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Capítulo 4 : Metodologia da Pesquisa Parte 1: As Entrevistas

4.3. Durante: o Desenvolvimento da Pesquisa

4.3.1. O Diário de Campo da Pesquisadora

No diário de campo foram registradas as observações constando apontamentos dos assuntos apresentados à classe de CDI I, durante as aulas e, como parte desses registros, foram feitas anotações referentes às impressões e comentários extras ocorridos entre os alunos e a professora, no ambiente da sala de aula. A esses dados foram também acrescentados comentários específicos registrados sobre as entrevistas realizadas com os estudantes dessa mesma classe e os professores de CDI I, além das anotações das atividades aplicadas no laboratório de informática associadas aos comentários dessa pesquisadora. Nesse sentido, acreditamos ser relevante descrever nesse texto parte do que foi registrado no diário de campo de modo a revelar o que foi observado.

4.3.1.1

Observando o Ambiente da Sala de Aula.

A decisão tomada por mim e minha orientadora em observar a turma de graduandos do curso de Matemática nos permitiu alcançar um dos objetivos da coleta de dados que consistia em uma maior proximidade entre essa pesquisadora com os estudantes assim como com a professora da disciplina. Essa oportunidade de vivenciar o ambiente natural de sala de aula me possibilitou, portanto, registrar observações e percepções com maior acuidade, o que facilitou, seguramente, na obtenção de dados mais esclarecedores acerca dos aspectos fundamentais dessa investigação.

O contato inicial com a turma foi um tanto desconfortável devido ao fato de não conhecê-los, bem como da minha própria inexperiência em estar realizando pela primeira vez uma coleta de dados. Para resolver esse primeiro impasse e, de certo modo, estar respondendo a curiosidade dos estudantes em estar vendo aquela figura “estranha” no meio deles, foi combinado com a professora da disciplina um momento da aula para que eu pudesse me apresentar para a turma e, nesse breve instante, explicar aos estudantes o motivo pelo qual estava ali, explicitando, portanto, o foco e os objetivos da pesquisa frente ao trabalho que esperava desenvolver, especificamente, que pretendia participar das aulas como ouvinte, visando observar como os conteúdos de Cálculo I eram tratados pela professora, mais especificamente, como as representações Matemáticas eram abordadas em sala durante as aulas, bem como estar interagindo com todos, e que, posteriormente, os convidaria a participar da aplicação de algumas atividades, nas quais teríamos a oportunidade de usar o

software matemático Winplot no processo de discussão e compreensão dos conceitos de CDI I.

Na verdade, a tática de não dar muitos detalhes foi devido a uma conversa anterior com a professora (da classe) que achou por bem não informar aos alunos que estaria ali para observá-los, pois poderia constrangê-los e, possivelmente, os levaria a agirem não espontaneamente no ambiente da sala de aula enquanto eu estivesse presente.

Em relação aos estudantes, é interessante destacar que durante a minha explanação, demonstraram atenção, embora com certo desinteresse, pois ao perguntar-lhes se tinham alguma pergunta ou dúvida não houve nenhum tipo de manifestação por parte deles, o que foi motivo de apreensão de minha parte, pois o primeiro pensamento foi: “e se não houver interesse por parte dos estudantes em participar da minha pesquisa?”. Este passou a ser o terceiro impasse.

O segundo impasse referiu-se à inexperiência desta pesquisadora, dificuldade que aos poucos foi sendo encaminhado e, para tanto, se mostrou necessário estar revendo algumas das recomendações de Bogdan e Biklen (1994) os quais assinalam que “o investigador deve ser o mais descritivo possível” (p.163) e, nesse sentido, deve apreender o momento, registrando as idéias, estratégias, reflexões e palpites, bem como os padrões que emergem.

Considerando tais sugestões, me dediquei a iniciar as anotações em meu diário de campo, relatando os fatos que pude ouvir ver, experenciar no decurso da coleta de dados e, sempre que possível, registrava as minhas reflexões acerca das notas de aula bem como das perguntas e dúvidas dos alunos encaminhadas a professora da disciplina.

O contato com os alunos, em sala de aula ocorreu em aproximadamente dois semestres, Nesse intervalo foram realizadas dezenove observações em classe. Na primeira observação, fiz anotações das minhas impressões acerca do ambiente.

Ao passar dos dias a minha presença foi ficando cada vez menos incômoda e estranha e a relação com os estudantes tornou-se menos formal o que possibilitou uma maior integração ao ambiente. Segundo Bogdan e Biklen (1994), “à medida que o investigador vai passando mais tempo com os sujeitos, a relação torna-se menos formal” (p.113). No meu caso, em particular, essa relação de proximidade foi decisivo em relação ao terceiro impasse, acima mencionado, pois com a participação em sala de aula, no dia a dia, pude sentir o momento em que já me sentia habilitada a convocar os estudantes a participarem como sujeitos integrantes da pesquisa.

No final do primeiro semestre, resolvi solicitar à professora da disciplina, um momento da aula, com o objetivo de fazer um convite a todos os alunos que estivessem

interessados em participar como colaboradores para coleta de dados de minha pesquisa. No momento do convite optei por ser clara e objetiva ao apresentar a proposta do trabalho, explicando aos estudantes que a partir do segundo semestre seriam necessários alguns encontros, extraclasse, para a aplicação de algumas atividades, nas quais os assuntos a serem abordados, corresponderiam aos que foram apresentados durante o curso corrente da disciplina pela professora, enfatizando que eles teriam a oportunidade de estar explorando conceitos matemáticos de Limites e Derivadas com um software matemático - o Winplot.

Expliquei que a participação dos mesmos seria fundamental para o desenvolvimento da minha pesquisa. Após essa explanação, passei aos alunos um papel, no qual propunha aos que estivessem interessados a escreverem os seus nomes, entre outras informações, como e- mail, fone para contato, assim como outros dados. Vale registrar que vinte e sete alunos se dispuseram a participar o que significou o fim do terceiro impasse. É claro que a quantidade de inscritos ultrapassou a minha expectativa, mas não significou necessariamente um problema, embora tivesse agora um quarto impasse, mas esse contratempo parecia ser de fácil resolução, afinal nesse caso, é melhor o excesso do que a falta.

Referindo-me, portanto, ao quarto impasse, ou seja, em relação a seleção dos sujeitos para a coleta de dados de nossa pesquisa, tínhamos pensado (eu e minha orientadora), inicialmente, em convidar um grupo de oito a dez licenciados, mas viemos descobrir a posteriore que o curso de Matemática da UNESP de Rio Claro não faz distinção, nos três primeiros anos, entre licenciatura e bacharelado. A maioria dos “novatos” quando se matriculam ainda não tem necessariamente uma idéia, se pretendem formar-se professor ou bacharel.

Cientes dessa informação passamos a considerar, portanto, a possibilidade de convidar os estudantes sem a preocupação no seu interesse ou inclinação referente à que caminhos pretendiam seguir, contanto que fossem alunos da disciplina CDI I, porém, dando prioridade àqueles que manifestassem interesse em, futuramente, ensinar Matemática.

A seleção, portanto ficou por ser definida após entrevista com os inscritos, na qual teríamos maiores informações a respeito dos seus interesses e projeções para sua formação, pois no momento da inscrição, somente dois estudantes explicitaram querer cursar licenciatura e apenas três manifestaram interesse em cursar o bacharelado. Os outros não se manifestaram o que implicou na maioria deles. Logo, tendo em vista esse panorama, achamos ser prudente esperar mais um pouco. As entrevistas ficariam por serem realizadas logo no início do segundo semestre do presente ano.

4.3.1.2.

As Notas de Aula

As aulas de Cálculo I, durante todo o primeiro semestre foram pautadas de forma tradicional, centrada na figura da professora. E, deste modo, tornou-se inviável observar sistematicamente a produção dos alunos, em termos de resolução de exercícios e problemas, propostos durante as aulas. Entretanto, foi bastante proveitoso observar a metodologia e procedimentos adotados, bem como perceber a relevância das representações Matemáticas na abordagem dos conteúdos propostos em sala de aula.

Ao iniciar o curso, a professora apresentou aos alunos os conteúdos que seriam discutidos durante o ano letivo, apresentado na seguinte ordem: Números Reais, Funções, Limite, Continuidade, Derivada, Integral, Coordenadas Polares, Seqüências e Séries. Nessa 1ªAula a professora achou por bem dar uma breve revisão abordando Números Reais e Funções, o que em sua concepção são assuntos que costumam ser pré-requisitos para a disciplina Cálculo Diferencial e Integral I.

No início, ela começou relembrando as propriedades dos números naturais, inteiros, e racionais e na sua exposição sempre fazia referência de como esse assunto é apresentado no ensino fundamental e como os alunos sentem dificuldade em abstrair quando se fala em reta real. Ao revisar Funções Polinomiais, por exemplo, é perceptível a preocupação da professora em explorar as várias representações algébricas e gráficas. Alguns alunos (os veteranos) deram a entender que não sentiam muita dificuldade em reconhecer as funções afim, linear, quadrática e cúbica. Entretanto, em relação a outras funções como as Funções Trigonométricas, os alunos pareciam apresentar pouca familiaridade.

Nesse sentido, para amenizar um pouco a dificuldade expressada pelos alunos, a professora usou com muita freqüência o círculo trigonométrico para ilustrar os resultados, sempre fazendo comparações com os gráficos dessas funções. E, mesmo assim em várias dessas construções foram geradas algumas dúvidas por parte dos alunos, na sala de aula.

Notei também, que mesmo os veteranos e, principalmente, os calouros sentiam alguma dificuldade na construção dos gráficos e na interpretação de funções através do círculo trigonométrico, bem como em outras representações apresentadas durante as aulas. Vale ressaltar, que na apresentação da maioria dos conteúdos a professora explorou as representações algébricas, gráficas e geométricas, buscando sempre mostrar as relações intrínsecas entre elas. Pude inferir que na concepção da professora o desenho do gráfico teve a função de auxiliar a compreensão do aluno no desenvolvimento algébrico de um processo

matemático, ou seja, não teve a função de provar ou validar um resultado, seja ele concebido por meio de um conceito, propriedade, teorema. Em suas palavras: “Provar só algebricamente”. O que, aliás, essa forma de representar foi bastante explorada na justificação de resultados, propriedades e teoremas de limites e derivadas de funções, apresentados durante as aulas.

Na concepção dessa pesquisadora, de tudo o que foi visto e observado, mesmo que ainda superficialmente, é percebível a dificuldade do aluno quanto às justificativas dos exercícios, nas interpretações dos gráficos, principalmente nas demonstrações de propriedades, mostrando assim uma compreensão parcial dos assuntos que estão sendo aprendidos. Os motivos pelo qual isso ocorre não nos competem nesse trabalho delimitar uma resposta, mas, certamente, influenciarão em nossas ações futuras como investigadoras.

Impressões abstraídas a partir das observações, terão as suas parcelas de importância nessa investigação quando chegar o momento de analisar a produção desses estudantes, considerando as entrevistas e a aplicação das atividades exploratórias - investigativas.