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Segundo Ellis (2009) e Skehan (1996), na produção oral, os falantes precisam dividir a atenção entre os aspectos discutidos na seção anterior: a fluência, a acurácia gramatical e a densidade lexical ponderada; já que, como vimos, o efeito trade-off torna impossível priorizar os três ao mesmo tempo. Ou seja, na medida em que a pessoa almeja focar em um aspecto em particular, os outros (ou pelo menos um deles) são negativamente afetados. Com isso, o falante procura equilibrar a inadequação de um sistema focando em outro.

O planejamento estratégico, ou seja, aquele planejamento feito antes de desempenhar uma tarefa oral, foca no conteúdo a ser expresso e na língua a ser utilizada. De acordo com Skehan (1996), um planejamento pré-tarefa7 está ligado à manipulação da atividade (orientações dadas pelo professor para que o aluno compreenda claramente o que deve fazer e, com isso, passe a refletir sobre como atingir o objetivo proposto) e equivale a permitir que o falante de L2 tenha um tempo para planejar sua fala antes de, de fato, realizá-la.

Foster e Skehan (1996) consideram o planejamento de uma atividade de pré-tarefa útil, uma vez que pode representar uma influência positiva no nível de desempenho dos alunos do L2. Em outras palavras, ao planejar, o falante decide o significado que ele quer transmitir e, com base nessa decisão, ele busca ativar recursos linguísticos apropriados para se comunicar.

Nos últimos anos, pesquisadores têm voltado a atenção para a importância do planejamento no desenvolvimento da habilidade oral em L2, considerando tanto a influência das diferenças individuais na capacidade da memória de trabalho dos aprendizes quanto os processos pelos quais eles passam ao traçar a rota de uma tarefa oral (MEHNERT, 1998; ELLIS, 2009; GUARÁ-TAVARES, 2011).

A produção oral em L2 pode ser facilitada através de uma sequência de organização prévia de conteúdo, antes da produção real. Nesse sentido, os resultados em Guará Tavares (2011) indicam que o planejamento antes da produção oral se traduz em diferenças significativas na acurácia e complexidade da fala dos aprendizes. Ao planejarem uma tarefa oral, os aprendizes passam por etapas que os ajudam a melhorar sua produção, tais como buscas lexicais, organização de ideias e ensaios. O estudo da pesquisadora sugere que incorporar o planejamento de tarefas à prática pedagógica pode contribuir para chamar a atenção dos aprendizes para aspectos formais da língua.

Estudos realizados por Ellis (2009) analisam os efeitos do planejamento na produção oral de aprendizes de L2 em termos de fluência, acurácia e

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As tarefas são atividades onde a língua-alvo é usada por um aprendiz para um propósito comunicativo de forma a alcançar um resultado (WILLIS, 2001). Nesse estudo, tarefa e atividade serão usados como sinônimos.

complexidade. Os resultados apontam que o planejamento estratégico pode auxiliar os aprendizes a melhorarem seus níveis de fluência.

Ainda de acordo com os estudos de Ellis (2009), os aprendizes que tiveram uma atitude positiva em relação à oportunidade de planejarem suas falas o fizeram com maior fluência, em relação aos que não planejaram. Ficou comprovado que o planejamento estratégico mostrou ter efeito sobre a complexidade gramatical e beneficiou todos os tipos de aprendizes, exceto os de nível mais avançado.

No que diz respeito à acurácia gramatical, observou-se que o planejamento teve efeitos menores em aprendizes de nível avançado. Através dos estudos de Ellis (2009), pode-se concluir que, independente dos resultados a respeito da acurácia e complexidade, que são inconclusivos, o planejamento estratégico traz benefícios claros à fluência, pois, ao ter um tempo pra refletir sobre a tarefa, o aprendiz desenvolve sua capacidade de reestruturação e de síntese, contribuindo ao desenvolvimento e à automação de novas estruturas (SKEHAN, 1996). Adquirir fluência significa atingir o objetivo de utilizar o conhecimento implícito num desempenho autêntico (SKEHAN; FOSTER, 1996; SKEHAN, 1996).

De acordo com Mehnert (1998), o planejamento desempenha um papel importante na produção oral, pois é nele que o aprendiz decide o que quer transmitir e, a partir daí, procura ativar os recursos linguísticos apropriados para esse fim. Ou seja, o planejamento prepara o aprendiz linguística e cognitivamente para desempenhar a tarefa. Considerando a relevância do planejamento, Mehnert (1998) se interessou em investigar o efeito de diferentes quantidades de tempo de planejamento na produção oral de falantes de L2. Os resultados mostram que os aprendizes que realizam planejamento prévio tendem a produzir uma fala mais fluente e mais correta gramaticalmente, quando comparados aos aprendizes que não tiveram essa chance. Os resultados também evidenciam que os aprendizes produziram uma fala mais lexicalmente complexa, sem, no entanto, significância estatística.

No que diz respeito ao tempo de planejamento (um, cinco ou dez minutos), os resultados de Mehnert (1998) indicam que a fluência e a densidade lexical aumentam em função do tempo disponível para planejamento. Devido ao efeito trade off, Mehnert (1998) concluiu que, se o

foco for dar prioridade à acurácia, o tempo de planejamento deve ser de um minuto. Já se o objetivo for a complexidade, o planejamento deve ser de dez minutos. Em outras palavras, quando acurácia e complexidade competem por recursos atencionais, o tempo de planejamento deve ser diferente, dependendo de em qual aspecto se pretende focar.

Embora na vida real o aprendiz geralmente execute uma tarefa de comunicação oral de forma espontânea, em um contexto de aprendizagem, é interessante que existam também situações de comunicação que requeiram um planejamento prévio, já que, analisando-se de forma geral os estudos revisados nesta seção, o planejamento pré-tarefa parece ser útil, porque facilita o processamento durante a execução da tarefa, liberando recursos atencionais e cognitivos para que o aprendiz produza uma fala mais fluente, complexa e gramaticalmente correta.

A seguir passamos a discutir outro aspecto importante ao desenvolvimento da produção oral em L2: o feedback.