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3 A SOCIEDADE COOPERATIVA DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA E SUA

3.1 Patrimônio líquido das sociedades cooperativas

3.1.1 Patrimônio

O patrimônio pode ser observado sob diversos aspectos, pois, para cada ciência, há uma forma especial de leitura, podendo ser objeto de questionamento da ciência econômica, da ciência administrativa, do direito e da sociologia, entre outras. É sobre o aspecto do reconhecimento e registro na contabilidade que mais se articulam as análises administrativas e econômicas de diferentes significados do patrimônio da sociedade.

No tocante ao conceito jurídico de patrimônio, seja no sentido civil e comercial, seja no direito público, entende-se como o conjunto de bens, direitos e obrigações aplicável economicamente, isto é, em dinheiro, pertencente a uma pessoa, natural ou jurídica, e constituindo universalidade (DE PLÁCIDO E SILVA, 2003).

Do ponto de vista econômico, o patrimônio é observado de outra forma, ou seja, pelo prisma da ciência econômica, como riqueza ou bem susceptível de cumprir a necessidade de uma coletividade.

Diante dessas definições, pode-se afirmar que patrimônio é um conjunto de bens de uma pessoa física ou jurídica, sujeito a uma administração com a finalidade de auferir lucro ou criar renda. No caso específico de uma organização societária, o patrimônio é, em geral, formado pela diferença entre o ativo e o passivo. Quando essa diferença é positiva, fala-se em patrimônio líquido; em caso de ela ser negativa, chama-se passivo a descoberto ou passivo líquido (SANDRONI, 2005).

Por sua vez, patrimônio líquido é o complexo de valores econômicos de uma empresa, segundo o dicionarista Houaiss (2004). Ele corresponde ao valor residual dos ativos da entidade, depois de deduzidos todos os passivos. Apesar de o patrimônio líquido ser definido como valor residual, ele tem subclassificações no balanço patrimonial, como recursos

aportados pelos sócios e acionistas. No caso de sociedades cooperativas de produção agropecuária e agroindustrial, os recursos são aportes dos cooperados e decorrentes das reservas resultantes de apropriações das sobras líquidas, lucros, entre outras.

Pela ótica contábil, o patrimônio líquido é representativo apenas da diferença entre o valor do ativo registrado e o valor do passivo reconhecido. O Comitê de Pronunciamento Contábil (CPC), ao tratar do conceitual básico – Estrutura Conceitual para Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis8 – conceitua ativo como um recurso controlado pela entidade, como resultado de eventos passados e do qual se espera que resultem futuros benefícios econômicos para a entidade. Esse benefício embutido em um ativo é o potencial no sentido de contribuir, direta ou indiretamente, com o fluxo de caixa para a entidade. Tal potencial poderá ser produtivo, quando o recurso for parte integrante das atividades operacionais da entidade.

Diante de tais definições, e considerando que o valor investido pela organização societária constitui o menor valor que se espera obter de retorno no futuro, o valor registrado no ativo representa uma posição conservadora a respeito do potencial de geração de benefícios futuros. Partindo desse ativo, subtraindo-se o passivo da entidade, representado pela obrigação derivada de eventos já ocorridos, cuja liquidação se espera que resulte em saída de recursos capazes de gerar benefícios econômicos, tem-se o patrimônio líquido – que representa o potencial de geração de benefícios futuros aos detentores dos direitos residuais, ou seja, o patrimônio que sobraria, após pagar todas as obrigações perante terceiros.

No caso das sociedades cooperativas de produção agropecuárias, inclusive as agroindustriais, os detentores desses direitos residuais são os próprios cooperados. O patrimônio líquido da organização pode revelar mais do que apenas o número da diferença entre ativo e passivo representativa de riqueza líquida. Trata-se de uma parcela do capital social investido pelos cooperados, ora definido como o recurso financeiro inicial necessário para implantação da capacidade produtiva; a outra, são as sobras líquidas, após a destinação legal, acumuladas ao longo do tempo, que podem ser capitalizadas ou distribuídas aos cooperados; e, ainda, o lucro

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Aprovado pela Resolução CFC nº 1.121, de 2008 – NBCT 1 – Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis e pela Deliberação CVM nº 539, de 2008, ambas elaboradas com base no Framework for the Preparation and Presentation of Financial Statements do International Accounting Standards Board(IASB).

líquido decorrente das operações com não cooperados, que tem destinação própria. Observa- se que o resultado (sobras líquidas ou lucro) depende, não só da estrutura externa dos direitos de propriedade, como também da estrutura de direitos de propriedade, do ponto de vista interno às sociedades cooperativas, direitos esses caracterizados pelas regras internas e pela estrutura organizacional.

Pela relevância da classificação no balanço patrimonial, destacam-se três grupos de contas contábeis no patrimônio líquido de uma sociedade cooperativa de produção agropecuária: capital social, reservas, sobras ou perdas líquidas. As sobras líquidas ficam à disposição da Assembleia Geral e, quando ocorrem, as perdas líquidas devem ser debitadas na conta corrente dos cooperados. O lucro ou prejuízo acumulado, decorrente das operações realizadas com os não cooperados, tem destinação própria, não podendo ser distribuídos. O Quadro 1 a seguir traz as principais contas específicas que integram o patrimônio líquido da sociedade cooperativa de produção agropecuária.

Quadro 1 – Principais contas de patrimônio líquido da sociedade cooperativa Capital social integralizado

Capital Social Subscrito

( – ) Capital Social a Integralizar Lucros ou prejuízos acumulados ( – ) Parcela Destinada para RATES

( +) Parcela do Prejuízo Absorvida pela Reserva Legal Ajustes de avaliação patrimonial (BRASIL, 2007) Reserva de incentivos fiscais

Reserva de Doações para Investimentos Reserva de Subvenções para Investimentos Sobras ou perdas líquidas

Reserva Legal Fates Fates Constituído ( – ) Rates Aplicada Assistência Técnica Assistência Educacional Assistência Social

Saldo (sobras ou perdas líquidas) à disposição da Assembleia-Geral Fonte: Autor