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O Programa UFGInclui no discurso dos Manifestos Públicos

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CAPITULO 4 UFGINCLUI, DE SUA CONCEPÇÃO E COMPROMISSOS

4.3 O Programa UFGInclui no discurso dos Manifestos Públicos

Foi possível identificar por meio eletrônico cinco manifestos, cujos conteúdos

estruturais estão explicitados no Quadro 12 (em apêndice). Essas manifestações foram os instrumentos de luta utilizados pelos movimentos sociais para ser reconhecidos em suas reivindicações e argumentações contra a proposta de bonificação elaborada pelos gestores da UFG, imposta a comunidade acadêmica. Tais manifestações marcaram o período de tramitação, nas instâncias da Instituição, da primeira proposta do Programa de Inclusão da UFG, discutida entre os dias 6 de julho a 15 de agosto de 2007. As manifestações mencionadas foram expressas por meio eletrônico, cartazes e mobilizações no entorno da Reitoria.

O primeiro Manifesto (06/07/2007), assinado pelo CANBENAS, foi publicado

poucos dias após a aprovação do UFGInclui pela CG na reunião realizada no dia 25 de junho de 2007. Inicialmente, o manifesto apresentou a proposta UFGInclui em seus principais aspectos para apontar à comunidade os pontos importantes que não foram considerados pela Reitoria, ou seja, os que deveriam ser criticados, tais como “[...] as reservas de vagas para negros/as e indígenas, assustadoramente negligenciadas para atender a uma opção superficial e prematura”. Na parte seguinte, pôde-se ler: “O projeto UFGInclui faz vistas grossas à desigualdade racial presente no corpo discente e docente desta Instituição”. Mais adiante, referindo-se à produção existente, completa: “[...] ignorando todo um corpo de pesquisa que aponta a diferença entre o tratamento oferecido a alunos/as brancos/as e negros/as na escola pública”. As críticas continuaram, assinalando que, “[...] por meio dessa percentagem mínima de 12,5%, [...] [a proposta comprometeria] ainda mais a entrada de estudantes de escolas públicas negros/as e indígenas”, e que “[...] as instituições federais de ensino superior [...] [deveriam] ter como princípio a inclusão de grupos sociais e étnico-raciais sub-representados na educação superior”. Finalizando, acrescenta:

Não silenciamos diante de uma chamada ação afirmativa que nada afirma, devendo se chamar UFG EXCLUI, pois não abala o status quo, não incomoda uma elite branca, e se resume a cumprir uma tarefa estipulada pelo governo sem considerar uma realidade denunciativa da desigualdade e invisibilidade de grupos raciais e sociais nesse país da fracassada e falsa democracia racial (Cf. CANBENAS).

Outro Manifesto, de 07 de agosto de 2007, denominado O Grande Golpe:

“UFGExclui”, faz críticas à falta de clareza em relação aos procedimentos que culminaram

com a aprovação da proposta na reunião do dia 25 de junho de 2007. Tal reunião foi encerrada nos seguintes termos: “[...] foi aprovada a continuidade da apreciação da proposta de implantação de imediato, ficando marcada uma reunião extraordinária da Câmara para o dia 6 de julho de 2007, tendo como assunto exclusivo a proposta do UFG Inclui” (UFG, ata de 25/06/2007). Assim, para vários participantes da reunião, e mesmo para quem analisou sua ata, o fato de ter sido agendada nova reunião para dar continuidade à apreciação, não ficou claro o que seria “apreciado” nem tampouco se a proposta já estava ou não aprovada.

Em decorrência da falta de clareza anunciada, para os manifestantes o projeto era “[...]

desrespeitoso e [...] [negava] todo o histórico de discussões efetivadas por estudantes, pesquisadores/as, núcleos de pesquisa e movimentos sociais [...] [da] UFG acerca da temática Ações Afirmativas.” E bradaram: “VAMOS ALTERAR A ATA, ELA ESTÁ

ERRADA!!!!”. Mais adiante, completaram o brado: foi “Um grande Golpe! E assim é

demonstrado o lado podre e fascista das estruturas ‘democráticas’ de nossa Universidade. No entanto, não ficaremos coniventes a esta proposta de falsa Ação Afirmativa.”

O terceiro dos manifestos, do dia 09 de agosto de 2007, Para a construção de uma

Universidade verdadeiramente justa e inclusiva, fez reivindicações e exigiu mudanças na

educação superior. Entre elas, a “Suspensão imediata da condução desrespeitosa do processo de aprovação do [...] projeto de ações afirmativas ‘UFG Inclui’”, a criação de grupo de trabalho, a garantia da assistência estudantil, a manutenção e ampliação das casas de estudantes, e a valorização do trabalho dos bolsistas e monitores.

No dia seguinte, outro Manifesto, A UFG OPTOU POR MANTER @S NEGR@S E

INDÍGENAS FORA DA UNIVERSIDADE, alerta: “Não silenciaremos diante de uma

chamada ação afirmativa que nada afirma, devendo se chamar UFG EXCLUI, pois não abala o status quo”. E anuncia uma concentração para o dia 14 do mesmo mês, com vistas ao “ATO

CONTRA O PROJETO UFG EXCLUI”.

O último dos manifestos, de 16 de agosto de 2007, utilizou-se do seguinte título:

reunião com a Reitoria112. Nele afirmou que “a Reitoria se sentiu extremamente incomodada com o protesto organizado pelos estudantes, principalmente com o manifesto ‘O grande golpe UFG exclui’”, bem como com a matéria do jornal O Popular, que tinha registrado as denúncias e manifestações ocorridas no dia 14 de agosto, dando maior visibilidade aos problemas ocorridos. A partir das discussões feitas na ocasião, a “Reitoria, diante da mobilização, decidiu não incluir o projeto nas mudanças para o processo seletivo de 2008”, comprometendo-se com a realização e com apoio a “[...] seminários, congressos, eventos” e outras iniciativas que discutissem as Ações Afirmativas.

Finalizando, cabe acrescentar que as tensões gestadas em 2008 em torno das ações

afirmativas tiveram sua origem nos manifestos da comunidade negra, na atuação de grupos sociais e de professores defensores da causa. Nesse sentido, foi possível perceber que a comunidade universitária estava atenta às decisões da Universidade, ou seja, atenta às disputas do campo de poder, conforme ensina Bourdieu (1983). Segundo esse autor, as lutas se travam “[...] entre o novo que está entrando e que tenta forçar o direito de entrada e o dominante que tenta defender o monopólio e excluir a concorrência” (p. 89). No sentido atribuído por Bourdieu à luta explicitada por meio dos manifestos, tem-se, de um lado, o novo que quer entrar, representado pelas políticas de cotas reservadas aos estudantes de escola pública e minorias étnico-raciais; e de outro, o dominante, representado pelos argumentos que defendem a Instituição, e que se utilizam do argumento do “mérito” como fundamento da oposição à adoção do sistema de cotas, conseguindo com ele o monopólio do dominante representado nos gestores das universidades federais brasileiras.

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