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PARTE II A RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA

2. A RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA NO DIREITO BRASILEIRO

2.12 O Julgamento da Constitucionalidade do art.13 da Lei nº 8.620/93 pelo

O art .13 da Lei nº 8620/93, que alterou as Leis nº 8212/91 e 8213/91, as quais instituíram o Plano de Custeio e o Plano de Benefícios da Previdência Social, assim dispõe:

Art. 13. O titular da firma individual e os sócios das empresas por cotas de responsabilidade limitada respondem solidariamente, com seus bens pessoais, pelos débitos junto à Seguridade Social.

Parágrafo único. Os acionistas controladores, os administradores, os gerentes e os diretores respondem solidariamente e subsidiariamente, com seus bens pessoais, quanto ao inadimplemento das obrigações para com a Seguridade Social, por dolo ou culpa.

O dispositivo em tela foi alvo de duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade, atualmente em trâmite no Supremo Tribunal Federal, ambas tendo como relator o Ministro Cezar Peluzo.

A primeira, de nº 3642, foi interposta pela Confederação Nacional do Transporte - CNT.

Já a segunda, que tomou o nº 3672, foi ajuizada pela Confederação Nacional da Indústria- CNI.

As duas tem como fundamento para a ação o art. 19, inciso III e o art.24, §3º, da Constituição Federal, a seguir transcritos:

Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...]

III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

[...]

§ 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

A CNT requer seja retirada da norma questionada a expressão ”e os sócios

das empresas por cotas de responsabilidade limitada”, do caput do art. 13, bem como

Conforme a petição inicial da referida ação, a responsabilidade pelo inadimplemento do tributo aplica-se, no tocante aos sócios, somente em relação às sociedades de pessoas, e ainda assim, apenas no caso de sua liquidação.

Segundo a autora da ADI, não teriam fundamento no Código Tributário Nacional as normas que, em matéria de contribuições para a Seguridade Social, imputam responsabilidade aos sócios das sociedades limitadas pelo simples inadimplemento, bem como aos sócios controladores das sociedades por ações, pelo não pagamento com dolo ou culpa.

A Confederação alega a inconstitucionalidade material da norma por ofensa aos princípios da isonomia, da razoabilidade e da proporcionalidade, alem da inconstitucionalidade formal, por ter invadido área reservada à lei complementar, conforme prescrito no art. 146, III, b, da CF:

Art. 146. Cabe à lei complementar: [...]

III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre:

[...]

b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários; [...]

Entende a entidade ainda que a responsabilidade tributária dos sócios de sociedades limitadas e anônimas reclama disciplina exclusiva por lei complementar.

Por fim, defende que como os dispositivos questionados só se aplicam em relação às contribuições sociais, haveria nítida ofensa ao art. 19, III, da Carta Magna, pois teria sido criada uma distinção inaceitável para a Seguridade Social.

A ADI nº 3642 teve o pedido de liminar denegado, e aguarda o julgamento pelo Pleno do STF, com parecer da Procuradoria-Geral da República pelo indeferimento do pedido, de acordo com o andamento contido no sítio eletrônico do Supremo Tribunal Federal (acesso em 19/03/2006).74

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Por seu turno a CNI, utilizando basicamente os mesmos argumentos da CNT, entendeu que, para que as expressões contestadas fossem válidas, seria necessário admitir que as leis ordinárias pudessem criar novas hipóteses de responsabilidade tributárias, a despeito de um padrão de unidade fixado em lei complementar.

Aduz que a expressão “e os sócios das empresas por cotas de

responsabilidade limitada” seria inconstitucional, por estabelecer responsabilidade

objetiva e ilimitada para todo e qualquer sócio cotista, mesmo aquele que possua uma única cota.

Sustenta também que o art. 13 da Lei nº 8620/93 não corresponde a qualquer das hipóteses contidas no Código Tributário Nacional, e que os dispositivos atacados não respeitaram a necessidade de lei complementar.

Por derradeiro, alega que haveria incompatibilidade face aos princípios da liberdade de iniciativa econômica e de trabalho, além do desrespeito à uniformidade normativa decorrente de um sistema tributário nacional, posto que teria sido criado um sistema distinto apenas para a Seguridade Social.

A ADI nº 3672 também teve a liminar indeferida, e no momento encontra-se aguardando resposta aos pedidos de informações enviados ao Presidente da República e ao Presidente do Congresso Nacional, segundo a informação constante do sítio eletrônico do STF75.

Na verdade, a alegada inconstitucionalidade da norma em questão não pode prosperar, em especial porque a disciplina relativa às contribuições para a Seguridade Social é matéria a ser tratada por lei ordinária, como prescreve o art. 195 da Constituição Federal.

Igualmente, o Código Tributário Nacional, em seus artigos 121, parágrafo único, inciso II; 124, inciso II; e 128, determinam a observância de lei ordinária e não de lei complementar.

Neste tópico, sempre é oportuno relembrar o magistério de Roque Carrazza:

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Por igual modo, não cabe á lei complementar em análise determinar às pessoas políticas como deverão legislar acerca da ”obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários”. Elas, também nestes pontos, disciplinarão tais temas com a autonomia que lhes outorgou o Texto Magno.76

No mesmo sentido, assim se manifestou Luciano Amaro:

A lei complementar adensa os traços gerais dos tributos, preparando um esboço que, finalmente, será utilizado pela lei ordinária, à qual compete instituir o tributo, na definição exaustiva de todos os traços que permitam identificá-lo na sua exata dimensão, ainda abstrata, obviamente, pois a dimensão concreta dependerá da ocorrência do fato gerador que, refletindo a imagem minudentemente desenhada na lei, dará nascimento à obrigação tributária.77

Ademais, não há que se falar em violação ao princípio da isonomia, porque se exige a comprovação do dolo ou culpa para caracterizar a responsabilização pessoal dos acionistas controladores, e o mesmo não ocorre no caso dos sócios nas sociedades por cotas de responsabilidade limitada.

Com efeito, em relação a estes últimos, a responsabilidade objetiva se justifica, na medida em que todos os sócios estão ligados à administração da sociedade, ainda que sem exercê-la, em face do caráter contratual das sociedades limitadas.

Já nas sociedades anônimas não existem vínculos contratuais entre os sócios, que muitas vezes nem se conhecem, razão pela qual há um controle muito maior dos atos praticados pelos administradores destas sociedades

Em face do exposto, justificado o tratamento diferenciado entre tipos societários distintos, esperamos que a mais alta corte de justiça brasileira venha a confirmar o parecer do Ministério Público Federal, e declare a constitucionalidade dos dispositivos questionados.

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CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de direito constitucional tributário. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 1999. p. 571.

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Por importante, cabe registrar que uma parcela dos ministros do Superior Tribunal de Justiça tem entendido perfeitamente aplicável à espécie o art. 13 da Lei nº 8.620/93, como constitui exemplo o julgamento proferido no Agravo Regimental no Recurso Especial nº 410.080 - PR (2002/0014196-2).

Para tais ministros, em se tratando de débitos da sociedade para com a Seguridade Social, decorrentes do descumprimento das obrigações previdenciárias, há responsabilidade solidária de todos os sócios, mesmo quando se trate de sociedade por quotas de responsabilidade limitada, em face da aplicação do art. 13 da Lei 8.620⁄93, que alterou as regras das Leis 8.212 e 8.213, de 1991.

Nestes casos, a responsabilidade atribuída pela lei ao sócio-cotista tem respaldo no art. 124, II, do Código Tributário Nacional e independe de comprovação, pelo credor exeqüente, de que o não-recolhimento da exação decorreu de ato abusivo, praticado com violação à lei, ou de que o sócio deteve a qualidade de dirigente da sociedade devedora.