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PARTE II – DO NOVO CONTEXTO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO E OS

4. O NOVO PANORAMA DO DIREITO DO TRABALHO

4.5 O Direito do Trabalho e o Mercosul – a internacionalização operária na

Os diversos aspectos da relação trabalhista são tratados, no âmbito do Mercosul, através do subgrupo de trabalho intitulado “Assuntos Laborais, Emprego e Seguridade Social”, referindo-se às normas afetas às relações laborais, custas trabalhistas, seguridade social e no trabalho, higiene, formação profissional, migrações trabalhistas, dentre outras.

O “Protocolo de Las Leñas”, criado pela Decisão Mercosul/CMC/Dec. no. 1/92, tratou, de forma mais pormenorizada, das relações coletivas e individuais de trabalho, representado importante passo em busca de melhores mecanismos de cooperação inter- jurisdicional.

Cabe ressaltar, entretanto, que cada país integrante do Mercosul, em face de suas próprias e naturais peculiaridades, regulamenta de maneira diversa os direitos trabalhistas; por isso, ainda é intenso o movimento no intuito da harmonização das diferentes legislações sobre o Direito do Trabalho entre os países-membros do Mercosul, que, inclusive, é um dos objetivos previstos no Tratado de Assunção. Se se almeja a efetivação de um processo integracionista pautado no implemento de um Mercado Comum, é de extrema relevância o apressamento e solidificação da harmonização legislativa, bem como o especificação de regras e modelos para a solução de controvérsias, atendendo-se para as novas características da sociedade dita pós- moderna, onde também as relações de trabalho tomam proporções mundiais.

Segundo Maria Cristina Mattioli128, diante da inexistência de qualquer acordo entre os Estados-membros sobre critérios comuns para solucionar o problema de deslocamentos intra- comunitários de seus nacionais, relativamente aos direitos humanos e sociais, se impôs a conclusão da necessidade uma reestruturação interna dos regramentos sobre imigração. No entanto, problemas com o deslocamento de mão-de-obra subcontratada e clandestina entre países 126

Cf. EHRENBERG, Daniel S. From Intention to Action – An ILO-GATT/WTO Enforcement Regime for International Labor Rights. In: Human Rights, Labor Rights, and International Trade. (Coords.) COMPA, Lance A.; Diamond, Stephen F. Estados Unidos: University of Pennsylvania Press, 1996. p. 163.

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Sobre o ponto, ver: ANDRADE, Everaldo Gaspar Lopes. O Mercosul e as relações de trabalho: relações

individuais, relações coletivas, relações internacionais de trabalho. São Paulo: LTr, 1993; PRUNES, José Luiz

Ferreira. Contratos de Trabalho de estrangeiros no Brasil e de brasileiros no exterior. São Paulo: LTr, 2000.

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MATTIOLI, Maria Cristina. Circulação de trabalhadores no Mercosul. Disponível em: <http://www.hottopos.com/harvard1/mattioli.htm>. Acesso em: 08 dez. 2008.

menos favorecidos, encontram-se em crescimento, criando uma forte discriminação no campo da remuneração e demais condições de trabalho e, produzindo, em alguns setores, sentimentos nacionais de rejeição a livre circulação de trabalhadores no Mercosul.

O Mercado Comum, todavia, depende de um mercado comum de trabalho, que há de preencher os seguintes requisitos básicos: a) favorecer a liberdade de acesso de trabalhadores de um Estado-membro aos postos de trabalho em outros Estados-membros; b) garantir um tratamento paritário em relação ao trabalhador dispensado tanto quanto aos trabalhadores do lugar onde o serviço tenha sido prestado; c) manter uma disciplina previdenciária durante e após a cessação do trabalho.

O direito de livre circulação de trabalhadores encontra fundamento no princípio da não-discriminação, que comporta a igualdade de tratamento entre todos os trabalhadores que desempenham sua atividade no âmbito de um Mercado Comum, superando-se todo discriminação quanto aos trabalhadores estrangeiros face aos trabalhadores nacionais. A discriminação cria dificuldade para a livre circulação e pode criar reservas de mercado para os trabalhadores nacionais. Deve-se eliminar, pois, os procedimentos e práticas administrativas que possam obstaculizar a liberdade de locomoção e também as discriminações previamente existentes nos Estados-membros para o acesso ao emprego em razão da nacionalidade. O Grupo Mercado Comum, reconhecendo a necessidade de definir os documentos válidos para o traslado de pessoas entre os Estados-Partes do Mercosul, editou a Resolução Mercosul/GMC/Res. n. 44/94. Através desta Resolução, o Grupo Mercado Comum reconheceu a validade dos documentos de identificação pessoal de cada Estado-membro para o traslado de pessoas dentro dos países do Mercosul.

O que se pode concluir é que a livre circulação de trabalhadores não quer significar, somente, o deslocamento de um país para outro, sem restrições de trânsito; porém, vai mais além, para que o deslocamento não inclua nenhuma restrição ao exercício da atividade profissional, sob a proteção das leis do trabalho. Esta harmonização supõe um ataque direto ao problema do

dumping social, na medida em que se propõe a conseguir que todos os Estados estabeleçam

condições de trabalho similares, competindo, então, em igualdade de condições no que se refere ao fator trabalho, o que teria um duplo efeito: a) impedir a concorrência desleal entre os Estados com condições inferiores e, b) impedir que os Estados com níveis mais elevados os reduzam.

Assim, são muitos os trabalhos que se realizam em torno da elaboração de uma Carta Social que possa se referir a temas relacionados diretamente com a problemática da concorrência desleal como conseqüência do dumping social. Destaque-se que, sendo considerada uma das formas de harmonização de legislações, tem-se preconizado para o Mercosul a adoção de uma Carta Social, como na tentativa, em dezembro de 1993, dos trabalhadores da região em apresentaram aos Presidentes, um projeto de Carta Social, firmado por: Confederação Geral do Trabalho (CGT) da Argentina; Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Brasil; Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), do Brasil; Força Sindical (FS), do Brasil; Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Paraguai e, Plenário Intersindical de Trabalhadores (PIT/CNT), do Uruguai.