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O Estatuto da Criança e do Adolescente

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2. REVISÃO TEÓRICA

2.2. Marcos legais da infância

2.2.2. O Estatuto da Criança e do Adolescente

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990) é uma lei popular; e para Cury, Silva e Mendez (1992) essa lei é fruto do esforço conjunto de pessoas e comunidades empenhadas na defesa e na promoção das crianças e adolescentes no Brasil, junto com o apelo de normativas internacionais a favor das crianças e adolescentes.

A partir de 1986, quando o país se preparava para redigir uma nova Constituição, entidades da sociedade civil se mobilizaram para influenciar a Assembleia Nacional Constituinte a favor da infância e adolescência, criando dois grupos distintos: a Comissão Criança e Constituinte e o Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, que juntos colheram mais de dois milhões de assinaturas para criação de duas emendas populares (Caravieri & Avoglia, 2016).

Esta mobilização resultou na inclusão do artigo 227 na Constituição Brasileira, que versa o seguinte:

“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (BRASIL, 1988, art. 227).

A legislação brasileira considera ‘criança’ uma pessoa com até 12 anos de idade incompletos, e considera adolescente aquele entre 12 e 18 anos de idade. Diferentemente a “Convenção Internacional dos Direitos da Criança” considera criança uma pessoa menor de 18 anos, a menos que a lei do país estabeleça uma idade menor como sendo a maioridade. Assim, conforme Castro (2010), no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) a criança e o adolescente são vistos como sujeitos de direitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento, garantindo ainda proteção especial àqueles que se encontram em situação de risco social e pessoal. Desta forma, o Estatuto contempla estratégias voltadas às políticas sociais articulando família, sociedade e poder público na busca de medidas de proteção integral à criança e ao adolescente.

Além de serem reconhecidos como “sujeitos de direitos”, crianças e adolescentes passaram a ter “prioridade absoluta”, sendo dever da família, da comunidade, da sociedade geral e do poder público, assegurar com prioridade a efetivação de seus direitos:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (Art. 4º, ECA).

No que se refere ao Poder Público, o ECA aborda a necessidade da participação e envolvimento das esferas municipal, estadual e federal para a garantia dos direitos de crianças e adolescentes. No artigo 86 define que “a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações governamentais e não- governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios”

. O citado artigo é resultado da concepção de autonomia dos entes que integram a Federação, assim, a política de atendimento às crianças e aos adolescentes não será realizada com exclusividade pelos Municípios, mas em sua permanente articulação com a União, Estados e entidades não- governamentais (Caravieri & Avoglia, 2016).

Nesta divisão de responsabilidades, cada um dos princípios da hierarquia mencionada tem atribuições específicas: à União compete a coordenação global da política, definição de normas gerais de ação, fiscalização das políticas e controle das ações; ao Estado, a coordenação da política de maneira complementar à União, adaptando as normas federais à sua realidade, e a execução de ações diretas, apenas quando estas extrapolam a capacidade do município; e ao Município cabe a execução direta dos atendimentos a crianças e adolescentes e a coordenação no âmbito local, por meio do Governo Municipal, da comunidade e das organizações não governamentais (Pontes Junior, 1993, citado por Caravieri & Avoglia, 2016).

Para efetivação da garantia dos direitos de crianças e adolescentes, o ECA estabelece a criação dos Conselhos Tutelares, órgão permanente e

autônomo, não jurisdicional, encarregado de zelar pelo cumprimento dos direitos das crianças e adolescentes (art. 131, ECA).

Esta definição, por si só, não se apresenta como esclarecedora, sendo necessário entender cada uma das especificidades citadas. O fato de se constituir em um órgão permanente e autônomo, quer dizer que é um órgão público, criado por lei, que integra definitivamente o conjunto das instituições brasileiras, estando, portanto, sujeito e subordinado ao ordenamento jurídico do país e que, em suas decisões, tem autonomia para desempenhar as atribuições que lhe são confiadas pelo Estatuto Federal que o instituiu (Seda, 2005).

O termo não jurisdicional significa que não integra o Poder Judiciário, exercendo, portanto, funções de caráter administrativo, dependendo da órbita do Poder Executivo, em que fica vinculado para os efeitos administrativos da sua existência como órgão que executa funções públicas (Seda, 2005).

Uma vez criado por lei e instalado, o Conselho Tutelar não pode ser desfeito ou desativado, sendo possível a mudança apenas dos conselheiros por meio de seus mandatos temporários. O conselheiro tutelar é eleito pela comunidade para desempenhar sua função e não deve ser confundido com o juiz da infância e juventude, pois é encarregado pela comunidade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente definidos pelo ECA.

O Estatuto determina que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, sendo punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais” (art. 5º, ECA)

Ao Conselho Tutelar cabe aplicar medidas de proteção sempre que os direitos forem ameaçados ou violados por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; ou em razão da conduta da criança ou do adolescente (art. 98, ECA, 1990).

Nesse sentido, o ECA, no caput do art. 13, dispõe que em casos que haja “suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra crianças ou adolescente” devem-se “obrigatoriamente ser

comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade sem prejuízo de outras providencias legais”.

As medidas de proteção aplicadas a crianças e adolescentes estão previstas no art. 101:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;

II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;

IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do adolescente; V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;

VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

VII – acolhimento institucional.

As medidas aplicadas aos pais ou responsáveis estão no art. 129:

I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família;

II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;

V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e aproveitamento escolar;

VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado;

VII – advertência.

As medidas aplicadas pelo Conselho Tutelar tem um caráter protetivo da criança e do adolescente, e não um caráter punitivo. O mesmo teor pode se observar nas medidas previstas a pais e responsáveis em casos de violação de direitos praticados pelos mesmos.

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