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7.2 Representações contidas no discurso dos professores e a origem destas falas

7.2.2 O professor como necessário mediador de aprendizagem

A representação do papel do professor é vista como primordial nos processos de aprendizagens. A condição de mediador de um processo em construção fica evidente em diversas falas dos entrevistados, corroborando com as tendências educativas ligadas a pedagogia progressista.

Esta visão mediadora da ação docente está ancorada nas tendências realista- progressista da educação, que desde a década de 1960 aglutinou diversos educadores em torno da preocupação, em especial com a escola pública, de melhorar as práticas sociais a partir da formação de cidadãos autônomos e comprometidos com uma construção social da realidade.

Dentre os autores que abordam esta visão de educador é possível identificarmos as idéias libertadoras de Paulo Freire, que objetivam a transformação das práticas sociais pelas classes populares através de uma consciência contextualizada dos fatos vividos no presente. Neste modo de aprendizagem professores e alunos compartilham e dialogam em condições igualitárias, sendo o professor um provocad or de situações- problema que envolvem pesquisa, compreensão e proposição de alternativas.

Outro autor que também identifica o papel do educador como sendo o de um mediador dos processos de ensino e aprendizagem é Vygotsky. Autor adotado como norteador na construção dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PARÂMETROS, 2001), na Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina (SANTA CATARINA, 1998) e no documento de Subsídio para a Reorganização Didática no Ensino Fundamental (PREFEITURA, 2000), bem como na recente Proposta Curricular da Rede Municipal de Ensino Florianópolis (FLORIANÓPOLIS, 2008).

Na teoria sociointeracionista de Vygotsky, o sentido é atribuído pelo indivíduo a partir de sua interação com o significado social dado a determinado símbolo. Fica fácil compreendermos tal proposição se tomarmos como exemplo signos de nosso cotidiano: a cruz cristã por exemplo. Dotada de uma significação social esta não corresponde, necessariamente, ao sentido produzido individualmente ao signo cruz.

É nesse processo de aproximação de significados socialmente construídos, que está inserida a atuação do professor. Entre objeto/signo, significado social e sentido produzido individualmente.

No ensino de arte, o signo e o significado social são pertencentes ao acervo cultural da humanidade, constituídos num processo histórico que torna civilizados (ELIAS, 1994). O sentido construído pelo indivíduo a partir do reconhecimento do signo e do significado social, dá-se a partir de interações sociais que constroem a realidade compartilhada entre os humanos de determinado grupo social (BERGER; LUCKMANN, 2004). Nesse papel de provocador das experiências estéticas, o professor representado no discurso, pode encontrar na arte contemporânea um modo de aproximação com a realidade dos alunos, cumprindo um dos papéis da educação que é tornar conhecido o universo de saberes reificados.

Os modos de atuação docente tem sido motivo de encontros entre os professores da rede Municipal. Desde o início da década de 1990, existem registros de encontros de formação continuada para professores de arte da Rede Municipal28. A partir de 2006 são realizadas reuniões mensais com o intuito de construir a PCF, bem como propor reflexões acerca do ensino de arte.

O documento que serviu de base para as reflexões destes encontros foi o caderno Subsídios para a Reorganização Didática no Ensino Fundamental

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Informações obtidas através de e-mail trocado com a Secretaria Municipal de Educação, em 8 abr. 2008.

(PREFEITURA, 2000), que já apontava para a utilização do caráter sociointeracionista das teorias de Vygotsky.

A mediação realizada pelo professor, segundo o discurso coletivo, é condicionada pelas próprias vivências desses docentes com a arte contemporânea. As oportunidades de participação e visitas nos espaços expositivos no Município de Florianópolis são restritas. Segundo o site da Prefeitura Municipal, existem 15 espaços de exposição permanente de cultura e arte no Município, mantidos em cooperação pelos poderes governamentais29. Nessas instituições o horário de visitação predominante, no ano de 2007, era entre 13:00h e 18:30h, o que dificultava o acesso de professores e alunos, segundo as entrevistas.

Outros fatores apontados pelos professores como interferências nas visitas as exposições de arte é a disponibilidade de transporte para os alunos, e falta de divulgação de uma agenda anual com os eventos programados pelos Museus e Casas de Cultura. Sem uma agenda estabelecida a solicitação de transporte é prejudicada, pois esta deve seguir os procedimentos internos da Prefeitura que requerem agendamento prévio.

Dentre esses fatores formadores da vivência estética do professor de arte, podemos inserir nesse contexto as dificuldades espaciais e matérias encontradas por esses profissionais para a realização de suas atividades. Apenas uma, das escolas visitadas, possuía espaço destinado para as atividades de arte, a qualidade do material disponibilizado pela rede municipal interfere também nessas vivências, na medida em que não corresponde a alguns resultados básicos esperados, por exemplo no estudo das cores, como relatado pela 10ª entrevistada: É o próprio caos, porque diz pra criança que esta cor com aquela resulta em ... e não resulta, é um caos.

Se o papel do professor é de fato o de mediar a construção de sentido a partir de seus referenciais dos significados já estruturados socialmente, essa ação pode estar comprometida pelos fatores que apresentamos acima. É possível que haja, e não foi objeto desse estudo, a existência de alternativas e estratégias práticas já elaboradas pelos professores, que minimizem esses problemas e se aproximem mais de uma ação mediadora, preconizada pelas teorias da educação. Porém, no âmbito dessa pesquisa, a partir do que pensam os professores de artes visuais sobre o ensino de arte

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contemporânea na Rede Municipal de Ensino de Florianópolis, esta mediação pode estar comprometida.

7.2.3 Apreciação artística, um hábito que deve ser construído desde os primeiros