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Compreendemos que a descrição dos espaços disponibilizados para realização das atividades de arte educação e as condições ofertadas para as aulas, nos fornecem um cenário do campo de atuação dos participantes desta pesquisa. Sendo assim, como necessária complementação para uma melhor compreensão das informações verbais, observamos também os espaços físicos e as condições [físicas|materiais] disponíveis para a realização do ensino de Artes nas escolas visitadas.

Segundo nossas observações, a Rede adotou nas gestões anteriores uma volumetria arquitetônica padrão para construção e reforma de suas unidades de ensino. Os edifícios que visitamos, num total de nove unidades, quatro possuíam esta volumetria ou eram prédios anteriores a estes que descreveremos a seguir.

As unidades visitadas foram construídas entre os anos de 1 957 e 200327. Nas cinco unidades mais antigas visitadas, todas já receberam algum tipo de ampliação em suas áreas construídas, ampliando o número de vagas disponíveis para a população. Nestas unidades as ampliações foram feitas sem seguir um padrão, aparent emente norteadas pelas áreas vazias disponíveis para construção ou pela capacidade de suporte estrutural dos edifícios já existentes.

Nas edificações mais recentes (1995 a 2003) é perceptível a recorrência de um modelo padrão, constituído da seguinte forma:

 A unidade escolar é dividida em três blocos de edifício, um que abriga os setores de serviços e nutrição e dois que atendem as necessidades pedagógicas. Entre estes dois blocos existe uma grande rampa de acesso e uma escada que permitem circulação entre o pavimento inferior e superior. Sobre esta área de circulação, existe uma cobertura feita de policarbonato, material que filtra a luz solar, banhando o espaço interno com uma luz azul, interessante em dias luminosos. Em uma das extremidades

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deste vão de circulação, foi realizado o fechamento com blocos de concreto vazado, que possibilitam a ventilação cruzada e garante certa privacidade para esta área, em relação à rua.

 Os serviços de cozinha, refeitório e serviços são feitos no bloco em anexo a estes, existindo uma passagem protegida por uma laje de concreto.

 Os acabamentos, de modo geral, são simples: paredes e tetos com reboco e pintura acrílica; piso com cerâmica antiderrapante, janelas externas em sua maioria feitas em alumínio com grade metálica de proteção, as portas internas são de madeira aglomerada e as portas externas de madeira maciça com grades de proteção quando voltadas para áreas abertas. Todo o perímetro da escola é protegido por muros, em muitos casos grades aumentam a altura desta barreira.

Nos dias de chuva e nos horários de recreio, dos quais presenciamos, o barulho produzido no vão de circulação vertical entre os blocos é extremamente alto. Esta medição não foi feita a partir de instrumentos, tais como decibelímetros, aferimos o barulho excessivo a partir da impossibilidade de conversação nesses espaços.

Das nove escolas visitadas apenas uma possui sala ambiente para realização das atividades de arte visuais, todas as outras unidades possuem algum tipo de sala multiuso que abriga as atividades disciplinares e não disciplinares de toda a unidade escolar.

As salas de aula, que aqui chamamos de convencional, preservam o layout de escolas tradicionais. Nas escolas visitadas todas as salas são retangulares, possuem quadro negro e giz, as cadeiras e carteiras dos alunos são organizadas em fileiras paralelas, com um número médio de 30 alunos por turma. Não existe um modelo estabelecido para uma sala ambiente para as aulas de Artes, haja vista as especificidades de cada linguagem artística exigir equipamentos diferenciados, tais como palco, mesas grandes, pias etc.

Em se tratando das aulas de Artes Visuais o mais indicado, segundo Neufert (2004), é uma sala ampla com aproximadamente 1,5m² por aluno, que permite a circulação e mobilidade para realização de trabalhos maiores que A4. Neste espaço deve haver ventilação cruzada para dispersão dos odores de tintas e colas utilizados comumente nas atividades, mesas grandes, uma bancada com cubas e torneiras, armários e prateleiras em quantidade suficiente para o número de alunos de 1ª a 8ª série que utilizam o espaço. A existência de equipamentos tais como: forno para queima de peças cerâmicas e prensa para realização de gravuras, são de gigantesca

importância para proporcionar aos alunos a experiência de transformação dos materiais.

Abaixo descrevemos os espaços físicos existentes nas escolas que foram visitas durante a realização desta pesquisa.

1ª Escola. Esta unidade não possuía sala ambiente. Segundo a professora as atividades eram realizadas na sala de aula convencional, onde todas as outras disciplinas trabalhavam.

2ª Escola. A escola está em processo de ampliação de suas áreas construídas, possui em todo o seu perímetro tela tipo alambrado. Duas entrevistas foram realizadas nesta unidade, ambas foram ocorrem na sala dos professores, uma sala ampla e com grandes janelas, os mobiliários desta sala estavam em sem manutenção, haviam na sala uma grande mesa retangular, oito cadeiras sem estofamento e de tipos variados, bem como um armário de ferro com várias portas danificadas, porém em uso. A escola não possui sala ambiente para a disciplina de Arte. Ao final da segunda entrevista o professor nos levou para conhecer o espaço destinado as atividades de artes que não são possíveis de se realizar nas salas convencionais. Tratava-se de uma pequena sala com dimensões aproximadas de 4 m x 5 m, o pequeno espaço estava abarrotado de materiais diversos, tais como cadeiras e carteiras, caixas de papelão e armários velhos. A sala não possuía equipamentos necessários para realização de quaisquer atividades, bem como não havia espaço disponível para sua ocupação. As atividades da disciplina de arte, segundo o professor, são sempre realizadas e dimensionadas para as salas convencionais de aula.

3ª Escola. Implantada em meio ao bairro, a escola de volumetria térrea e cercada por muros e grades com cadeados, o prédio se mistura na paisagem e dificulta sua localização pelos visitantes. Ao conseguir acessar o portão de entrada fui atendido pela própria professora de arte, que me levou para a sala ambiente destinada à disciplina. Durante o caminho até a sala, pude observar diversos trabalhos artísticos expostos nos corredores. Localizada entre as salas de aula convencional e o pátio do recreio, a sala com dimensões aproximadas de 6m x 10m possuía: janelas amplas em uma das paredes, quatro prateleiras, dois armário, uma bancada com duas cubas e torneiras funcionando, três grandes mesas de trabalho com aproximadamente dez bancos fixos cada uma estavam à disposição da disciplina. Os materiais fornecidos pela prefeitura são convencionais, segundo a professora de baixa qualidade. A professora reclamou da qualidade e quantidade dos materiais fornecidos pela prefeitura

e da pouca eficácia da equipe pedagógica, disse ela que: “em todas as escolas que eu já passei, umas oito eu acho, nenhuma equipe pedagógica eu posso dizer que foi eficaz.”

A sala era dividida também com as turmas de 1ª a 4ª séries. Sobre as prateleiras muitos trabalhos estavam em desenvolvimento. Ao término da entrevist a fui comunicado pela professora que os trabalhos expostos pelos corredores eram de alunos das várias séries (1ª a 8ª). Antes de sair da escola fomos até a sala de professores, uma sala pequena, bem ventilada e montada com uma grande mesa de reuniões, cadeiras estofadas e armários com portas e fechaduras, ao centro desta mesa haviam duas garrafas térmicas, bem como copos descartáveis, colheres e açúcar.

4ª Escola. Grades e muros de proteção marcam a fachada da escola, localizada numa região com alto índice de violência. A presença de um policial militar e um segurança terceirizado no único acesso ao edifício, funcionava como um mau presságio aos visitantes.

Após conseguir entrar na unidade, fui atendido no guichê da secretaria e encaminhado para sala dos professores. Dentro deste ambiente haviam dois sofás rotos, uma mesa de cozinha e algumas cadeiras de estilos variados, bem como armários necessitando de manutenção. Ao final da entrevista saímos para conversar pelos corredores da escola. Visitamos o laboratório onde as atividades práticas de várias disciplinas são realizadas, dentre elas as aulas de Arte. Não pudemos permanecer na sala, pois outro professor ocupava o espaço. A sala possuía o formato de um pequeno auditório, com uma grande bancada na parte fro ntal e cadeiras com pranchetas colocadas ao fundo, organizadas de modo linear como numa sala de aula convencional, sob a bancada, algumas prateleiras estavam instaladas, ao lado desta um tanque com torneira e na parede um quadro negro, numa das laterais de ste quadro havia um armário que permanecia fechado por abrigar equipamentos de áudio -visual.

5ª Escola. Novamente me deparei com grades e cadeados, o portão fechado não possuía campainha. Acenei para alguém que passava pelo corredor da escola, pedindo para que abrisse o portão. Após alguns minutos, um senhor silencioso e com barba por fazer abriu o portão.

Assim que entrei uma forte campainha soou e o horário do recreio começou. Visualizei a entrevistada daquele dia, avisei para não se preocupar pois perman ecia aguardando até o horário que combinamos. Fiquei do lado de fora da sala dos professores observando a escola e os alunos.

Uma grande fila chamou minha atenção, eram crianças se organizando para a merenda. O espaço para refeição era insuficiente e parte das crianças sentaram-se no chão ou nos degraus para comer. Naquele dia foi servido macarrão com molho e maçã de sobremesa. Muitos comeram rápido para poder brincar e correr com os amigos. Os restos de maçãs começaram a ser jogados ao chão, uma pequena guerra de sobras se estabeleceu e todos protegeram a cabeça. No corre-corre alguém abriu o hidrante do sistema contra incêndio do pavimento superior, uma cascata d’água escorreu para o térreo. O diretor foi avisado e o recreio chegou ao fim. Uma mistura de sobras de alimentos, barro vermelho e água deixam o espaço numa imundice. As serventes começaram a limpar toda a área após algumas reclamações. Um grupo de alunos foi levado para sala da direção e a porta foi fechada.

Um professor com aula vaga puxa assunto e começamos a conversar sobre educação e o acontecido na escola. Após alguns minutos a entrevistada chegou e fomos para sala dos professores. Neste ambiente estavam jogados no chão algumas folhas de jornal completamente sujas de barro, ao centro da sala havia um mesa de reuniões com a fórmica lascada e algumas cadeiras de ferro e acento de madeira. No fundo da sala havia também três armários de aço do tipo vestiário, com algumas portas amassadas. Esta escola não possuía sala ambiente para a disciplina de arte e nenhum outro espaço destinado às atividades práticas.

6ª Escola. Localizada numa região alta, a escola possui uma vista considerável para parte da cidade, e ao diferentemente das anteriores esta não possui pavimento superior, descartando assim o uso da rampa coberta. Marcamos a entrevista num dia de parada pedagógica, sendo assim a escola estava sem movimentação de crianças. Fui atendido por uma secretária que prontamente chamou o entrevistado, disse a ele que poderia aguardar o término da reunião, mas preferiu iniciar a entrevista naquele mesmo momento. Fomos para a sala dos professores, naquele ambiente haviam dois sofás usados, uma mesa de reuniões, cadeiras de ferro com assentos de madeira e armários de fórmica. Conversamos por alguns minutos neste ambiente, o professor relatou que os materiais fornecidos pela prefeitura são de baixa qualidade, comprometendo o resultado de muitas atividades. Instantes depois iniciou o intervalo da reunião pedagógica e os professores entraram na sala, o entrevistado sugeriu que conversássemos em outro local. Fomos para uma sala de aula convencional onde terminamos a entrevista, a escola não possui sala ambiente.

7ª Escola. Esta unidade escolar é possivelmente a mais antiga das que visitamos, possui aproximadamente 25 anos. Seus dois pavimentos possuem aspecto de terem recebido, em momentos distintos, diversas ampliações de sua área construída. A presença de diversos cartazes, faixas e bandeiras espalhadas pela escola chamaram minha atenção. Nestes a comunidade escolar cobrava o cumprimento da promessa de uma nova escola, feita durante o período das últimas eleições.

Permaneci aguardando a entrevistada num pátio coberto, a partir do ponto em que estava era possível observar a sala destinada às atividades de artes, onde a professora estava trabalhando com uma das turmas. Assim que soou o sinal ela me chamou para podermos conversar. A entrevista foi feita naquela sala. O ambiente possuía dimensões aproximadas de 4m x 6m, dotado três grandes mesas com bancos fixos que formavam um “U”, defronte a esta organização de mesas estava instalado o quadro negro; em duas laterais das paredes existiam bancadas, em uma delas havia uma pia e dois armários fechados, sobre as bancadas diversas maquetes feitas em isopor estavam secando. A sala também era utilizada por todos os outros professores do colégio.

8ª Escola. Apesar das grades sobre os muros, o portão da escola estava aberto. A unidade possui aproximadamente 20 anos de construção, o volume do edifício possui um único pavimento, apesar das ampliações das áreas construídas mantém ainda as características de uma escola pequena, mas que sofre com o aumento de demanda por vagas.

Após localizar a secretaria, me identifiquei e fui levado até a sala dos professores, lá uma grande mesa de reunião rodeada de cadeiras estofadas e um armário embutido numa das paredes ocupavam todo o espaço. A escola não possui sala ambiente para a disciplina de arte, todas as atividades devem ser desenvolvidas nas salas de aula convencional.

9ª Escola. Implantada numa encosta de morro a escola possui níveis diferenciados entre um bloco os blocos e a quadra de esportes coberta. Os muros possuíam grades e na entrada uma guarita abrigava um porteiro, identifiquei-me e fui encaminhado para secretaria, no trajeto atravessei um pátio aberto com pavimento de pedra, algumas árvores e canteiros com plantas, espaço que se assemelha a uma praça. Após subir alguns degraus cheguei na secretaria e logo em seguida à sala dos professores. Nesta sala havia uma grande mesa de reuniões circundada por cadeiras estofadas de encostos altos e apoio para os braços, ocupando toda a parede de um dos

lados maiores da sala, um grande armário embutido em perfeitas condições, com fechaduras e puxadores se impunha no espaço. Ao fundo da sala uma janela permitia a visualização da vegetação do entorno. Na parede oposta ao armário, uma grande bancada servia de aparador para o café, abaixo desta outras portinhas sugeriam a existência de mais armários.

A unidade não possui sala ambiente para a disciplina de arte, mas segundo relato da professora a qualidade dos materiais disponibilizados pela escola, através da Associação de Pais e Professores, era excepcionalmente de boa qualidade e os espaços abertos da escola eram utilizados para desenvolver algumas atividades.