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2.4 O Modelo Educativo do ITESM: experiência de referência

2.4.3 O redesenho de disciplina

2.4.3.1 O Programa de Desenvolvimento de Habilidades Docentes PDHD

A mudança do modelo educativo do ITESM se sustenta no desenvolvimento dos professores. Para facilitar o processo de implantação e criar um ambiente de aprendizagem coerente com a filosofia do modelo, o ITESM criou o Programa de Desenvolvimento de Habilidades Docentes – PDHD. Esse programa tem por finalidade oferecer recursos e mecanismos didáticos para os docentes que participarem de forma sistemática, contínua e intensa (por ser um processo de aprendizagem) para que possam adquirir habilidades para operar no novo modelo.

Os objetivos principais do PDHD são os seguintes: a) oferecer uma série de cursos, oficinas e atividades que capacitem os professores com conhecimentos, habilidades e atitudes que são necessários para incorporar o modelo educativo, assim como as metodologias e técnicas didáticas adequadas ao mesmo; e b) utilizar uma metodologia centrada na prática docente de tal forma que o professor aplica o modelo educativo, com as características que o definem em situações reais e assume as funções próprias do novo papel. A mudança, nesse sentido, vai sendo construída durante o mesmo processo de capacitação em que o professor desempenha o papel central.

Para a construção do PDHD algumas considerações teóricas sobre o processo de mudança na educação foram analisadas pelo ITESM. Os estudos apontaram para o seguinte:

a) a mudança educativa não é um processo tecnologicamente controlável; a inovação se caracteriza pela incerteza a respeito dos resultados;

b) os professores são notoriamente independentes em sua prática e é difícil aceitarem a pressão externa a menos que conheçam de maneira profunda os protagonistas e as razões que justificam o processo, bem como estejam convencidos de que a mudança pressupõe a melhoria da sua prática atual;

c) os professores são produtos das suas próprias experiências escolares, têm bem instalados em sua prática modelos aprendidos e para compreender noções alternativas de ensino e aprendizagem necessitam discuti-las, prová-las e redefini- las; e

d) para desenvolver o caráter democrático nos estudantes é necessário que o trabalho dos professores esteja organizado também segundo os mesmos princípios: - ambiente social colaborativo, intercâmbio ao invés de supervisão, preparação técnica e encontros freqüentes entre os professores para discutir o seu trabalho.

Isso sugere que os professores não fazem a mudança educativa pelo fato de aprender novas metodologias e técnicas de forma teórica. Para dominar as habilidades e adquirir as atitudes que a mudança requer, é preciso, que além do conhecimento, o professor pratique. Geralmente a mudança do professor segue um processo de períodos de sucessivos: conhecimento, prática, melhoria, aperfeiçoamento e manutenção.

A partir dessas premissas o PDHD foi construído com as seguintes características:

a) motivar o professor a criar um compromisso com a instituição para contribuir com o seu esforço e do grupo para alcançar a mudança educativa, dando especial ênfase à colaboração e apoio interpessoal;

b) incorporar espaços para que o professor possa individualmente ou em colaboração com algum colega, desenvolver sua criação pessoal, seu projeto educativo, por meio do planejamento, desenho e estrutura de um curso com as características do modelo educativo. Nessas atividades o professor emprega a sua experiência, conhecimento, atitude pessoal e outras características pessoais; c) oferecer oportunidades para os docentes colaborar e aprender uns com os

outros, bem como melhorar seu profissionalismo como uma comunidade de aprendizes. O professor, conforme avança no processo de mudança, identifica suas forças e fraquezas, contrasta-as com os seus colegas e participa de atividades que podem dar e receber opiniões para seu crescimento pessoal e do grupo;

d) não basta uma série de oficinas pontuais e esperar que o professor realize, por si mesmo, as demais atividades para a mudança. É preciso que o professor vivencie experiências reais e atue nelas como agente de mudança, construa sua prática ao longo do processo e participe de forma ativa e reflexiva ao mesmo tempo em que promova melhorias contínuas em função dos resultados. Participar de uma oficina de dois dias ou uma semana sobre o modelo educativo e as novas metodologias e técnicas didáticas não prepara o professor para implantar as mudanças que o modelo requer;

e) valorizar os resultados do esforço do professor e fazer uma revisão contínua por meio da observação atenta e do apoio do facilitador que atua como companheiro crítico em cada uma das etapas do processo. O facilitador é um professor que trabalha em tempo integral no ITESM e que já obteve êxito na implantação da sua disciplina com o modelo educativo. A disciplina trabalhada pelo professor facilitador deve ter afinidade com a disciplina do professor que ele acompanha. Sua responsabilidade é supervisionar as oficinas que os professores que estão sob sua orientação participam, bem como acompanhá-los durante todo o processo, observar e retroalimentar a sua prática;

f) colocar à disposição dos professores, nas plataformas tecnológicas apropriadas, as oficinas e atividades que outros professores utilizaram e que foram considerados modelos e metodologias de aprendizagem e ensino efetivos. Essas oficinas se organizam dentro de uma estrutura de trabalho colaborativo, que prevê tempo para que os professores se reúnam, oportunidades para que possam experimentar em sua própria turma e períodos de reflexão, avaliação e melhoria; e

g) disponibilizar ao professor todos os recursos tecnológicos necessários: redes eletrônicas, computadores pessoais, satélite, plataformas tecnológicas e, em geral, a infra-estrutura necessária para levar seu trabalho a cabo.

Para o ITESM o planejamento do PDHD não pressupôs que todos os professores estariam começando do zero, pois de forma implícita muitos professores já trabalhavam conforme pressupostos do modelo. O que o programa também pretende é estimular a manifestação destes professores e que todos conheçam, à luz da missão, em que consiste o modelo educativo e o que implicaria na sua situação específica para que assim pudessem ser abertos espaços para reflexão. Esse espaço teria a função de auxiliar o professor a identificar em que momento está em relação à mudança necessária, seja por meio dos resultados da aprendizagem que alcançam com seus alunos fazendo o que fazem, seja em função dos propósitos e intenções educativas por meio das adaptações necessárias para que se cumpram e reafirmem as características desejadas. O desenvolvimento das habilidades dos docentes se dá a partir das suas experiências prévias e por meio do enriquecimento dos elementos pertinentes.

O PDHD foi implantado no sistema do ITESM a partir de 1996. Desde a sua implantação o programa passou por aperfeiçoamentos e adaptações que culminaram em quatro versões, sendo a mais atual do ano de 2003. A última versão está estruturada sob a forma de dois esquemas distintos de acordo com a condição do docente em relação ao processo de implantação do Modelo Educativo. O esquema 1 está voltado para docentes que desenvolveram ou adotaram uma disciplina com os elementos básicos do modelo, e o esquema 2 é voltado para os docentes que desenvolveram ou adotaram uma disciplina com uma técnica didática. A participação do docente no PDHD ocorre de diversas formas: presencial, on- line/presencial, on-line/satélite ou totalmente on-line. A Figura 4 adiante representa a distribuição do programa dentro de cada esquema:

Esquema 1 Esquema 2 Disciplinas com os elementos

básicos dos modelos educativo

Disciplinas com as técnicas didáticas

Opção A Opção B Opção A Opção B

Desenvolvimento

de uma disciplina Adoção de umadisciplina Desenvolvimento deuma disciplina Adoção de umadisciplina

Etapa 1 30 horas Etapa 1 5 horas Etapa 1 30 horas Etapa 1 10 horas Etapa 2 40 horas Etapa 2 20 horas Etapa 2 80 horas Etapa 2 40 horas Etapa 3 20 horas Etapa 3 20 horas Etapa 3 20 horas Etapa 3 20 horas Etapa 4 20 horas Etapa 4 20 horas Etapa 4 20 horas Etapa 4 20 horas

Total 110 horas Total 65 horas Total 150 horas Total 90 horas

Figura 4 - Esquema do PDHD

Fonte: INSTITUTO TECNOLÓGICO E DE ESTUDOS SUPERIORES DE DE MONTERREY. Vice- Reitoria Acadêmica Programa de Desarrollo de Habilidades Docentes 2003. México: 2004. Disponível em <http://sistema.itesm.mx/sidi/documentos/pdhd/esquema.html>. Acesso em 6/12/2004.

Para assegurar a coerência dos princípios que fundamentam o modelo educativo com a prática docente, o programa é desenhado de modo a ter a participação ativa do professor. A capacitação que é oferecida ao docente tem como base a própria disciplina que ele trabalha. Desta forma, as mudanças ou adaptações necessárias serão incorporadas de maneira mais efetiva em cada uma das etapas do programa. A Figura 6 representa as etapas do programa:

Figura 5 – Etapas do PDHD

Fonte: INSTITUTO TECNOLÓGICO E DE ESTUDOS SUPERIORES DE DE MONTERREY. Vice- Reitoria Acadêmica Programa de Desarrollo de Habilidades Docentes 2003. México: 2004. Disponível em <http://sistema.itesm.mx/sidi/documentos/pdhd/esquema.html>. Acesso em 6/12/2004.

As quatro etapas do esquema 1 são constituídas pelas opções A e B e destinadas aos professores que irão desenvolver ou adotar os elementos básicos do Modelo Educativo para uma disciplina. As etapas estão assim distribuídas:

a) mobilização para a mudança: com o objetivo de sensibilizar, informar e mobilizar os professores para a implantação dos elementos básicos do Modelo Educativo na(s) disciplina(s), são realizadas oficinas e atividades baseadas na reflexão, análise e discussão de temas como: - características da educação do século XXI; - princípios, implicações e contrastes do modelo do ITESM com o modelo atual; – as mudanças necessárias para o papel do professor, como são as habilidades de assessoria e orientação educativa e formação de valores; - as características do aluno como pessoa, a inteligência emocional e as habilidades sociais. Uma vez sensibilizado, o professor se inscreve formalmente para dar início ao seu projeto de desenvolvimento ou adaptação da disciplina escolhida, vincula-se ao facilitador (em geral alguém mais experiente) e a um assessor tecnológico que oferecerá o apoio de que necessita em assuntos relacionados com o uso das ferramentas tecnológicas. O professor recebe um laptop e outros recursos para que possa trabalhar e cumprir as metas estabelecidas. Etapa I Mobilização para a mudança Etapa III Prática guiada da implantação da disciplina Etapa IV Avaliação e melhoria da disciplina Etapa II (Re) desenho da disciplina

b) estruturação e (re)desenho da disciplina: os professores são capacitados a (re)desenharem a disciplina a partir dos elementos básicos do modelo educativo e, em função das necessidades de cada uma, realiza uma série de atividades. Essas atividades se orientam para os seguintes objetivos: - conhecimento e aplicação da aprendizagem autônoma e da aprendizagem colaborativa de forma presencial e virtual; - conhecimento geral das metodologias e técnicas didáticas que se utilizam nos cursos e a capacitação profunda daquela que é mais adequada ao conteúdo do curso e ao nível de desenvolvimento do aluno; - desenho e estruturação de um curso com as características do modelo educativo, utilizando a técnica didática em que tenha sido capacitado de forma mais profunda. Durante esta etapa o professor terá o apoio de um facilitador do campus que o guiará durante o processo de (re)desenho. Na etapa 2 o professor pode também contar com oficinas e cursos opcionais como: - recursos e ferramentas tecnológicas de apoio ao processo de ensino e aprendizagem (manuseio de grupos virtuais, recursos informáticos, multimídias, simuladores etc.); - critérios e rubricas para avaliar a diversidade das aprendizagens que se promovem nas diferentes técnicas didáticas, tanto em atividades individuais como em atividades grupais; - o papel do professor facilitador, tutor e expert no processo de aprendizagem do aluno.

c) prática guiada da implantação da disciplina: a etapa 3 do PDHD é a implantação e a prática guiada da disciplina que tem por objetivo desenvolver no professor as habilidades e atitudes para desenvolver e avaliar a disciplina conforme os elementos básicos do modelo educativo. Para o ITESM ter um curso (re)desenhado na plataforma tecnológica não significa a garantia do sucesso da disciplina, por isso, as atividades desta etapa são fundadas na prática do professor e baseiam-se na reflexão permanente sobre a forma de operar a disciplina, nos resultados alcançados e os obstáculos enfrentados. Durante a implantação da disciplina o professor é guiado por uma assessoria contínua e por um facilitador, além de realizar atividades integradas como: - observações de uma aula pelo facilitador a fim de conhecer por meio do colega como é o seu desempenho de professor em seu novo papel e comentar posteriormente os resultados; - análise das tarefas, trabalhos, projetos e outras formas de participação dos alunos para conhecer seu avanço e avaliar a efetividade do plano estabelecido e fazer os ajustes necessários; - realizar seções interativas com outros professores para intercambiar experiências, pedir e dar opiniões sobre como resolver os problemas e superar os

obstáculos que surgem durante o processo, bem como unificar os critérios e padronizar os procedimentos.

d) avaliação e melhoria da disciplina: os resultados da etapa 3 são incorporados à documentação didática da disciplina, a qual torna-se uma forma efetiva de construir a memória, promover a reflexão e a melhoria da disciplina, assim como por à disposição de outros professores o conhecimento gerado sobre a implantação dos elementos do modelo educativo. Ao finalizar esta etapa a disciplina passa por um processo de avaliação, aprovação e publicação para sua transferência. Na última etapa do esquema 1 acontece a operacionalização normal e a melhoria contínua, que busca consolidar as habilidades, aperfeiçoá-las e passar a ser operadas de forma natural pelo docente. Desta forma, três tipos de atividades caracterizam o novo perfil do docente: a) participação nos processos de atualização e desenvolvimento em sua área de especialidade ou em processos inovadores de educação de tecnologia educativa; b) compartilhamento do conhecimento e da experiência gerada pela implantação do modelo educativo por meio de atividades como a participação em fóruns internacionais, institucionais ou locais, trabalho em redes colaborativas com outros colegas para a melhoria e avanço do processo e publicações de artigos e investigações; e c) prática das melhorias propostas ao final do semestre, avaliação dos resultados, documentação e continuidade do processo de melhoria e inovação do curso de forma permanente. A quarta etapa marca o final do esquema 1 do PDHD. O professor recebe uma certificação.

O esquema 2 tem por finalidade capacitar o docente a redesenhar uma disciplina com o uso das técnicas didáticas. As quatro etapas que compõem esta modalidade são:

a) o redesenho de uma disciplina específica; b) o desenvolvimento da disciplina redesenhada; c) a elaboração do informe e da documentação; e d) a certificação.

Na etapa 1 o professor transfere a disciplina para a plataforma tecnológica e inicia o trabalho de redesenho da disciplina explicitando as intenções educativas conforme a missão do ITESM. Esse processo se dá mediante o programa analítico da disciplina e as habilidades, atitudes e valores que serão desenvolvidos na disciplina. Após tornar explícitas as intenções educativas em termos de objetivos de aprendizagem do aluno, o professor elabora o programa de intenções educativas e

seleciona as estratégias de aprendizagem que utilizará em função do programa - a auto-aprendizagem, a aprendizagem colaborativa, a interação com o meio e a auto- avaliação devem estar presentes em todos os programas. Em seguida, o professor integra ao plano de disciplina, seção por seção, os conteúdos, as experiências e as atividades em que os alunos irão participar para alcançar as aprendizagens previstas e as organiza de acordo com a estrutura das técnicas didáticas. Por fim, insere a disciplina redesenhada na plataforma didática mais apropriada ao redesenho e define o processo de avaliação em função das intenções educativas.

A etapa 2 é o desenvolvimento da disciplina redesenhada. Nesta etapa o professor irá colocar em prática, durante o semestre, a disciplina redesenhada. Durante esse período o professor refletirá de forma permanente sobre o impacto da implantação da disciplina redesenhada e dos diferentes fatores que intervêm no processo, como o papel do professor, as aprendizagens dos alunos, o uso da tecnologia e a estrutura acadêmica existente. As adaptações necessárias para alcançar os objetivos planejados para a disciplina são feitas com o apoio de um professor assessor e um professor avaliador.

Na etapa 3 o professor elabora um informativo com base na avaliação do processo e nos resultados alcançados na etapa anterior. Além do informativo, a documentação desta fase constará do programa analítico, o redesenho da disciplina com os seguintes elementos: objetivos, intenções educativas, atividades, sistema de avaliação do aluno, recursos utilizados, referências bibliográficas e o plano da disciplina, seção por seção, os dados obtidos da avaliação do desenvolvimento da disciplina e a descrição dos resultados alcançados, das oportunidades de melhoria e sugestões para tomada de decisão com a finalidade de dar continuidade à melhoria contínua e de estender as próprias experiências aos demais contextos e docentes.

Por último, ocorre a certificação do docente a partir da avaliação do curso redesenhado por um grupo de professores assessores – Anexo B. Os avaliadores produzirão um relatório indicando o cumprimento dos objetivos do redesenho.