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PARTE II A RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA

3. A RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA NO DIREITO PORTUGUÊS

3.2 O Quadro Legal

A responsabilidade dos gerentes e administradores por dívidas das sociedades de responsabilidade limitada surgiu no ordenamento jurídico luso em sete de dezembro de 1929, com o Decreto nº 17.730, que assim prescreveu:

Artigo 1º do Decreto nº 17.730, de 07.12.29:

Por todas as contribuições, impostos, multas e quaisquer outras dívidas ao Estado que forem liquidadas ou impostas a empresas ou sociedades de responsabilidade limitada em relação a actos praticados ou a actividades exercidas depois da publicação do presente decreto são pessoal e solidariamente responsáveis, pelo período da sua gerência, os respectivos administradores ou gerentes, e ainda os membros do conselho fiscal nas sociedades em que o houver, se este expressamente caucionou o acto de que deriva a responsabilidade.

Esta norma de 1929, que caracterizava o caráter solidário da responsabilidade, vigorou até em 1963, quando foi editado o Código de Processo das Contribuições e Impostos - CPCI, e foi tornada aplicável ao regime geral de previdência pelo Decreto-Lei nº 512/76, de 3 de Julho, e depois pelo artigo 13.º do Decreto-Lei n.º 103/80, de 9 de Maio:

Artigo 16º do Código de Processo das Contribuições e Impostos - CPCI, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 45.005, de 27.04.63:

Por todas as contribuições, impostos, multas e quaisquer outras dívidas ao Estado que forem liquidadas ou impostas a empresas ou sociedades de responsabilidade limitada, são pessoal e solidariamente responsáveis, pelo período da sua gerência, os respectivos administradores ou gerentes, e ainda os membros do conselho fiscal nas sociedades em que o houver, se este expressamente caucionou o acto de que deriva a responsabilidade.

Artigo 4º do Decreto-Lei nº 512, de 03.07.76:

O regime estabelecido no artigo 16º do Código de Processo das Contribuições e Impostos é aplicável à falta de pagamento das contribuições do regime geral de previdência e às multas por falta de participação estabelecida no nº 1 do artigo 1º do Decreto - Lei nº 511/76, de 3 de Julho, e por falta de entrega das folhas de ordenados ou salários impostas pelo mesmo regime.

Artigo 13º do Decreto-Lei nº 103, de 09.05.80, que disciplinou o regime jurídico das contribuições para a previdência:

Pelas contribuições e respectivos juros de mora e pelas multas previstas no artigo 21º, que devem ser pagas por sociedades de responsabilidade limitada, são pessoal e solidariamente responsáveis, pelo período da sua gerência, os respectivos gerentes ou administradores.

Em 02.09.86, através do Decreto-Lei nº 262, passou a viger o Código das Sociedades Comerciais, cujo art. 78º só responsabilizava os gerentes e administradores perante os credores das sociedades, de forma subsidiária, quando o patrimônio social se tornasse insuficiente para a satisfação dos créditos, em razão da inobservância culposa das disposições legais ou contratuais destinadas à proteção dos credores, cabendo aos interessados o ônus da prova dessa culpa dos gerentes ou administradores:

Artigo 78.º do Código das Sociedades Comerciais, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 262, de 02.09.86:

Os gerentes, administradores ou directores respondem para com os credores da sociedade quando, pela inobservância culposa das disposições legais ou contratuais destinadas à protecção destes, o patrimônio social se torne insuficiente para a satisfação dos respectivos créditos.

Por seu turno, o artigo único do Decreto-Lei n.º 68, de 09.02.87, determinou a aplicação do regime do Código das Sociedades Comerciais às sociedades de responsabilidade limitada:

Artigo único do Decreto-Lei n.º 68, de 09.02.87:

À responsabilidade dos gerentes e administradores de sociedades de responsabilidade limitada prevista no art. 16.º do Código de Processo das Contribuições e Impostos, aprovado pelo D.L. n.º 45 005, de 27.4.1963, e no art. 13.º do D.L. n.º 103/80, de 9.5, é aplicável o regime do artigo 78.º do Código das Sociedades Comerciais, aprovado pelo D.L. n.º 262/86, de 2 de Setembro.

Constata-se então, pelas normas acima referidas, que a partir de setembro de 1986 o ônus da prova da culpa dos administradores, pela insuficiência do patrimônio da sociedade para pagamento de seus credores, passou a caber à Administração Fazendária.

Contudo, a partir da vigência do Código de Processo Tributário, em 1991, ressurge consagrada uma presunção de culpa dos administradores, desta vez baseada na insuficiência do patrimônio societário para satisfação dos créditos tributários, ficando a cargo destes o ônus de provar que tal insuficiência não se deveu a culpa sua82:

Artigo 13.º do Código de Processo Tributário (CPT) - aprovado pelo Decreto- Lei nº 154 de 23.04.91:1. Os administradores, gerentes e outras pessoas que exerçam funções de administração nas empresas e sociedades de responsabilidade limitada são subsidiariamente responsáveis em relação àquelas e solidariamente entre si por todas as contribuições e impostos relativos ao período de exercício do seu cargo, salvo se provarem que não foi por culpa sua que o patrimônio da empresa ou sociedade de responsabilidade limitada se tornou insuficiente para a satisfação dos créditos fiscais

Já a partir da vigência da Lei n.º 52-C/96, em janeiro de 1997, deixou de ser pressuposto legal da responsabilidade dos gerentes de sociedades a existência de administração nominal ou de direito, pois o art. 52.º deste diploma legal, ao dar nova redação ao n.º 1 do art. 13.º do CPT, acrescentou-lhe a expressão "ainda que somente de facto”:

82

SILVA, Isabel Marques da. A responsabilidade tributária de administradores de pessoas colectivas no direito português. Revista Fórum de Direito Tributário, Belo Horizonte, ano 3, n. 17, p.113-131, set./out. 2005.

Artigo 52.º da Lei n.º 52-C, de 27.12.96 - Orçamento de Estado para 1997 - alterou o n.º 1 do artigo 13.º do CPT:

1. Os administradores, gerentes e outras pessoas que exerçam, ainda que somente de facto, funções de administração nas empresas e sociedades de responsabilidade limitada são subsidiariamente responsáveis em relação àquelas e solidariamente entre si por todas as contribuições e impostos relativos ao período de exercício do seu cargo, salvo se provarem que não foi por culpa sua que o patrimônio da empresa ou sociedade de responsabilidade limitada se tornou insuficiente para a satisfação dos créditos fiscais

Por outro lado, a Lei Geral Tributária, na alínea “b”, do n.º 1, do artigo 24.º, restringiu a inversão do ônus da prova da culpa ao não pagamento das dívidas vencidas no período de exercício de funções.

Entretanto, nem por isso a responsabilidade subsidiária dos administradores ficou restrita a estas dívidas, posto que a alínea ”a”, do n.º 1, do art. 24.º, estabelece que eles são também responsáveis, caso a Administração Fiscal prove que foi por culpa deles que o patrimônio da sociedade se tornou insuficiente para a sua satisfação das dívidas tributárias, cujo fato constitutivo se tenha verificado no período de exercício do seu cargo, ou cujo prazo legal de pagamento ou entrega tenha terminado depois deste:

Artigo 24º do Decreto-Lei nº 398, de 17.12.98 - Lei Geral Tributária:

1- Os administradores, directores e gerentes e outras pessoas que exerçam, ainda que somente de facto, funções de administração nas sociedades, cooperativas e empresas públicas são subsidiariamente responsáveis em relação a estas e solidariamente entre si:

a) Pelas dívidas tributárias cujo facto constitutivo se tenha verificado no período de exercício do seu cargo ou cujo prazo legal de pagamento ou entrega tenha terminado depois deste, quando, em qualquer dos casos, tiver sido por culpa sua que o patrimônio da sociedade se tornou insuficiente para a sua satisfação;

b) Pelas dívidas tributárias cujo prazo legal de pagamento ou entrega tenha terminado no período do exercício do seu cargo, quando não provem que não lhes foi imputável a falta de pagamento.

Em 29.12.2000, a redação do dispositivo acima transcrito foi parcialmente alterada, pela Lei nº 30-G, substituindo as expressões “sociedades, cooperativas e empresas públicas” por “pessoas coletivas e entes fiscalmente equiparados”:

Artigo 13º da Lei nº 30-G, de 29.12.2000 - alterou o artigo 24.º da Lei Geral Tributária:

1- Os administradores, directores e gerentes e outras pessoas que exerçam, ainda que somente de facto, funções de administração ou gestão em pessoas colectivas e entes fiscalmente equiparados são subsidiariamente responsáveis em relação a estas e solidariamente entre si:

a) Pelas dívidas tributárias cujo facto constitutivo se tenha verificado no período de exercício do seu cargo ou cujo prazo legal de pagamento ou entrega tenha terminado depois deste, quando, em qualquer dos casos, tiver sido por culpa sua que o patrimônio da pessoa colectiva ou ente fiscalmente equiparado se tornou insuficiente para a sua satisfação;

Por derradeiro, recentemente, em 27.03.06, foi alterado o texto do artigo 78º do Código das Sociedades Comerciais, para retirar a palavra “diretores”, permanecendo intocado o restante do artigo:

Artigo 2º do Decreto- Lei nº 76-A, de 27.03.2006 - alterou o art. 78º do Código das Sociedades Comerciais:

1. Os gerentes ou administradores respondem para com os credores da sociedade quando, pela inobservância culposa das disposições legais ou contratuais destinadas à protecção destes, o património social se torne insuficiente para a satisfação dos respectivos créditos