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Parte 2 Contributo empírico

1.2 Material e Procedimentos

1.2.1 Questionários

Para efectuar este estudo, utilizámos como instrumentos dois questionários, sendo um para os profissionais e outro para os pais, e fichas de caracterização para ambas as populações.

Para os profissionais seleccionámos o questionário - Professionals'

Perceptions of Families' Involvement in Assessement9 -. Começámos por pedir

autorização aos seus autores para a sua tradução, utilização e adaptação (cf. 9 Este questionário foi construído em 1992, no Carolina Institute for Research In Infant Personnel, Frank Porter Graham

Child Development Center, UNC-CH, Chapel Hill, NC 27599-8180, por Rune Simeonsson, Rebecca Edmondson Sharon Carnahan & Tina Smith.

Anexo 2). Obtida a autorização, procedemos à sua tradução e pilotagem, através da aplicação a oito profissionais de áreas diferentes com experiência no campo da intervenção precoce. De acordo com as suas sugestões introduzimos algumas alterações, que consistiram em suprimir uma das questões por não fazer sentido no contexto português e alterar a formulação de outras, de acordo com a sintaxe portuguesa, para tornar mais adequada a sua compreensão.

Na versão original este instrumento de avaliação era constituído por 31 itens, relativos às três áreas do processo de avaliação: (1) conteúdo - troca de informações, colocar e responder a questões, fazer o diagnóstico, determinar a elegibilidade, (2) modalidade - duração da avaliação, número de participantes, natureza e extensão da informação, forma de participação dos pais -, e (3)

atitudes - crenças, valores e emoções dos participantes durante a avaliação.

O questionário era constituído por perguntas apresentadas com formatos deliberadamente diversificados, para manter o interesse dos participantes. Assim, continha questões abertas e questões fechadas, umas vezes tipo Likert outras questões de escolha múltipla. Após a pilotagem o questionário ficou com 30 itens (cf. Anexo 3).

A primeira questão aberta era seguida de um conjunto de perguntas fechadas focando o conteúdo do processo de avaliação. Quais as ideias que os

profissionais têm acerca daquilo que os pais esperam da avaliação dos filhos pela equipa multidisciplinar e em que medida a equipa correspondeu a essas expectativas. Usou-se uma escala de três pontos: "os pais esperam/nós oferecemos"- sempre, às vezes ou nunca. Mais adiante, o questionário

colocava outras questões acerca do conteúdo da avaliação, em que se pedia aos profissionais que escolhessem, entre sete, os cinco papéis que consideravam mais importantes evocar na avaliação das crianças. Incluíram-se itens respeitantes à modalidades da avaliação que inquiriam, através de seis perguntas fechadas, qual o papel que a equipa habitualmente pedia aos pais que assumissem durante a avaliação. Incluía, ainda, perguntas acerca da duração da avaliação e uma questão aberta em que era pedido que

descrevessem a melhor forma de os pais ajudarem na avaliação. Relativamente à percepção dos profissionais acerca dos sentimentos das famílias durante a avaliação, era solicitado aos profissionais que identificassem, numa escala de escolha múltipla, de uma lista de catorze, tais sentimentos. O questionário continha mais sete questões, respeitantes às atitudes dos profissionais, no tocante à implicação dos pais no processo de avaliação. Estas perguntas estavam enunciadas sob a forma de escala tipo Likert de cinco pontos, desde "Concordo fortemente" até "Discordo

fortemente".

O questionário para familiares -"Expectativas das Famílias Acerca da

Avaliação das Crianças" - foi construído tendo como base o questionário para

os pais e incorporando alguns considerandos para a construção dos itens do Instrumento Parents' Perceptions of Their Child's Assessement10 (cf. Anexo 4).

Continha questões focalizadas no conteúdo, na modalidade e nas

atitudes relativas ao processo de avaliação das crianças pelas equipas

multidisciplinares, sob a forma de questões abertas e fechadas de tipos variáveis ao longo do inquérito, para diminuir o efeito de tendência das respostas e manter o interesse do inquirido.

Este questionário estava estruturado em duas partes. A primeira era formada por um corpo de quinze questões fechadas, acerca do conteúdo do processo de avaliação, semelhantes aos quinze primeiros itens do questionário dos profissionais, tendo-se invertido a ordem do 1o e 15° itens, para não colocar os pais logo de início perante uma questão aberta. A segunda parte do inquérito continha 19 perguntas que abordavam as três dimensões do processo de avaliação. O conjunto dos sete primeiros itens era do tipo escala de Likert de cinco pontos, em que as questões focavam o conteúdo da avaliação, incidindo em alguns aspectos do funcionamento da equipa. Relativamente à

modalidade da avaliação, os pais foram questionados acerca da duração, do

10 Este questionário foi elaborado em 1992, por Rune Simeonsson, Rebecca Edmondson, Sharon Carnahan & Tina

Smith", no "Caroline Institute for Researsh In Infant Personnel Preparation - Frank Porter Graham Child Development Center, UNC-CH, Chapel Hill, NC 27599-8180.

número e das áreas profissionais que deviam estar incluídas na equipa de avaliação multidisciplinar. No que concerne à participação dos pais, foi-lhes perguntado qual o papel que lhe pediram para desempenhar e, numa questão aberta, o modo como pensavam ter sido mais úteis na avaliação. Os pais foram questionados relativamente ao resultado da avaliação do filho, através de uma lista de seis itens. Também se lhes perguntou do que gostaram mais e do que gostaram menos na avaliação do seu filho pela equipa multidisciplinar. Inquiriu- se ainda junto dos pais sobre os sentimentos que experimentaram durante a avaliação, numa questão em espelho relativamente à dos profissionais.

As Fichas de Caracterização Sócio/demográfica dos Profissionais e das Famílias que foram elaboradas, visavam o enquadramento das variáveis

sócio-demográficas de cada uma das populações participantes e encontram-se em anexo (cf. Anexo 5).

1.2.2 Procedimentos

Colaboraram na distribuição, recolha e apoio ao preenchimento do instrumento de avaliação duas alunas da licenciatura em Psicologia da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Foram instruídas nas técnicas gerais de entrevista e nos problemas particulares dos instrumentos em questão.

De acordo com o que previamente combináramos com os directores dos serviços, uma das nossas colaboradoras deslocava-se a cada serviço, explicando o objectivo do estudo aos profissionais de intervenção precoce e solicitando a sua colaboração. Depois, entregava um envelope contendo um questionário de auto-administração: "Expectativas e Percepções dos

Profissionais Acerca da Implicação das Famílias na Avaliação das Crianças" e

uma "Ficha de Caracterização dos Profissionais", disponibilizando-se também para prestar qualquer esclarecimento necessário ao seu preenchimento. Durante um mês voltava semanalmente a esse serviço para recolher os questionários e lembrar aos outros profissionais que voltaria na semana seguinte, no mesmo dia, e insistia no pedido de colaboração.

No que respeita aos familiares, atendendo a grande variabilidade entre

os níveis de escolaridade, optou-se pela aplicação do instrumento de avaliação por uma das colaboradoras identificadas anteriormente, que realizou todas as avaliações. Após adequada instrução, este psicólogo deslocou-se a cada um dos locais uma ou várias vezes consoante a dimensão do centro e as necessidades impostas pelo estudo. Convidou os familiares, que dentro dos critérios de selecção preestabelecidos se encontravam nesses dias nos serviços com as suas crianças, a colaborarem. O inquérito foi aplicado em salas disponibilizadas para esse efeito pelos Centros, em situação de face-a- face. A cada familiar foi entregue um questionário a quem se explicava que as respostas eram confidenciais e que poderia desistir de colaborar. Deixava-se algum tempo para que se familiarizassem com o instrumento, se assim o desejassem. Em seguida, o examinador com o questionário na mão, ia colocando item a item as questões aos familiares e anotava as suas respostas. Para as questões abertas eram solicitadas respostas simples e curtas. Nesse momento era também preenchida a ficha de caracterização sóciodemográfica dos familiares. As entrevistas para a aplicação deste instrumento de avaliação duravam cerca de 20 minutos.

2. RESULTADOS

Apresentamos separadamente os resultados da análise dos questionários dos profissionais e dos pais. Os dados foram examinados procedendo-se a análise de conteúdo das respostas às questões abertas e recorremos à estatística descritiva no respeitante às perguntas fechadas.

Para avaliar a fiabilidade das classificações de cada uma das questões abertas, foi pedido a colaboração de dois observadores independentes, que classificaram uma amostra correspondente a 30% das respostas, a cada uma das questões, escolhidas aleatoriamente. A fiabilidade, também designada por alguns autores como precisão e ainda por outros como fidelidade, foi verificada com o cálculo de percentagem de acordos. O procedimento para este cálculo foi o referido por Bakeman e Gottman (1992). Obtivemos uma percentagem de acordos que variou, em todas as questões, entre 92.2 e 94.7, valores que se consideram ser bastantes altos.

Nas figuras que surgem ao longo deste trabalho, para documentar os resultados, os dados apresentados dizem respeito às frequências das respostas. No texto optou-se por referir os valores em percentagem que os dados em frequência vêm complementar.

O leitor interessado encontrará todas as análises estatísticas, incluindo as que não são referidas no texto, em anexo. Nesta secção optamos por descrever os valores que documentam aquilo que consideramos mais significativo.

2.1 Profissionais

Na primeira questão aberta era pedido aos profissionais que descrevessem aquilo que os pais pretendiam da avaliação multidisciplinar dos

verificámos que os profissionais pensavam que aquilo que os pais pretendiam da avaliação dos filhos era (cf. Fig. 3):

^ %

%

V

<u %

K% X X X X \ X

Fig.3: Percepção dos profissionais acerca do que os pais pretendem da avaliação

1. Informações acerca do diagnóstico e do prognóstico dos filhos (25.0%);

2. Informações acerca do desenvolvimento, das capacidades, dos problemas e das necessidades da criança (25.0%);

3. Informações em geral e também apoio para a família lidar com a criança e com a situação (13.8 %);

4. Informações e apoio directo à criança, isto é, os tratamentos e a

ajuda para a cura. (23.8 %);

5. Atitude de clareza, rigor, sinceridade e qualidade (1.3%); 6. Atitudes de esperança na cura (11.3%).

Constatamos que as respostas de todas as assistentes sociais recaíram sobre a pretensão de informações, quatro terapeutas valorizaram a atitude de esperança na cura da criança (cf. Anexo 6).

O primeiro bloco de questões fechadas do questionário era constituído por catorze itens acerca do conteúdo da avaliação - o que os pais esperavam

da avaliação/o que os profissionais julgavam oferecer. Só analisamos aqui as

quatro questões cuja resposta mais frequente foi "esperava sempre". Consideraram que os pais esperavam sempre respostas às suas questões 92.7% dos profissionais e 31.7% que aquelas lhes eram sempre fornecidas. O diagnóstico seguro foi considerado por 77.1% dos profissionais uma expectativa dos pais, que foi correspondida sempre no dizer de 12.0% dos profissionais e nunca lhes era oferecido na opinião de 9.6% dos profissionais. Na perspectiva de 74.7% dos profissionais, a cura dos filhos era esperada sempre pelos pais, 3.6% dos profissionais afirmaram facultar sempre essa cura. Também 66.3% dos profissionais pensavam que os pais esperavam obter na avaliação dos filhos informações detalhadas acerca da criança. Tais informações eram julgadas proporcionadas por 25.3% dos profissionais (cf. Quadro 8).

Quadro 8: Ideias dos profissionais acerca das expectativas das famílias na avaliação