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O GRANDE ORIENTE E SUPREMO CONSELHO DO PARANÁ

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (páginas 100-107)

PARTE III – A MAÇONARIA NO PARANÁ

3.4. O GRANDE ORIENTE E SUPREMO CONSELHO DO PARANÁ

O Grande Oriente e Supremo Conselho do Paraná é a primeira tentativa de independência da maçonaria no Estado. A fundação desta potência maçônica demonstra duas ações típicas do desmembramento de instituições maçônicas no país, como analisamos anteriormente: a insatisfação com o comando nacional (ou poder central) e o anseio pela autonomia nos trabalhos, características determinantes para a criação deste novo organismo.

Os acontecimentos que marcaram a fundação do Grande Oriente foram capitaneados pela Loja Maçônica Acácia Paranaense, líder do movimento. As reuniões acerca do assunto se iniciaram em julho de 1902, com a fundação oficial ocorrendo em 28 de agosto do mesmo ano. Segundo a publicação da loja (Jornal

“Acácia”), “a Maçonaria Paranaense podia arregimentar-se e dirigir-se por um corpo propriamente seu, a despeito da guerra pouco criteriosa movida pelos interesseiros do poder”. Esta citação reforça o argumento defendido acima, relativamente à independência do poder central e autonomia dos trabalhos maçônicos .

47 Disponível em: < http://www.furacao.com/historia/curiosidades/presidentes.php>. Acesso em: 20 mai 2015.

48 Disponível em: < http://www.museumaconicoparanaense.com/MMPRaiz/Autoridades_PR/

DELEG_919_Petit_Carneiro.htm> Acesso em 20 mai 2015.

De acordo com a referida publicação, a criação do Grande Oriente ocorre:

Para luctar pela federação maçônica no Brazil, conforme o programa do ser.´. Gr.´. Or.´. do Rio Grande do Sul, que não quer a separação, mas sim a união por um modo todo plausível, deixando a cada Estado sua completa autonomia, tal deve ser o espírito das novas leis que vão ser decretadas, como também todo o esforço desses maçons abnegados que em boa hora proclamam a independência da Maçonaria Paranaense. (ZUCOLI, 2001, p.

110/111)

O desejo de autonomia institucional, capitaneado pela Loja Maçônica Acácia Paranaense, era liderado por Trajano Joaquim dos Reis, citado na mesma matéria jornalística como um dos expoentes da maçonaria na época. Trajano se destacou no final do Século XIX, quando chegou ao Paraná, em 1876. Médico, atuava como 2°

cirurgião do exército e exerceu por duas vezes o mandato como Deputado Estadual, presidindo a Assembleia Legislativa do Estado do Paraná entre 1918 e 1919 (GOULART, 2014, p. 522). Ainda foi Vereador, também presidindo a Câmara Municipal de Curitiba. Além da vida pública, Reis tinha destaque na maçonaria, conforme citado, sendo o primeiro Delegado do Grande Oriente do Brasil no Paraná em 1902. Do mesmo modo, Trajano era visto como o líder deste movimento de independência da instituição no período, pois:

Á frente do novo Gr.´. Or.´. está um velho maçon respeitável por todos os títulos, estimado por toda a população Curitybana, e cuja vida cheia de trabalhos pelo bem humano, tem sido para a pobresa desta terra como um sol de amor e de caridade. O Exmo. Dr. Trajano Joaquim dos Reis, medico distinctissimo, é um desses homens que podia dizer bem alto, se a sua reconhecida modéstia não o inhibisse, que se ha honra, se ha caracter, se ha sentimentos de justiça e de humanidade, se ha virtude, elle pode encarnar em si todos esses predicados, porque a sua philosophia tão superior, engrandecida pelos exemplos que constantemente da sua própria consciência illuminada de clarões do céo. (ZUCOLI, 2001, p. 110/111)

Assim, em 04 de setembro de 1902 o Grande Oriente e Supremo Conselho do Paraná são instalados na Rua XV de Novembro, 75, sendo o maçom Trajano Reis eleito para o cargo de Grão-Mestre da referida potência. O templo cedido para os trabalhos do Grande Oriente foi o da Loja Acácia Paranaense, permanecendo até o término de 1902 no mesmo imóvel (ZUCOLI, 2001).

A nova sede foi inaugurada no mesmo ano, em 25 de outubro. As lojas da potência foram convidadas a participarem da cerimônia, que se iniciou às 19 horas,

no novo endereço, à Rua do Serrito – atualmente Rua Presidente Carlos Cavalcanti.

O local onde o templo estava instalado recebeu o nome de Palacete Serro Azul e o Grande Oriente e Supremo Conselho do Paraná exerceram as atividades até junho de 1909, quando se mudou para a Rua São Francisco, 51.

As imagens abaixo ilustram a fachada do Grande Oriente, bem como um templo que funcionava no local, instalado no andar superior. Nota-se a presença dos maçons em sessão, muito provavelmente em período anterior ou posterior à reunião, dada a posição dos mesmos:

Figura 7. Sede do Grande Oriente e Supremo Conselho do Paraná

Fonte: ZUCOLI, 2001.

Figura 8. Foto do interior do templo, situado no andar superior

Fonte: ZUCOLI, 2001.

Após o funcionamento neste local, o Grande Oriente foi transferido para o endereço da Rua São Francisco, com manutenção até 1920, quando foi incorporado ao Grande Oriente do Brasil novamente. Vinte e uma lojas maçônicas pertenceram à referida potência durante os dezoito anos de trabalhos, presentes principalmente em Curitiba e nas regiões de Ponta Grossa e Guarapuava (BELINI, 2002).

Em relação aos Grão-Mestres da potência, após a posse de Trajano Reis para o cargo, este permaneceu até o ano de 1909, quando Generoso Marques dos Santos49 assumiu a presidência do Grande Oriente. Em sua vida profissional e pública, Marques era Bacharel em Ciências Sociais e Jurídicas na Faculdade de Direito de São Paulo, bem como jornalista político. Foi Deputado Estadual de 1866 a 1889. Na Assembleia Legislativa foi Presidente de 1888 a 1889, exercendo também a função de Segundo Vice-Presidente da então Província entre 1878 e 1880. A carreira pública continuou, assumindo uma cadeira no Senado entre 1890 e 1893, presidindo os trabalhos alusivos à primeira constituição do Paraná, em 1891.

Retornou à Assembleia em 1897, permanecendo até 1913. Por fim, foi Senador da República entre 1909 e 1926. Retornou ao Grão-Mestrado por alguns meses em vice-presidência. Nesse sentido, a Coligação Partidária tornou-se uma maneira deste de continuar na política, mas não foi uma forma de angariar ainda mais prestígio político; sendo levado a participar do jogo praticamente com o mesmo capital político de que dispunha no momento partidário anterior. partidos que anteriormente se digladiavam no cenário político paranaense.

(GOULART, 2004, p. 158)

49 Há uma importante análise da biografia de Generoso Marques dos Santos em GOULART, 2004, p.

151-162.

Em 1909 Joaquim Moreira Sampaio assumiu como Grão-Mestre do Grande Oriente e Supremo Conselho do Paraná. Também atuava como médico do exército e foi transferido para Curitiba em 1905. Sua permanência na capital ocorreu até 1912, quando da transferência para o Rio de Janeiro e, desde então, realizou expedições a serviço do exército, sendo promovido ao posto de Tenente-Coronel médico do exército em 1922. Apesar da curta passagem no Paraná, Sampaio permaneceu até 1912 como Grão-Mestre, exercendo o mandato durante três anos.

Outro detalhe relevante da biografia de Joaquim Moreira Sampaio é o exercício da presidência do Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a República Federativa do Brasil (o mesmo oriundo do Grande Oriente do Brasil e, posteriormente integrado por maçons da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil) entre 1933 a 1945, recebendo o título de Soberano Grande Comendador (ZUCOLI, 2001).

Em seguida, Marins Alves de Camargo assumiu o cargo de Grão-Mestre do Grande Oriente e Supremo Conselho do Paraná, de 1913 a 1914. Também era Bacharel em Ciências Sociais e Jurídicas pela Faculdade de Direito de São Paulo, sendo promotor público do Paraná e fundando em 1907 o Ginásio Curitibano.

Camargo era irmão de Affonso Alves de Camargo, que governou o Estado de 1916 a 1920 e de 1928 a 1930.

Aponta Goulart (2004), que Marins Alves de Camargo foi presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná em 1920, além de exercer o cargo de Governador de 1924 a 1928, sendo sucedido exatamente por seu irmão. Antes do exercício do mandato frente à chefia do Poder Executivo, Marins foi secretário de Estado por três anos.

Ainda no campo educacional, Marins fundou a Universidade Federal do Paraná (UFPR), ocupando a cátedra de Direito internacional público do curso até 1952, além de pertencer ao quadro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

Era integrante da Loja Maçônica Philantropia Guarapuavana, sendo o primeiro Grão-Mestre do interior do Paraná.

Substituindo Marins Alves de Camargo à frente do Grande Oriente e Supremo Conselho do Paraná, Isaías Regis de Miranda permaneceu apenas por

cinco meses à frente da direção da potência. Atuava profissionalmente como funcionário público e titular de cartório, além de coletor fiscal em São Mateus do Sul.

Outra peculiaridade de Miranda é a atuação futebolística, sendo presidente do Britânia Esporte Clube, inclusive dirigindo-o durante a conquista de campeão paranaense da equipe (ZUCOLI, 2001).

Já Benjamin Baptista Lins de Albuquerque permaneceu como Grão-Mestre por quatro anos, do término de 1914 até 1918. Graduado em Direito pela faculdade de Recife, chegou ao Paraná em 1907, colaborando para a fundação da Universidade Federal do Paraná em 1912. Também participou dos trabalhos de fundação do jornal “A Gazeta do Povo”, em 1919, um tradicional periódico ainda em circulação no Estado. Atuou durante como Secretário de Estado da educação em 1930 e Procurador Geral da República entre 1933 a 1934 (ZUCOLI, 2001).

Por fim, o último Grão Mestre do Grande Oriente e Supremo Conselho do Paraná foi Ângelo Pinto de Sá Ribas, de 1919 a 1920, quando houve a incorporação desta potência ao Grande Oriente do Brasil. Sá Ribas atuava como telégrafo, fundando algumas unidades telegráficas no Estado do Paraná.

O término das atividades da potência foi oficializado em 24 de agosto de 1920, conforme a circular abaixo, distribuída entre as lojas maçônicas pertencentes à instituição, assinada por Petit Carneiro (Delegado do Grande Oriente do Brasil) e por Ângelo Pinto de Sá Ribas50, representando o Grande Oriente e Supremo

como novos esteios a nossos trabalhos e engrandecimento de nossa Instituição.

Estando desta maneira, terminada a desconvergencia de nossos esforços, congratulamo-nos com todas as LLoj.´. da jurisdição desta Delegacia, pela feliz circunstancia de ficarem nossas CColum.´. mais fortalecidas pela concordia e unificação da Maçon.´. neste Estado. (ZUCOLI, 2001).

Após um período em que o ideal de autonomia em relação ao poder central do GOB e possibilidade de organização estadual independente, o teor desta nota circular reflete o ideal de união e fortalecimento das lojas maçônicas do Paraná, assinada em conjunto com os representantes das duas potências que passaram a propagar os ideais maçônicos no Estado. De fato, a rigor, não houve esta “união”: o Grande Oriente do Brasil incorporou as lojas maçônicas do Grande Oriente e Supremo Conselho do Paraná, uma vez que o primeiro continuou a existir e o segundo encerrou as atividades, passando a integrar o GOB.

Duas características são relevantes em relação a este Grande Oriente. A primeira delas é a busca de uma sede fixa, simbolizando o propósito de independência do poder central do Grande Oriente do Brasil. Se há uma criação de uma nova potência maçônica, há também a necessidade de obter um espaço para a execução das atividades, sobretudo administrativas. Logo, as sedes em que o Grande Oriente se instalou contribuíram, desta forma, para a consolidação da potência no Estado.

A segunda característica é o perfil de grão-mestres, similar ao do poder central do Grande Oriente do Brasil, pautado basicamente por integrantes da classe política e, no caso paranaense, com a presença de juristas e militares. A maioria dos líderes desta potência possuía estreita relação com o poder público e, acrescido a isto, podemos afirmar que os referidos grão-mestres pertenciam a uma elite estratégica do Paraná, pois congregava membros de segmentos importantes no início do Século XIX.

Em virtude do encerramento das atividades desta potência e conseqüente incorporação do Grande Oriente do Brasil, há um período de baixa movimentação no sentido de criação de novos organismos maçônicos no Paraná. Esta tendência é similar à verificada no contexto nacional, com as “novas” cisões que ocorreram em 1927 e 1973. No Estado também houve a manutenção das instituições já existentes em detrimento a criação de novas potências ou possíveis rupturas na estrutura da

maçonaria regional. Assim, somente com a fundação da Grande Loja do Paraná, em 1941, é que uma nova potência surgiria no contexto maçônico estadual, como analisaremos adiante.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (páginas 100-107)