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PARTE I – DA ARBITRAGEM

3. ANÁLISE DA REGULAÇÃO/APLICAÇÃO DA ARBITRAGEM EM

3.1 A arbitragem no Mercosul – uma perspectiva da arbitragem internacional

3.1.4 O Direito Internacional no Mercosul

3.1.4.2 O Modelo de Solução de controvérsias do Mercosul: Estruturas

3.1.4.2.2 O Protocolo de Brasília

O Protocolo de Brasília veio como resposta ao delimitado no Anexo III do Tratado de Assunção, instituindo um sistema de solução de controvérsias que possibilitava a sua utilização num nível trifásico: as negociações diretas, a conciliação (através da intervenção do Grupo Mercado Comum) e o Procedimento arbitragem.

Prevê, o Protocolo de Brasília, logo em seu artigo primeiro, que as controvérsias que surgissem entre os Estados-membros sobre a interpretação, a aplicação ou o não cumprimento das disposições contidas no Tratado de Assunção, nos acordos celebrados no âmbito do mesmo, bem como nas decisões do Conselho do Mercado Comum e nas resoluções do Grupo Mercado Comum, seriam submetidas aos procedimentos de soluções estabelecidos no referido Protocolo. Fica, pois, delimitado o âmbito de aplicação do Tratado. Tanto os Estados-partes quanto os particulares poderão iniciar o procedimento de solução de controvérsia89, a depender do caso concreto.

Em seus artigos segundo e terceiro, o Protocolo de Brasília prevê a primeira maneira de solução dos conflitos: as negociações diretas. Nessa fase, os Estados-partes litigantes terão um prazo máximo de 15 dias para resolver sua pendenga, a partir da data em que um dos Estados- partes levantar a controvérsia. É, pois, a cristalização da própria intenção que o grupo tem de

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MERCOSUL. Tratado de Assunção – Anexo III. Disponível em: Direito Internacional Privado e Mercosul WebPortal <http://www.dip.com.br/default.asp?id=38&mnu=37>. Acesso em 12 jan. 2003.

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É o Capítulo V do Protocolo de Brasília, a partir de seu artigo 25, que dá o embasamento normativo para a possibilidade de um particular instaurar o procedimento de solução de controvérsias.

adotar uma forma ágil, de pouco desgaste entre os países e de pouca despesa econômica na pacificação das controvérsias.

Em não existindo acordo na fase supracitada, passa-se ao procedimento de intervenção do Grupo Mercado Comum. Será papel do Grupo Mercado Comum, com a possibilidade de assessoramento de especialistas, a formulação de recomendações aos Estados- partes, de modo que os mesmo cheguem a um acordo de vontades. Tem, pois, o GMC, o papel de verdadeiro conciliador. O prazo para a solução da controvérsia nessa fase será de, no máximo, 30 dias.

Por fim, se as partes não chegarem a um acordo através do auxílio do Grupo Mercado Comum, qualquer dos Estados pode recorrer ao procedimento arbitral, conforme prescreve o artigo 7o do Protocolo em exame: “quando não tiver sido possível solucionar a controvérsia mediante a aplicação dos procedimentos referidos nos capítulos II (negociações diretas) e III

(intervenção do Grupo Mercado Comum), qualquer dos Estados partes na controvérsia poderá

comunicar à Secretaria Administrativa sua intenção de recorrer ao procedimento arbitral que se estabelece no presente Protocolo”90.

O procedimento arbitral terá caráter tipicamente jurídico91, e tramitará ante um Tribunal ad hoc composto de três árbitros. O processo de escolha dos árbitros, como era de se esperar, tem a intervenção direta dos Estados litigantes. Cada Estado-membro depositará na Secretaria Administrativa do Mercosul uma lista com dez nomes para possíveis árbitros para o caso de ser necessária a instauração do Tribunal Arbitral ad hoc. Cada país, quando da necessidade da instauração do procedimento arbitral, deverá escolher um árbitro para a composição do Tribunal; quanto ao terceiro árbitro, este deverá ser escolhido de comum acordo entre os Estados litigantes e não poderá ser nacional de nenhum dos Estados em conflito; caso não se consiga chegar a um consenso quanto ao terceiro árbitro, será realizado sorteio (conforme previsão do art. 12 do Protocolo).

O artigo 19 do Protocolo prevê que o Tribunal arbitral decidirá a pendenga com base nas disposições do Tratado de Assunção, nos acordos celebrados no âmbito do mesmo, nas decisões do Conselho de Mercado Comum, nas Resoluções do Grupo Mercado Comum, bem

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MERCOSUL. Protocolo de Brasília. Disponível em:<http://www.mercosur.org.uy/>. Acesso em 12 jan. 2003.

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Cf. FONSECA, José Roberto Franco da. Sistema de Solução de Controvérsias no Mercosul. In: BAPTISTA, Luiz Olavo; MERCADANTE, Araminta de Azevedo; CASELLA, Paulo Borba. Mercosul: das negociações à implantação. 2.ed. São Paulo: LTr, 1998. p. 170.

como nos princípios e disposições de direito internacional aplicáveis na matéria. Se as partes assim quiserem, também poderá ser decidido o litígio segundo a eqüidade. O laudo arbitral será adotado por maioria, devendo ser fundamentado. Na previsão do Protocolo de Brasília, o laudo é inapelável, obrigando juridicamente os Estados que recorreram ao procedimento arbitral.

Hildebrando Accioly e Nascimento Silva92 aclaram, todavia, para o fato de que a força obrigatória não deve ser confundida com a força executória, que, na verdade, não existe, devido à ausência de uma autoridade internacional à qual incumba assegurar a execução das decisões arbitrais. O artigo 23 do Protocolo, no entanto, prevê, com o fito de dar maior efetividade à decisão, que o Estado vencedor da controvérsia poderá adotar medidas compensatórias temporárias caso o Estado sucumbente não cumpra as disposições do laudo arbitral.

Por fim, qualquer uma das partes, após a notificação do laudo, dispõe de um prazo de quinze dias para solicitar esclarecimentos sobre o mesmo ou pedir uma interpretação de como o Laudo deverá ser cumprido.

No que diz respeito a reclamações de particulares93, o procedimento está previsto no Capítulo V do Protocolo de Brasília, o qual reconhece que o objetivo visado pelo Tratado de Assunção não se alcança somente com a participação dos Estados, mas pressupõe a participação dos operadores econômicos, dos nacionais dos Estados-membros.

Pelo disposto nesse capítulo, as pessoas físicas ou jurídicas que se sentirem afetadas por uma sanção ou aplicação, por qualquer dos Estados-partes, de medidas legais ou administrativas de efeito restritivo, discriminatórias ou de concorrência desleal, iniciarão o procedimento formalizando suas reclamações ante a Seção Nacional do GMC do Estado-parte onde tenham residência habitual ou sede de negócios.

De acordo com o art. 27 do Protocolo de Brasília, se a Seção Nacional decidir patrocinar a reclamação do particular, optará entre a negociação direta com a Seção Nacional do GMC do Estado-parte ao qual se atribui a violação ou levará o caso, sem mais consultas, diretamente ao GMC; este poderá denegar a reclamação, se carecer dos requisitos necessários, ou receber a reclamação, convocando a seguir grupo de especialistas para emitir parecer sobre sua

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ACCIOLY, Hildebrando; NASCIMENTO E SILVA, G. E. do. Manual de Direito Internacional Público. 14.ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p.420.

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Cf. MERCOSUL. O sistema de solução de controvérsias no Mercosul. Disponível em:<http://www.mercosul.gov.br/html/textos/file_101.doc>. Acesso em 26 out. 2005.

procedência. Comprovada a procedência, qualquer outro Estado-parte poderá requerer a adoção de medidas corretivas ou a anulação das medidas questionadas. Caso o requerimento não prospere, o Estado-parte poderá recorrer ao procedimento arbitral previsto no Capítulo IV do Protocolo de Brasília.