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CAPÍTULO II FUNDAMENTOS TEÓRICOS: FACILIDADES E DIFICULDADES

2.4 O TEXTO PRODUTO E O TEXTO PROCESSO PELO ATO DA LEITURA

2.4.1 O PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÕES PELO PRODUTOR-LEITOR

p.12, 30 e 31), está relacionado ou associado àquele do processamento do discurso e àquele de produção ou transmudação de significados em sentidos, pois as estruturas tanto podem ser especificadas por procedimentos de análise ou de síntese. Assim as regras de processamento sempre foram e são especificadas por procedimentos analíticos ou de sínteses usadas ou aplicadas pelo leitor, por meio de mapeamentos mentais e por relações entre representações semânticas e da ordenação das expressões das estruturas de superfície de um texto. Todavia, não é possível inverter a direção desse mapeamento, pois o leitor tem acesso a diferentes tipos de informações a cada ponto ou movimento de compreensão e as estratégias por ele aplicadas serão diferentes e variáveis. Isto significa que o leitor “terá de perceber o tópico do discurso de diferentes maneiras (...)”. e, dentre as principais estratégias por ele aplicadas de que resulta esse seu trabalho de produção, as “principal estratégia é a produção da macroestrura textual” pelo processamento da sua

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microestrutura, pois na dimensão semântica do discurso, a construção dos sentidos a ele atribuído é “composto de elementos dos conhecimentos gerais e, especialmente, pelo processamento de elementos do modelo situacional (...)”situacional.

O autor, por meio desses fundamentos, afirma que a principal tarefa do leitor está voltada para o trabalho de processamento da base do texto quando, de maneira estratégica, ele escolhe entre informações implícitas e explícitas e, por elas constrói a base semântica do texto de modo a construir a sua coerência local, por meio de diversos dados semânticos, pragmáticos e contextuais.

Essa mesma perspectiva teoria sobre o processamento online das informações identificadas no fluxo dos movimentos pela leitura é pontuada por Kleiman (2002) , referente ao leitor proficiente para a produção de sentidos atribuídos aos significados das informações processadas por esse tipo de leitor. Assim, os procedimento por meio dos quais se atribui coerência local e global a um texto e identificar sua referência temática se qualifica por um contínuo movimento de vaievem e, por eles, são feitas remissões entre passagens desligadas do texto. Tais movimentos implicam a ligação e a sobreposição simultânea de elementos constitutivos de frases e de frases entre si para a construção dos sentidos globais, ou seja, é por meio dessas relações simultâneas, cujo limite é proporcional à capacidade de memorização que o leitor carrega consigo e, por ela, ele conjuga a dimensão linear com a alinear dos textos que lê.

Entende-se que, articulando essas duas dimensões, o leitor ultrapassa o movimento da leitura linear e abre o horizontes infindável de releituras, retomando suas próprias pegadas, movendo-se ou se deslocando aos saltos e, assim procedendo, utilizando-se de estratégias que a ele facultam: a) cancelar proposições referentes a informações não fundamentais para o processo de interpretação; b) identificar e construir por processos de integração proposições genéricas, agrupando conjuntos não genéricas entre si e, por meio desses processo de identificação de proposições não fundamentais ou de suas reconstruções por proposições fundamentais de caráter genérico, faz uso de

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estratégias: c) reconstrução e de integração entre os significados dessas proposições, comparando, cancelando e sintetizando.

A complexidade das práticas de leitura, segundo Cossuta (2001) faz com que o texto, ao se inscreve nos processos desses processamentos, torna-se dinâmico e alinear – transmuda-se em texto processo – torna-se dinâmico. Os limites desse dinamismo não são mensuráveis, pois suas referências fazem múltiplas, plurais e a sua complexidade, gradativamente, se faz presente ampliando e reduzindo, simultaneamente os limites da capacidade do seu leitor. Para o autor, a esse trabalho intermitente e de unidades de significações flutuante, deve assegurar, gradativamente, a organização das informações por esquemas de sequências textuais – macroestruturas ou categorias de narrações, de descrições, de argumentações, etc. que, para Cossuta garantem a organização hierárquica e variável da tipologia de textos e/ou gêneros do discurso. A função desses esquemas está voltada para a integração de conjuntos mais amplos construídos transversalmente, segundo o modelo de composição do texto.

O texto, embora muitas vezes se esconda atrás de uma voz impessoal, também carrega consigo um nome próprio que a ele confere uma unidade, por meio da chamada função-autor ou autoral: aquela que fala. Essas são referências enunciativas. São elas que facultam a compreensão dos modos como as significações devem, foram ou são organizadas, quais são os modos de organização e ordenação do pensamento, os de expor as ideias, os pontos de vista. Assim, pela leitura também se é integrado no espaço de referências enunciativas por meio das quais é possível identifica o lugar e o papel do leitor, pois processamos informações sobre o tom da voz com quem passamos a conversar, às vezes carregada de reflexões, de sarcasmo, de humor, etc. Nesse caso, os textos dependem da presença de alguém que dele se retirou, se afastou, mas pelo tom da sua voz que nele permanece, fica a sua imagem. Logo, eles sempre deixam marcas explícitas ou implícitas de uma outra presença que o leitor precisa aprender a significar, sendo ela, essa voz, a origem das construções de sentidos. Ler, por essa perspectiva teórica, é dar conta de um paciente trabalho de decifração ou descoficação significativa e, ao

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mesmo tempo, da estruturação global da dinâmica textual de produção de sentidos.

Reitera-se que, por esse modelo de processamento on-line, a concepção de leitura deixa de ser compreendida pelo princípio da linearidade e, ao mesmo tempo, é possível identificar os procedimentos por meio dos quais o leitor constrói não só a coerência global pela coerência local dos textos que lê. Assim, ler é ir além das aparências do texto produto, expressas em língua para além das palavras, frases ou parágrafos. O leitor proficiente, portanto, se ocupa com prudência desses processos de compreensão e, por eles, interpreta- reinterpreta os diferentes textos que lê, ou reinterpreta aqueles já lidos, pois cada leitura sempre implica a atribuição de novas significações e reinterpretações.

2.4.2. A Correlação entre Linguagem-Língua e Fala: pensamento e cognição

O quadro da linguística contemporânea situa a linguagem como uma complexidade de processos inerentes à vida psíquica e sócio-cultural- ideológica do homem que, em sendo um animal eminentemente relacional, torna-se – dentre quaisquer outros e pelo próprio desenvolvimento da linguagem – o único ser político-social e capaz de falar. Esses processos são desencadeados, desenvolvidos, aprimorados, em todos os tempos e lugares e mesmo quando circunscritos a momentos de introspecção eles arrastam consigo a imagem de os outros com os quais se esteve ou estará em suas companhias.

Cazacau, já na década de 1970, ponderava que pelo fato de o homem ser dotado da faculdade de linguagem que ele se fez e se faz o criador e o renovador ou reconstrutor das línguas e de outros sistemas de codificação, por meio dos quais se assegura a objetividade, a materialidade dos exercícios da fala. Para a autora, a língua é o fundamento da linguagem e da fala – ou seja, o lugar em que se pode compreender e identificar os fatos de linguagem, formalizados em língua e expressos pelos exercícios; razão pela qual nenhuma

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língua poderá funcionar se destituída das práticas de linguagem. A linguagem, por sua vez, só poderá se desenvolver e se manifestar objetivamente pela aprendizagem de uma dada língua e, nessa acepção, essas são duas dimensões diferentes, mas jamais opostas, de um único e mesmo fenômeno sócio-cognitivo-interativo que se autocomplementam, tendo a fala como testemunha de suas existências. Esse grau de complementação e de complementaridade imbricados entre si, no ato concreto da comunicação humana, impossibilita saber ou traças os limites entre linguagemlínguafala.

Nesse e por esse quadro de complexidades, a fala – concebida como uma das instâncias em que a linguagem - é concebida em ação para tecer, retecer, entretecer o que é produzido pelo pensamento, formalizado em língua e expresso pelo exercício das atividades da fala. O fato de a fala ser a dimensão expressiva dos fatos de linguagem possibilita focalizá-la por uma perspectiva globalizante e, desse modo afirma Gusdorf (1970), ao falar, o individuo se personaliza, faz-se efetivamente pessoa.

A relação indissociável entre língua e fala, para Cazacau, implica considerar que a primeira não é apenas constituída por um sistema léxico-fonético- gramatical, mas também por outros sinais como entonação, pausas, inflexões de vozes, que se conjugam aos primeiros para assegurar maior grau de expressividade aos seus usuários. Assim, linguagem, língua e fala são dinâmicas e esse dinamismo só se explica pela intensidade de ações sócio- cognitivo-interativas: aquelas que facultam transferir para outrem as representações por homens que, por esse mesmo processo, tornam-se pessoas. É nessa e por essa dinâmica que não se pode negar o fato de a linguagem ser uma das instâncias do pensamento que nela e por ela se formaliza, pois é impossível apreendê-lo em si e por mesmo. A linguagem, portanto, em não sendo o pensamento, apenas possibilita torná-lo tangível e essa sua tangibilidade é sempre organizada e formulada pela linguagem. É nesse sentido que os teóricos do conhecimento afirmam que o pensamento fabrica “coisas e/ou ideias sobre e nos mundos”, sendo que essa fabricação retira a sua matéria prima por ser realimentada continuamente por novas informações produzidas pelas relações interacionais entre os próprios homens.

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A atividade do pensar é fundamental para a produção de sentidos; contudo ela tem por ancoragem o processamento dessas novas informações pela cognição.

A cognição, para Sebastian (1983: 10 e 11) - embora seja um processo imbricado ao pensamento, dele se diferencia por não ser intermitente - pode ser apreendida por um começo e por um fim; razão pela qual as atividades cognitivas podem ser postas à prova, de sorte a verificar seus resultados. Segundo a autora, os estudos desenvolvidos pela psicologia da cognição investigam os processos mentais como a percepção, a atenção, as habilidades de aprendizagem, a memória e, necessariamente, a linguagem. A psicologia cognitiva tem sido concebida como (...) estudo dos processos mentais

mediante os quais se transforma, se reduz, se recupera e se reutiliza as informações dos mundos que o sujeito obtém em sua interação com eles”

Essa concepção aponta ser a interação o meio natural e/ou sócio-cultural no qual o homem está inserido o lócus primeiro da produção de conhecimentos, pois o apreendido nesse meio pela percepção é codificado como informação que está em contínua transformação. Tal transformação implica, por um lado, a transformação da informação em conhecimento e, por outro lado, de um conhecimento primário em novo conhecimento pela memória.

2.4.3 Cognição e Memória: modelos de processamento de informações