• Nenhum resultado encontrado

Cada vez mais a aprendizagem vem se distanciando da aquisição formal de conhecimentos e informações e se aproxima de um processo social, no qual a interação, o desenvolvimento de novas competências, a colaboração e a autonomia assumem papel de destaque. Nesse contexto, as tecnologias digitais, devido à facilidade que trazem à vida das pessoas, vêm ganhando cada dia mais espaço. O processo de ensino-aprendizagem de L2 sempre esteve envolto pela tecnologia, indo desde o quadro, o piloto, o livro didático, os CDs e DVDs e chegando à era digital, com o advento da internet, dos Smartphones e de outros aparelhos (LEANDRO, 2015). Assim, consideramos interessante iniciar a discussão destacando que nem toda tecnologia é digital. Para ser considerada digital, é preciso que a tecnologia tenha seu funcionamento baseado em uma lógica binária, ou seja, tecnologias digitais são equipamentos eletrônicos cujos dados são processados e guardados a partir de valores lógicos. A palavra digital vem do latim e significa dedo (MATTAR, 2014). Portanto, o uso de computadores e de celulares, por exemplo, se enquadra nas tecnologias digitais.

No mundo conectado em que vivemos, as tecnologias digitais estão em constante desenvolvimento e representam um recurso importante à competência linguística. Em outras palavras, os avanços tecnológicos são muitos e crescem a cada dia. Considerando todas essas mudanças, Brown (2007) enfatiza a importância de que os professores não se sintam desencorajados por esse desenvolvimento e que, ao mesmo tempo, não esqueçam que a CALL deve ser vista como um complemento ao ensino, e não como um substituto dele. Além disso, advogamos a favor de que os

educadores procurem maneiras de se adequar a essa nova realidade escolar, incorporando-a as suas realidades.

De acordo com González-Lloret e Ortega (2014), o computador e as tecnologias de comunicação online contribuem para o surgimento de novas tarefas no mundo real. Assim, as autoras acreditam que a inclusão das tecnologias digitais na sala de aula L2, aliada a aplicação de tarefas, oferece uma oportunidade para que os alunos utilizem linguagem autêntica em uma interação real, auxiliando no aprendizado. Ou seja, trabalhar para criar uma sinergia entre a abordagem baseada em tarefas e as tecnologias digitais, por exemplo, pode contribuir para dar ao aprendiz oportunidades de desenvolver sua L2 fora do ambiente tradicional e controlado da sala de aula.

A nomenclatura utilizada para se referir à aprendizagem de línguas mediada pelas tecnologias digitais pode, à priori, representar uma barreira para que professores procurem utilizar as tecnologias digitais em suas aulas. Isto porque há, na literatura, diferentes termos para se referir a esse tipo de aprendizado. Brown (2007), por exemplo, sugere TMLL, Aprendizagem de Língua Mediada pela Tecnologia (do inglês Techonology-Mediated Language Learning). Temos também o acrônimo TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação), que envolve qualquer tipo de tecnologia presente em diversas áreas, não só na educação (MACHADO, 2009). Encontramos ainda a terminologia TELL (Technology-Enhanced Language Learning ou Aprendizagem de Línguas Potencializada pela Tecnologia), que diz respeito ao uso das tecnologias e da internet como ferramentas mediadoras da aprendizagem (YANG; CHEN, 2007).

Além das terminologias citadas no parágrafo anterior, nos últimos anos, tem-se observando um novo cenário do uso das TICs, o E-Learning (Electronic Learning). O E-Learning abrange elementos inovadores ao uso das tecnologias na educação e, por estar intrinsecamente associado à Internet, reflete a sua facilidade e rapidez do acesso à informação, independente de tempo e lugar (MATTAR, 2014). Além disso, devido à diversidade de ferramentas e serviços de comunicação disponíveis, representa um incentivo à aprendizagem colaborativa, já que permite que todos os aprendizes participem do processo de aprendizagem. Ademais, o E-Learning permite o Blended Learning (modelos

de formação mistos ou híbridos), ou seja, a integração de atividade presenciais a atividades online.

Entendemos que é preciso, ainda, fazermos referência a uma nova modalidade de ensino, que surgiu impulsionada pelo crescimento do E- Learning: a aprendizagem móvel ou M-Learning (Mobile Learning). Em outras palavras, o M-Learning (LAOURIS E ETEOKLEOUS, 2005) pode ser entendido como a junção de conceitos de mobilidade de e aprendizagem e é uma derivação do E-Learning. Por sua vez, o M-Learning também pode ser encontrado na literatura nomenclaturas. Bento e Cavalcante (2013), por exemplo, utilizam o termo TIMS (Tecnologias da Informação e Comunicação Móveis e sem Fio).

A título de síntese, as diversas nomenclaturas citadas neste ponto da nossa pesquisa, assim como os autores que fazem referência a elas, encontram-se elencadas no Quadro 1.

QUADRO 1 - Nomenclatura utilizada para se referir à aprendizagem de línguas mediada pelas tecnologias digitais

Abreviação Autor de referência (nesta pesquisa) Significado TMLL Brown (2007)

Aprendizagem de Língua Mediada pela Tecnologia (do inglês Techonology-Mediated

Language Learning).

TELL

Yang; Chen (2007)

Aprendizagem de Línguas Potencializada pela Tecnologia (do inglês Technology-Enhanced

Language Learning).

TIC

Machado

(2009) Tecnologias da Informação e Comunicação.

E-Learning Mattar (2014) Electronic Learning. M-Learning Laouris; Eteokleous, (2005) Mobile Learning.

TIMS

Bento e Cavalcante

(2010)

Tecnologias da Informação e Comunicação Móveis e sem Fio.

Com o intuito de sistematizar a leitura do nosso estudo e, desse modo torná-la mais fluida, deste ponto em diante, ao nos referirmos à aprendizagem de línguas mediada pelas tecnologias digitais, utilizaremos o termo E-Learning. Nessa mesma linha, ao nos reportarmos à aprendizagem de línguas mediada pelas tecnologias móveis, trabalharemos com a nomenclatura M-Learning (LAOURIS E ETEOKLEOUS, 2005).

Movidas pelo interesse em entender de que forma as tecnologias digitais podem impactar o desenvolvimento das habilidades de L2, as pesquisas nessa área têm crescido bastante nos últimos anos. Em um estudo realizado por Weissheimer, Bergsleithner e Leandro (2012), os pesquisadores investigaram o impacto da escrita colaborativa mediada pelo Google Docs sobre a acurácia gramatical de aprendizes da língua inglesa. Os resultados mostram que o número de erros gramaticais dos aprendizes diminuiu e que o Google Docs (GD) foi útil à aprendizagem. Nessa mesma linha, Leandro (2015), investigou o impacto da escrita colaborativa mediada pela ferramenta GD no desenvolvimento da habilidade de escrita em Língua Inglesa (LI) e na percepção de erros sintáticos ou noticing (SCHMIDT, 1990). Nesse estudo, os participantes do grupo experimental foram expostos a uma experiência de aprendizagem híbrida, com aulas presenciais de leitura e produção escrita em LI e a escrita colaborativa de três flash fiction (narrativas completas contadas em 100 palavras). Os resultados mostram que os participantes passaram a produzir textos com maior densidade lexical, o que evidencia o aspecto positivo da escrita colaborativa mediada por tecnologia no processo de aprendizagem de L2.

O incentivo a trabalhos colaborativos é importante porque os alunos são expostos a mais insumo linguístico por parte dos colegas co-autores (WEISSHEIMER; BERGSLEITHNER; LEANDRO, 2012). Além disso, a colaboração permite que o foco do aprendiz deixe de ser o produto final, ou seja, o texto pronto (no caso da produção escrita) ou a mensagem completa (em se tratando da produção oral), e passe a ser o processo de construção,

contribuindo para a consolidação de conhecimentos existentes e a criação de novos conhecimentos (SWAIN, 1985; 1993).

González-Lloret (2003) se interessou em pesquisar os modos pelos quais aprendizes de L2 interagem procurando esmeraldas em um ambiente virtual. Em outras palavras, a relevância do uso das tecnologias digitais em uma abordagem baseada em tarefas, nas quais as contribuições e os feedback elaborados funcionam como alicerce à a aprendizagem colaborativa. Seu estudo concluiu que a comunicação e a negociação contribuíram para melhorar o nível de compreensão dos participantes. Nessa mesma linha, Soares (2012) conduziu um estudo sobre o impacto dos jogos online de interpretação de personagens (milhares de jogadores interagindo ao mesmo tempo em pelo menos um mundo virtual) podem ter na aprendizagem da L2. Os resultados da pesquisadora indicam que os participantes do grupo experimental (os jogadores) apresentaram desenvolvimento no que diz respeito à acurácia ortográfica, à interpretação, à leitura e à escrita com foco no conteúdo. Os estudos de González-Lloret (2003) e de Soares (2012) indicam que os jogos de interação e baseados em tarefas podem proporcionar, além de diversão, um maior convívio com a língua inglesa e a oportunidade de aprimorar a proficiência linguística dentro de um contexto real.

Sousa (2014) verificou o impacto da prática com a ferramenta VoiceThread (VT) - ferramenta na qual é possível gravar e compartilhar um comentário em áudio ou vídeo a respeito de um determinado tópico - no desenvolvimento da produção oral e da capacidade de noticing. Os participantes do grupo experimental foram expostos a uma experiência híbrida com o VT durante oito semanas. Os resultados apontam uma correlação estatisticamente significativa entre a acurácia gramatical e o noticing, ou seja, que aprendizes que cometeram menos erros gramaticais foram os que perceberam mais lacunas na sua produção oral. Além disso, os resultados sugerem que houve um desenvolvimento da fluência, acurácia, complexidade e da capacidade de noticing dos aprendizes que praticaram a produção oral por meio do VT, na comparação entre os escores dos grupos experimental e controle.

No que diz respeito ao aluno, podemos observar, de maneira geral, algumas vantagens em um curso híbrido: a flexibilidade, o ritmo individualizado

para executar as atividades, a escolha individual dos padrões, além da extensa exposição a exercícios de compreensão e de produção oral (LEANDRO, 2015). Ademais, no que concerne às instituições de ensino, também enxergamos pontos positivos: o foco das aulas presenciais pode ser redirecionado, já que o professor, por oferecer ao aluno a oportunidade de desenvolver a produção da língua fora do espaço escolar, tem mais tempo para reforçar outros conteúdos. Além disso, pode ser um estímulo para alunos que não possuem uma rotina fixa, ou cujos horários não são flexíveis, já que os encoraja a praticar a língua fora do horário pré-estabelecido pelos encontros presenciais.

Advogamos a favor do uso das tecnologias em sala, pois acreditamos serem benéficas à aprendizagem, desde que elas sejam vistas como uma ferramenta a mais ao ensino. Nessa linha, Oliveira (2014) conduziu um estudo sobre de que forma a motivação situacional ocasionada por tarefas de aprendizagem mediadas pelas Lousas Digitais Interativas (LDI) impacta nos participantes e concluiu que o impacto da LDI na motivação dos participantes foi de pequena proporção. Esse resultado corrobora nosso entendimento de que a tecnologia não é panaceia para resolver todo e qualquer problema de sala de aula e não substitui a prática pedagógica planejada e adequada.

Na próxima seção passamos a discutir o papel das tecnologias digitais móveis e de um dos aplicativos mais usados atualmente, o WhatsApp, na