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1. Introdução e Objetivos

2.8. O Design e o Papel do Designer

Como foi abordado anteriormente, o design é uma ferramenta para ser explorada, permitindo dar personalidade aos produtos. Porém, todos estes atributos só serão viáveis, se o profissional, o designer, estiver preparado para desempenhar a sua função. E qual é o papel do designer nesse contexto?

4 O Grupo IKEA é um grupo privado de empresas, propriedade duma fundação com sede nos Países Baixos. Grupo

IKEA forma o maior grupo de concessões com mais de 100 lojas IKEA. Os Serviços de Direcção do Grupo IKEA são dirigidos na IKEA Services AB na Suécia e na IKEA Services B.V. nos Países Baixos. www.ikea.com/ms/pt. (04.03.10).

“Na sociedade atual, o designer tem, por um lado, a função de entender as necessidades de lucro da empresa e, por outro lado, realizar os “desejos” do consumidor, mas com uma visão que vai além dos intramuros da indústria, da cadeia produtiva, dos fatores macro-económicos, das novas tecnologias e das novas estratégias de gestão (visão própria e a do industrial) ” Avedano (2005, p.2).

Esta visão não é comum a todos os designers, em consequência da formação acadêmica recebida, ou mesmo pela visão do profissional de design que sem o preparo básico necessário (as questões tecnológicas e as metodologias do design aliadas às práticas do processo de produção) pela pouca experiência, para desempenhar efetivamente o seu papel dentro da empresa.

A Bauhaus, escola de design fundada em 1919 na Alemanha, contribuiu de forma significativa para a definição do papel do designer. Implementada com a missão de promover a união entre a arte e a técnica, com uma orientação mais individualista, focava a valorização e a expressão pessoal do artista na concepção do produto. Esta visão permaneceu por muito tempo na formação dos designers, o que fez que hoje ainda, os designers sejam vistos (uma visão equivocada) como artistas que criam a estética do produto, sem a preocupação com a prática projetual. Isso estabeleceu um distanciamento entre o profissional de design e a indústria, deixando uma lacuna, no atendimento das necessidades em um mercado potencial de design.

Para muitas empresas que não estão habituadas a contratar os trabalhos dos designers, predomina o entendimento que o seu trabalho, muitas vezes, fica reduzido à criação de estilos orientados pela moda. A desvinculação entre o processo tecnológico e a criação da forma, levou a uma imagem errada acerca do profissional, que passou a ser encarado como um “maquiador de produtos” (Santos, 2006). Explica a autora que pode-se entender o “maquiador de produtos” de duas maneiras: o profissional que se encarrega de dar ao projeto de um novo produto, realizado por engenheiros, uma aparência mais agradável, visando facilitar sua aceitação no mercado; ou o profissional que cria formas para produtos que, necessariamente, deverão ser adaptadas ao processo de fabricação definido pelos engenheiros. Nos dois casos, o designer está à margem do processo produtivo e os conhecimentos tecnológicos que necessita são mínimos. Na visão da autora em decorrência disso, a sociedade não conhece as possibilidades de atuação do designer no processo produtivo e isso deve-se, em parte à própria postura do profissional que, muitas vezes, desconhece qual é o seu papel dentro da indústria.

Acrescentando-se a ideia da autora pode-se dizer que em muitas escolas o estudante sai, sem a preparação para enfrentar o mercado real. Em outras situações, alguns profissionais (designers)

entendem o seu papel como inovadores radicais, sem a preocupação com a viabilidade técnica, produtiva e funcional, quando nas empresas a procura é por designers inovadores, de produtos criativos, mas vendáveis.

Para Baxter, (2005) os melhores designers do futuro serão multifuncionais, pois o mais importante, é ter conhecimentos básicos metodológicos para o desenvolvimento de novos produtos, para coordenar as atividades do projeto. A capacidade de usar métodos básicos em cada uma dessas três fases: marketing, engenharia e desenho industrial, capacitará o designer a ter uma visão global sobre o PDP.

Portanto, essas considerações não pretendem menos prezar a importância das questões estético- formais nos produtos industriais. Mesmo porque a forma está relacionada, também, com os aspectos culturais e semânticos do produto. Como enfatiza Santos (2006), a valorização dos conhecimentos tecnológicos deve acontecer sem ocorrer uma desvalorização da arte no design de produto, pois a relação do design com a arte diz respeito à interpretação dos valores culturais de uma sociedade e da transmissão destes valores, por meio da forma e da relação que o objeto estabelece com o usuário. Estas questões devem ser consideradas dentro da política de PDP da empresa.

Como afirmou Flaviano Celashi o designer é uma figura fundamental no PDP e deve estar presente desde o início do processo. Se o designer chegar apenas no fim do processo, ele fica de mãos atadas, não pode inovar. O designer deve fazer parte de todo o processo. Deve ser a base da inovação.

Para o designer, outra questão importante é entender que o consumidor, quando decide comprar, baseia-se maioritariamente em sua consciência de valor, no que considera importante e naquilo que lhe ofereça um maior benefício nas relações com o meio ambiente, com sua cultura, com a usabilidade do produto e com o preço.

Uma questão importante ainda não citada pelos autores até aqui referidos, é que o designer é uma peça de um conjunto de elementos (equipe), que trabalha com um objetivo: criar um produto. Entendendo o design como uma disciplina interdisciplinar, inter-relacionada com outras áreas em especial como o marketing e a engenharia de produtos, como o é, o designer deve actuar em conjunto com essas áreas.

Assim sendo, pode-se admitir que o design é o resultado de um processo criativo, na maioria das vezes uma inovação, que pretende solucionar um problema específico voltado ao atendimento das necessidades do cliente (Medeiros et al., 2008) e para isso, o designer ao conceber um produto deve interpretar e materializar o que o mercado procura e anseia, com criatividade aliada à tecnologia e com a preocupação com o meio ambiente. Ele tem que ser antes de tudo criativo, utilizando os seus conhecimentos estéticos-formais, culturais e técnicos, aproveitando-os ao máximo, no exercício da observação do comportamento do consumidor.

Como afirma Baxter, (2005, p: 21):

“O designer de produto bem sucedido é aquele que consegue pensar com a mente do consumidor: ele consegue interpretar as necessidades, sonhos, desejos, valores e expectativas do consumidor”.

O mercado continuará necessitando de produtos de baixo custo, é claro, mas também, pedirá por diferenciação, variedade e personalização. No caso das indústrias de móveis, os designers têm um papel ainda mais desafiador, buscar inovação não só no design e na tecnologia dos materiais mas, sobretudo, nos materiais alternativos. É a aplicação do eco design, de um design sustentável. É por intermédio de sua consciência ecológica que ele incentivará o consumidor a ter um comportamento ecológico, responsável. No Brasil, nos últimos anos as questões ambientais, a cada dia, vão se fortalecendo e a consciência de que cada um é responsável pela saúde do planeta, está aumentando principalmente, na população jovem. Isso está sendo percebido por pessoas importantes na área do design, como Flavio Celashi quando declarou em relação ao Brasil:

“Trata-se de um país parcialmente industrializado, mas que tem uma sensibilidade ambiental elevada. No Brasil, essa sensibilidade é um meio de realizar projetos com processos pobres e escassez de recursos. A pobreza aumenta a criatividade, mas aumenta também a sensibilidade ambiental. Na China, não é assim. Lá, a necessidade de superar a pobreza resulta em uma absoluta insensibilidade ambiental”.

Conclui-se então, diante deste panorama, que são necessárias informações de conscientização do empresariado, dos designers e de todos os agentes envolvidos no processo produtivo do setor mobiliário. Considerar todas as questões aqui abordadas é fundamental para ampliar as oportunidades de mercado.

Implantar um design inovador, que venha somar com o potencial produtivo existente nas indústrias mobiliárias do Brasil, especialmente no Polo Mobiliário de São Bento do Sul e nas indústrias de mobiliário de Portugal, no Polo Industrial de Paços de Ferreira (objetos deste estudo), só vem contribuir para o fortalecimento e o reconhecimento do design brasileiro e português.

As empresas precisam estar mais dispostas a mudanças contínuas. Tanto a indústria quanto o designer precisam estar muito mais atentos aos desafios da inovação. Com o mundo ligado à rede vinte quatro horas por dia, não existe mais inovação com um tempo marcado, ela é contínua.

Um dos exemplos dessa inovação contínua pode ser visto no design europeu, notadamente o italiano, que está sempre num fluxo de inovação por toda a empresa. A indústria de móveis precisa que

seus proprietários, profissionais e colaboradores designers estejam atentos e sensíveis aos sinais do mercado. Só assim, haverá um produto com um design inovador que surpreenda seus clientes.

Alinhado a essas iniciativas das empresas são necessárias também, as parcerias dos órgãos governamentais de fomentos, conforme alerta Coutinho, (1997, p.52) a respeito das indústrias brasileiras, mas válida também, para as indústrias portuguesas:

“O design não avançará no Brasil se ele não se tornar parte integrante e fonte das estratégias privadas. [...] É difícil imaginar um avanço expressivo do design sem que a indústria esteja numa fase produtiva de criação, no sentido mais amplo de seu desenvolvimento. A existência de políticas de fomento à indústria em geral, melhor articuladas à política macroeconômica, cria condições mais favoráveis ao desenvolvimento próprio de tecnologia e design”.

O esforço das indústrias e dos órgãos setoriais e do governo apoiando e fomentando ações para o desenvolvimento do produto e a modernização das indústrias, nomeadamente a do setor de móveis, auxiliará na evolução e no fortalecimento do produto mobiliário

Capítulo III