• Nenhum resultado encontrado

2.6 – Retórica e os estudos das Teorias da Comunicação

No documento Download/Open (páginas 67-86)

Até o presente momento nossa preocupação, neste capítulo, foi retratar a história da retórica e os principais pensadores de tal disciplina, principalmente Aristóteles e Quintiliano. A partir de agora vamos nos aprofundar na relação da retórica com os estudos da Comunicação, até adentrarmos no pensamento comunicacional de Frei Caneca, nosso personagem.

Sabe-se que a primeira maneira do homem se comunicar foi através da fala. Depois aprendeu a escrever. Os homens primitivos, ou das cavernas como alguns os chamam, se comunicavam, por meio, de gestos, expressões, desenhos e ruídos, algo similar aos animais.

Sodré (1948, p. 25) conta que a palavra nasceu da necessidade que tinham os homens de melhor exprimir, aos demais, pensamentos e emoções, ou seja, a necessidade

de se comunicar. A escrita teve origem em outra precisão: a de fazer persistir, para sempre, aqueles pensamentos e emoções. E a escrita nasce da exatidão de se registrar a história da humanidade.

Dimbleby e Burton (1990, p. 12) ressaltam que no passado, a arte de se comunicar (ser capaz de expressar ideias e opiniões e entender outra pessoa) era baseada apenas no uso correto da linguagem. Porém, o estudo da comunicação inclui, além do uso adequado da linguagem, outras formas de expressão, que nos habilitam a perceber o que nos dizem e, assim, nos dirigirmos com as pessoas. A arte de se comunicar não é um processo que nascemos com ele, aprendemos a utilizar as formas mais ativas à melhor compartilhar de nossos conhecimentos.

David Berlo (2003, p.01) relata que uma pesquisa realizada nos Estados Unidos26, demonstra que o norte-americano gasta cerca de 70% do seu tempo ativo comunicando-se verbalmente, ou seja, ouvindo, falando, escrevendo e lendo. Cada ser humano gasta cerca de onze horas do dia se comunicando.

A expressão comunicação nasce do latim communicatio, cujo se divide em três partes: munis, que significa “estar encarregado de”; que sucedido do prefixo co, que promulga da ideia de ter “uma atividade realizada conjuntamente”; e finaliza com a terminação tio, que avigora a ideia de atividade.

A origem da palavra comunicação surge no universo do cristianismo antigo, naquela ocasião, a vida eclesiástica era de veneração e o isolamento, e duas convergências as decifravam: os anacoretas e os cenobitas27, relata o pesquisador Luiz C. Martino (2010, p. 13), viviam em mosteiros, receberam uma prática com o nome de

communicatio, que é a ação de “tomar a refeição da noite em comum”, cuja peculiaridade não é evidentemente o fato de “comer”, mas sim de fazê-lo “junto com outras pessoas”, unidos, assim, aqueles que viviam isolados e originando o costume de se romper com o isolamento. “Não se trata, pois de relações sociais que naturalmente os homens desenvolvem, mas de uma certa prática, cujo novidade é dada pelo pano de fundo do isolamento” (MARTINO, 2010, p. 13). Com isso, nasceu à necessidade de se criar uma palavra que exprimi tal prática.

26 O autor não relata a data da pesquisa.

27 Os anacoretas eram religiosos que viviam em total solidão, retirada do convívio social. Os cenobitas

O pesquisador continua seu pensamento descrevendo que existem preferências importantes no sentido original da palavra comunicação: o termo comunicação não indica os tipos de relações, mas sim aquela em que se encontram características de isolamento; a o desígnio de quebrar o isolamento; existe o conceito de uma efetivação em comum.

A epistemologia da palavra comunicação deve-se diferenciar de duas outras expressões. O termo “participação”, no sentido platônico, no qual o filosofo proclama a relação dos seres com as ideias, dizendo que tudo no mundo sensível participa de uma ideia radical de onde se parte. Platão avaliou as ideias como criaturas, que permanecem em si e por si, que constituem o mundo inteligível, qualificado e afastado do mundo sensível; que constituem um mundo que vive de aparência. A segunda expressão refere- se em dizer que a comunicação não é “ter algo em comum”, pessoas com peculiaridades ou qualidades parecidas. Todavia, não significa que duas pessoas com características semelhantes tenham uma relação comunicativa ou porque fazem parte da mesma comunidade.

A partir desta idéia que a terminação comunicação não se sobrepõe as características ou ao jeito de ser das coisas, não demonstra um ato que agrupa pessoas de uma comunidade. Ele não indica nem o ser, nem a ação sobre a matéria, tampouco a práxis social, mas um tipo de relação intencional exercida sobre outrem, como ressalva Luiz C. Martino (2010, p. 14).

Enfim, o significado de comunicação também pode ser expresso na simples decomposição do termo comum + ação, de onde significa “ação em comum”, desde que se tenha em conta que “algo em comum” refere- se a um mesmo objeto de consciência e não a coisas matérias, ou à propriedade de coisas materiais. A “ação” realizada não é sobre a matéria, mas sobre outrem, justamente aquela cuja a intenção é realizar o ato de duas (ou mais) consciência com objetos comuns. Portanto, em sua acepção mais fundamental, o termo “comunicação” refere-se ao processo de compartilhar um mesmo objeto de consciência, ele exprime a relação entre consciência (MARTINO, 2010, p.15).

Todavia, Antônio Hohlfeldt (2010, p. 62) diz que qualquer tipo de comunicação é um fenômeno social, porque se dá através da linguagem e implica um número maior de elementos que uma só pessoa. Ou seja, o homem é impossibilitado de viver separado e sozinho, e, por isso, ocorre que o fenômeno da comunicação que também é social.

De acordo com HOHLFELDT (2010, p.62) existem quatro fenômenos comunicacionais ligados ao homem. O primeiro é a intracomunicação, que é ligada a fatores psicológicos, e acontece internamente (pensamentos), em apenas uma pessoa. A

interpessoal ocorre entre duas pessoas, a comunicação face – a - face. A comunicação

grupal que se dá entre uma pessoa e um grupo ou ao contrario. E, enfim, a comunicação

de massa28 que ocorre, por meio, dos veículos de comunicação.

Hohlfedlt (2010) completa seu pensando dizendo que as formas de nos comunicarmos são três: 1) Pela fala, escrita ou desenho (imagem), como exemplo, a escrita emprega de palavras, que são assinaladas no papel e seguem regras gramaticais. 2) Os veículos de comunicação, no qual a maioria utiliza-se de recursos tecnológicos, mas também podem ser considerados meios de comunicação gestos e expressões. 3) Mídias, que são subsídios da comunicação de massa, cujo inclui outras formas de comunicação, como a imagem (TV), a fala (Rádio) e a escrita (Jornal).

Qualquer tipo de comunicação precisa de criação e troca de significados, e tais significados são representados por signos e códigos. E o estudo da comunicação reflete a respeito à criação e ao entendimento de tais signos. “Na verdade, as pessoas sentem necessidade de ver significados em todas as ações humanas. Observar e entender este processo pode conduzir a termos mais consciência do que estamos fazendo quando nos comunicamos” (DIMBLEBY E BURTON, 1990, p. 12).

Entretanto, o professor Martino (2010, p.34) ressalva que a comunicação, enquanto problema particular e como disciplina organizada, somente ganha autonomia quando é tomada por significações. Ou seja, quando ela – comunicação – começa a ser definida como prática social que se demonstra como tática lógica de inclusão do sujeito na sociedade.

Fenômeno correlato à emergência de uma forma de organização coletiva cuja a dinâmica não se assenta sobre os valores da tradição, mas sobre o consumo do presente. Ou seja, uma organização social onde os atores vivem de seus contatos imediatos, da renovação compulsiva dos laços coletivos. É somente uma tal forma de

28 A massa, por definição, é constituída de elementos isolados psicologicamente e fisicamente. Se

existirem duas pessoas em contato, acabou a massa, ao contrario de multidão. Não existe nenhuma organização e as pessoas processam as informações como indivíduo. A massa age por convergência. São várias pessoas, que isoladamente processam uma informação e por iniciativa individual tomam a mesma ação. A comunicação de massa ocorre quando existe uma grande audiência, algo talvez incontável; os receptores são heterogêneos; e anônima, o emissor não pode conhecer nomes nem características pessoais dos receptores. Sabe, é claro, o perfil do público, mas nada individualizado. As pessoas devem ser também anônimas entre si, ou seja, um não sabe que o outro está recebendo a mensagem.

organização coletiva que pode criar para si uma instancia chamada atualidade, a fim de exprimir o conjunto de uma realidade complexa, segmentada pela multiplicidade de agrupamentos (comunidades) (MARTINO, 2010, p. 34).

E, por meio, de tal organização coletiva, a qual Martino se refere, que os meios de comunicação dão início a um desempenho relevante perante a sociedade. Pode ser através da atualização perante o espaço público, tendo como exemplo o espaço virtual, as redes sociais. Ou por aquele indivíduo que usa dos meios de comunicação como instrumento de sondagem da sociedade, para que se possa ter uma continua relação com os seres.

O pesquisador resume seu pensamento dizendo que é a partir de uma avaliação da sociedade enquanto tipo de organização coletiva que se pode abranger, de um lado, a precisão da comunicação do sujeito em sua participação coletiva; e, de outro lado, o aspecto evidente e crescente que adquirem os meios de comunicação na sociedade de massa, como parte importante no processo de instrumentalização da atividade individual face ao seu desafio de engajamento numa coletividade complexa (2010, p. 35).

Hohlfeldt ressalta que a comunicação, hoje, tornou-se uma disciplina específica, porém, seu campo de estudo é híbrido, e se encontra em diversas ciências e complexo, como a sociologia, psicologia, ciências políticas, entre outros.

O que precisamos ter claro, contudo, é a existência de uma intima relação entre os processos comunicacionais e os desenvolvimentos sociais. Isso porque a comunicação, ao permitir o intercambio de mensagens, concretiza uma série de funções, dentre as quais: informar, construir um consenso de opinião – ou, ao menos, uma sólida na maioria – persuadir ou convencer, prevenir acontecimentos, aconselhar quanto a atitudes e ações, construir identidades, e até mesmo divertir. Os estudos da história das civilizações – fiquemos com as ocidentais, mas certamente podemos aplicar os mesmo principio a todas as demais – evidencia uma íntima relação entre a existência de sistemas comunicionais e o auge do desenvolvimento da civilização. Dentro os outros estudiosos, os canadenses Harold Adams Innis e Marshall McLuhan desenvolveram estudos nessa direção. Para efeito de uma primeira abordagem do fenômeno comunicacional em sua relação com o desenvolvimento das tecnologias, dos avanços culturais e dos fenômenos sociais, podemos exemplificar, no caso da civilização

ocidental, com cinco momentos diferentes29 (HOHLFELDT, 2010, p.

63).

Adentrando ao pensamento do professor Hohlfeldt30, e seguindo sua cronologia aos estudos sobre a história da comunicação e das teorias da comunicação, podemos compreender a importância dos estudos dos filósofos gregos a os estudos da retórica.

Primeiramente, gostaríamos de explicar o que é uma teoria e como conceitua – lá, para depois apresentarmos a história. A pesquisadora Vera Veiga França (2010, p. 47) relata que uma teoria é um conjunto de expressões, um corpo organizado de ideias sobre a realidade ou sobre certos aspectos da realidade. A etimologia da palavra teoria abrange os conceitos de espetáculo, apreciação e abstração intelectual. É o resultado das considerações já apontadas, se vinculando com a realidade e autonomia da reflexão.

A pesquisadora ressalta que não somente o conhecimento cientifico produz teorias.

(...) Nossa convivência e nosso desempenho no terreno da comunicação promovem um grande estoque de conhecimentos sobre elas. Mas ao lado desse conhecimento, no entanto, um outro esforço compreensivo vem sendo desenvolvido no campo da ciência, através do desenvolvimento de inúmeros estudos sobre os meios de comunicação e a realidade comunicativa. A teoria ou as teorias da comunicação são o resultado e a sistematização dessas inúmeras e distintas iniciativas, com pretensão científica, de conhecer a comunicação (FRANÇA, 2010, p. 47).

Seguindo para a história das teorias e sua repercussão com a retórica, professor Antonio Hohlfeldt conta que com a criação da cidade de Atenas e Esparta iniciou-se a civilização grega, gerando uma grande economia, principalmente agrícola. Com a evolução, os gregos começaram a desenvolver atividades culturais e filosóficas, como os discursos de Platão e Sócrates, inicia-se o teatro, com grandes espetáculos para cerca de 15 mil pessoas, os atores e a ideia do diálogo. Acontecia, ainda, atividade política e

29 O pesquisador Antônio Hohlfeldt descreve, em seu texto “As origens antigas: A comunicação e as

civilizações” (HOHLFELDT, A; MARTINO, Luiz C.; FRANÇA, Vera Veiga; in: Teorias da

Comunicação: Conceitos, escolas e tendências. 9º Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010), que os estudos das

teorias da comunicação são divididos em cinco etapas: Grécia, século V a.C.; Roma, entre os séculos I a a.C. e o século I d.C.; França, a partir do final do século XVII e especialmente ao longo de todo o século XIX; Europa e Estados Unidos, a partir da segunda década do século XX até o momento. Porém, o maior foco desta dissertação é se concentrar no período da Grécia Antiga, quando surgem os estudos sobre a retórica, principalmente, com Aristóteles.

judicial, pois os gregos gostavam de discutir com intensidade nos tribunais e construírem sua democracia, praticada na ágora31.

A literatura, também, já era prática dos gregos, como Homero, que escreveu

Ilíada e Odisséia. Com a criação do Monte Olimpo, como templo dos deuses e idealizador da semelhança dos homens, Hesíodo apresentou aos gregos a compreensão da realidade, para ele tudo se resume ao conceito physis (natureza), que é a lei do retorno, o homem paga pelo que se faz.

Dentro deste contexto histórico foram, então, os gregos, que por primeiro, no Ocidente, conjeturam o pensamento comunicacional, a partir dos estudos filosóficos dos pré – Socráticos32, que iniciaram o aprendizado através do diálogo, com perguntas e respostas, desenvolvidas por um mestre, levando o (s) discípulo (s) ao aprendizado esperado (HOHLFELDT, 2010, p. 69). Porém, os primeiros estudos à comunicação, com práticas e reflexões importantes, pertencem a Platão e Aristóteles.

Platão nos deixa duas contribuições importantes. A primeira refere-se quando escreveu o Livro VII de A República, escreveu a narrativa o Mito da caverna, podendo ser considerado a primeira projeção de cinema devido a situação descrita, que são humanos presos dentro de uma grande caverna, que estão de frente para a parede e de costa para entrada, local em que se entraria uma luz. E, sem poderem se mexerem apenas visualizavam a projeção das sombras dos objetos reais, que passam por fora caverna e por dentro devido a força da luz, fazendo com que eles acreditassem que o acontecimento fosse real.

Basta vocês visualizar a situação proposta por ele para entender o quero dizer: os homens agrilhoados no fundo da caverna seriam os expectadores no interior da sala; a projeção das sombras, a partir da boca da caverna, produzidas por força da luz que incide sobre elas, é o próprio principio da iluminação projetada sobre o celulóide transparente que, graças ao jogo de lentes e ampliadores, projeta as imagens sobre a tela branca, etc. (...) A genial criador de histórias em quadrinhos brasileiro, Maurício de Souza, parodiou esta situação, com uma historinha exemplarmente inteligente: “As sombras da vida”, com Piteco (HOHLFELDT, 2010, P. 72-73).

31 Local mais alto de um monte, onde os cidadãos de maior conhecimento se reuniam para conferencias

de ideias, de onde os gregos concluíram se em tornarem os primeiros teóricos nos campos da filosofia, da política e da retórica, como veremos adiante.

32 Como já relatamos com o início dos estudos da retórica, que surgem com pré-socráticos, passando para

Em um segundo momento, no mesmo livro, Platão amplia seus conhecimentos em inúmeros graus, desde a ignorância até o verdadeiro saber, passando pela opinião, assunto que discute em outros discursos33.

O professor Antônio fez um quadro, cujo explica a ideia do filosofo sobre o mundo sensível.

Ilustração 1- A ideia do mundo sensível de Platão.

Apesar de Platão ser considerado o primeiro a concretizar a comunicação, porém seu pensamento era de uma visão negativa do mundo. Em sua teoria do mundo ou das ideias pressupõe que o homem vive de sua memória e cópia ideias originais, e que o saber é impraticável ao menos para os homens que recebem o dom do conhecimento (em uma metáfora Platão ressalva que o conhecimento pode ser um dom aos homens privilegiados pelos Deuses) ou buscam estudos. “Ele nega, de certo modo, a possibilidade da troca de informação entre os seres humanos, condenados, segundo ele, à condição de prisioneiros da caverna... (HOHLFELDT, 2010, p.72).

Eduardo Neiva Júnior (1991), com pensamento ao contrário do professor Antônio, apresenta que os conceitos de comunicação se aplicam antes mesmo de Platão, quando Córax descobre que o discurso deve corresponder a um arranjo, sendo esquematizado e trazer ensinamentos, para que, assim, alcance a persuasão e o convencimento. O autor descreve que os discursos tinham como ato de comunicação,

convencer e atingir sua audiência. Para atingir a audiência precisavam ser discursos muito bem preparados, escritos e comentados, de linguagem fácil.

Após inicia-se a discussão da importância do verossímil, com os pitagóricos e sofistas, que dá a entender que a consciência do que o assunto retórico será dinâmico na medida de sua adaptação à audiência. “Pouco importa formular uma proposição verdadeira se os destinatários forem refratários a seu efeito de verdade” (NEIVA, 1991, p. 171). Ainda apresentam a retórica psicagogia, que é de caráter psicológico, ou seja, o orador só terá resposta e o estimulo da audiência se ele conseguir, por meios psicológicos, conquistar seu público (falando de valores e crenças).

Os pitagóricos discutiam o Kairos34 que dava segurança do conhecimento do convívio social aos atos comunicativos. Os argumentos oportunos são mais importantes do que a verdade além do conhecimento. Aquele que tem melhor poder de persuadir torna a verdade em objeto secundário.

E, no século XX, inspirada no modelo matemático dos pitagóricos, criou-se a teoria da comunicação matemática, também conhecida como teoria da informação, que aborda a necessidade de uma zona comum àquele que constrói o discurso e a quem o recebe. Sem isso não existe comunicação. Sob a forma de saber técnico, renascem os conceitos da antiguidade (NEIVA, 1991, p. 172).

Ainda, na última metade do século V a.C. (NEIVA, 1991, p. 173), antes de Platão, os sofista saíam pela cidade da Grécia ensinando a retórica, gramática e cultura, em um período onde eles se preocupavam com tais assuntos. “A nossa própria educação ainda é baseada na estrutura criada pelos Sofistas: é preciso estudar gramática, retórica, ter conhecimento do uso da linguagem para a vitória nas disputas verbais” (NEIVA, 1991, p. 174).

E a partir de então surge o pensamento platônico, no qual se refere à comunicação, com uma visão negativa. Platão questiona de tal forma a retórica que num primeiro momento diz que essa ciência é apenas a preleção que busca decorar, bajular e persuadir. Depois, em um segundo momento, tem uma atitude conciliadora, diz que a retórica fica a depender do conhecimento temático daquilo que está em discussão.

A crítica de Platão chega a tal ponto que dá início a uma amargura a retórica, que segundo ele enquanto técnica persuasiva, a retórica morre. Para Platão a retórica só é boa quando emerge do conhecimento e conhecer é definir.

34 Kairos é o conhecimento dos costumes de cada setor social. E utilizar o de tal conhecimento é assegurar

Vera V. França (2010, p. 52) diz que estaríamos enganados se afirmarmos que os homens e a sociedade não se preocupassem com a comunicação, pois os gregos já exerciam o uso da palavra, da escrita e do discurso. A mesma ressalta que, Platão enfatiza a importância do discurso que procura a verdade, diferenciando-o da retórica. Aristóteles conceitua a retórica, de diversas formas, como meio de persuasão, além de organizar e classificar suas ideias.

A importância dos estudos de Aristóteles, e outros filósofos gregos, não se ligam apenas na retórica, mas também na política e cultura. Marques de Melo (2003a) diz que a comunicação e a política são duas faces da mesma moeda, pois são condições necessárias para poder se viver na sociedade. E os homens conseguiram se unir e construir um Estado capaz de assegurar justiça, conhecimento e cultura.

Esse fenômeno de dupla sobrevivência - física e cognitiva - foi gerada ao mesmo tempo pela communis – dimensão retórica da vida social – e pela polis – variável política da organização societária. A capacidade humana de gerar símbolos – palavras, sons e imagens – comunitariamente reconhecidos e pacificamente legitimados foi a alavanca que neutralizou a barbárie, dando passagem à civilização. Os grupos humanos substituíram o poder da violência pela força do argumento, obtendo o consenso duradouro ou negociando tréguas estratégias entre competidores aguerridas (MARQUE DE MELO,

No documento Download/Open (páginas 67-86)