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3. OS ORGANISMOS MULTILATERAIS E A PROTEÇÃO DO INVESTIMENTO

3.5. Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT)

3.5.1. Organização Mundial do Comércio (OMC)

A Organização Mundial do Comércio (OMC) é uma organização internacional, criada em 1° de janeiro de 1995, que surgiu, conforme explanação no tópico anterior, como resultado final da chamada Rodada Uruguai realizada no âmbito do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), com o objetivo de coordenar, administrar e servir de foro para as negociações do comércio internacional92.

Como um dos mais importantes resultados da rodada de negociações do GATT realizada no Uruguai entre 1986 e 1994, a OMC constitui a moldura para a condução das relações comerciais entre os seus membros. Além disso, apresenta um sistema de resolução de controvérsias de grande atividade.

Há uma distinção entre o GATT e a OMC. O primeiro, cuja origem remonta ao período subseqüente à Conferência de Bretton Woods, em 1948, faz parte do projeto de liberalização econômica do comércio internacional. Foi um acordo entre partes contratantes, que são os próprios Estados. A segunda é uma organização com personalidade jurídica, sendo constituída por países-membros.

Para a realização de seus objetivos, a OMC encontra-se dotada de uma estrutura institucional que reproduz, no essencial, o equilíbrio institucional do GATT 1947, com a diferença de que o novo acordo cria formalmente uma verdadeira organização internacional, com competências mais amplas.

A OMC tem a Conferência Ministerial como órgão de cúpula, composta por representantes de todos os membros, a qual se reúne, pelo menos, uma vez a cada dois anos (art. IV, n° l, Acordo OMC).

A Conferência Ministerial exerce as funções da OMC, sendo competente para decidir todas as questões abrangidas por qualquer dos acordos comerciais multilaterais, se para tal for solicitada por um membro, em conformidade com os requisitos específicos em matéria de tomada de decisões (art. IV, n° l, Acordo OMC). A Conferência Ministerial é, igualmente, competente para adotar qualquer decisão sobre a adesão de um novo país-

92 Ernst-Ulrich PETERSMANN, The transformation of the World Tradiding System through the 1994 Agreement Establishing The World Trade Organization, in EJIL, 1995, 1995, vol. 6, p. 189.

membro (art. XII, n° 2, Acordo OMC), para interpretar o acordo que institui a OMC e os Acordos Comerciais Multilaterais (art. IX, n° 2, Acordo OMC) e para dar início a negociações sobre novas temáticas comerciais.

Entre as sessões da Conferência Ministerial, funciona como órgão supremo o Conselho Geral, composto também por representantes de todos os países-membros, que se reúne quando necessário e funciona, em certos momentos, como órgão de resolução de litígios, e em outros, como órgão de exame das políticas comerciais, podendo ter, nesses dois casos, presidentes distintos e estabelecer regulamentos próprios (art. IV, n°s 2, 3 e 4, Acordo OMC).

O Conselho tem, ainda, o poder de interpretar os acordos (art. IX, n° 2, Acordo OMC), de concluir acordos com quaisquer outras organizações internacionais e com organizações não governamentais (art. V, Acordo OMC).

Sob a orientação do Conselho Geral, há um Conselho do Comércio de Mercadorias, um Conselho do Comércio de Serviços e um Conselho dos Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados com o Comércio (art. IV, n° 5. Acordo OMC),

Estabeleceram-se, ainda, alguns comitês: o Comitê do Comércio e Desenvolvimento, o Comitê das Restrições relacionadas com a Balança de Pagamentos, o Comitê do Orçamento, Finanças e Administração. Estes comitês, abertos à participação dos representantes de todos os membros, exercem as funções que lhes incumbem por força do acordo que institui a OMC e dos acordos comerciais multilaterais, bem como quaisquer outras funções que lhes sejam atribuídas pelo Conselho Geral (art. IV, n° 7. Acordo OMC).

A OMC dispõe de um Secretariado, composto por cerca de 450 funcionários, oriundos de diversas nacionalidades, com funções de apoio administrativo e técnico, dirigidos por um diretor-geral, designado pela Conferência Ministerial.

A estrutura legal da OMC engloba as regras estabelecidas pelo antigo GATT, acrescidas pelas modificações efetuadas ao longo dos anos aos seus acordos e os resultados das negociações passadas de liberalização do comércio.

Em relação ao GATT (1947), o próprio Acordo que cria a OMC estipula que o GATT 1994 e o GATT 1947 representam dois acordos juridicamente distintos, ainda que o segundo faça parte do primeiro (art° 1º, alínea “a”), do GATT 1994. Esta solução deveu-se à falta de tempo para uma nova redação que incorporasse as disposições do Acordo Geral de 1947 ao novo acordo e da inserção de uma cláusula de incorporação no anexo IA do Acordo sobre a OMC.

Porém, ainda que, do Acordo OMC, resulte expressamente que o GATT de 1994 é juridicamente distinto do GATT 1947, isso não significa que não exista uma continuidade entre o GATT 1947 e a OMC (art. 11, n° 4, Acordo OMC). Várias disposições do Acordo OMC revelam a vontade dos seus criadores de instituir a OMC como sucessora direta do GATT e de assegurar a continuidade entre ambos.

Nesse sentido, os itens n° l e 2 do art° XVI do Acordo OMC dispõem, respectivamente, que "salvo disposição em contrário do presente acordo ou dos acordos comerciais multilaterais, a OMC será regida pelas decisões, procedimentos e práticas habituais seguidas pelas partes contratantes no GATT de 1947 e pelos órgãos criados no âmbito do GATT de 1947", e que "na medida do possível, o Secretariado do GATT de 1947 tornar-se-á o Secretariado da OMC e o diretor-geral das partes contratantes no GATT de 1947 exercerá as funções de diretor-geral da OMC até que a Conferência Ministerial nomeie um diretor-geral".

Ao contrário do que acontecia no caso do GATT, o acordo que institui a OMC prevê expressamente que ela "será dotada de personalidade jurídica, sendo-lhe concedida pelos seus membros a capacidade jurídica que se afigure necessária para o exercício das suas funções" (art. VIII n° l, Acordo OMC).

Além disso, a OMC goza de todos os privilégios e imunidades necessárias ao exercício das suas funções (art. VIII, n° 2, Acordo OMC). Entretanto, ao contrário do que previa a Carta de Havana para a Organização Internacional do Comércio, o Acordo constitutivo da OMC não lhe confere o status de instituição especializada das Nações Unidas, ainda que os privilégios e imunidades da OMC e dos seus funcionários sejam análogos aos constantes da Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Instituições Especializadas das Nações Unidas.

Em relação a outras organizações internacionais, a OMC deve, a fim de conferir uma maior coerência na concepção das políticas econômicas mundiais, cooperar, quando necessário, com o FMI e com o Banco Mundial e respectivas agências (art. III, n° 5, Acordo OMC).

Em relação às funções, a principal novidade traduz-se no mecanismo de exame das políticas comerciais. O objetivo é facilitar o funcionamento do sistema comercial multilateral por meio de um melhor conhecimento das políticas e práticas comerciais dos países-membros, bem como dos respectivos impactos no funcionamento desse sistema.

Realizou-se em Doha, Qatar, de 9 a 14 de novembro de 2001, a IV Conferência Ministerial da OMC, na qual os ministros responsáveis pelo comércio, depois de 6 dias de intensas negociações, acordaram o lançamento de uma nova rodada de negociações multilaterais.

A nova rodada, a princípio, duraria 3 anos (deveria ter sido concluída em 2005) e teria a supervisão do Comitê de Negociações Comerciais subordinado ao Conselho Geral da OMC.

Essas negociações realizam-se seguindo o princípio do compromisso único (single undertaking) e leva-se em conta o princípio do tratamento especial e diferenciado para países em desenvolvimento e países menos desenvolvidos incorporados à Parte IV, do GATT 1994, a Decisão de 28 de Novembro de 1979, sobre Tratamento Mais Favorável e Diferenciado, Reciprocidade e Plena Participação de Países em Desenvolvimento, a Decisão da Rodada Uruguai sobre Medidas em Favor de Países Menos Desenvolvidos e outras disposições relevantes da OMC.

Com relação ao comércio e investimento, o mandato da Rodada Doha postergou para após a V Conferência Ministerial da OMC o início das negociações sobre este tema, caso haja consenso explícito para tanto. Por hora, o Grupo de Trabalho sobre o Relacionamento entre Comércio e Investimento analisa temas como: transparência, não- discriminação, modalidades de compromissos de pré-estabelecimento GATS-like, disposições sobre desenvolvimento, exceções e salvaguardas de balança de pagamentos, mecanismos de consultas e solução de controvérsias entre os países-membros. Estas discussões embasarão um

futuro marco normativo sobre o tema de investimentos que deverá superar o Acordo Trims, cujo alcance só abarca os investimentos relacionados a bens.