• Nenhum resultado encontrado

1. Introdução e Objetivos

2.1 Uma visão Global da Indústria Mobiliária

Para uma melhor compreensão da indústria do mobiliário, como ela é caracterizada e os elementos que a compõe, é importante se iniciar esclarecendo o que é uma indústria e qual é o seu conceito mais habitual. De acordo com Simão (2008), entende-se por indústria um agrupamento de empresas que comercializam produtos ou serviços com características similares e ou substitutos.

Pode-se ainda entender por indústria, um conjunto de empresas com atividades que se caracterizam pela formação da matéria-prima, sejam elas manualmente ou com equipamentos, com o objetivo de fabricar mercadorias. Já especificamente a indústria de móveis, de acordo com Marion, (1989) define-se como o conjunto de firmas que elaboram móveis utilizando madeira, metal, plástico e artefatos de colchoaria, e que se destinam a residências, escritórios, escolas, auditórios, hospitais e lojas, entre outros.

A indústria mobiliária apresenta um padrão similar em nível internacional. Trata-se de uma indústria extremamente fragmentada caracterizada pela pequena participação no valor adicionado pela indústria de transformação e pela grande absorção de mão de obra, em comparação aos demais segmentos da indústria (Rangel, 1993).

Figura 2.1 -- Extração e preparaçao da madeira para o fabrico dos móveis. Fonte: Wunsch, (2004)

Figura 2.2 - Homens Fazendo Mesas Ercol Factory 1925. Spring Gardens

Fonte:http://freepages.genealogy.rootsweb.ancestry.com. Disponível em 21.06.2010

Figura 2.3 - Homens lixando Madeira para Móveis Ercol Factory 1925. Spring Gardens.

Fonte:http://freepages.genealogy.rootsweb.ancestry. com. Disponível em 21.06.2010

A indústria de móveis pode ser considerada uma das mais antigas do mundo. A Figura 2.1 mostra imigrantes italianos, na década de 1920, na cidade de Bento Gonçalves, extraindo a madeira para o uso na fabricação de móveis. Descendente de carpinteiros e artesãos produtores, o móvel era produzido artesanalmente e exclusivamente de madeira maciça, como ilustrado nas Figuras 2.2 e 2.3. A sua qualidade e criatividade dependia da habilidade dos artesãos. Seu processo de produção, totalmente manual e demorado, contava com muitos colaboradores e aprendizes, que, depois de dominarem o ofício, começavam a produzir por conta própria (Marion Filho e Bacha, 1998).

Com a Revolução Industrial ocorrida na Europa no século XVIII, na produção de móveis passaram a ser usadas máquinas e ferramentas que visavam economizar esforço e tempo (Sonaglio, 2006). Os avanços proporcionados pela industrialização trouxeram a padronização e os ganhos de escala de

produção, de maneira que os móveis foram deixando de ser produzidos artesanalmente, transformando-se aos poucos, em produtos industrializados (ABDI, 2008).

Figura 2.4 - a, b e c Processo Artesanal de construção de Móveis. Fonte: Traditional Furniture Projects (1987)

Mesmo com a introdução das máquinas (depois da Revolução Industrial) e a facilidade de aquisição de máquinas e equipamentos trazidos pela abertura de mercado (a Figura 2.5 mostra uma máquina de Comando Numérico por Computador - CNC operando). Grande parte dos móveis continuou a ser produzidos, com um grande uso de mão de obra, pelas especificidades das tarefas envolvidas, conforme mostra a Figura 2.4. Por isso, esta indústria tem a característica de trabalho manual intenso.

Figura 2.5 - Técnico da EP, operando uma máquina Comando Numérico Computadorizado – CNC. Fonte: autora

Figura 2.6 - Operários da EP trabalhando na montagem dos móveis

Na visão de Marion Filho e Bacha (2008), isso pode explicar a atual presença de um grande número de pequenas empresas na indústria mobiliária, pela peculiaridade dos procedimentos operacionais e pela falta de máquinas para automatizar todo o processo.

A gestão familiar, comum neste setor, está intimamente ligada à produção de móveis na Europa durante a Idade Média, que na sua grande maioria, era feita em oficinas onde trabalhavam pessoas da família em que o conhecimento acumulado na produção, era passado de geração em geração como mostrado na Figura 2.6.

Este conhecimento era solidamente exercitado e aperfeiçoado na produção, não só dos móveis, como também, das máquinas e equipamentos. Países como a Itália e a Alemanha se destacavam mundialmente pela tradição e pela moderna tecnologia utilizada na produção de móveis e das máquinas para produzir os móveis. Essa tecnologia se disseminou pelo mundo por meio das emigrações e das exportações de bens capital para a fabricação de móveis (Marion Filho e Bacha, 2008). Países como a França, Bélgica e Holanda, que se destacam como grandes produtores de móveis no mercado internacional, também importam, daqueles países, máquinas para a sua fabricação.

Ao longo da história, a diferenciação pela qualidade e pela tecnologia de ponta, coloca a Itália como um dos países com o modelo de produção e com um design de produto, mais eficiente e mais moderno, fazendo dela uma referência mundial. Com um sistema produtivo altamente fragmentado e especializado, a indústria italiana tem a sua organização centrada na parceria das APLs (Associações Produtivas Locais). Segundo Rangel, (1993) na Itália, as grandes Empresa dedicam-se à montagem e ao acabamento dos móveis a partir de peças e componentes produzidos por um grande número de pequenas empresas, que se especializam na produção de um determinado produto ou de um componente específico, para ser fornecido às grandes empresas.

Na Alemanha, o modelo organizacional é mais concentrado, onde predominam médias e grandes empresas, cujas principais vantagens competitivas são baseadas em economias de escala, tanto na

produção quanto na comercialização e no financiamento, estando mais de 25% da oferta nas mãos das 10 maiores companhias (Gorini, 2007) em contraste com o modelo italiano que além de ser baseado em pequenas empresas inovadoras (tecnologia e design) terciariza grande parte da produção.

Um país que exerce uma influência considerável no mercado internacional do mobiliário, os Estados Unidos da América têm também uma característica própria dos outros países, uma indústria fragmentada e espalhada em várias partes do país. Destaca-se o Estado da Carolina do Norte, sendo o seu principal segmento de mercado os móveis residenciais conforme aponta Schuler e Buehlmann, (2002). Sua competitividade é voltada para o mercado interno, uma vez que é o maior do mundo. Apesar disso, esta produção não é suficiente para atender a demanda, o que faz que se tornem também, os maiores importadores no mercado global. Respondem ainda, por 20% do valor gerado pela indústria moveleira mundial, em 2006 (ABDI, 2008).

Tabela II - Os 10 Maiores Exportadores Mundial de Móveis (2007 e 2008):

2007 2008

Posição Países (US$ bil.) Valor (%) Posição Países (US$ bil.) Valor (%)

1º China 22.340,51 19,4% 1º China 27.236,75 22,9% 2º Itália 13.209,80 11,5% 2º Itália 13.525,60 11,5% 3º Alemanha 11.100,97 9,7% 3º Alemanha 12.448,97 10,5% 4º Polônia 7.132,92 6,2% 4º Polônia 8.079,22 6,8% 5º EUA 6.242,73 5,4% 5º EUA 6.488,85 5,5% 6º Canadá 5.351,71 4,7% 6º Canadá 4.823,55 4,1% 7º França 3.601,67 3,1% 7% França 3.938,96 3,3% 8º México 4.350,28 3,8% 8º México 3.871,55 3,3% 9º Malásia 2.499,98 2,2% 9º Malásia 2.622,61 2,2%

10º Rep. Checa 2.282,63 2,0% 10º Rep. Checa 2.570,20 2,2%

Fonte: Tabela ABDI (2009)

Na última década, os EUA caíram no ranking do mercado internacional para a quinta posição conforme mostrado na Tabela II. Como abordado por Buelhmann, Schuler e Nwagbara, (2002; ABDI, 2008), nos últimos anos, tradicionais produtoras de móveis dos EUA, estão transferindo parte ou toda a sua produção para países emergentes como forma de reduzir custos e fazer frente aos baixos custos dos produtos importados. Mas ainda assim, os EUA continuam sendo os maiores produtores de móveis de metal e móveis de alto luxo (ABDI, 2008).

Pode-se observar pela literatura de base, que a dinâmica no setor da indústria de móveis, causada pela globalização, vai alterando o status daqueles países que detinham grande parcela do mercado, seja ele interno ou externo, não assegurando mais esta competência. Países como Itália, Alemanha, EUA, Canadá, Dinamarca e França, sofrem as consequências de um mercado sem limites, que, por uma série de fatores, países líderes na produção de móveis, continuam a perder mercado. Como descreve Buehlmann et al, 2002, num estudo das Indústrias de móveis da Carolina do Norte, o processo da globalização deu impulso para uma maior penetração de importações baratas, especialmente da Ásia e da América Latina em detrimento das indústrias mobiliárias nacionais.

Este novo modelo industrial contrasta fortemente com a indústria de móveis tradicional em muitas empresas em que, cada unidade produtiva concentra inúmeros processos de produção e obtém uma multiplicidade de produtos. O que leva a se entender que ainda permanece a característica de produção herdada do sistema antigo europeu.

Figura 2.7 - Fluxograma da Cadeia Produtiva da Indústria Mobiliária. Fonte: Brasil/IPT, 2002 em ABDI, (2008).

A Figura 2.7 mostra o fluxograma da cadeia produtiva de móveis.

Segundo a ABDI (2008) a indústria mobiliária pode ser segmentada pelos diferentes critérios: 1) Tipo de material predominante no processo produtivo;

3) Forma organizacional utilizada no processo produtivo e; 4) Design utilizado.

Quanto ao tipo de matéria-prima utilizada pode ser classificada como:

a) Móveis de madeira, que podem se subdivididos em madeira maciça (nativa ou reflorestada) e painéis de madeira reconstituída.

b) Móveis de metal c) Móveis de plástico d) Móveis estofados.

As Figuras 2.8, 2.9, 2.10, 2.11 mostram a tecnologia usada nas formas e nos materiais utilizados na substituição da madeira na cadeia produtiva da indústria mobiliária. A elevada complexidade desta indústria, dificulta a estruturação de mercado num único padrão competitivo. Cada segmento apresenta características bastante distintas em relação às economias de escala, ao preço e à importância do design. Isso explica a coexistência de empresas muito diversificadas, numa mesma indústria mobiliária (ABDI, 2008).

Figura 2.8 - Chair Mi Ming Policabornato com alumínio.

Autor: Philipe Starck. www.indesigners.com.br

Figura 2.9 - Table Carbon 22 Carbono.

Autor: Dario

Figura 2.10 - Nest Chair. Polietileno e pó de aço

revestido. Autor: Mozzee www.designdemoveis

Figura 2.11 - Par de Mesas Macassar. Fabricadas em madeira cerejeira e vidro. Autor Sean Feeney. Fonte: Furniture for the 21st Century