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2 A COOPERAÇÃO E SUAS PARTICULARIDADES

2.2 O ambiente institucional

Para North (1990), as instituições são importantes a fim de diminuir a incerteza e estabelecer uma base estável às relações contratuais. Elas podem oferecer oportunidades para a sociedade em geral, e as organizações são criadas visando a tirar proveito dessas oportunidades geradas pelo ambiente institucional.4

O principal papel das instituições5 numa sociedade – entendidas como as “regras do jogo”, formais e informais, que estruturam a interação social, econômica e política – é restringir a ação humana (NORTH, 1991). Essas regras são também desenvolvidas com o objetivo de reduzir incertezas no mercado e, portanto, os custos de transação. Os institutos estabelecem incentivos e padrões das transações contratuais entre as intraorganizações. Segundo o autor, o papel das instituições está em organizar o ambiente de negócio, reduzir as incertezas e, em conjunto com outros instrumentos econômicos, definir um conjunto possível de escolhas, criando um ambiente favorável para o processo de tomada de decisão. Assim, as instituições fornecem uma estrutura de incentivos, contribuindo para o desempenho da economia, podendo influenciar a forma como a organização surge, se comporta e afeta os modelos de governança corporativa e desempenho (NORTH, 1990; WILLIAMSON, 1996, p. 16).

Entende-se como instituições formais, por exemplo, o conjunto de leis, decretos, instruções legais, impostas por um governo ou agente com poder de coerção. Já as informais seriam

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O ambiente institucional é baseado em regras políticas, sociais e legais fundamentais que estabelecem a base para a produção, a troca e a distribuição. Regras que administram eleições, direito de propriedade e o direito de contrato são exemplos (...) O arranjo institucional é um arranjo entre unidades econômicas que administram o meio pelo qual tais unidade podem cooperar (...) ou podem fornecer um mecanismo capaz de proporcionar uma mudança nas leis ou no direito de propriedade (WILLIAMSON, 1996, p. 103)

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Instituições são as regras do jogo, tanto as formais quanto as informais e também as suas características de eficácia. Juntas, definem a forma em que o jogo deve ser jogado. As organizações são os jogadores. Elas são compostas de grupos de indivíduos que possuem o mesmo objetivo comum. Organizações econômicas são firmas, sindicatos, cooperativas etc.; organizações políticas são os partidos políticos, legislativo, órgãos regulatórios; organizações educacionais são universidades, escolas, centro de treinamento vocacional (NORTH, 1991, p. 84).

estatutos, códigos de conduta, normas e costumes formados pela própria sociedade. Portanto, o ambiente institucional formal e informal impõe restrições às formas de governança das sociedades cooperativas brasileiras, sendo o principal o regramento específico trazido pela Lei nº 5.764 (BRASIL, 1971) e, posteriormente, o direito de empresa no Código Civil – Lei nº 10.406 (BRASIL, 2002).

A diferença entre o ambiente institucional e os arranjos institucionais traz aspectos atinentes de grande relevância para a análise da pesquisa. Observa-se que parte da literatura da teoria neoinstitucionalista foca o ambiente institucional, buscando entender sua influência sobre, de um lado, o desempenho econômico e, de outro, o comportamento dos agentes econômicos. O ambiente institucional é importante na caracterização das sociedades cooperativas de produção agropecuárias e agroindustriais, no que se refere ao desempenho econômico e social, assim como nas relações contratuais com o cooperado e os fornecedores, entre outros. Por outro lado, o arranjo institucional é aquele que se estabelece entre as unidades econômicas que administram o meio pelo qual tais unidades podem cooperar, ou podem fornecer um mecanismo e proporcionar mudança nas leis ou no direito de propriedade.

Cook (1995b) define cinco estágios entre o aparecimento, o crescimento e a extinção dessa forma de organização por meio de uma leitura institucional. Em relação ao aparecimento da organização, os agentes econômicos buscam uma atitude de defesa contra o sistema de preços e mercados falhos. Tal fato pode ser caracterizado pelo oportunismo empresarial, quando as sociedades empresariais elevam os preços dos insumos ou reduzem os preços das

commodities agrícolas, fazendo com que seja sustentável uma atitude diversa da defesa, aliada

às facilidades institucionais de políticas públicas que visam à elevação da renda da atividade rural.

O autor conclui que, desde que as sociedades cooperativas sobrevivam aos mercados concentrados, no estágio seguinte seus preços e condutas não serão diferentes dos preços praticados pelas sociedades empresariais, mas apresentarão custos de transação mais elevados, dada a distribuição do direito de propriedade, quando haveria desvantagem competitiva. Nos últimos estágios, a sociedade cooperativa deve adaptar-se a uma nova estrutura, que minimize os custos de transação e desvantagens diante das sociedades empresariais, estabelecendo alianças estratégicas com outras formas de organização

societária, transformando-se em uma entidade que tenha direitos de propriedade mais bem estabelecidos, com sua transformação em sociedade anônima ou a extinção pela liquidação.

Pelo enfoque do ambiente institucional, é necessário compreender os fatores que levam à formação e à manutenção da sociedade cooperativa, assim como os direitos de propriedade, a divisão entre propriedade e controle, bem como estrutura de capital. Diante dessas regras, a formação e o estabelecimento de uma sociedade cooperativa originam situações em que há nítida escassez do principal fator de produção: o capital.

A estrutura de capital das sociedades cooperativas de produção agropecuária, inclusive, as sociedades agroindustriais, no Brasil obedecem à Lei nº 5.764 (BRASIL, 1971), que, no artigo 1º, define as organizações cooperativas como sociedade civil de pessoas (sociedade simples) e não sociedade de capital (sociedade empresarial). Há uma composição do capital em quotas-partes, além da limitação do número de quotas-partes por cooperado, podendo esse valor ser proporcional, e ainda há a inacessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade (KRUEGER, 2003). O Código Civil de 2002, no artigo 982, caracteriza as sociedades cooperativas como sociedades simples e também manteve a intransferibilidade das quotas-partes de capital a terceiros, estranhos à sociedade, mesmo que por herança ou processo sucessório.

Tradicionalmente, as quotas-partes de capital das sociedades cooperativas pertencem exclusivamente aos proprietários, cujo resgate pode não ser simultâneo ao desligamento do cooperado do quadro societário, e não necessariamente são remuneradas. Ademais, a distribuição do resultado dessas organizações (sobras líquidas) não considera a quantidade de quotas-partes dos cooperados. A forma utilizada é a transação econômica, caracterizada pela relação contratual entre a sociedade cooperativa e o proprietário, enquanto usuário ou cliente dos serviços da organização. Ou seja, quanto mais o cooperado utilizar os serviços da cooperativa, maior será sua participação nos resultados (CHADDAD; COOK, 2004; HANSMANN, 1988; STAATZ, 1987; VITALIANO, 1983).

Por sua vez, há obrigatoriedade de constituição de fundo de reserva destinado a reparar perdas; para o desenvolvimento das atividades com 10%, pelo menos, das sobras líquidas do

exercício; e para o Fates,6 destinado à prestação de assistência aos cooperados e familiares e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da sociedade cooperativa, constituído de 5%, pelo menos, também das sobras líquidas.

Portanto, a sociedade cooperativa de produção agropecuária financia, com recursos disponíveis no Fates, as operações decorrentes da prática de atos típicos entre a sociedade cooperativa e os cooperados que são comuns nesse tipo de organização societária. Por último, a sociedade cooperativa de produção agropecuária pode instituir, sempre por meio de Assembleia Geral, órgão máximo da sociedade, quaisquer outros tipos de fundo que sejam úteis para a organização, podendo ser permanente ou temporário. As especificações desses fundos dependem de cada cooperativa, devendo, na forma do estatuto, prever a formação, destino, aplicação e liquidação, inclusive, se divisível entre os cooperados, em caso de liquidação, na ausência de previsão, de modo a se distinguir dos fundos obrigatórios.