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Foram considerados no tratamento dos dados os conceitos abordados por Sá (1996), relativos ao núcleo central das representações. Este núcleo, centro homogêneo de uma determinada representação, possui funções distintas que nos auxiliam na compreensão de informações não manifestas explicitam ente nos discursos, permitindo assim que possamos ir além das aparências representadas. Sá identifica duas funções primordiais do núcleo central: função geradora e função organizadora.

A primeira possibilita a transformação de significados e outros elementos das representações, é a partir da função geradora que a representação social ganha um sentido de valor atribuído pelo indivíduo.

A segunda função, organizadora, do núcleo central permite que elos sejam criados entre as representações estabilizando, homogeneizando as representações garantindo coerência e unidade.

Este modo de tratamento dos dados, a partir da teoria do núcleo central permite coerência a partir de um cerne integrador das representações, mas ao mesmo tempo possibilita a inserção de representações individuais na representação social através do sistema periférico, que possuem função prescritiva condicionando as representações a determinadas circunstâncias. O aspecto prescritivo do sistema periférico possibilita a ligação e realização de uma idéia a uma conduta que a ela se pressupõe.

Entramos em contato com o DSC pela primeira vez durante a elaboração deste trabalho, o que nos trouxe bastante alegria e tranqüilidade, por sabermos que a diversidade de idéias e opiniões sobre o tema abordado seria mantida em um conjunto que se configura como único, sendo assim a resposta de um sujeito coletivo que atua como arte-educador na rede municipal de ensino de Florianópolis.

Apesar de realizarmos duas entrevistas piloto para ajuste na ferramenta de entrevista, nos deparamos ao final da coleta de dados e iniciarmos o processo de transcrição das falas, com nossa própria fragilidade como condutores de tal processo.

Ouvindo as entrevistas, mais de uma vez cada uma delas, lentamente, fomos capazes de reviver os instantes vivenciados com os participantes, mas ao mesmo tempo percebemos que em diversos momentos fomos envolvidos pelas falas dos entrevistados, permitindo que estes manifestassem o que pensavam sobre as questões abordadas, extrapolando os limites planejados para este pesquisa. Durante esses momentos, as emoções e experiências vivenciadas pelos participantes eram de tal ordem vivaz e pertinente aos universos dos entrevistados, que fomos envolvidos pelas manifestações discursivas.

Porém, talvez por ingenuidade, não nos apercebemos que o modo como os entrevistados haviam entendido as perguntas, os levaram para uma reflexão muito além do contexto da pergunta, mas com tamanha verdade que os seguimos em suas expressões.

Inicialmente a descoberta destes desvios, rumo ao entendimento do outro, causara-nos desconforto e certo receio sobre a pertinência destas falas para com os objetivos desta pesquisa, porém ao iniciarmos a análise dos dados, a partir da metodologia escolhida, fomos compreendendo que o multi-verso proposto por Schütz (Schütz apud SCHRÖDER, 2006), fora retratado de maneira enfática, muitas vezes envolvendo não apenas as idéias construídas pelos entrevistados, mas também suas emoções e sentimentos sobre a docência de arte.

Optamos por trabalhar com a metodologia de elaboração do DSC por acreditarmos que, através do uso destas bases a essência dos discursos individuais não seria perdida no momento de construção das sínteses de todas as respostas.

Nosso objeto de pesquisa necessitava de um expediente metodológico que preservasse as características destes saberes, além de conservar as idéias e juízos elaborados muitas vezes durante o próprio processo de coleta dos dados. Desse modo Lefèvre; Lefèvre (2005) muito nos auxiliam, preservando o resu ltado da pesquisa num discurso ainda original, próprio de sua forma de expressão, que é o próprio discurso.

Durante a coleta e tratamento dos dados, lidamos todo o tempo com a produção de sentido a partir dos multi-verso vivenciados pelos professores, os quais por vezes apresentaram respostas únicas, individualizadas, mas que devem compor a fala do eu coletivo (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005).

Para tanto, durante a primeira etapa de análise dos discursos, elaboramos o primeiro quadro de análise, chamado Instrumento de Análise dos Discursos 1 [IAD 1]. Esse quadro que deveria conter três colunas [EC, IC e AC] foi realizado com duas [EC e IC], por não ser possível identificar nas manifestações coletadas ancoragens que fundamentasse os discursos. A partir das entrevistas, que podem ser observadas no apêndice C desse trabalho, extraímos as expressões chave (EC) e a partir destas as idéias centrais (IC), seguindo o descrito pela metodologia do DSC. Porém, não foi possível aliar ao conjunto de IC algumas idéias que servissem de ancoragem (AC) para falas, essas, segundo Lefèvre; Lefèvre (2005), são correntes teorias, filosóficas ou ideológicas gerais que fundamentam as falas manifestadas durante os discursos.

A partir deste quadro inicial [IAD 1], realizamos a construção d e um outro Instrumento de Análise dos Discursos, ao qual chamamos de IAD 2. Neste segundo quadro, organizamos todas as IC que possuíam o mesmo conteúdo semântico, de cada entrevistado, para cada uma das questões realizadas, surgindo então grupos de IC com o mesmo sentido para cada questão. A partir desta organização, construímos o que chamamos de Síntese das Idéias Centrais (SIC). Este conjunto de IC manteve toda a diversidade de idéias presente nas EC, porém sintetizando as falas de mesmo sentido numa única expressão (SIC). Este novo conjunto, as SIC, não substituem as AC, pois não são fundamentos teóricos, filosóficos ou conceituais que embasam as falam, foram criadas por nós a partir da necessidade de compreendermos e preservarmos, de maneira sintética, a complexidade e diversidade de idéias manifestas pelos participantes.

A partir das SIC iniciamos a elaboração dos DSCs, um para cada questão, possibilitando desta forma uma leitura capaz de refletir as diversas idéias centrais presentes nas respostas coletadas durante as entrevistas. Após a construção do DSC por questões, elaboramos um DSC único, que responde à pergunta inicial e geral, motivadora desta pesquisa: O que você pensa sobre o ensino de arte contemporânea na rede em que atua?

Compreendemos que as adaptações que realizamos na metodologia proposta por Lefèvre e Lefèvre (2005) não comprometem os resultados alcançados, uma vez que mantivemos a mesma estrutura básica metodológica, repetindo o procedimento de síntese das IC duas vezes, eliminando deste modo as idéias repetidas no conjunto das entrevistas por questão, e preservando a diversidade dos discursos.

6.6 A DIFÍCIL TAREFA DE DISTANCIAMENTO DOS