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1. Introdução e Objetivos

2.7. O Design nas Indústrias de Móveis

Nas últimas décadas surgiram com as transformações econômicas, com os avanços tecnológicos e com as mudanças influenciadas pelo mundo globalizado, novas filosofias, novos conceitos e métodos de gestão de produção e de recursos humanos. Um desses conceitos é o design e a sua aplicação. A socialização do design e a sua familiarização vêm se fortalecendo na medida em que é inserido nos processos de desenvolvimento de novos produtos das grandes indústrias.

Para melhor se compreender a importância do design, na concepção de um produto, cabe aqui apresentar algumas definições, segundo os mais importantes teóricos da área.

Para Bonsiepe (1992) o design é uma atividade criativa, que tem por objetivo a constituição de um ambiente material coerente para responder de forma ótima às necessidades materiais e espirituais do homem. Diz ainda, que o design industrial se ocupa dos problemas de uso, das funções (no sentido do funcionamento), da produção, do mercado, do lucro e da estética dos produtos industriais.

O conceito de design criado pelo ICSID-Internacional Council of Societies of Industrial Design (2000 em Schoenacher, 2002, p:2) diz que:

“Design é uma atividade criativa cujo objetivo é estabelecer as qualidades multifacetadas de objetos, processos, serviços e seus sistemas de ciclo de vida. Assim, design é o fator central da humanização inovadora das tecnologias e o fator crucial de intercâmbio cultural e económico”.

Para Lobach (2001), design compreende a concretização de uma ideia em forma de projetos ou modelos, mediante a construção e configuração, resultando num produto industrial passível de produção em série. Já Luza (2003, p. 25) considera que:

“O design sugere uma abordagem mais ampla e de carácter multidisciplinar, envolvendo todas as etapas do desenvolvimento do produto, indo da concepção

à materialização, sem negligenciar o homem - componente principal do processo - no seu contexto e habitat”.

Na visão de Flaviano Celashi3, professor da Politécnico de Milão, design é mais do que desenhar produtos. O design deve ser um fluído que atravessa as organizações e seus processos.

Uesu (2003) diz que as atividades atuais do design permitem entendê lo como um processo criativo, inovador e provedor de soluções a problemas, de importância fundamental não apenas para a esfera produtiva, tecnológica e econômica, mas também social, ambiental e cultural. O processo do design demanda de conhecimentos, num meio multidisciplinar, que vai desde a etapa de concepção de novos produtos, desenvolvimento, produção, marketing até seu descarte.

De base nestes conceitos, pode-se afirmar que as atividades do design envolvem um conjunto de conhecimentos que começa com a percepção de uma oportunidade de mercado ao descarte do produto. Isso sugere uma cadeia integrada de pessoas que interagem, buscando e trocando informações e conhecimentos, que se desafiam em busca do novo, ou da renovação, da melhoria do velho tornando-o em algo mais eficiente e mais atrativo. O design é o resultado de um processo criativo, inovador que pretende solucionar um problema específico voltado ao atendimento da necessidade do cliente.

Estas são as definições daquilo que devem ser as atividades do design. No entanto, a literatura mostra que na realidade, são poucas as empresas que focam nestas atividades. Pôde-se observar na pesquisa de campo, que os esforços estão mais relacionados com a redução de preços e melhorias dos processos, enquanto os investimentos nas inovações do design do produto são poucas.

Silva e Câmara (2004) afirmam que na visão dos empresários das médias e pequenas empresas, não é investido em design próprio, devido ao custo desse investimento e pelo retorno ser baixo ou negativo. Dizem as autoras, que para as empresas criarem design de novos produtos, procuram observar as principais tendências do mercado e elaborar um novo modelo que, na verdade, é a cópia de diversos modelos num único produto. Já as grandes empresas procuram desenvolver seus próprios projetos comprando ou adaptando projetos estrangeiros.

Implantar o design e mudar esta cultura é um desafio tanto para os designers quanto para os próprios empresários, pois esbarra em duas questões importantes, a primeira é de ordem gerencial, na qual o gestor, normalmente, é um membro da família e tem o poder de decisão, e a segunda é contratar o

3 Flaviano Celashi é o fundador do curso de Design da Universidade Politécnica de Milão ele presta assessoria ao Centro de Design da Unisinos, de São Leopoldo (RS), no Brasil. Lá, tem a oportunidade de avaliar o nível de competitividade do design brasileiro, como demonstrou na entrevista da revista AMANHÃ.

designer e dar-lhe a liberdade de criar e sugerir o conceito gerado de acordo com as necessidades do mercado e não com as preferências individuais. Esta questão é abordada por Minuzza et al. (p: 2, 2002), que enfatizam:

“A incorporação do design na empresa está condicionada ao modelo de empresa e de gestão, se este é compatível com as atividades de design; se há compromisso da direção com as estratégias de inovação e design; se há uma gestão especializada em design”.

Como se falou anteriormente, não basta somente a empresa adotar uma cultura de design, é necessário muito mais que isso. É fundamental que haja por parte da empresa, especialmente de seus mandatários, um novo modo de pensar e agir para integrar a nova estratégia a toda a organização. Adotar uma cultura de design, significa que esta iniciativa afetará todos os departamentos da empresa, influenciando a estrutura organizacional, sobretudo as relações interdepartamentais e as tomadas de decisão. Este é um importante desafio para as indústrias mobiliárias.

Há que se levar em conta o que enfatiza a AIMMP, (p: 49, 2007):

“ Se considerarmos o processo de reestruturação que se verificou na indústria de mobiliário na União Europeia, nos últimos anos, é de prever um longo e difícil caminho para as empresas portuguesas, até que alcancem os níveis de desenvolvimento já atingidos na maioria dos países-membros, o que pode levar ao encerramento ou à fusão de muitas unidades estruturalmente deficientes.” Nesse contexto pode-se admitir que na indústria mobiliária em Portugal, há ausência de um conjunto de atividades que auxiliam as empresas a se destacarem, tanto no mercado nacional quanto internacional. Como já abordado pelas Associações Setoriais, há que melhorar a eficácia dos processos de gestão, prestando a devida atenção ao mercado, cada vez mais exigente, e à concorrência cada vez mais agressiva, apelando à atualização tecnológica dirigida às necessidades reais do mercado, à formação profissional, à inovação, ao design, à qualidade dos produtos, a parcerias empresariais e a estratégias comerciais e de um marketing eficaz.

Esta realidade não é diferente nas empresas brasileiras. Enquanto outros países já desfrutam de resultados positivos pela incorporação de estratégias competitivas, no Brasil, apesar de existirem muitos programas que reúnem diversas instituições governamentais e associações ligadas ao setor mobiliário, para incentivar e auxiliar as iniciativas de adoção do design, principalmente, pelas pequenas e microempresa, esta transição é lenta.

Como afirma Gorini, (2007), as inovações que surgem no desenvolvimento de um novo design envolvem diversos aspectos dentre os quais se destacam: a) a diminuição do uso de insumos (materiais e energéticos); b) a simplificação do número de partes e peças envolvidas num determinado produto; e c) a redução do tempo de fabricação. Enfatizam ainda as autoras, que no Brasil onde ainda, predominam cópias modificadas dos modelos oferecidos no mercado internacional, poucas empresas possuem um departamento de design formalmente constituído.

No caso daquelas empresas que exportam móveis de pínus, o design é, na maioria das vezes, determinado pelos importadores, e, em geral, as empresas projetam protótipos que são submetidos aos revendedores. Confirmando o que aborda a autora, pôde-se verificar esta prática no estudo de campo, na indústria brasileira, conforme será abordado no capítulo VI.

Um estudo elaborado por Rangel, (1993), já apontava esta prática. Afirma o autor que são poucas as empresas que procuram criar um design próprio. Em algumas empresas esta atividade inovadora está mais relacionada ao próprio dono da empresa que, mediante visitas, amostras internacionais e consultas a revistas especializadas, determina o padrão mobiliário. O estudo mostrou que em algumas empresas, inclusive, foi eliminado o departamento de design por encará-lo como custo desnecessário. Isto está levando as empresas a se distanciarem mais de seus concorrentes e, além disso, a se defrontarem com os produtos de baixo custo vindo de países produtores como a China por exemplo.

Uma declaração importante foi dada por Flaviano Celashi a respeito deste tipo de produto, quando perguntado se existe espaço para se agregar design a produtos de baixo custo, como os que são exportados pela China? Respondeu ele a entrevista concedida a Andreas Müller e Marcos Graciani, em 2006:

“Existe. É um desafio sistemático. Aliar design a um produto barato é difícil. (…)

Elaborar uma mercadoria barata é um desafio incomensurável. Você precisa subtrair valor, materiais e processos. É um processo complexo, que exige uma sensibilidade e uma cultura muito grande”.

Esta é uma questão que precisa ser levada em conta, uma vez que naqueles países (países asiáticos), os desafios da competitividade são vencidos, com baixa tecnologia e qualidade, no entanto, com uma produção cada vez maior e mais simplificada, levando os maiores produtores mundial de móveis, a perder a liderança no mercado internacional. Apesar da qualidade questionada é um mercado que está cada vez mais, ocupando espaço no mercado internacional.

De acordo com Gorini, (2007) a competitividade da indústria mobiliária depende não somente da eficiência dos processos produtivos, mas também da qualidade, do conforto, da facilidade de montagem, sobretudo, do design dos móveis.

É notório que o design além de influenciar nas características estéticas e físicas do produto, ele possibilita estabelecer, pelo seu valor simbólico, um envolvimento mais próximo com o consumidor. Esta propriedade pode ser explicada nos produtos mobiliários de países como a Itália, por exemplo, que apesar de ter perdido a liderança no mercado internacional para a China, é sem qualquer dúvida, o mais competitivo do mundo, no que diz respeito a criação do seu design próprio e inovador com tal propriedade, que é a indústria italiana que determina os padrões de consumo para o resto do mundo.

Outro exemplo que pode ser citado pela sua inovação e pelo uso do design em seus produtos é a IKEA4. Um produto diferenciado voltado para o consumo de massa, o conceito IKEA é conhecido pelas suas características do Modernismo Escandinavo. A ideia base por trás de todos os produtos da IKEA é que os preços baixos permitem que os produtos de mobiliário e decoração, com bom design e funcionais, sejam acessíveis a todos. O êxito desse tipo de produto pode ser atribuído, em grande parte, à sua abordagem inovadora ao conceito do kit de montagem, foi ela uma das primeiras empresas a introduzir o conceito de embalagens planas. Um novo conceito em que o cliente escolhe o produto, transporta e monta, dispensando os serviços do profissional, fazendo por conseguinte a redução do preço.

Este tipo de negócio tem como principal vantagem a praticidade e o atendimento imediato das necessidades do cliente. Atualmente, a competitividade do setor industrial é baseado na rapidez da inovação do produto e dos processos, flexibilizando o mobiliário por meio de estruturas modulares que por sua vez, vão contribuir para melhorias nos sistemas produtivos. Acontece porém, que este é um comportamento para as grandes empresas. Aquelas de menor porte, não possuem a mesma tecnologia e agilidade para adoções desta evolução de seus processos e perdem mercado para aquelas mais ágeis.