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O ensino arquitetônico na transição para o modelo das academias

PROFISSÃO DE ARQUITETO

4.2 O ENSINO ARQUITETÔNICO NO BRASIL COLONIAL

4.2.4 O ensino arquitetônico na transição para o modelo das academias

A partir de meados do século XVIII, começou a tomar curso na Europa um processo de institucionalização do ensino que viria a substituir o modelo anterior, baseado nas Aulas de Arquitetura Militar, por outro que teria por base a especialização e uma incipiente, porém progressiva, diferenciação entre a arquitetura e a engenharia, de um lado, e entre a engenharia civil e a engenharia militar, do outro. Dois importantes movimentos contribuíram decisivamente para este processo: a Revolução Industrial, com o desenvolvimento científico e tecnológico subjacente, causa e consequência dos estudos das ciências físicas e matemáticas, tendo em vista as suas aplicações práticas traduzidas no aumento da produção fabril; e o movimento filosófico-cultural denominado Iluminismo, ainda em consequência do Renascimento, que libertou o espírito humano dos estreitos limites

da escolástica tradicional e valorizou a observação da natureza, a investigação científica e a experimentação.

Este processo, que se intensificaria a partir das primeiras décadas do século XIX, foi marcado pelo fim da engenharia pré-científica e pela incorporação do embasamento teórico como instrumento do conhecimento e como motor do desenvolvimento, vinculando-se o seu exercício aos meios de produção. A invenção da máquina a vapor e o surgimento de vários ramos industriais, sobretudo o têxtil e o metalúrgico, de um lado, bem como o desenvolvimento dos transportes e das comunicações, do outro, estimulariam e seriam estimulados pelo desenvolvimento científico e das engenharias por especializações, como a engenharia ferroviária, a mecânica, a de minas, a sanitária, a química, a de grandes estruturas, pontes, portos etc.

Num contexto de necessidade de preservar o ritmo do desenvolvimento tecnológico e como estratégia para promover a modernização e a industrialização dos Estados nacionais, ganhou importância a formação profissional regular e de natureza acadêmica. Começaram a ser fundados escolas e cursos de engenharia e de arquitetura e, desde então, o exercício destas profissões – ainda que sem uma clara distinção entre elas, o que somente viria a se construir ao longo do século XIX – foi tomando outras formas e outras diretrizes. No que diz respeito à arquitetura, teve início um processo ao longo do qual o título profissional, concedido após terminação de um curso em estabelecimento oficial de ensino, passou a ser muito valorizado para a carreira do arquiteto que, pouco a pouco foi se abstraindo da função de empreiteiro para se dedicar à atividade do projeto e, às vezes, da direção da obra. (RIOS FILHO, 1960).

A fundação da École des Ponts et Chaussés, em Paris, em 1747, foi provavelmente o marco inaugural deste processo, pois este é considerado o primeiro estabelecimento de ensino, em todo o mundo, onde se ministrou um curso regular de engenharia e que diplomou profissionais com este título107. A primeira referência importante desta escola foi a criação, em 1716, do Corps des Ponts et Chaussées, nos moldes do que já havia sido idealizado por Jean-Baptiste Colbert, antigo ministro de Estado do rei Louis XIV, que sete décadas antes havia criado a Académie Royale

107

Segundo BORBA (1999) o nome de “engenheiro civil” teria sido usado pela primeira vez pelo inglês Jonh Smeaton, que assim se autodenominou em fins do século XVIII, para se distinguir dos “engenheiros militares”.

d’Architecture. Constituído de um corpo de engenheiros assalariados a serviço do

Estado, o Corps tinha como papel principal assumir o controle da construção de estradas, pontes e canais, que há muito tempo estavam sob o domínio de senhores de terras, associações de comerciantes e ordens monásticas. Três décadas após a criação do Corps e diante da necessidade de, não apenas ampliar o número desses engenheiros, mas também de fornecer-lhes treinamento acadêmico regular, o rei Louis XV decidiu fundar a referida École des Ponts et Chaussées, entregando sua administração ao engenheiro Jean-Rodolphe Perronet. O modelo de ensino da escola – que durava de quatro a doze anos, conforme o curso – combinava instrução teórica em álgebra, geometria, mecânica, hidráulica etc., com extensa prática por meio de viagens de estudos pelas províncias do interior, o que incluía a participação no levantamento dos mapas de reino. (ENPC, 2011).

Ficando a formação de engenheiros civis a cargo da supracitada escola, no ano seguinte (1748) foi criada em Mézières a École Royale du Génie, que ficou encarregada da formação de engenheiros militares até 1793, quando foi extinta pela Revolução Francesa. (LE GENIE, 2011). Além dessas duas escolas, e no intuito de apoiar o desenvolvimento industrial, foi criada em 1783 a École Royale des Mines de

Paris, que em muito viria a contribuir para o avanço da pesquisa geológica, da

exploração mineral e da indústria francesa da época. Também esta escola teve suas atividades interrompidas pela Revolução, assim como ocorreu com as demais instituições do gênero criadas durante o Ancién Regime, sendo, contudo restauradas no ano seguinte, incorporadas pela então criada Polytecnique. (MINES, 2011).

A criação desta última escola, produto genuíno do Iluminismo francês, pode ser considerada como um dos fatos mais importantes da Revolução de 1789. Ela surgiu como a “[...] a expressão institucional de uma elite intelectual reunida em torno do pensamento republicano do cientista e político Gaspard Monge e de dois de seus antigos alunos de engenharia militar em Mézières, Lazare Carnot [...] e Claude- Antoine Pries-Duvernais.” (SANTOS FILHO, 2010, p. 41-42). A instituição teve origem na École Centrale de Travaux Publics, criada por iniciativa de Gaspard Monge um ano após a extinção de todas as academias francesas pela Convenção nacional de 1793, e, em 1795 passou a ser denominada École Polytechnique de

Paris. Tal criação representou um ato de grande envergadura, não somente de

ajudando a estabelecer as bases para o desenvolvimento urbano e industrial, tanto na França como na maioria das nações modernas nos séculos XIX e XX.

Ao contrário das antigas escolas de engenharia, que não se comunicavam entre si, a Polytechnique deveria ser interdisciplinar. O ponto de partida foi a formação de uma equipe composta de cientistas e professores de alto nível, que se tornariam conhecidos em todo o mundo através de seus inventos e de suas publicações. Nela foram incluídos além de Monge, ícones como os físicos e matemáticos Joseph-Louis Lagrange e Jean-Baptiste Fourrier, os químicos Antoine de Fourcroy, Claude-Louis de Berthollet e Louis-Bernard Guyton-Morveau, o engenheiro e matemático Gaspard de Prony e o arquiteto Louis-Pierre Baltard. (PFAMMATER, 2000). Eles criaram um programa de ensino voltado para a formação de um contingente de técnicos – engenheiros, arquitetos e oficiais do exército – que deveriam estar aptos para atuar na criação de uma moderna infra-estrutura para o país e para servir a um exército moderno.

Os professores da Polytechnique entendiam que os alunos não deveriam apenas absorver, sem espírito crítico, os ensinamentos que lhes eram transmitidos, mas, ao contrário, seriam instigados para debater e propagar o conteúdo de suas aulas. Eles consideravam fundamental o ensino da geometria, em particular o da geometria descritiva, que veio a constituir um ramo original da matemática, ajudando a resolver nas duas dimensões do plano, questões relativas a objetos no espaço tridimensional.

O intenso desenvolvimento industrial do século XIX muito deveu à aplicação da geometria descritiva, que permitiu ao engenheiro projetista por meio do desenho técnico resolver rapidamente intrincados problemas de encaixes de peças de máquinas sem a necessidade de tediosos cálculos numéricos e com a vantagem de se ter uma visão global do problema. (SANTOS FILHO, 2010, p. 44).

Esta escola não foi apenas o primeiro centro “moderno” de formação de engenheiros e arquitetos e o primeiro a estabelecer um programa de ensino institucionalizado e com objetivos claramente definidos. Ela também criou um modelo totalmente novo de ensino, conhecido como Modèle Polytechnique, que viria a ser imitado em vários países da Europa e nos Estados Unidos nas primeiras décadas do século XIX, vindo a ser reconhecido como o arranjo metodológico de maior influência na história do ensino tecnológico, particularmente no ensino arquitetônico de base tecnológica.

Os fundadores da École Polytechnique desenvolveram um conceito completamente novo de educação. Uma importante inovação foi a introdução de aulas regulares, nas quais os alunos foram divididos em grupos permanentes de aprendizagem mantidos para todos os assuntos, durante todo o ano. Outra novidade refere-se à metodologia de ensino e à fundamentação científica sobre a qual foram estabelecidas as bases da engenharia e da arquitetura, bem como as orientações práticas aplicadas aos trabalhos e projetos relativos às mesmas, que buscavam sempre manter uma conexão de entre teoria e prática. (PFAMMATER, 2000, p. 50). A influência desta instituição foi enorme, tanto na França como em diversos outros países europeus e mesmo em suas colônias e ex-colônias. A partir dela os ideais republicanos, de progresso e de disseminação do conhecimento foram espalhados, valendo-se inclusive de muitos estudantes estrangeiros que para lá se dirigiam. Seus egressos tiveram grande influência na França, na Alemanha, na Suíça e em outros países. A Polytechnique inspirou a criação de diversas instituições do gênero e, já nas duas primeiras décadas do Oitocentos, escolas deste tipo foram abertas em Praga, Viena e Karlsruhe (Alemanha), vindo a ser esta última a principal referência para a criação, no Brasil, da Escola Politécnica de São Paulo, na década final da mesma centúria. Também nos Estados Unidos o modelo parisiense foi adotado em muitas instituições de ensino criadas ao longo do século XIX.

É possível depreender que, em consequência deste processo de institucionalização do ensino acadêmico francês instituído na segunda metade do século XVIII e nas décadas iniciais do XIX, ficou consagrada a distinção entre a figura do engenheiro civil e a do militar, de um lado, e entre estes e a do arquiteto, do outro, a qual ficou mais associada ao ensino oferecido pela Académie Royale des

Beaux-Arts, com alguma contribuição da École des Arts, uma instituição

independente criada por Jacques-François Blondel em 1743. (SOUSA, 2001).

Quanto às instituições de ensino portuguesas, tanto as da Metrópole como as de suas colônias, estas ainda permaneceriam arraigadas à tradição das antigas Aulas até a última década do Setecentos, quando se verificou uma importante mudança qualitativa no ensino da Architectura Militar. “A obra de divulgação dos ensinamentos rudimentares de arquitetura estava, pois, em marcha, quando foi criada em Lisboa, no ano de 1790, a Real Academia de Artilharia,

Fortificação e Desenho.” (RIOS FILHO, 1977, p. 10). A partir de então começava a deixar a cena aquele ensino de conteúdo essencialmente pragmático e imediatista, de natureza teórico-prática e voltado para a rápida preparação de técnicos

destinados ao serviço do Império. Em seu lugar foi tomando forma outra concepção de ensino, agora direcionado para as novas necessidades do espaço imperial, desta feita entendido como território a delimitar, demarcar e defender, a partir de uma ocupação mais efetiva e mais profissional. Foi como parte deste processo, portanto, que se deu a criação naquele ano da Real Academia, em Lisboa, e dois anos depois, a de sua congênere no Rio de Janeiro.

Esta última instituição foi criada em 1792 e inicialmente sediada na Casa do Trem de Artilharia, onde recebeu o nome de Real Academia de Artilharia,

Fortificação e Desenho do Rio de Janeiro.

Não era uma simples Aula como nos cursos anteriores, tendo o caráter de um verdadeiro instituto de ensino superior, com organização comparável aos congêneres de sua época [...] foi assim o antecedente mais remoto da futura famosa Escola Polytechnica e da atual Escola de Engenharia da UFRJ, que dela descendem em linha direta. (TELLES, 1994, p. 87).

A academia teve como primeiro Lente o coronel Antonio Joaquim de Oliveira, e através dele

[...] o curso foi ampliado de cinco para seis anos, as disciplinas multiplicaram-se e institucionalizou-se definitivamente o ensino das matérias voltadas à Engenharia Civil, tal como definidas pela École des Ponts et

Chaussés, introduzindo-se curso específico sobre pontes e calçadas, até

então inexistentes no programa da Metrópole e da Colônia. (BUENO, 2003, p. 345).

No 1º e no 2º ano estudava-se Matemática; o 3º, o 4º e o 5º anos eram dedicados aos estudos de Artilharia, Minas, Fortificação e Ataque e Defesa das

Praças; e o 6º ano era dedicado ao estudo da Arquitetura Civil – pedras e outros materiais, orçamentos dos edifícios, construção de Caminhos e Calçadas, Hidráulica, Arquitetura das pontes, canais, portos, diques e comportas.

Ao que parece108 esta instituição foi transformada por Carta de Lei de 04 de dezembro de 1810, na Academia Real Militar do Rio de Janeiro, dando continuidade à estrutura acadêmica da sua antecessora. (BARATA, 1973). A criação dessa nova academia deveu-se, em grande parte, ao empenho pessoal do ministro D. Rodrigo de Souza Coutinho, o Conde de Linhares, e o seu primeiro presidente foi o ten. gen. Carlos Antonio Napion, oficial italiano que veio ao Brasil trazido pela

108 Não é totalmente certo que uma instituição tenha se transformado na outra. Entretanto, ainda que

TELLES (1984), que estudou profundamente o assunto, manifeste dúvida a esse respeito, BARATA (1973) afirma que uma descende da outra ou, no mínimo, tenha servido de referência para a que a sucedeu.

Família Real em 1808. Ela foi instalada no Largo de São Francisco, num imponente edifício neoclássico – adaptado a partir de uma antiga Sé – projetado inicialmente pelo engenheiro-arquiteto brigadeiro João Manuel da Silva e pelo sargento-mor Henrique Isidoro Xavier de Brito, e depois reformado, em 1826, pelo traço do arquiteto francês Pedro José Pézérat. O edifício-sede da academia representou um marco na arquitetura brasileira, se constituindo num “[...] bloco definidor da expansão da cidade a partir dos anos quarenta do século XVIII” (BARATA, 1973, p. 16), e vindo a abrigar desde a sua construção, além desta instituição, as suas sucessoras: Escola Central, a partir de 1858, Escola Politécnica, a partir de 1874,

Escola Nacional de Engenharia, a partir de 1937 e Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a partir de 1965. Neste ano, com a criação

do Campus Universitário da UFRJ, a escola deixou sua antiga sede, depois de mais de um século e meio na antiga casa do Largo de São Francisco.

Ainda que se tratasse de um estabelecimento militar, a Academia instituiu um ensino voltado substancialmente às questões das ciências exatas e da engenharia em geral, distribuído em sete anos e formando não somente oficiais de engenharia e de artilharia, mas também engenheiros geógrafos e topógrafos, habilitados em temas diversos como minas, caminhos, portos, canais, pontes, fontes e calçadas.109Três cursos distintos foram constituídos: “[...] um curso teórico de

Ciências Matemáticas, Físicas e Naturais, um curso de Engenharia e Ciências Militares, e um curso de Engenharia Civil, embora esse nome não fosse ainda empregado nem mencionado na Carta-Régia” (TELLES, 1994, p. 89) que os instituiu. Foram adotados manuais provenientes da École Polytechnique de Paris, bem como da École des Ponts et Chaussés, entretanto o programa da nova instituição do Rio de Janeiro, mesclava ainda às atribuições típicas do engenheiro civil francês, aquelas do tradicional engenheiro militar português.

Outro evento digno de nota foi a vinda da Missão Francesa, contratada na Europa por influência do ministro Antonio de Araújo e Azevedo, o Conde da Barca, que representou um fator importante a impulsionar o desenvolvimento da engenharia, da arquitetura e da ciência no Brasil. Uma das principais consequências da vinda desta missão, chefiada pelo escritor francês e ex-secretário da Académie

109

“Coube ao Sargento-mor do Real Corpo de Engenheiros Francisco Cordeiro da Silva Torres e Alvim [...] proporcionar, no 6º ano do curso, excelentes lições de arquitetura, tendo como base as obras de Vitrúvio e Vignola.” (RIOS FILHO, 1960, p. 374).

des Beaux-Arts do Institut de France Joachim Lebreton, foi a criação, por decreto do

Rei D. João VI, em 1816, da Escola Real de Ciências, Artes de Ofícios,110“[...] com o

ambicioso objetivo de difundir a instrução e os conhecimentos necessários ao progresso da agricultura, mineralogia, indústria e comércio, de forma a conduzir o Brasil ao patamar dos mais ricos e opulentos reinos conhecidos.” (PEREIRA, 2008, p. 14). Seu primeiro Diretor foi o próprio Lebreton e o arquiteto francês Auguste Grandjean de Montigny viria a ser, formalmente, o primeiro professor de arquitetura no Brasil.111 Além deles veio François Ovide, professor de mecânica; Jean Baptiste Debret, pintor; Auguste Taunay, escultor; e vários outros.

Essa instituição, claramente inspirada na escola de arquitetura da

Académie des Beaux-Arts, da França, inegavelmente se constituiu no primeiro

centro de ensino regular de arquitetura no país e no único a ministrar um curso independente e formal desta natureza durante todo o século XIX, ainda que houvesse no âmbito das academias militares um tipo de ensino arquitetônico de base tecnológica, integrado à formação dos engenheiros que ali estudavam. Tal instituição viria a ter nas décadas seguintes um papel fundamental na constituição do ensino arquitetônico no país, respondendo pela vertente histórica de natureza, por assim dizer, “artística”, em contraposição ao que, nas décadas iniciais do século XX, viria a ser ministrado pela Escola Politécnica de São Paulo e pela Escola de Engenharia Mackenzie, que representaria a vertente “fabril” do mesmo. (MOTTA, 1977).

110 Apesar da fundação da escola ser datada de 12 de agosto de 1816, esta somente viria a ser

definitivamente instalada e a funcionar dez anos depois, já no período imperial. Ainda durante o processo de instalação – que teria sido em muito retardado devido a problemas diversos, relacionados à burocracia governamental e a muitos outros, próprios do ambiente intelectual e artístico local (SOUSA, 2001) – a instituição mudaria de nome duas vezes, ambas em 1820: Real Academia de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil, em agosto, e Academia Real de Belas Artes, em novembro. (SCHLEE, 2010). Passou a funcionar em 05 de novembro de 1826, já com o nome de Academia Imperial das Belas Artes, tornando-se mais conhecida como Academia Imperial de Belas Artes e, mais tarde, com o advento da República, seria mais uma vez rebatizada, desta feita como Escola Nacional de Belas Artes. (BORBA, 1999).

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Desde que aqui chegou e se radicou, Montigny exerceu grande influência na arquitetura, fez muitos projetos e, de 1827, quando começou a ensinar na academia, até 1850, ano de sua morte, deixou muitos discípulos. (SOUSA, 2001). Entre seus projetos de arquitetura predial destacam-se o edifício da Escola Nacional de Belas Artes, a nova Alfândega, o Mercado da Candelária e a adaptação do Seminário São Joaquim para o Colégio D. Pedro II. Tendo sido a principal influência a introduzir o estilo neoclássico no Brasil, foi talvez o único arquiteto do período a atuar em projetos urbanísticos, como o de uma grande avenida de acesso à Quinta da Boa Vista (não realizado) e o embelezamento da antiga Praça Municipal, no Valongo. Entre seus muitos discípulos – cerca de cinquenta – alguns vieram a se tornar famosos como Francisco Bethencourt da Silva, José Maria Jacinto Rabello, Joaquim Cândido Guilhobel e Manoel de Araújo Porto Alegre. (RIOS FILHO, 1960).

Assim, se encerrava o primeiro quartel do século XIX, e, com ele, o período colonial brasileiro, marcado pelo início da separação formal entre dois tipos de ensino arquitetônico: o de arquitetura, ministrado pela Academia Imperial das Belas Artes, de um lado, e o de engenharia, que incluía um componente arquitetônico em seu currículo, ministrado pela Academia Real Militar, do outro.

4.3 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO ENSINO ARQUITETÔNICO NO BRASIL