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3. DA ABORDAGEM CENTRADA NA CRIANÇA À ABORDAGEM CENTRADA NA FAMÍLIA

3.2 O processo de avaliação na abordagem centrada na família

A avaliação pode ser definida como o conjunto de procedimentos destinados a determinar a elegibilidade da criança para os serviços de intervenção precoce, mas também pode ser vista como o conjunto de procedimentos usados para determinar as áreas fortes e as necessidades específicas da criança e para identificar o tipo de serviços que a criança e a família necessitam. Considera-se pois que a avaliação é um processo contínuo.

O propósito da avaliação era, na perspectiva centrada na criança, o de recolher informações acerca desta última. Numa abordagem centrada na família as informações são recolhidas no sentido de conhecer as preocupações e prioridades da família e não tanto para obter as informações de que os profissionais pensam necessitar para designar os serviços apropriados para a criança. Por vezes os profissionais têm que colher informações com vista ao preenchimento de exigências burocráticas. Nessa situação as famílias devem ser confrontadas com a razão desses procedimentos(McWilliam, 1996).

Muitas famílias pretendem informações acerca da sua criança. Querem saber se a criança apresenta atraso de desenvolvimento e a razão para esse atraso, o que podem fazer para facilitar o desenvolvimento da criança, ou ainda, como e onde podem encontrar os serviços para ajudar a criança. Fornecer aos pais as informações que eles desejam pode ser o primeiro objectivo do processo de avaliação. Mas para isso temos que conhecer antes da avaliação as suas preocupações, prioridades e expectativas (Crais,1996).

A avaliação tem que responder às prioridades únicas de cada família, portanto será irrealista pensar que um procedimento normalizado na condução da avaliação poderá ser adequado (Crais, 1996).

Outro objectivo da avaliação pode ser proporcionar às famílias informações acerca da criança que elas não possuem. Por exemplo, a preocupação de uma família com a sua criança de 20 meses pode ser o facto de ela não falar. Mas se durante a avaliação se notar que a criança está a tentar andar mas que tem um aumento de tónus muscular nos membros

inferiores, os profissionais devem informar a família com o propósito de fornecer aos pais a mesma informação que os profissionais possuem e, assim, permitir-lhes tomar decisões informadas, sobre se este aspecto do desenvolvimento da sua criança deve ou não ser considerado como prioritário.

A avaliação da criança deve acima de tudo contribuir para o desenvolvimento de um processo apropriado de intervenção, isto é, um plano que seja baseado nas prioridades da família. Paralelamente, as estratégias

para realizar estes objectivos devem ter em consideração as rotinas, os valores e as prioridades de todos os membros da família. É a família, mais do que os profissionais, que em última analise é responsável por decidir do conteúdo do plano. A medida em que o processo de avaliação proporciona aos pais as informações que os ajudam a tomar as decisões determina o grau de adequação do plano de intervenção (McWilliam,1996).

Em síntese, a avaliação da criança tem os seguintes objectivos:

Determinar e documentar a elegibilidade da criança para os serviços de intervenção precoce;

Fornecer às famílias as informações que elas pretendem acerca da criança;

Enfatizar as realizações e capacidades da criança e as contribuições dadas pelos pais;

Assegurar que os pais são informados para tomarem as decisões necessárias acerca dos seus filhos;

Obter as informações acerca da criança que contribuam para o desenvolvimento de um plano apropriado e efectivo de acção.

As modalidades de avaliação são muito variáveis de programa para programa, quer na composição da equipa multidisciplinar quer na duração e no local onde se realiza a avaliação. Como já dissemos o objectivo primeiro da avaliação é fornecer aos pais as informações que eles desejam acerca das suas crianças e por isso a modalidade de avaliação utilizada deve permitir fornecer aos pais o verdadeiro retrato das capacidades da criança.

Reconhecendo que as modalidades tradicionais de avaliação podem não levar a obter as melhores desempenhos das crianças, emergiram no campo da intervenção precoce modelos alternativos de avaliação. O Modelo de Avaliação Transdisciplinar Segundo o Jogo e o Modelo Arena tornaram-se populares na avaliação das crianças em intervenção precoce (Foley, 1990; Linder, 1990).

Estes modelos procuram proporcionar um contexto mais naturalístico para a avaliação das crianças, limitando o número de profissionais que interagem com a criança e aumentando as oportunidades para o envolvimento dos pais, observando a criança enquanto ela está envolvida em interacções sociais ou a brincar.

Do ponto de vista da abordagem centrada na família a situação ideal seria ter uma variedade de modalidades de avaliação para que as famílias pudessem escolher. Contudo, isto é inviável e o mais provável é que os profissionais sejam flexíveis dentro de um único modelo, de forma a individualizar o processo de avaliação para a criança e para a família (McWilliam, 1996).

A maior parte dos métodos de avaliação das crianças não estão de acordo com os princípios das práticas centradas na família. Capacitar e dar poder aos pais é difícil quando a maior parte dos métodos de avaliação continuam sob o domínio dos profissionais. A utilização do jargão profissional, dos testes normalizados e a divisão do desenvolvimento da criança por várias disciplinas contribuem para marginalizar os pais no processo de avaliação. Muito embora se encorajem os pais a juntarem-se à equipa, a mensagem que esta lhes envia é clara: "Nós somos os peritos, sabemos fazer e como fazer, deixem-nos fazer o nosso trabalho". Para se mudar esta mensagem é preciso mudar os métodos (McWilliam, 1996).

A avaliação realiza-se habitualmente no terreno dos profissionais. Ainda que este local seja familiar para os técnicos, não o é para a família. É assim difícil para as famílias assumirem o controle do processo ou um papel activo na avaliação. Além disso o local onde se realiza a avaliação também afecta o comportamento da criança e consequentemente a validade dos resultados dos testes. O reconhecimento deste facto torna aconselhável proporcionar aos pais a possibilidade da avaliação poder ocorrer em casa, na creche ou no jardim de infância, podendo-se combinar a observação naturalística com métodos mais tradicionais de avaliação. Alternativamente

pode recorrer-se a imagens em vídeo das actividades de rotinas da criança, que os pais podem trazer para a avaliação. Outra opção é aproveitar a sala de espera e torná-la um local confortável semelhante ao ambiente familiar com áreas que pareçam cozinha, sala de estar, quarto e sala de brincar. As famílias poderão trazer os brinquedos ou objectos favoritos da criança assim como uma pequena merenda. Os pais devem ficar sempre com a criança (Crais, 1996).

O longo tempo que as avaliações geralmente demoram e a avaliação por numerosos profissionais de disciplinas diferentes, tornam a avaliação mais completa, mas podem provocar um impacto negativo nas crianças e nas suas famílias. A Avaliação Centrada no Jogo e a Avaliação Arena, a que já nos referimos, constituem métodos alternativos de avaliação, que tendo em conta estas preocupações limitam o número de profissionais que interagem directamente com a criança e encurtam o tempo para completar o processo de avaliação (Foley, 1990; Linder, 1990).

A chave da avaliação centrada na família está na compreensão das expectativas, das preocupações, prioridades e crenças que os pais têm acerca dos seus filhos. Não há peritos profissionais ou método de avaliação inovador, que possa substituir ou ignorar estas informações, que uma vez obtidas devem orientar todo o processo de avaliação. As decisões acerca da modalidade, do conteúdo ou dos instrumentos de avaliação deve ser feita em colaboração entre os profissionais e a família, tendo como objectivo corresponder às prioridades e expectativas identificadas pela família (Winton, 1996).

Em síntese, a avaliação das crianças é uma das mais institucionalizadas práticas de intervenção precoce. Implica um maior número de profissionais do que qualquer das outras das actividades de intervenção precoce. Pode por isso ser das mais resistentes à mudança (McWilliam, 1996). Todavia, sendo a avaliação para muitas famílias o primeiro encontro com os serviços de intervenção precoce, este vai influenciar o restante ciclo de encontros da família em intervenção precoce (Simeonsson et ai., 1996).

4. IMPLICAÇÃO DOS PAIS NA AVALIAÇÃO DOS SEUS