresas multinacionais, transnacionais e os IEDs, no que se refere à sua vinculação com o comércio internacional e a geração de inovações, torna-se fundamental uma estratégia de inserção internacional do Brasil, de modo a incentivar a transnacionalização das empresas nacionais e os investimentos estrangeiros no Brasil.

Para Renato Baumann

Boa parte dos investimentos realizados nos últimos anos estão centrados na exploração de recursos naturais e de serviços não comercializáveis (e não em setores tecnologicamente avançados). Se pensarmos em sustentação a longo prazo, geração de divisas, vinculação entre investimentos externos e exportação, não estamos, portanto, em situação muito favorável. A entrada maciça de recursos que caracterizou a segunda metade da década de 90, diferentemente de períodos anteriores, não esteve ligada a um ciclo de investimento interno. Quarenta por cento dos investimentos estava ligado ao processo de privatização. Portanto, quase dois terços do total dos investimentos não estão diretamente ligados à formação de capacidade produtiva nem foram destinados aos setores nobres do crescimento sustentável a longo prazo, que possam aproximar o Brasil da fronteira tecnológica. 134

É preciso criar instrumentos disponíveis de cooperação, tais como tratados de proteção recíprocas de investimentos, quando for o caso, de modo a haver a mão dupla. Ou seja, empresas brasileiras investindo no exterior, e empresas transnacionais investindo no

133 BARREIRAS administrativas, jurídicas e políticas aos investimentos no Brasil. Washington, DC: Banco Mundial, 2001. Sinopse das observações e discussões nos seminários Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo.

134 BARREIRAS administrativas, jurídicas e políticas aos investimentos no Brasil. Washington, DC: Banco Mundial, 2001. Sinopse das observações e discussões nos seminários Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo.

Brasil, de forma a tornar as empresas brasileiras mais competitivas no cenário internacional e os investimentos mais seguros contra riscos não-comerciais.