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2.4 GESTÃO DO CONHECIMENTO

2.4.4 O modelo de Chun Wei Choo

Na década de 90, uma nova proposta, a partir da análise de organizações que prosperam década após década, inseriu o conceito de organizações do conhecimento, definida como aquela que ”possui informações e conhecimentos que lhe conferem uma vantagem, permitindo-lhe agir com inteligência, criatividade e, ocasionalmente, com esperteza” (CHOO, 2006, p. 17).

A partir da administração da informação, a organização constrói conhecimento e toma decisões, por vezes até mesmo se antecipando e se preparando para adaptação a novas exigências, contando com a competência e experiência de seus membros. Pode-se dizer que a organização se prepara para adotar ações objetivas no momento adequado, a partir da aplicação de normas e processos aprendidos para a tomada de decisões.

Uma questão apresentada por Choo (2006) é como as organizações usam a informação estrategicamente, percebendo a importância de suas fontes e tecnologias para se transformar em percepção, conhecimento e ação, interligando e administrando todos os processos para criar uma organização do conhecimento.

Na teoria organizacional e na concepção atual da administração, existem três modos de uso da informação, tratados em um primeiro momento como independentes, porém, se identificados e integrados, podemos afirmar que estamos diante de uma organização do conhecimento, onde a informação é utilizada como estratégia (CHOO, 2006).

MODO IDÉIA CENTRAL RESULTADOS PRINCIPAIS CONCEITOS Criação de significado Organização interpretativa: Mudança ambiental – dar sentido aos dados ambíguos por meio de interpretações. A informação é interpretada. Ambientes interpretados e interpretações partilhadas para criar significado Interpretação, seleção e retenção Construção do conhecimento Organização aprendiz: conhecimento existente – criar novos conhecimentos por meio da conversão e da partilha dos conhecimentos. A informação é convertida Novos conhecimentos explícitos e tácitos para a inovação Conhecimento tácito. Conhecimento explícito. Conversão do conhecimento. Tomada de decisões Organização racional: Problema – buscar e selecionar alternativas de acordo com os objetivos e preferências. A informação é analisada. Decisões levam a um comportamento racional e orientado para os objetivos Racionalidade limitada. Premissas decisórias. Regras e rotinas.

Quadro 04 – Os três modos de uso da informação organizacional

Fonte:Chun Wei Choo (2006, p. 46).

No primeiro modo, a informação é usada para dar sentido às mudanças do ambiente externo, ou seja, criar significado para as diversas mensagens, sinais e tendências do mercado de forma a construir uma definição sobre o que é a empresa, o que está fazendo e como se manter em um ambiente competitivo e dinâmico.

No segundo modo, o foco do uso da informação é a construção do conhecimento por meio do aprendizado, a partir da criação, organização e processamento da informação. A gestão do conhecimento está nas atividades essenciais das organizações como criação de novos produtos e serviços, aperfeiçoamento dos já existentes, no desenvolvimento de novas capacidades e na melhoria nos processos organizacionais.

A gestão do conhecimento é um grande desafio para as organizações por 02 motivos:

a) o que normalmente se vê é que o conhecimento está nas pessoas ou nas unidades de trabalho, dispersos e sendo reinventado a cada momento;

b) há organizações que não praticam o aprendizado, sendo essencial que, como citado acima por Peter Senge, as organizações funcionem como organizações do conhecimento, com capacidade para aprender, repensando crenças e práticas adotadas.

No terceiro modo, a informação deve ser avaliada e utilizada para a tomada de decisões. Existem inúmeras variáveis que interferem em um processo decisório como interesses dos acionistas, interferências de grupos externos, consumidores, fornecedores e outros. Uma decisão deve estar fundamentada em uma informação para ganhar confiança interna e externa, uma vez que gera ações que comprometem toda a empresa.

Esses três modos de uso da informação passaram a ser vistos de forma integrada, se complementando num ciclo contínuo de aprendizagem e adaptação, denominado ciclo do conhecimento.

CORRENTES DE EXPERIÊNCIA Significados comuns Comportamento Adaptativo, orientado para objetivos Novos conhecimentos e capacidades Criação de significado Construção do conhecimento Tomada de decisões

Figura 04 – O ciclo do conhecimento

Fonte: Chun Wei Choo (2006, p. 51)

A organização está inserida em um ambiente de constantes mudanças e dinâmico, lutando por posições de mercado, onde ocorrem frequentemente influências de inovações tecnológicas, políticas governamentais, concorrência e outras que trazem novas tendências e exigências. Não é fácil para as empresas explorar e perceber o ambiente com um todo, interpretando e dando significado a cada informação. Diante disto, diversos pesquisadores têm definido de forma diferente a criação do significado organizacional.

Em 1976, March e Olsen (apud Choo, 2006. p. 358) traçaram um esquema de decisão organizacional que envolve quatro conexões:

a) os conhecimentos e preferências individuais afetam o comportamento; b) o comportamento e a participação do indivíduo afeta a organização; c) as decisões das organizações provocam reações no ambiente; d) as reações do ambiente afetam os conhecimentos individuais.

Embora simples, o modelo destes autores está implícito em estudos posteriores por entender que a decisão nas organizações ocorrem em muitos níveis, neste caso, no nível do indivíduo, da organização e do ambiente.

Alguns pesquisadores julgam que a criação de significado envolve compreensão, explicação e até previsão, gerando estímulos em estruturas que façam sentido. Outros definem como busca de informação, atribuição de significado e ação, havendo uma relação com o desempenho.

Trataremos aqui de uma proposta apresentada por Weick, 1979 (apud Choo, 2006), onde a criação de significado é apresentada como um processo na geração do conhecimento. O método ocorre em seqüências interligadas de interpretação, seleção e retenção, demonstrado no Quadro 05.

SEQÜÊNCIAS ORIGENS PROCESSOS RESULTADOS

Interpretação Dados brutos do ambiente • Isolar os dados brutos • Agir ou criar aspectos do ambiente que serão compartilhados

Dados ambíguos como matéria-prima para a criação de significado

Seleção • Dados ambíguos

oriundos do processo de interpretação

• Interpretações que já funcionaram antes

Selecionar e criar significados ou interpretações para os dados ambíguos

Ambiente

interpretado ou significativo

Retenção Ambiente interpretado no processo de seleção

Armazenar o ambiente interpretado como produto da criação de significado bem sucedida

Interpretações para serem usadas em futuras seqüências de ISR

Quadro 05 – O método de criação de significado

Fonte: Weick (1979, apud CHOO, 2006, p. 132)

O processo de interpretação acontece quando os indivíduos de uma organização observam o ambiente que os cerca. Para Weick (1979), um outro processo antecede a interpretação, que se refere à ruptura ou mudanças no fluxo de experiência, chamado por ele de mudança ecológica. Os indivíduos separam alguns dados brutos destas mudanças para observações mais detalhadas e então criam, num primeiro momento, uma realidade baseada na interpretação, gerando dados ambíguos para a criação de significado.

Na seleção, os dados ambíguos são avaliados, buscando uma explicação para os fatos e uma adaptação para que os significados sejam aplicáveis e coerentes com os dados atuais.

O processo de retenção realiza a armazenagem dos produtos de uma criação de significados bem-conduzida, para serem aplicados em futuras situações de ambigüidade. Desta forma, os processos são cíclicos e o grau de feedback entre eles pode acelerar ou reduzir o fluxo de informação para interpretação e a retenção, ou seja, podem ampliar ou restringir a criação de significados que irão colaborar para a gestão do conhecimento como prática sistemática na organização.

Choo (2006) trata da construção do conhecimento, sendo provocada pelo reconhecimento de lacunas existentes entre o conhecimento existente nas organizações ou nos grupos de trabalho. Apresenta três tipos de conhecimento nas organizações:

a) conhecimento tácito, presente na experiência de indivíduos e grupos, tendo como componente a criatividade que leva a uma nova idéia ou conceito;

b) o conhecimento explícito, presente nas regras, rotinas e procedimentos, podendo ser testado e implementado em modelos ou protótipos;

c) e o conhecimento cultural, presente nas crenças, pressupostos, gerando a atribuição de valor e significado aos novos conhecimentos. A construção do conhecimento acontece com a contínua transformação do conhecimento tácito em conhecimento explícito, dentro das realidades estabelecidas pelo conhecimento cultural da organização.

Ainda segundo Choo (2006), a criação de novos conhecimentos acontece de três formas: pela conversão, construção e conexão do conhecimento:

a) Conversão: transformação do conhecimento explícito em conhecimento tácito, a partir de insights criativos, gerando inovações e novos produtos. Novos conceitos são criados e alinhados aos objetivos da organização

b) Construção: a organização promove atividades criadoras de conhecimento, adotando programas como experimentação, resolução compartilhada de problemas, integração de novos processos e importação de conhecimento. Os indivíduos trabalham juntos na solução de problemas a partir de suas habilidades pessoais, se

complementando com a aquisição de novas tecnologias que podem ser importadas do ambiente externo e integradas à organização.

c) Conexão: é a absorção de novos conhecimentos através de parcerias com outras organizações que possuem conhecimento incorporado nos processos de trabalho, nos relacionamentos e na sua cultura. O foco é transformar o conhecimento em valor não só para a organização, mas para todos os envolvidos em sua cadeia produtiva, clientes, fornecedores e demais parceiros.

Nesta abordagem sobre processos de criação de conhecimento, Choo (2006) apresenta uma comparação entre os modelos desenvolvidos por 03 autores, indicando grandes semelhanças conforme Quadro 06.

PROCESSOS DE CONHECIMENTO FASES DE CONVERSÃO DO CONHECIMENTO ATIVIDADES DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO (S.Wikstrom& R. Normann,

Knowledge and Value: a New Perspective on Corporate Transformation, cit.)

(I.Nonaka & H.Takeuchi, The knowledge-Creating

Company: how Japanese Companies Create the Dynamics of Innovation, cit)

(D. Leonard-Barton, Wellsprings of Knowledge: Building and Sustaining the Sources of Innovation, cit)

Processos gerativos

geram novos conhecimentos

Partilhar o conhecimento tácito. Criar conceitos Solução compartilhada de problemas Experimentação e prototipagem Processos produtivos operacionalizam novos conhecimentos Justificar conceitos Construir um arquétipo Implementação e integração de novos processos e ferramentas Processos representativos difundem e transferem novos conhecimentos

Disseminar o conhecimento Importação do conhecimento

Quadro 06 – Processos de criação do conhecimento

Choo (2006) reforça que o conhecimento ocorre quando a organização processa os três modos de uso da informação: criação de significado, construção do conhecimento e tomada de decisão, desde que estejam interligados num único processo bem mais amplo, gerando significado, aprendizado e ação e por fim, define:

O conhecimento organizacional é a propriedade que emerge da rede de processos de uso da informação por meio da qual a organização constrói significados comuns sobre sua identidade e sua atividade; descobre, partilha e aplica novos conceitos; e inicia ações padronizadas por meio da busca, da avaliação e da seleção de alternativas (Cho, 2006, p. 370).

Existem pontos em comum nas descrições apresentadas pelos autores sobre a gestão do conhecimento, modelos simples e complexos, alguns pontos de divergência, porém todos têm um ponto em comum, a interação do indivíduo com a organização na geração do conhecimento, sendo incluído por alguns autores a análise do ambiente neste contexto, o que reforça a necessidade de desenvolvimento de competências para a gestão do conhecimento.

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