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3.5 – O jornalismo de Frei Caneca

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Sabe-se que a vida de Frei Caneca foi marcada pelo seu forte desempenho político, intelectual, religioso e jornalístico, suas ideias têm influência do Iluminismo,

principalmente sobre a Revolução Francesa, e não apenas ao pensamento trazido pelos Portugueses ao chegarem no Brasil. Pode-se, assim, dizer que Caneca nasceu com o espírito revolucionário.

Como citado, o carmelita nada escreveu referente ao jornalismo. Porém, suas ideias e conceitos podem ser encontradas em seu jornal Typhis Pernambucano e seus textos didáticos.

Desde o surgimento da imprensa, grande parte dos jornalistas escreviam sobre política, colocando-se contra o governo. Com Frei Caneca não foi diferente, sua atuação como jornalista aconteceu entre os anos de 1823 e 1824, quando expôs suas opiniões e noticiou acontecimentos em seu jornal, o Typhis Pernambucano. Tifis, na mitologia grega, era um argonauta que partiu atrás do Carneiro de Ouro, em busca do imprescindível e até então inatingível.

Fernando Segismundo (1962, p.154) relata que a dissolução da Assembléia Constituinte de 12 de novembro de 1823, com a prisão e deportação de deputados, foi a chave para Frei Caneca iniciar suas publicações no jornal Typhis Pernambucano, periódico a quem incumbirá daí por diante difundir os ideais autonomistas e republicanos, e orientar a causa dos insurretos da Confederação do Equador.

Antonio Joaquim de Melo56 (1979) ressalta que na jornada contra a imposição e

resistências, contra a política da corte para obter o gosto da independência real e verdadeira, e de liberdade, conforme aprendeu com os filósofos Iluministas, decidiu, então, Frei Caneca a escrever um período, em que tratasse e defendesse esta política provincial, que lhe parecia a verdadeira e mais eficaz. Assim, instaurou o Typhis

Pernambucano.

Este periódico interessa não só à literatura da nossa província, pelo bem que é escrito, como à sua história, por muitas notícias e fatos que da mais importante época consagra à perpetua memória dos vindouros (MELLO, 1979, p. 48).

O Typhis Pernambucano começou a circular em 25 de dezembro de 1823, ocupando lugar de vanguarda na luta contra o absolutismo. Nasceu sob o impacto da dissolução da Assembléia Constituinte e da prisão de Cipriano Barata57, em Recife.

56 Antonio Joaquim de Mello foi quem publicou o livro “Obras Políticas e Literárias de Frei Joaquim do

Amor Divino Caneca”, e, também, quem escreveu sua biografia contida na obra.

Sendo, assim, Frei Caneca realizou seu sonho de substituir o amigo de corrente política. O jornal trazia os seguintes dizeres:

Amanheceu nesta Corte – tratava-se de correspondência do Rio de Janeiro – o lutoso dia 12 de novembro, dia nefasto para a liberdade do Brasil e sua Independência; dia em que o partido dos chumbeiros do Rio de Janeiro conseguiu dissolver a suprema Assembléia Constituinte Legislativa do Império do Brasil. Verificaram-se todas as previsões do espírito presságio da Sentinela da Liberdade... (SODRÉ, 1999, p.93).

O pesquisador Nelson W. Sodré (1999) descreve que o já em sua primeira edição, o carmelita instigava os pernambucanos a ficar alerta sobre o Império, informava da dissolução da Constituição, pregava a união em defesa da Independência e da liberdade.

Sodré ressalta que uma das principais características do jornalismo de Frei Caneca era a linguagem bem próxima da rebeldia, seus textos se compunham em lutar contra a cúpula da Igreja, seu caso especifico era os cônegos de Olinda que estimulavam a escravidão e o autoritarismo, açoitar o massacre contra os patriotas, buscar insensata pela participação de todos na luta contra os apáticos, combater o preconceito contra as raças, e não dar tréguas ao absolutismo na luta indomável pela liberdade.

Seu principal adversário era José Fernandes Gama, cujo atacava dizendo que suas ideias eram velhas e sem valor.

Talvez as negras produções de um gênio ardente e malfazejo, recheadas de mentiras atrozes, e insolentes calumnias, produções de um coração ensopado na mais mortífera peçonha, não mereçam respostas aos olhos das pessoas de bom senso, que olham para ellas como para as investidas de um cão damnado, ou para os rugidos de uma fera acorrentada. Todavia, as línguas virulentas julgar-se-hiam autorisadas a mentir impunemente, si a Arara, ou Carasuja, como outros chamam, ou José Fernandes Gama, ficasse sem retorno. E bem que esta ligeira correção não aproveitando muito a tal Arara, porque, como lá dizem, Cavallo velho não toma andares; Ella pode servir de exemplo a outros que taes, e esclarecer aquelles que julgarem do merecimento da Arara pelo esplendor da sua plumagem (CANECA, 1979, p.253).

Frei Sampaio, editor do jornal O Regulador Brasileiro, também, era outro alvo de Caneca por ser aliado às ideias da Igreja sobre despotismo e o autoritarismo, dizia ele que não aceitava mais essas opiniões e o povo precisava ser livre.

Sustentam igualmente a existência deste propósito da facção portugueza as doutrinas e opiniões espalhadas por muitas províncias, mormente no Rio de Janeiro, todas coherentes com o desastroso sucesso, como entre outras sejam a proclamação aos soldados do Madeira pelo Lima, commandante do exercito pacificador da Bahia, de 28 de Março do anno passado; o celebre Regulador Brazileiro; a Sentinella do Pão de Assucar; as correspodencias do Diário do Governo do Rio, assignadas – o Bom Cidadão – T.F.G. e G.P.T.; e os prêmios dados ao reimpressor da Tripa Virada; e até o conhecimento e predição que muitos Portuguezes desta praça, que não seriam só os desta, fizeram da dissolução da assembléia, e chegada dos nossos deputados. Parece-nos termos satisfeito a nossa promessa de fazermos ver, que a dissolução da assembléia era negocio tratado e combinado há muito pelo chumbismo; resta-nos descobrir o alvo, à que Ella se destinou, e as suas consequências, o que reservamos para os números seguintes (CANECA, 1979, p. 442).

Frei Caneca é considerado um dos grandes jornalistas de rebeldia e indomável e, morreu como um herói e mártir. Tinha um lugar de vanguarda na luta contra o absolutismo e com seu jornal não deu tréguas a esta situação. O jornal, na fase de extinção da liberdade do país, manteve-se na luta contra o poder Imperial, buscando seus direitos como cidadãos.

4º) A todo homem é livre manifestar os seus sentimentos e a sua opinião sobre qualquer objeto.

5º) A liberdade de imprensa, ou qualquer outro meio de publicar estes sentimentos, não pode ser proibido, suspenso nem limitado. (CANECA, 2001, p.494)58

Combateu com veracidade e autoritarismo a Constituição de 1824:

Nós queremos uma Constituição que afiance e sustente nossa Independência, a união das províncias, a integridade do Império, a liberdade política, a igualdade civil, e todos os direitos inalienáveis do homem em sociedade; o ministério quer que, à força de armas, aceitemos um fantasma ilusório e irrosorio da nossa segurança e felicidade, e mesmo indecoroso ao Brasil... (CANECA, 1979, p. 445)

58 Frei Caneca publica os artigos 4 e 5 do “Comunicado: Base para a formação do Pacto Social, redigidas

As pesquisadoras Maria Gulla e Marcília Periotto (2008) descrevem que a característica marcante do Typhis era o teor político, declarado não apenas em opiniões, mas também em críticas pessoais, em ideias revolucionários europeus e, especialmente, na apreensão em tornar-se um instrumento para libertação e cidadania nacional, aclamando simultaneamente a liberdade de impressa.

No seu jornal Frei Caneca tratou dos acontecimentos de Pernambuco e de outras províncias em que explodiam manifestações contrárias ao Império. Usando de linguagem enérgica, destacava os erros cometidos pelo monarca e atacava a prepotência dos portugueses. Criticou, também, de forma muito severa, a escolha de Francisco Paes Barreto para o cargo de presidente da província e que convocara um conselho de cidadãos com representantes de todas as classes sociais para que fossem expostas por seu procurador as razões pelas quais se demitira do governo de Pernambuco. Para que a província não ficasse sem um dirigente elegeu-se um governo temporário que duraria enquanto não chegasse um presidente nomeado pelo imperador. (...) O público lia no jornal de Frei Caneca coisas desse teor (GULLA; PERIOTTO, 2008, p.5).

Marco Morel e Mariana M. de Barros (2003) relatam que quando surgiu o

Typhis Pernambucano muitos outros jornais já existiam na província, como o Aurora Pernambucana, de Luis Rego; O Segarrega, redigido por Felipe Mena Calado Fonseca, entre muitos outros. Os pesquisadores dizem que a imprensa período da época, o que inclui o Typhis Pernambucano, era independente, ideológica, não industrial e artesanal, era conhecida como folha ou pasquim.

O pasquim era de formato pequeno, tendo geralmente quatro páginas. Era redigido por uma pessoa, no máximo duas, que compunha o original em manuscrito e o enviava à tipografia, que servia não só como impressora, mas, muitas vezes, como ponto de venda, assim como as boticas, já que as livrarias eram raras. O pasquim (jornal) às vezes não se distinguia do opúsculo, do panfleto ou do folheto, pois a maioria desses veículos não circulavam com periodicidade. As publicações periódicas destacavam-se logo, eram raras. Nessa impressa embrionária, o jornalismo não era categoria profissional: qualquer individuo letrado que desejasse atuar na vida pública, fosse médico, clérigo, filósofo ou militar, encontrava relativa facilidade de rodar seu pasquim (MOREL; BARROS, 2003, p.49).

Morel (2008) acrescenta que o redator panfletário era um escritor patriota, difusor de ideias, que combate as ações contrárias de sua ideologia, e aproveitou da situação de transição do país. Foi o que nosso personagem fez, Frei Caneca usou do panfleto para agir a favor dos cidadãos e contra o governo.

Naquela época jornalistas recebiam outros nomes, como redatores, gazateiros, publicistas. E os jornais eram chamados de folhas, gazetas ou periódicos. O carmelita se referia ao seu jornal como uma folha periódica:

E também alguns destes fatos já se achavam desenovelados em muitos impressos, e nem a pequenez da nossa folha admite este desenvolvimento (CANECA, 2001, p.330).

Manuel Carlos Chaparro (2008) descreve Frei Caneca como herói pernambucano, guerreiro republicano, padre rebelde e jornalista libertário. Completa dizendo que no jornalismo, o carmelita, combateu o absolutismo e, durante o período da publicação do Typhis Pernambucano, foi o crítico mais contundente do Império.

Frei Caneca absorveu ao máximo sua atuação com jornal Typhis Pernambucano para criticar as ações do Império, principalmente da província de Pernambuco, defender seus ideais e o povo. Já no primeiro exemplar faz uma reflexão, com tom de justiça, sobre a situação criada dentro da província pelos monarcas. Publica a correspondência, trazido do Rio de Janeiro, que se refere à dissolução da Assembléia. No mesmo exemplar, ainda, traz um decreto do imperador extinguindo a Assembléia e convocando outra atuar no próximo projeto que acontecera. Principia a longa erudita análise desses papeis, a qual se estenderá por sucessivas edições (SEGISMUNDO, 1962, p.155).

Em quase todas as edições, o frade questiona a posição do Império perante a opinião pública, que naquela ocasião era muito discutido devido a liberdade de imprensa que o imperador havia acabado de outorgar. E, também, sobre o direito de informação aos cidadãos e a imprensa como utilidade pública

E, por fim, ainda na primeira edição, Frei Caneca retrata sobre o direito do cidadão à informação:

É de direito natural e inalienável de qualquer cidadão, seja qual for a forma do governo em que se vive, o exame e o juízo dos fatos públicos,

sem que sirva de égide a alguém a graduação, a classe, a hierarquia e autoridade; e este dirwito é tanto mais sagrado quanto a ação praticada toca os direitos primários de um povo, de uma nação; e s.m.i. se acha tão penetrado desta verdade, que no dia 13 fez baixar o seu segundo decreto, em que declara que a qualificação de perjura, que o primeiro impôs à Assembléia Geral Constituinte e Legislativa, não se devia entender da totalidade da representação nacional do generoso poço brasileiro, sim da facção dominante do congresso (CANECA, p. 307).

Sobre a prática de um jornalismo cidadão, Frei Caneca brigava pelos direitos da população. O pesquisador Ênio Morais Júnior traz uma reflexão dizendo que devido a doutrina liberal, típica do iluminismo europeu, marcaram o comportamento e a atuação política e jornalística de Caneca.

Seu pensamento ganhou condições favoráveis para transformar-se numa práxis no contexto histórico e político de que o Pernambuco de sua época foi palco por excelência. Foi nesse cenário que Caneca encontrou espaço para a aplicação de seus conhecimentos em nome de uma cidadania brasileira por intermédio do jornalismo (JÚNIOR, 2007)59.

A partir de, então, pode-se observar a construção do pensamento comunicacional de Frei Caneca, por meio, de suas expressões, ideias e conceitos publicados no jornal

Typhis Pernambucano. De início, apresentamos seu conhecimento sobre o jornalismo cidadão, retratando a importância do direito a informação. Seguindo apara o conceito de opinião pública, liberdade de imprensa, jornalismo como utilidade pública e a serviço da população, e, por fim, sua aplicação retórica, com textos noticiosos em um estilo clássico.

O estilo jornalístico de Caneca, ideias e pensamentos, não eram diferentes dos outros jornalistas da época. O que, na verdade, o difere de seus companheiros redatores é a maneira de exercer o jornalismo dando importância a estrutura do texto, praticando a arte de escrever bem, indo de acordo com os aprendizados retóricos. Ao analisar os textos, chega à conclusão de que os cuidados retóricos do carmelita eram expressivos. Cuidados semelhantes ao da produção do texto jornalístico nos dias atuais, como exemplo, a matéria publicada no dia 12 de fevereiro de 1824:

Exórdio:

BAHIA

Chegado a essa cidade no dia 12 de dezembro os seus deputados Calmons60, e

sabendo-se da dissolução da Assembléia, a tropa e o povo comovido e assombrado deste funesto acontecimento, e julgando-se traído pelos portugueses, e que se tratava de reescravizar o Brasil a Portugal, dividiram-se em bandos e tomaram dos seus inimigos uma pesada vingança por três dias, sem haver quem desse quartel os portugueses, nem forças no governo para obstar a torrente que se havia despenhado com todo furor, quase verificando-se o que na Assembléia preconizou o ilustre deputado Henrique de Rezende.

Narração:

No dia seguinte, ajuntando-se um grande número de cidadãos de todas as classes, e indo à Casa da Câmera, a fizeram convocar pelo toque do sino. Junta esta, representaram que era preciso serem chamados os deputados, vindos do Rio, para quem darem a causa da sua retirada antes de acabarem os seus trabalhos; compareceram estes e, dando a conta que já todos sabem, requereu o povo que o presidente da Câmara representasse ao governo, em nome do mesmo povo, que convocasse um conselho composto dos cidadãos de todas as classes constantes de uma relação que apresentaram, para que nele se tratasse da segurança da província e tranquilidade da cidade. Tudo se fez; e foi assindado o dia 17 para o conselho.

Chegado este dia, reuniu-se o conselho composto do governo, Câmara, empregados públicos, eclesiásticos e civis, militares, cidadãos virtuosos, ilustrados e zelosos da causa pública, e de comum acordo tomaram as medidas necessárias para manter a ordem e traquilidade da província em vinte artigos, todos cheios de prudência, segurança e zelo patriótico pelo bem da província e Brasil.

Confirmação:

Entre estes artigos, depois de mostrarem a sua profunda mágoa pela dissolução da Assembléia Constituinte e Legislativa, esperando que s.m. satisfizesse, como cumpria à sua alta dignidade, boa-fé e constitucionalidade, os juramentos que ele e todos os brasileiros prestaram, fazendo medrar o regime constitucional, requerem:

Que com a maior brevidade apresentasse s.m. o projeto da Constituição duplicadamente mais liberal que o da extinta Assembléia, para que as Câmaras, interpondo o seu juízo e transmitindo-o aos deputados das respectivas províncias, seja por estes aprovados.

Que s.m. jamais deixe de desempenhar a sua imperial palavra de que nada queria de Portugal, e que por consequência não consinta, nem sofra, que alguém se lembre de confederação com aquele reino; pois que a união é absolutamente impossível.

Que s.m. não confiará os grandes cargos do império a súditos nascidos em Portugal, bem como os demais despachos civis e militares.

Que o tribunal dos jurados fosse restabelecido para a liberdade da imprensa, como foi criado em 1822.

Que s.m. haja por bem de obstar ao mal certo que deve resultar do decreto de 24 de novembro do ano passado, que manda conhecer devassamente os últimos

60 Referência a Miguel du Pin Calmon e Alemeida, futuro marquês de Abrantes, deputado pela Bahia à

acontecimentos daquela corte, do edital do intendente-geral da policia de 24 do mesmo, que admite denúncias em segredo.

Que s.m. se dignasse restituir os deputados presos e expulsos do Brasil ao seio das suas províncias respectivas, tendo ao mesmo tempo consideração pelo deputado eleito Barata, cujas asserções imoderadas eram mais filhas do seu patriotismo exaltado do que da maldade do seu coração.

E, declarando ao governo que se não desse posse a súdito algum nascido em Portugal, que viesse despachado para aquela província, sem que o primeiro desse parte a s.m., a fim de que o mesmo senhor houvesse de revogar o decreto, declararam afinal que aquela província era constantemente firme nos princípios da monarquia constitucional, que tem proclamado e jurado.

Peroração:

Dos assentos deste conselho se vê: 1º) que por aquela cidade também vogava o conhecimento da pretensão dos chumbeiros querem unir o Brasil a Portugal. E então deveremos fazer a vontade ao senhor Estevão de Rezende, intimada no seu edital de 17 de novembro de 1723? Tratar como irmãos inimigos encarniçados, que não cessam de empregar todas as forças para oprimir-nos, isto nunca foi admissível em política; o preceito do Evangelho que manda amar os inimigos é lá para outras coisas, e noutras ocasiões e circunstâncias; 2º) o que o voto daquela respeitável província, a primogênita de Cabral, antiga corte do Brasil, é que os deputados aprovem ou não o projeto da Constituição, estribados nos votos das Câmaras, o que se opõe de frente ao edital do muito leal e heróico Senado do Rio de Janeiro.

A nobreza e generosidade e seus sentimentos, quando roga pela restituição ao seio de suas respectivas províncias dos deputados presos e expatriados, e reclama a contemplação de s.m. sobre o deputado eleito Barata, é uma bofetada para as províncias de São Paulo e Minas, que, sem mais exame, sem reflexão, só levadas de um espírito de vingança e de servilismo, se gloriaram da dissolução da Assembléia, único liame que enlaçava as províncias do império, e pela prisão extermínio dos seus deputados, a quem apelidam de monstros.

A sua súplica para que s.m. desvie as desgraças que produzirá no Rio de Janeiro o decreto de 21 de novembro passado, ensina as demais províncias a não estenderem seu zelo e patriotismo à periferia dos seus termos unicamente, sim a todos os demais ramos da grande família brasileira.

O seu protesto de ser firme constantemente nos princípios do regime constitucional é um proclama, pelo qual declaram a todo o Brasil e mundo inteiro que não admitirão outra forma de governo ao través de todos os perigos. Assim obra um povo patriota, que não é servil, e que prefere a morte à escravidão! (CANECA, 2001, p.355-3357).

O jornalismo de Caneca, por excelência, é opinativo, até mesmo por influência de sua época e seus estudos. O pesquisador Ênio Morais relata que a retórica sempre foi aliada mais próxima de Frei Caneca, tanto no jornal quantos nos textos e discursos. A retórica se tornou um ofício a tal ponto que o condenou a morte. E, até mesmo em sua defesa, o frade exagera na retórica deixando algumas marcas dos primeiros passos do jornalismo opinativo, que foi apresentado como uma das hipóteses desta dissertação.

A enormidade da acusação é tão grande que depor por si basta para aterrar o varão mais forte, e faria temer, se o acaso se não lembrasse que eram seus juízes varões brasileiros, cheios de retidão, e que sabem dar descontos às fraquezas da humanidade, imitando a piedade e beneficência do príncipe magnânimo, que s revestiu de tão alta autoridade. Esta ideia consoladora anima o réu, e lhe alivia os espíritos abatidos, para alçar a trêmula voz e fazer chegar ao conhecimento deste juízo os argumentos em que funda defesa, e mostrar sua constante adesão e obediência ao supremo imperante nação brasileira (CANECA, 2001, p.628).

Retornando ao primeiro periódico publicado, Frei Caneca apresenta o Typhis

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