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1. Introdução e Objetivos

2.3. O Perfil da Indústria de Móveis no Brasil

A principal característica da indústria mobiliária brasileira, como na maioria de outros países, está estruturada em polos regionais, que por sua vez, apresenta um determinado padrão de especialização bastante diversificado, pela influência das características regionais, econômicas e culturais do país. Isso possibilita que o setor apresente uma estrutura bastante diversificada, quanto ao nivel de capacitação produtiva e inovadora.

A indústria de móvel brasileira é composta por 14,6 mil empresas1, sendo a grande maioria microempresa. Geram diretamente 233,6 mil empregos. Em 2008, o volume do apuramento do setor foi de U$ 998 milhões e a exportação foi de U$988 milhões (SINDMOVEIS -Sindicato das Indústrias de Móveis, 2009; ABIMOVEL, 2006). Estas empresas em sua grande maioria são de capital nacional e muitas de gestão familiar. Caracteriza-se como na maioria dos países, pela fragmentação do setor e pela organização em polos regionais, sendo também chamados de APLS Arranjos Produtivos Locais, são os mais importantes: os da Grande São Paulo (SP), Bento Gonçalves (RGS), São Bento do Sul (SC), Arapongas (PR), Ubá (MG), Votuporanga e Mirassol (SP).

As exportações são oriundas, principalmente, dos Polos de São Bento do Sul (SC) e Bento Gonçalves (RGS), já que 20 das 35 maiores Empresa exportadoras são dessas localidades. Os principais destinos dessas exportações são os EUA (34%), França (14%), Argentina (14%), Reino Unido (8%) e Holanda (5%) (ABIMOVEL, 2006). Os polos líderes no mercado de exportação são o de São Bento do Sul em Santa Catarina, responsável por 50% das exportações brasileiras, seguido pelo Polo do Bento Gonçalves (RGS) que é responsável por (30%) (Garcia e Motta, 2007).

1 Os dados aqui fornecidos foram retirados dos relatórios das Associações Sectoriais como :ABIMOVEL APIMA,

Estes polos apresentam características e dinâmicas diferentes, pois as empresas fabricam diferentes produtos e se orientam de formas diferentes no mercado. O estado do Rio Grande do Sul é responsável por 20% da produção nacional de móveis, sendo que a região de Bento Gonçalves responde por 40% da produção do estado. Já o estado de Santa Catarina é o terceiro maior produtor de móveis do país, e o maior exportador, sendo responsável por 50% das exportações brasileiras do setor. A Tabela III mostra uma síntese do perfil do setor.

Tabela III - Perfil da Indústria Mobiliária Brasileira (2008)

Dados Brasil

Nº de Empresas 14,6 mil

Nº funcionários 233,6 mil

Porte das Empresas Maioria microempresas

Faturamento do Setor R$ 22,25 bilhões

U$ 988 Milhões em exportação

Administração Gestão Familiar

Principal Produto

80% Móveis residenciais torneados (madeira maciça de Pinus) e Retilíneos (chapas compensados, MDF e aglomerados. Principais Destinos das Exportações EUA, França, Argentina, Chile e Holanda

Fonte: (Abimovel e Movergs (SECEX); Sindimóveis-Sindicato da Indústria Mobiliária de Bento Gonçalves-RS (2010)

Fonte: www.sindimoveis.com.br. Disponível em 14.08.2010.

Contabilizando as cidades que formam o polo catarinense, são cerca de 400 empresas que empregam por volta de 10 mil funcionários. O principal produto é o móvel torneado de madeira maciça, especialmente pínus. A maior parte da produção (80%) é de móveis residenciais (Garcia e Motta, 2007). Estes dois polos (gaúcho e catarinense) se diferenciam dos outros polos produtores de móveis, visto que o nível de qualidade e competitividade é maior e em grande parte, é provocado porque as empresas das outras regiões apontam deficiências na qualidade dos móveis e pouca capacidade exportadora.

O Estado de São Paulo detém em torno de 40% do faturamento do setor. Quase metade do número total dos estabelecimentos, concentra hoje, 80% da produção nacional de móveis de escritório. A indústria paulista de móveis apresenta aglomerações regionais bem definidas: a Grande São Paulo e o Noroeste Paulista, que reúnem os Polos de Mirassol e Votuporanga, sendo constituídos por micro e

pequenas empresas. Apenas 12 são de médio porte e os produtos fabricados são direcionados para o mercado interno (Garcia e Motta, 2007).

As empresas do Polo de Arapongas no estado do Paraná dedicam-se à produção em massa, e têm como foco o mercado de móveis populares, destacando-se no segmento de estofados. Existem algumas empresas de porte médio e grande que aplicam alta tecnologia no processo produtivo e exportam parte da produção, são responsáveis por 7% da exportação total de móveis do país (Garcia e Motta, 2007).

O polo catarinense pela expressividade das suas indústrias despertou interesse de alguns autores como, por exemplo, Rodrigues (2005) que desenvolveu um estudo sobre a gestão do design a partir da amostra de 40 Empresa do Polo Mobiliário de São Bento do Sul. O autor discutiu quatro modelos que analisam as atividades da gestão do design nas organizações. Das questões mostradas na sua conclusão, constata-se que 85% das empresas são exportadoras, que 80% não possuem departamentos de design formalizados e que na maioria, existe a cultura do “design estrangeiro ou internacional”, cuja prática é realizada por meio de viagens a Feiras Internacionais e em Centros de Design no exterior.

Já as pequenas e médias empresas do Polo Mobiliário da Serra Gaúcha, foram estudadas por Quadros (2002), que investigou como é utilizado o design na produção de móveis para escritório. Verificou a autora, o que os empresários entendem por design, o modo como vislumbram os resultados de sua utilização e como é estabelecida a relação entre as empresas do mobiliário e as produtoras de design. Mostrou também, entre outras questões, que as pequenas e microempresa não investem em design próprio. Constata a autora que existe a consciência por parte dos empresários, que o design representa um importante fator de sobrevivência e de competitividade para a empresa, contudo, é muito pouco utilizado. Sugere ainda, que é necessário um investimento maior em design, como uma das ferramentas possíveis para a reestruturação da indústria mobiliária, permitindo assim, o desenvolvimento de vantagens competitivas e de um produto com um valor maior agregado.

Nascimento (2001) desenvolveu um caso de estudo numa empresa de médio porte do Polo Mobiliário de Arapongas (PR). Neste estudo, a autora mostra uma empresa voltada para a produção de móveis, para o segmento popular, que diferentemente da maioria das empresas, optou pelo uso do design nos seus produtos. Apresenta as razões pelas quais, a empresa fez essa opção; a forma de atuação do designer e a absorção dessas informações pelos empresários.

Luza (2003) mostra a avaliação que faz o empresário acerca da atuação do designer na indústria mobiliária na Região Metropolitana de Curitiba – PR, como elemento agregador de valor, seletivamente ao desenvolvimento de serviços e produtos. Cândidos et al. (2001) fazem uma análise da utilização dos

domínios e estratégias do design e a sua relação com a competitividade do segmento mobiliário, da região de Curitiba. Silva e Câmara (2004) procuram identificar na região de Londrina - PR, se a aglomeração geográfica das empresas mobiliárias na região corresponde ou não a um “cluster”. Segundo as autoras um cluster é:

“É um aglomerado de empresas localizadas em uma determinada região que desenvolvem as suas atividades de forma articulada, e com uma lógica comum e cuja dinâmica, pode ser determinada pelo fato dessas empresas realizarem atividades semelhantes e/ou utilizarem as mesmas matérias-primas” (Silva e Câmara, 2004, p. 43).

Chaves (2003) analisa os parâmetros ambientais no planejamento de móveis seriados de madeira e aborda as principais iniciativas do eco-design na região de Curitiba. Luza, (2003) aponta também em seu estudo, outros problemas importantes que afectam a indústria brasileira de móveis, tais como: aceleração do desenvolvimento técnico e científico; ciclos de vida mais curtos dos produtos; ausência de uma cultura exportadora; a grande verticalização da produção industrial; carência de fornecedores especializados em partes e componentes de móveis; falta de normalização técnica; elevada informalidade; baixos investimentos em design; pesquisa de mercado deficitária.

Muitas dessas questões têm origem nas constantes mudanças da economia do país, que desestabilizam as estratégias econômicas das indústrias, dificultando a gestão, o planejamento, os investimentos, criando incertezas e receio de investimento. Além disso, são muitas as transformações do próprio processo industrial, sobretudo em relação à implantação de novas técnicas de produção, acirrando a competição global.

Este cenário gera uma nova visão de mercado forçando as empresas a reestruturarem seus processos produtivos, tendo que considerar matéria-prima, linha de transformação, montagem, profissionais criativos e inovadores para resistirem à pressão do mercado altamente competitivo. São muitas as que não conseguem atender essas exigências.

“Para alcançar seus objetivos e, portanto ter sucesso, a empresa terá que identificar e desempenhar de forma adequada um conjunto de ações decisivas. Estas ações correspondem aos aspectos que definem a opção de compra dos clientes escolhidos e que são geralmente, identificados como fatores críticos de sucesso. Quanto mais competitiva for a empresa, maior será o seu sucesso” Possamai et al (2004, p. 03).

Nos estudos desenvolvidos fica claro que o potencial produtivo é uma realidade, no entanto, existe uma necessidade efetiva de investimento na melhoria dos processos de criação, gestão, produção e tecnológico. Conclui-se pela opinião dos vários autores, que este setor cresceu significativamente do ponto de vista da produção. As inovações tecnológicas que ocorrem são, na sua maioria, as inovações de processos obtidas pela utilização de novas máquinas, pela introdução de novos materiais e pelo aprimoramento do design, mas falta muito em relação ao desenvolvimento do design próprio e de estratégias de diferenciação dos produtos.

São poucas as empresas que investem de maneira eficaz, para obter vantagens em relação aos seus concorrentes. Esta é uma questão observada por Flaviano Celaschi2, professor da Universidade Politécnica de Milão que declarou: “o design brasileiro é tecnicamente bom, mas carece de inovação e de um sistema que dê competitividade a seus produtos lá fora.”

Pode-se observar que no estudo detalhado das indústrias mobiliárias brasileiras, realizado pela ABDI (2008) são feitas recomendações que vem ao encontro dos dados apresentados por outros autores anteriormente citados. O Relatório da ABDI mostra que há necessidade de uma análise mais detalhada sobre os fatores críticos de competitividade desta indústria nos itens: (a) capacidade de inovação e diferenciação de produtos, principalmente o desenvolvimento de design próprio; (b) aperfeiçoamento do processo produtivo, associados à incorporação de novos insumos e matérias-primas ao processo produtivo; (d) adoção de inovações organizacionais que visem à modernização e a racionalização dos processos produtivos e comerciais das empresas; e (e) fortalecimento dos arranjos produtivos locais (APLs). Falam os autores que a análise desses fatores de competitividade deve se considerar o carácter heterogêneo da estrutura produtiva da indústria mobiliária nacional, na qual se verifica a coexistência de empresas com capacitação competitivas e muito distintas.