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4 Realização da prática profissional

4.1 Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

4.1.2 O Planeamento

“A planificação do processo educativo é extremamente complexa,

pluridimensional e multiforme, dependendo também de condições diversas

(Bento, 2003, p. 19).

Planear é um processo que orienta o professor ao longo do ano letivo, de forma a que as tarefas que tem de desempenhar se desenrolem com

adotada para alcançar um determinado objetivo, e por outro, expressa os objetivos a atingir. Bento (2003) refere que o planeamento torna-se determinante “na orientação do processo de aprendizagem”, “na aproximação

de conhecimentos e habilidades, na formação e desenvolvimento de

capacidades”, “na ativação do comportamento de aprendizagem” e “na

formação consciente e racional dos traços caraterísticos da personalidade

(Bento, 2003, p.15).

O planeamento, é portanto, de uma forma geral, a construção de um plano que interliga as estratégias adotadas, os objetivos a atingir e a realização prática, sendo que os objetivos determinados tem de estar em conformidade com o sistema de ensino e o programa de EF.

Durante o meu EP, planeei muito, sendo que neste campo a minha ação esteve dividida em três níveis distintos e com a seguinte sequência: planeamento anual, planeamento da UT e planeamento da aula. No entanto, é de salientar que estes documentos não podem ser encarados como “receitas”, mas sim como guias de orientação para o professor. São por isso documentos sem cariz inalterável, podendo ser adaptados ou modificados consoante as circunstâncias.

Antes de começar a planear é necessário a concepção. Primeiramente, deve-se perceber a estrutura do meio em que o professor está inserido e só após esta tarefa é que se começa o planeamento em concreto. Ainda antes do início do planeamento, ou seja, na fase da concepção, é necessário que o professor tenha em atenção o programa de EF, a análise do rendimento dos alunos, a análise das condições materiais, e por fim, a planificação da EF da escola (Projeto curricular de EF). O último é decidido e elaborado pelo grupo de EF que já se encontra adequado às condições da escola.

Após conhecer toda a envolvência, eis que surge a hora de começar a pensar no planeamento. Desta forma, a primeira tarefa relativa ao ato de planear passou pela elaboração do plano anual.

O planeamento anual “é um plano de perspetiva global que procura

situar e concretizar o programa de ensino no local e nas pessoas envolvidas

(Bento, 2003, p.59). O plano não possui muitos pormenores sobre a ação ao longo do ano, no entanto exige trabalhos preliminares de análise e reflexão.

Os pormenores são apresentados nos planos das UT e nos planos de aula, seguindo a sequência do que é apresentado no plano anual.

O planeamento anual surge como uma ferramenta orientadora das diferentes tarefas a realizar ao longo do ano letivo, onde estão apresentadas as modalidades de lecionação. As modalidades tem de estar em conformidade com o programa de EF do ano lectivo em questão. Em conformidade com as informações do programa, o plano anual subdivide-se em períodos e apresenta distintas unidades de matéria. As modalidades abordadas nas minhas aulas foram o voleibol, a dança, o andebol, o badminton, a ginástica acrobática, a ginástica de solo e de aparelhos, o futsal e a aptidão física. De acordo com o definido pelo grupo de EF para este ano letivo, o núcleo de estágio decidiu não abordar a modalidade de atletismo devido à falta de tempo. Esta exclusão foi tomada em conjunto com a PC, uma vez que a decisão final terá de ter o seu consentimento.

No meu caso, para o planeamento anual, os conteúdos programáticos foram definidos pelo grupo de EF da escola, em reunião de grupo, de acordo com o programa nacional e com as respetivas adaptações ao contexto escolar. E ainda considerando o roulement de instalações e as necessidades educativas individuais e/ou coletivas da turma. Desta forma, o núcleo de estágio optou por realizar o planeamento anual em conjunto, de forma a partilhar as dificuldades e para potenciar a qualidade do documento.

Com o desenrolar das conversas foi me apercebendo da carga de trabalho que implicava a elaboração deste documento. As dificuldades iniciais passaram pela falta de informação em relação aos alunos, visto que não tinha nenhuma informação acerca deles e as aulas práticas ainda não tinham começado. Para Bento (2003), o ponto de partida para o plano anual é a informação acerca dos alunos e os resultados obtidos no ano anterior. Se o aluno é o principal elemento para a construção do plano e com a inexistência destas informações, então o professor tem dificuldades em definir o tempo que deve disponibilizar em determinado conteúdo, em que nível se situam os alunos e as modalidades a lecionar. As informações dos alunos (notas obtidas, dificuldades apresentadas e conteúdos abordados anteriormente) são essenciais para a criação do plano anual, sem estas tudo se torna mais

de informação pode induzir em erro, e por consequência criar um plano anual “mal” definido, visto que não estamos a ter em atenção as dificuldades dos alunos.

Não possuindo informação dos alunos e tendo em consideração as dificuldades encontradas em estruturar o plano, ficou decidido distribuir um número idêntico de aulas para as diferentes modalidades. No entanto, após as avaliações iniciais e consoante o desempenho/performance dos alunos, o número de aulas foi adaptado e, por consequência o plano. Assim, quando o nível apresentado pelo aluno foi baixo, em determinada modalidade, foram redistribuídas mais aulas nesta modalidade, onde inicialmente foi realizado um recapitular dos conteúdos abordados em anos anteriores. Por outro lado, quando a performance apresentada pelos alunos era satisfatória o número de aulas disponibilizadas para determinada modalidade eram reduzidas de acordo com o nível de aprendizagem dos alunos.

Na seleção dos conteúdos tivemos em atenção o projeto curricular de EF e o programa nacional, onde realizamos algumas trocas, nomeadamente, em vez de lecionar ginástica de solo e aparelhos, optamos por lecionar apenas ginástica de solo e na de aparelhos apenas alguns conteúdos. Esta decisão foi tomada, devido à indisponibilidade de tempo, visto que o número reduzido de aulas não era suficiente para abordar os dois tipos de ginástica.

Após a realização do planeamento anual, e de acordo com as normas orientadoras do EP1, surge o momento de construir as UT das várias modalidades abordadas, tendo por base a elaboração do Modelo de Estrutura do Conhecimento (MEC) proposto por Vickers (1990). De acordo com Vickers (1990), é um modelo de instrução baseado no conhecimento, podendo ser aplicado a todos os desportos e atividades físicas. Tem como principal objetivo definir a estrutura da matéria, servindo depois como guião para o processo de ensino. Desta forma, o MEC pretende relacionar o conhecimento acerca de uma matéria com a metodologia e as estratégias para o ensino, conduzindo à UT.

Segundo Bento (2003, p. 75), as UT “constituem unidades

fundamentais e integrais do processo pedagógico e apresentam aos professores e alunos etapas claras e bem distintas de ensino e aprendizagem”. Assim, o plano da UT constitui o nível fundamental de

planeamento do ensino para o professor de EF. Um bom planeamento das UT acontece quando a sua elaboração é mais do que a distribuição de matérias pelas aulas, este deve ser o suporte para maximizar a qualidade e eficácia do processo de ensino. Por outras palavras, o planeamento da UT não deve focar-se apenas na matéria, mas sim no desenvolvimento da personalidade (aptidões, capacidades, conhecimentos, atitudes) dos alunos, deve, particularmente, indicar as funções principais assumidas naquele sentido por cada aula (Bento, 2003). Nele, devem ser esclarecidos, de forma explicita, os conteúdos e objetivos atingir, a orientação e a estrutura didática da matéria, as funções didáticas das diversas aulas, e os meios e materiais de ensino (Bento, 2003). De uma forma geral, a UT representa tudo o que está plasmado no MEC, apenas se consegue atingir os conteúdos, conhecendo os vários módulos do MEC. O planeamento da UT possui a particularidade de preparar a matéria pormenorizadamente. Se o professor não estrutura planos devidamente pensados não consegue exercer um ensino contínuo e sistemático.

A estrutura do MEC é composta por diversos módulos inseridos em três grandes dimensões: análise (módulo 1,2 e 3), decisão (módulo 4,5,6 e 7) e a aplicação (módulo 8). A fase de análise inclui a estrutura do conhecimento (módulo 1), a análise das condições de aprendizagem/Envolvimento (módulo 2) e a análise dos alunos (módulo 3). Por outro lado, a fase das decisões comtempla a determinação da extensão e sequência dos conteúdos (módulo 4), a definição de objetivos da modalidade (módulo 5), a configuração da avaliação (módulo 6) e a criação de progressões de ensino (módulo 7). Por fim, a fase da aplicação diz respeito ao módulo 8 que comtempla a aplicação dos conhecimentos durante a prática.

A construção do MEC foi da responsabilidade do núcleo de estágio, os módulos eram comuns aos EE, exceto a análise dos alunos (incluído no módulo 3 do MEC) que foi realizado individualmente por cada EE. Através do módulo 1 foi possível conhecer, com especificidade, a disciplina de EF e a sua relação com as restantes disciplinas. A caraterização da escola foi, para mim, um dos documentos mais importantes para a minha integração,

ao pessoal. Na análise dos alunos realizei uma caraterização da turma, através de fichas sócio-biográficas e as avaliações iniciais, o que permitiu um conhecimento mais específico, alargado e pormenorizado da turma, permitindo assim adequar os conteúdos a lecionar. Foi ainda, durante a construção do MEC, determinada a extensão e sequência dos conteúdos, definidas as metas e os objetivos (por modalidade disciplinar), configurada a avaliação a usar (diagnóstica, formativa e sumativa) e a criação de progressões de ensino por modalidade. Devido à inexperiência, a concretização deste documento foi bastante atribulada, organizar tanta informação foi complicado. No entanto, com a ajuda do meu colega estagiário e da experiência da PC, as dificuldades foram rapidamente ultrapassadas.

O ponto de partida para a realização do MEC foram as avaliações diagnósticas, que determinaram o nível dos alunos e por consequente os conteúdos que melhor se ajustariam ao nível apresentado. A experiência era pouca ou quase nenhuma, daí as incertezas quanto à organização e definição dos conteúdos. A escolha tornou-se difícil, visto que nas primeiras aulas, a capacidade em avaliar só por si já era complicada, quanto mais conseguir definir os conteúdos que melhor se ajustavam à turma. No entanto, ao longo do ano, consegui evoluir as minhas capacidades relativamente ao ato de avaliar, o que me levou a não hesitar na hora de modificar o plano da UT previsto. Sabia que esta decisão só iria melhorar a performance do alunos e por sua vez o processo de aprendizagem.

A minha atuação ao longo das aulas, no que diz respeito ao ensino dos jogos desportivos coletivos, foi segundo a abordagem de ensino do topo para a base. De uma forma geral, o exercício foi decomposto do complexo para o simples. Esta abordagem possibilita que o aluno tenha uma visão global do contexto antes de perceber os elementos que o integram.

Por outro lado, em modalidades como ginástica de solo e badminton, optei pela abordagem de ensino da base para o topo. Esta abordagem consiste em dividir uma habilidade motora e realizar uma progressão gradual da sua aprendizagem em termos de complexidade. Porém, na modalidade de badminton esta abordagem não teve o efeito esperado e passadas poucas aulas a minha atuação mudou, passando a utilizar uma abordagem de ensino do topo para a base. As aulas de badminton, inicialmente, colocavam os

alunos com pouco tempo de exercitação, pois a explicação e ensino acerca de cada batimento (progressão de ensino) despendia muito tempo. Posto isto, através de várias reflexões e em conversa com a PC decidimos mudar a minha forma de atuar, introduzindo todos os conteúdos através do jogo. Esta alteração facilitou bastante a minha prestação nas aulas e ainda consegui aumentar o nível de interesse dos alunos. Assim, conclui que com os alunos a exercitar em forma de jogo trazia mais vantagens do que ensinar segundo uma abordagem subdividida em varias progressões, visto que, no fim, consegui lecionar os conteúdos pretendidos com um nível de aprendizagem maior.

A realização do último nível de planeamento é o plano de aula.

Bento (2003) menciona que a organização da aula estabelece uma ligação final entre todos os processos de planeamento. O mesmo autor refere que as aulas exigem uma boa preparação, de forma a estimular os alunos para o seu desenvolvimento e o professor para que se sinta feliz e satisfeito com a sua profissão. Concordo com o autor, porque também no meu entendimento um professor que não seja feliz com a sua profissão não conseguirá transmitir um ensino de qualidade e motivador. Quando o professor sai de uma aula com a sensação de dever cumprido significa que o seu trabalho foi bem pensado e estruturado.

O plano de aula é um projeto/guia que o professor detêm antes de entrar na aula, conseguindo através do mesmo anteceder o que vai acontecer no decorrer da mesma. No entanto, porque é um projeto pode ser alterado durante a aula, se o professor achar pertinente, de forma a combater imprevistos ou problemas com os exercícios planeados.

No meu caso, o plano de aula, foi o elemento que senti mais afinidade e mais facilidade em produzir. No início do EP, com o apoio da PC, foi facilmente encontrada a melhor estrutura a utilizar e o que realmente seria essencial para o decorrer das aulas. Talvez pela experiência como treinador consegui estruturar e planificar a aula com alguma facilidade, dependendo, no entanto, das modalidades. Porém, não foram apenas facilidades, as dificuldades foram surgiram, principalmente a construção/utilização de exercícios que respondessem aos objetivos da aula e que melhor se

escolhia exercícios muito complexos, que os alunos sentiam dificuldade em perceber. De forma a dar a volta a esta situação, recorri muitas vezes a exercícios com complexidade menor, de acordo com o que tinha lido nos livros e que se ajustavam aos objetivos que pretendia. Este problema foi muito enriquecedor para a minha formação, conseguindo entender que exercícios mais complexos por vezes não trazem os benefícios esperados nem correspondem aos objetivos da aula. A partir deste momento, aprendi uma lição que servirá para a vida, “não complicar o que é fácil!”.

Surgiram outras dificuldades agora na modalidade de ginástica, uma vez que tanto o conhecimento do conteúdo como o conhecimento pedagógico e didático não eram suficientes. Mesmo ao nível da demonstração das habilidades motoras sentia-me muito reticente devido à pouco formação académica. Como já referi anteriormente, iniciei o meu percurso académico na UBI, e neste ano, onde não se abordava a disciplina de estudos práticos de ginástica. Na FADEUP este conteúdo é abordado no ano em que frequentei a UBI, e desta forma fiquei sem esta formação. Com conhecimento apenas teórico da matéria e conhecimento prático apenas dos tempos de secundário, a demonstração tornou-se complicada. Este problema foi comum ao meu colega de estágio, o que proporcionou muitos momentos de reflexão conjunta. Até encontrarmos a fórmula para cada um foram precisas algumas abordagens de tentativa/erro. Por um lado, o meu colega estagiário sentia-se confortável com os alunos a trabalhar em circuito, e por outro lado, eu gostava mais de lecionar as aulas nas quais os alunos estavam a realizar o mesmo exercício em simultâneo. Para mim, com os alunos a exercitar em simultâneo, era mais fácil fazer correções e transmitir

feedbacks, visto que a minha capacidade de concentração era maior, e por

conseguinte a percepção de erros também era maior. Depois de várias conversas, chegamos à conclusão que a melhor solução seria mesmo colocar os alunos a exercitar o mesmo conteúdo em simultâneo.

Depois de todas as dificuldades encontradas, cheguei à conclusão que a falta de experiência na prática era evidente, apenas um professor com muita experiência terá facilidade em planear. Mais tarde, comprovei isto, porque com o decorrer das aulas, consegui corrigir os erros. No que toca ao

planeamento em geral, a partir de Outubro, já não me deparava com estas pequenas dificuldades.

Como balanço final, penso que, apesar das dificuldades encontradas, as opções que tomei não foram, de todo as mais incorretas. Sinto que cumpri com o planeado no início do ano letivo e que este se adequou ao nível dos alunos. Os alunos sentiram-se familiarizados com o meu tipo de aula e o nível de evolução foi notório. Sei que este foi um grande degrau que subi, no entanto, sei que ainda tenho um longo caminho a percorrer.

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