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PARTE II A RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA

2. A RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA NO DIREITO BRASILEIRO

2.1 O Contencioso Administrativo

Processo administrativo fiscal é o meio pelo qual a Administração Tributária lança definitivamente, na esfera administrativa, o crédito tributário, ou resolve outra questão relacionada com a relação jurídica entre o sujeito ativo - o Fisco e o sujeito passivo – o responsável tributário.48

O Decreto nº 70.235, de 06.03.72 rege o processo administrativo de determinação e exigência dos créditos tributários da União e o de consulta sobre a aplicação da legislação tributária federal.

48

SARAIVA FILHO, Oswaldo Othon de Pontes. Tendências Atuais do processo administrativo fiscal. Revista Fórum de Direito Tributário – RFDT, Belo Horizonte, ano 4, n.22, p.81, jul./ago. 2006.

O contencioso administrativo propriamente dito se instaura quando o sujeito passivo impugna o lançamento do crédito fiscal. O julgamento de primeira instância é da competência dos delegados da Receita Federal. Existindo recursos, serão submetidos aos Conselhos de Contribuintes e, em última instância, à Câmara Superior de Recursos Fiscais, de acordo com o disposto no artigo 25 do Decreto nº 70.235/72.

Por seu turno, no que tange às contribuições previdenciárias, o contencioso administrativo possui apenas duas instâncias: a primeira, representada pelos delegados da Receita Previdenciária, e a segunda pelas Câmaras de Julgamento do Conselho de Recursos da Previdência Social.

O referido colegiado, integrante da estrutura do Ministério da Previdência Social, é órgão de controle jurisdicional das decisões do Instituto Nacional do Seguro Social, nos processos de interesse dos contribuintes da seguridade social, conforme prescrito no artigo 303 do Decreto nº 3.048/99.

Outra distinção importante entre o contencioso administrativo fiscal da União e o contencioso administrativo fiscal previdenciário diz respeito à possibilidade de a Fazenda Pública ingressar em juízo para reformar decisão administrativa a ela contrária.

No contencioso administrativo fiscal previdenciário, é vedado ao INSS e à Secretaria da Receita Previdenciária escusarem-se de cumprir as diligências solicitadas pelo Conselho de Recursos da Previdência Social, bem como deixar de dar cumprimento às decisões definitivas daquele colegiado, reduzir ou ampliar o seu alcance ou executá-las de modo que contrarie ou prejudique seu evidente sentido, conforme disposto no art. 308, § 2º, do Decreto nº 3048/99.

Entretanto, no contencioso administrativo fiscal da União, essa matéria ainda é alvo de acirrada polêmica.

Com efeito, alguns doutrinadores sustentam a tese da impossibilidade de a Fazenda Pública ir a juízo na tentativa de reverter decisões administrativas favoráveis ao contribuinte. Dentre estes, podemos destacar Eduardo Arrieiro Elias49.

49

ELIAS, Eduardo Arrieiro. Da impossibilidade de a Fazenda Pública ir a juízo na tentativa de reverter decisões administrativas favoráveis aos contribuintes. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 577, 4.fev. 2005. Disponível em <http://www.jusnavigandi.com.br>. Acesso em: 12 out. 2006.

Para ele, as lides tributárias no Brasil estão sujeitas a uma dualidade de cognição, pois além da possibilidade de discussão no âmbito administrativo, também possuem a garantia de acesso ao Poder Judiciário.

No entanto, esta garantia não poderia ser alegada pela Fazenda Pública, uma vez que as decisões administrativas, em matéria tributária, gerariam, direito adquirido aos contribuintes, quando a estes favoráveis, em face da previsão constitucional contida no art. 5º, XXXVI.

Desta forma, a extinção do crédito tributário pela decisão administrativa irrecorrível, por ser uma garantia individual do contribuinte, se configuraria em uma cláusula pétrea, de acordo com o art. 60, § 4º, IV, da Carta Magna.

Outros motivos alinhados pelo autor para defender o seu entendimento são o de que faltaria à Administração Pública interesse de agir nestes casos, pois lhe cabe o autocontrole de seus atos, além de o Poder Judiciário certamente ficar abarrotado de processos intentados pela Fazenda, toda vez que ela fosse derrotada na instância administrativa.

Em campo oposto ao raciocínio acima desenvolvido figura Gislene Frota Lima50, para quem é possível a revisão judicial das decisões administrativas desfavoráveis à Administração Pública Tributária.

Para ela, a preclusão administrativa, impropriamente chamada de coisa julgada administrativa, acarreta apenas a imodificabilidade da decisão no âmbito administrativo, nada impedindo que as partes - Administração e contribuinte – uma vez descontentes com o desfecho do processo, levem o caso ao Judiciário.

A doutrina e a jurisprudência são unânimes no sentido de que o administrado pode, em face de uma decisão administrativa que contaria os seus interesses, buscar o Judiciário para obter a sua modificação.

50

LIMA, Gislene Frota. Da possibilidade de revisão judicial das decisões administrativas desfavoráveis à própria Administração Pública Tributária. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 364, 6 jul. 2004. Disponível em: <http://www.jusnavigandi.com.br> Acesso em: 12 out. 2006.

A controvérsia, quanto á possibilidade de se levar o caso á cognição judicial, só surge quando é a própria Administração Pública que se depara com uma decisão que lhe é desfavorável e que se tornou definitiva.

Na verdade, a questão reside na correta interpretação do art. 45 do Decreto nº 70.235/72, in verbis:

No caso de decisão definitiva favorável ao sujeito passivo, cumpre à autoridade preparadora exonerá-lo, de ofício, dos gravames decorrentes do litígio.

Como pode se verificar da leitura do referido dispositivo, não há em seu comando nenhuma vedação ao ingresso em juízo da Fazenda Pública, sempre que ocorrer o inconformismo com uma decisão final contrária prolatada em processo administrativo.

De fato, a tese de que a Administração possa ajuizar uma ação para anular uma decisão administrativa colegiada foi sufragada pela 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, conforme o seguinte aresto:

Não impressiona que a União, pelo órgão de representatividade judicial, proveja à realização de um interesse maior, que se sobrepõe até mesmo a uma decisão colegiada, que, embora definitiva, em sede administrativa, não se subtrai ao exame da legalidade na órbita judiciária, atividade que se insere no âmbito de atribuições ou da competência de seu representante judicial, e, pois, com legitimidade para propor a ação (Apelação Cível nº 95.01.055547- 78/PA).