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4.1 DESCRIÇÃO DOS PRIMEIROS PASSOS PARA A CONSTITUIÇÃO DO CAMPO

4.1.2 O Campo da Pesquisa: Instituições Voltadas ao Brincar da Criança

Iniciamos uma nova etapa, a entrada no campo de estudo, com a definição das 4 (quatro) instituições de atendimento à educação infantil, com crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos e 4 (quatro) a 6 (seis anos), a partir da abertura das mesmas na participação da pesquisa. A sistematização da formação continuada na escola; a continuidade da supervisora e das

professoras na escola, e, ainda, por acreditarmos na existência de um trabalho pedagógico em cujos eixos de ação o brincar e a ludicidade são significados como elementos relevantes na atuação da professora junto às crianças, assim como na própria instituição foram determinantes para a escolha.

Outrossim, essas instituições representavam possibilidades de leituras, no sentido da construção de respostas, que sabemos serão sempre de cunho aproximativo, no tocante ao nosso objeto de estudo e, ainda, considerando que a abordagem é histórico-cultural, e certamente buscaremos as contradições, à medida que nos aproximarmos da realidade.

Dessa maneira, tendo sido definido o campo e a natureza das instituições (creches e escolas) com atendimento na educação infantil, iniciamos os contatos sistematizados com as mesmas, em momentos e situações distintas, de uma maneira mais focada, buscando perceber mais criticamente aspectos que emergiram nas primeiras observações, observando de que maneira o brincar e a ludicidade se inscreviam na organização do espaço físico, na constituição do ambiente, na relação entre as crianças, professoras e demais membros da escola. Observamos as formadoras em trabalhos de formação continuada em 3 (três) dessas 4 (quatro) escolas. Em uma delas isso não foi possível, pela concomitância no horário das formações, e nessa nos demoramos mais na observação das salas temáticas como uma ação desenvolvida a partir da formação continuada.

Aproximamo-nos das professoras e/ou formadoras (a formadora em 2 (duas) dessas escolas era também professora e nas outras 2 (duas) era a supervisora). Buscamos acompanhar/observar mais de perto essas profissionais, assim como o que fosse possível apreender do trabalho desenvolvido nas instituições, no sentido de conhecer melhor não só o trabalho de formação, mas especialmente o que decorre dele na dinâmica da escola no tocante ao brincar e à ludicidade.

Refletíamos acerca da necessidade do cuidado para manter a vigilância epistemológica, das escolhas do que, quando, de que modo, o para quê dos registros, em relação às práticas pedagógicas que, de alguma maneira, estivessem relacionadas à formação continuada na escola e voltadas à valorização da criança, do brincar e da ludicidade.

Nesse segundo momento precisaríamos estar atentas para registrar aspectos relativos a esse processo, buscando vislumbrar mudanças, elementos que pudessem influenciar na organização do espaço, nas concepções que permeavam falas, nas relações entre escola, criança e família, nas aprendizagens em momentos de estudo.

À guisa de caracterização, apresentamos a seguir as 4 (quatro) instituições selecionadas, que denominamos de A, B, C e D.

QUADRO 10 - Caracterização das instituições

Fonte: Informação coletada nas instituições

A Instituição A é uma creche localizada na Regional Curado 3 (três) em Jaboatão dos Guararapes. Funciona em um espaço agradável, bem arborizado, porém com muito mato crescido, o que impede as crianças de circularem livremente. Possui 5 (cinco) salas de aulas, incluindo o berçário, com corredores na entrada das salas, onde as crianças podem circular,1(um) pequeno pátio coberto, uma biblioteca, um refeitório, sanitários e cozinha. O corpo docente é constituído por 5 (cinco) professoras efetivas e cada uma dessas acompanhada por uma estagiária, sendo que no berçário há 2 (duas) estagiárias. A escola tem 1 (uma) diretora, 1 (uma) pessoa que atende na secretaria e 1 (uma) merendeira. Não há supervisora, pois, segundo a Secretaria de Educação, apesar de as crianças permanecerem em horário integral, o número de turmas é insuficiente. Dessa maneira, uma das professoras atua como formadora nos encontros da escola.

Os encontros de formação continuada acontecem mensalmente, com duração de 4 (quatro) horas, e as professoras também se reúnem quando necessitam planejar, uma vez que existem estagiárias em todas as salas nessa escola. O número de crianças por sala é em média de 15 (quinze) a 20 (vinte), com idade entre 0 (zero) e 4 (quatro) anos.

Nos encontros em que estivemos acompanhando a formação continuada, percebemos a liderança da professora-formadora e um trabalho muito participativo, envolvendo não só as professoras, mas também as estagiárias.

Segundo a formadora e professoras, a escola hoje tem como eixo o brincar no cotidiano das crianças e expressa uma visão de criança como sujeito de direito, especialmente nas suas justificativas quando organizaram o refeitório como mais um espaço da e para a criança, o que constatamos quando presenciamos as crianças menores, na hora do almoço, ao som de uma música da Palavra Cantada, sendo consultadas sobre o que gostariam de colocar no seu prato e as maiores de 3 (três) anos se servindo, retirando das bandejas o alimento que queriam.

INSTITUI ÇÃO IDENTIFICA ÇÃO LOCALI ZAÇÃO SALAS DE AULA Nº DE TURMAS PROFESSORAS AUXILIARES Nº DE CRIANÇAS POR SALA

Creche A Curado 3 5 salas 5 turmas 5 Prof. 9 Aux. 15 a 20 Escola B Curado 3 4 salas 8 turmas 8 Prof. 1 Aux. 20 Escola C Zona Rural 2 salas

4 turmas

3 Prof. 14 Escola D Guararapes 5 salas

10 turmas

10 Prof 1 Aux.

Aquela prática nos pareceu respeitosa e amorosa com as crianças, que assumiam ali, de certa maneira, o controle de uma situação relevante na sua autonomia, o que nos remeteu ao trabalho desenvolvido na Reggio Emília, no qual as crianças são instadas a conviver prazerosamente também nas suas refeições: "[...] Assim, os educadores oferecem um contexto agradavelmente social para suas refeições [...]" (GANDINI, 1999, p.157). Para Malaguzzi (1999), trata-se de uma concepção de escola e de professora que educa e aprende com as crianças.

A Instituição B é uma escola também situada na Regional Curado três do município de Jaboatão dos Guararapes, e funciona em prédio alugado, atendendo a educação infantil e o ensino fundamental até o 5º ano. A escola tem biblioteca e uma quadra coberta.

No tocante à educação infantil, tem 4 (quatro) salas de aula com 8 (oito) turmas, sendo 4 (quatro) pela manhã e 4 (quatro) à tarde, com crianças na faixa etária de 4 (quatro) a 6 (seis) anos. As 4 (quatro) salas de aula da educação infantil estão organizadas como salas temáticas, denominadas como sala de Artes, Movimento, Audiovisual, Brinquedoteca e Atividades Gerais, para funcionar em uma organização de rodízio, de maneira que cada turma frequenta dois ambientes a cada dia de aula, o que vem ocorrendo desde o início de 2012.

A formação continuada acontece na escola desde 2011 e no início era assumida pela diretora, mas desde meados de 2011 tem sido assumida por 1 (uma) professora. Ocorre uma vez por mês, com duração de 4 (quatro) horas, mas, se necessário, os professores se reúnem em encontros rápidos para planejar, definir ações a serem desenvolvidas na escola. Um aspecto dissonante na escola é uma piscina olímpica que funciona com aulas de hidroginástica todos os dias. As aulas de hidroginástica iniciam às 6h da manhã e terminam por volta de 8h da manhã, e o mesmo ocorre no final da tarde, mas, segundo as professoras, não chegam a atrapalhar significativamente o andamento das aulas na escola, nem, segundo elas, causa algum tipo de conflito com as crianças.

As explicações das professoras nos causaram estranhamento, pelo fato de haver uma piscina na escola cujo acesso era negado às crianças e aos demais estudantes. A naturalização daquela situação, a nosso ver desrespeitosa com as crianças e com a própria escola, incomodou-nos. Consideramos um paradoxo o fato de a instituição estar buscando possibilidades de mudanças em sua prática docente, buscando favorecer a expressividade das crianças, mas, ao mesmo tempo, não discutindo internamente, por exemplo, a imposição de uma situação em que se cerceia o direito de liberdade da criança.

Em meio a esses fatores, a instituição se declara como espaço voltado à brincadeira, uma vez que, segundo afirmações da professora formadora, a ludicidade permeia a prática

desenvolvida nas salas temáticas como eixo do trabalho pedagógico. Porém, precisávamos saber o que a escola estava aprendendo na vivência do brincar e da ludicidade. Definimo-nos por aquela escola pelo fato de, aparentemente, atender aos critérios estabelecidos e a perspectiva de que as contradições que encontramos poderão ser enriquecedoras, uma vez que a linearidade não acrescentaria fidedignidade à apreensão da realidade.

A Instituição C é uma escola localizada na zona rural do município de Jaboatão dos Guararapes na Regional 5 (cinco). É uma escola de difícil acesso e funciona em 3 (três) turnos, com turmas de educação infantil e ensino fundamental até o 5º ano. No tocante à educação infantil, tem 4 (quatro) turmas com crianças de 4 (quatro) e 5 (cinco) anos, sendo que 2 (duas) funcionam pela manhã e 2 (duas) à tarde, atendidas por 3 (três) professoras. Uma delas atua de manhã com a turma de 4 (quatro) anos e à tarde com uma turma de 5 (cinco) anos. O número de crianças é, em média, 14 (catorze), em face de as salas serem muito pequenas.

Quanto aos demais membros, a escola tem 1 (uma) gestora1 (uma) supervisora, 2 (duas) funcionários na secretaria da escola, 1 (uma) pessoa para o serviço geral e 1 (uma) merendeira, que também é mãe de 1 (uma) criança da educação infantil. No tocante à condição da estrutura física, o piso das salas é de cimento liso e todas são muito apertadas e quentes. Existe uma área descoberta na escola, porém as professoras e as crianças somente podem desenvolver atividades naquele local quando as condições do tempo permitem.

A supervisora atua como formadora nos encontros quinzenais e/ou mensais de formação continuada, com duração de 4 (quatro) horas, que envolve a escola como todo, apesar de serem destinados às professoras de educação infantil. Além desse encontro, tivemos notícias de que existem também nessa escola momentos de encontros mais rápidos com as professoras por área de atuação, para fazer o planejamento semanal ou discutir questões acerca da escola. Remetendo-nos a Oliveira et al., (2011, p.17), um aspecto que parece estar sendo considerado no processo de formação continuada é "[...] uma concepção de protagonismo docente que se contrapõe a uma perspectiva restrita em que o professor é visto como mero executor, um aplicador de prescrições curriculares definidas em âmbitos exteriores à escola.

A Instituição D funciona em um anexo, um prédio pequeno que parece ter sido uma residência. A escola está situada na Regional sete do município de Jaboatão dos Guararapes e tem 5 (cinco) salas e 10 (dez) turmas de educação infantil. A estrutura física é compatível com uma residência, com espaços exíguos e, por isso, inadequados, com salas muito pequenas e quentes, mesmo que a quantidade de crianças por sala seja em torno de 13(treze) a 15 (quinze)

crianças, no máximo. Há espaço descoberto e pequeno para as crianças brincarem e também um miniparquinho, com um brinquedo que é também um escorrego para as crianças.

O corpo docente na educação infantil se constitui de dez professores, sendo que cinco atuam pela manhã e cinco à tarde. Há uma supervisora pela manhã e que atua como formadora desde o início de 2011, com encontros mensais sistemáticos de duração de 4 (quatro) horas. Nesse anexo há ainda uma professora itinerante que acompanha uma criança com deficiência mental, além de uma merendeira e uma funcionária de serviços gerais. Existe outra supervisora que trabalha à tarde, mas atua mais com outras turmas na escola-Sede, que fica próxima ao anexo. Além dos encontros de formação na escola, as professoras também se reúnem quando querem planejar atividades envolvendo mais de uma turma.

Nessa instituição, a maioria das professoras mostrou-se aberta para a participação nesta pesquisa. Uma característica que emerge ao se adentrar na escola é que as produções das crianças e dos professores estão em todos os espaços e apresentam muitos elementos lúdicos, músicas, brinquedos, cantinhos, móbiles, dentre outros. Aquela escola, naquele momento, remeteu-nos às escolas da Reggio Emília. Nas palavras de Gandini (1999), o ambiente é também um educador para a criança, por isso "[...] precisa ser flexível; deve passar por uma modificação frequente pelas crianças e pelos professores a fim de permanecer atualizado e sensível às suas necessidades de serem protagonistas na construção do conhecimento" (p.157). A impressão é que existe ali uma relação dialógica com a criança, o brincar e a ludicidade.

4.1.3 O Perfil dos Participantes em Função dos Critérios da Investigação

Definimos como sujeitos da investigação, após um período longo de aproximação ao campo, e tendo em vista os requisitos estabelecidos nesta investigação, 8 (oito) sujeitos, sendo 6(seis) professoras atuando em sala de aula, dentre as quais 2 (duas) também atuam como formadoras, e 2 (duas) supervisoras.

Assim, apoiamo-nos em Alves-Mazzotti (1998), a seleção dos participantes da investigação é proposital, uma vez que o pesquisador os escolhe em função das questões de interesse do estudo e também das condições de acesso e permanência no campo e disponibilidade dos sujeitos. No nosso caso, consideramos o perfil dos sujeitos, assim como a sua aquiescência em participar do estudo, mesmo que, por exemplo, a escola estivesse em um local de dificílimo acesso, como é o caso da escola C.