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3.1. O Combate ao Romantismo

3.1.2. O romantismo no Brasil

Antônio Cândido (2009) afirma em Formação da Literatura Brasileira que a literatura torna-se estável como um elemento cultural de um povo, quando firma-se num sistema de obras interligadas, com um público estabilizado de leitores. Assim, a literatura torna-se orgânica diante da sociedade, e pode fixar uma articulação de idas e vindas de longa duração. Portanto, a literatura de um país só amadureceria se estivesse ligada a um sistema literário, onde autores produzem e publicam suas obras, e são lidos por um público assíduo de leitores, gerando uma tradição.

Entre nós, a literatura é organicamente fruto da literatura ocidental – que nos chegou com a colonização – sendo modificada e ressignificada com as singularidades do Novo Mundo. A influência do de fora e o desejo imperioso de destacar nossas particularidades ao acentuar o que existia de original no país, são partes da dinâmica que constrói a literatura por aqui. “Assim, a literatura não ‘nasceu’ aqui: veio pronta de fora, para transforma-se à medida que se formava uma sociedade nova” (CÂNDIDO, 2009: p.12). Uma dialética entre o local e o cosmopolita na fórmula explicativa de Cândido. Daí, certo sentimento de dualidade na formação da nossa literatura.

Ao utilizar a ótica da literatura, Cândido apresenta os vários momentos em que, nos primeiros séculos depois da descoberta do Brasil, os brasileiros tentaram se desligar da herança portuguesa, buscando a autoafirmação e uma identidade nacional singular. O meio

privilegiado para esse tipo de estudo é o cultural, onde os traços mais importantes e as características mais decisivas deste espírito nacional aparecem. Ele percebe que, nos momentos iniciais, as letras tupiniquins buscavam um traço “nosso” que, ao mesmo tempo, não se afastasse do que estava sendo feito no resto do mundo ocidental.

Para Cândido (2009), foi mais especificamente no século XIX, entre o Arcadismo e o Romantismo, que se formou um sistema literário no Brasil, onde a literatura deixa de ter produções isoladas, para ser praticada como atividade regular, já tendo como referência uma tradição local. No fim do Arcadismo, com o surgimento dos gêneros públicos, em função da efervescência política, teremos o “jornalismo de ensaio”, tendo em Hipólito da Costa sua figura mais representativa, revelando uma reflexão crítica na literatura da realidade nacional. O fervor pelo crescente desejo de superação do estatuto colonial, somado a concepção ilustrada da inteligência a partir da segunda metade do século XVIII, preparou o terreno para o amadurecimento da consciência nacional do período joanino.

Se, na Europa, o Romantismo surge contra a sociedade que nascia do capitalismo industrial, contra a harmonia das formas clássicas, contra o culto da razão, da ciência, do progresso; na periferia do Ocidente, ele nasce no mesmo momento que era preciso criar uma sociedade civil, inventar e recriar tradições, época de grande admiração pelo progresso do mundo civilizado.

No Brasil, o Romantismo foi o estilo que prevaleceu entre 1830 e 1880, ou seja, desde o período da Regência até os primeiros anos da guerra do Paraguai, quando a crise do império já se fazia sentir. A ambiguidade em sua construção nas letras nacionais residia no fato do Romantismo ser análogo à ascensão e apogeu do Segundo Reinado, período de crescentes modernizações; e por outro lado, ele era primeira grande resposta estética da cultura ocidental ao mundo moderno e à sociedade liberal. Um tremendo movimento duplo.

A sociedade e as condições materiais que formaram o romantismo na Europa eram muito diferentes das brasileiras. Aqui, o Romantismo beneficiou-se do processo de formação do estado nacional e de institucionalização do saber; principalmente, da atividade literária. O Romantismo Brasileiro procurar preencher o movimento romântico com os símbolos nacionais, sendo, para MERQUIOR (2002), “o nosso primeiro sistema literário não só dotado de consciência ideológica, como de uma consciência programática da sua brasilidade”. O crítico também afirma:

“Esse período de afirmação nacional necessitava, ao nível da cultura de suas elites, de um complexo mitológico suscetível de celebrar a originalidade da jovem pátria ante a Europa e a ex-metrópole. Nesse ponto, entram em função o exotismo romântico e o gosto pelo passado remoto: a sociedade tribal ameríndia de antes da descoberta era, de fato, a nossa “Idade Média”. O indianismo é, assim, descoberto pelos românticos, como alimento mítico reclamado pela civilização imperial, na adolescência do Brasil Nação. O amparo que o mecenato oficial deu à épica indianista traduz o reconhecimento dessa função ideológica. Além disso, utilizando-se de gêneros menos “nobres” e mais populares do que o repertório neoclássico, a literatura romântica manteve-se permeável à criação folclórica e à subliteratura, isso numa sociedade pouco livresca e escassamente letrada. Por meio dessa “porosidade” cultural, a produção romântica entrou nos costumes e, face aos estilos dos seus sucessores, estava ao alcance intelectualmente pouco elevado d estudantes e sinhás. O enraizar-se do romantismo representou o triunfo da oralidade na literatura: o predomínio da experiência da palavra falada sobre o hábito sistemático da leitura reflexiva”. (MERQUIOR, 1996: p. 80-81). Portanto, há uma dialética político-cultural na formação do romantismo tupiniquim. Se o europeu se erigia contra a homogeneização da sociedade europeia liberal e civilizada, que fazia altares para razão e ciência; na América Latina, ele incentiva que a nação se civilize, ao mesmo tempo em que vai buscar no passado referências para tal obra. Isto cria um significado duplo no romantismo latino-americano, num diálogo entre progresso e tradição, futuro e passado.

O Romantismo na Europa fez da natureza uma idealização do passado, contrapondo, tradição versus autonomia da razão. Na América Latina, a natureza funcionava como uma idealização da futura nação. Era preciso intercalar o futuro da nação, os símbolos da identidade nacional, e o passado colonial.

Ao contrário de outros países da América espanhola, que possuíam uma visão mais negativa a respeito do passado colonial, no Brasil, houve um tertius entre estes dois elementos. Assim, o passado colonial evocaria a grande nação futura. O passado da futura nação funcionava como uma espécie de profecia sagrada, materializada no tempo, prestes a se cumprir, a partir da evocação de seus símbolos.

A defesa das culturas locais do Romantismo combina com a ideia nacionalista. O filósofo romântico alemão Johann Gottfried Herder, era contra a uniformização das luzes iluministas. Ele era antiuniversalista, pois só Deus poderia abarcar a unidade do ser. Por isto, esta unidade apresentava-se materialmente na forma de várias culturas. O Romantismo

nacional possuía uma missão histórica, fruto desta combinação com um momento histórico que vivíamos: a independência da nação. Com esta, veio à necessidade pela busca da autonomia cultural do país, e de tradições que dessem uma identidade ao povo que habitaria a nação recém-soberana. Por isto, podemos dizer que o Romantismo maturou e difundiu a ideia de Brasil.

Com a vinda da família real ao Brasil e com o processo de independência do país, a vida social agitou-se, marcando a literatura por um intenso período de participação na formação da cultura letrada. Acentuando ainda mais o sentimento de que a literatura brasileira deveria ser diferente da portuguesa, ensejando nos nossos escritores a vontade de falar (e talvez, explicar) o país, através de seus romances. Neste sentido, a literatura romântica cumpre um papel na formação da identidade nacional, falando do Brasil indígena, rural, regional.

A nossa literatura tenta superar o sentimento de inferioridade, gerado pela inadequação entre as medidas adotadas de fora (de países europeus com condições sociais, culturais e geográficas bastante diferentes) e a realidade de dentro, um país tropical, mestiço e culturalmente muito diferente; exaltando nossas singularidades, como forma de autoafirmação. O romantismo faz parte deste processo de pretensa negação dos valores portugueses, que, na verdade, encobria certo fascínio e dependência.

Neste sentido, em Literatura e Sociedade, Antônio Cândido (1980) argumenta que a literatura brasileira empenha-se na “pesquisa e descoberta do país”, construindo-o simbolicamente ao mesmo tempo em que, o representava em sua tinta e imaginação. Num país recém-independente, os românticos procuravam mostrar suas tradições próprias, independentes das portuguesas, tentando aprofundar no passado a própria realidade presente, a fim de demonstrar que possuíamos a mesma dignidade nas nossas raízes históricas. Mais do que os outros saberes, a literatura vai exercer, entre nós, papel fundamental na formação do espírito nacional, Cândido argumenta:

“Diferentemente do que se sucede em outro países, a literatura tem sido aqui, mais do que a filosofia e as ciências humanas, o fenômeno central da vida do espírito. (...)

Ante a impossibilidade de formar aqui pensadores, técnicos, filósofos ela preencheu a seu modo a lacuna, criando mitos e padrões que serviram para orientar e dar forma ao pensamento. Veja-se, por exemplo, o significado e a voga do indianismo romântico, que satisfazia tanto às exigências rudimentares do conhecimento (graças a uma etnografia intuitiva e fantasiosa) quanto às da sensibilidade e da

consciência nacional, dando-lhes o índio cavalheiresco como alimento para orgulho e superação das inferioridades sentidas”. (CÂNDIDO, 1980: p.130-132).

Na formulação da identidade nacional seria preciso rever as tradições do nosso povo, recuperando símbolos. Os primeiros poetas românticos manifestaram o desejo de exaltar a natureza, a história, as especificidades, os sentimentos e os costumes nacionais. A terceira geração de poetas românticos, representada pela figura de Castro Alves, irá resgatar as tradições africanas na construção da identidade nacional. Neste momento, o movimento já passava pela influência do abolicionismo, pelas questões sociais, voltando-se para ideia de futuro, e abrindo caminho para o realismo e o naturalismo.

Deste modo, a literatura foi fundamental para formar a consciência nacional e investigar o cotidiano e os problemas brasileiros. Mais do qualquer outra área foi sob sua insígnia que se desenvolveu o espírito da cultura letrada brasileira. Para Cândido (1980), será Machado que condensará a dialética entre o local e o cosmopolita, justamente por ter uma visão histórica da formação da literatura e da ilustração brasileira, aparecendo nos jornais, também, como crítico literário.

Éramos um povo adolescente, querendo tudo negar daquilo que nos foi legado pelos portugueses. Na evocação do passado, tínhamos os elementos diferenciadores, como o índio, o negro, a natureza, o regional; mas faltava a maturidade das permanências. Enquanto uma boa parte da geração de 1870 (o que Machado chamava de “nova geração”) encantavam-se com a ciência e as novas filosofias modernas vindas da Europa, Machado de Assis representava a maturidade das letras nacionais, equilibrando o universal com o local. O que a literatura precisava era de um “sentimento íntimo”, onde o escritor ao mesmo tempo em que está situado no tempo e espaço, mantenha sua universalidade característica. Assim, a literatura nascente só estaria consolidada, quando após o período de autoafirmação, os autores tivessem competência para também tratar temas universais, não se restringindo a temas locais.

Neste contexto, a literatura vai se desenvolvendo no país não só como arte ou estética, mas como política ou politica cultural. A pergunta: “qual literatura?” era sempre prosseguida da pergunta “qual nação?”. Pois esta não havia se criado magicamente a partir do ato mesmo de sua independência, e era preciso criá-la, consolidá-la, dá-lhe lastro. O poder que se cria após a independência não possui a devida legitimidade histórica, baseada nas tradições e costumes, portanto, falta-lhe ser legítimo diante do espírito local, das diversidades regionais.

A literatura constata, junto com a política, que era preciso criar e consolidar a soberania nacional. Neste sentido, no processo de formação de uma cultura letrada, era preciso também evocar os símbolos condensados. Eis um dado de experiência concreta, real e material, que os românticos tiveram que lidar ao erigir suas obrar. Essa experiência histórica irá marcar a formação desta escola no país, e irá marcar o próprio transcorrer de fatos e do imaginário nacional no Brasil.

Quando o Romantismo aporta em terras brasileiras, havia inúmeros problemas de educação no império. A nossa ilustração geralmente era educada no exterior, principalmente na antiga metrópole, Portugal. A formação de uma elite letrada no país, expressando-se de maneira mais homogênea data-se desde Minas Gerais, com o Arcadismo e as revoltas, como a Inconfidência Mineira, por causa das pressões fiscais do estado metropolitano.

A maior influência do Romantismo brasileiro (assim como; o português) vem do francês. Diferente do Romantismo alemão, de quem foi uma imitação vulgar, o Romantismo francês foi inicialmente um promulgador das ideias de liberdade, igualdade e fraternidade, que se espalharam pela Revolução Francesa. Decepcionado com os resultados obtidos pela revolução, como o terror e o bonapartismo, os românticos franceses voltaram-se a crítica ao materialismo da sociedade que vindoura. A segunda geração de românticos foi profundamente marcada pela decepção e pessimismo.

Um dos percussores do Romantismo na França, e um dos mais influentes no Brasil, François-René de Chateaubriand, que acreditava que a ciência não poderia chegar ao coração das pessoas, mas apenas a sua inteligência. Outro romântico muito influente foi Alphonse de Lamartine, que conseguiu um grande destaque na poesia com a obra Meditações Poéticas (1820). Mas, a maior expressão entre os franceses viria logo depois, com Victor Hugo, autor de O Corcunda de Notre Dame e Os miseráveis. Com ele, temas políticos e sociais eram trazidos ao romantismo.

O romantismo francês não tinha tanto teor filosófico, não era baseado na transcendência platônica, e na íntima relação entre contemplação, anamnese, e busca pelo inacessível eterno e infinito, com o romantismo alemão. Na França, ele foi mais maniqueísta, pois tinha gosto pelas simples oposições: ciência e imaginação, razão e coração, cálculo e sonho. E, por isto, foi por vezes, ao contrário do alemão e inglês, radicalmente anticlerical, pessimista, mas também, com facetas mais sociais e políticas. E foi este tipo de romantismo que foi mais

influente no Brasil, num momento de transição do país após a independência. Menos conservador, no sentido anglo-saxão ou alemão, e mais moderno.

Entre 1833 e 1837, um dos fundadores do romantismo entre nós, Gonçalves de Magalhães, morou em Paris, e tomou contato com seus jovens poetas e escritores. Lá, ele viveu a atmosfera conturbada da Restauração e da Monarquia de Julho, e criará uma busca interessante pelo país (Brasil) num outro (França). Para pensar o Brasil era preciso analisar o seu passado colonial. E Gonçalves de Magalhães era francamente hostil aos fatos anteriores da nação. Já em outros românticos, veremos abertura e aceitação de nossa herança. Varnhagen irá dizer que foi positivo para jovem nação ser tutelada em seu passado, e que isto permitiria a realização do país, pela herança e tradição legada.

Em busca desse passado, os românticos criam uma historiografia literária, para dar cabo ao projeto de uma literatura de identidade nacional. Era preciso, então, buscar a independência literária do Brasil, na busca por suas raízes. Desta maneira, o romantismo irá navegar na memória, para descobrir a nação. Pra isto, era preciso buscar a natureza americana, como já tinha sido feito, de certa maneira, por Basílio da Gama e Santa Rita Durão.

Para melhor divulgar suas ideias, um grupo de escritores brasileiros residentes na França decidiu fundar a primeira revista que divulgaria o romantismo brasileiro. A revista se chamava: Niterói, revista brasiliense. Não deixa de ser interessante o fato de ela ser publicada no exterior, por jovens estudantes, objetivando a divulgação de cultura no Brasil.

Esta revista era o campo da primeira geração de românticos, tornando-se sua porta-voz, ao levantar questões fundamentais para a cultura e identidade da jovem nação: nativismo, autonomia literária, renovação estética. Na epígrafe da Niterói, constava: “tudo pelo Brasil, e para o Brasil”. Entre seus escritores estavam Gonçalves de Magalhães, que tinha assistido aulas de Mont’Alverne; Araújo de Porto Alegre; e, Francisco de Sales Torres Homem.

A Niterói teve apenas duas edições. Em geral, a revista tratava de economia política, literatura nacional, com crônicas, poemas e contos. As principais influências que apareciam na revista eram: Madame de Stael, Chataubriand, Constant, Say, Cousin. No primeiro exemplar, trazia um artigo de Gonçalves de Magalhães, Ensaio sobre a história da literatura

no Brasil, onde ele defende a ideia de que os escritores brasileiros guardavam um "instinto

da metrópole, e do instinto nacional que lhe recorria. A tiragem da revista era pequena e a pretensão de sua publicação mensal foi frustrada pela demissão de Gonçalves de Magalhães do cargo que ocupava na legação brasileira na França.

Em 1848, outra revista foi fundada: Minerva Brasiliense. Ela trazia comentários, artigos, e notas bibliográficas, sobre a literatura francesa, grega, e argentina. Entre seus escritores e editores estavam Gonçalves de Magalhães, Torres Homem, Pereira da Silva, Santiago Nunes Ribeiro, Joaquim Norberto Souza e Silva, e Emilio Adet. A revista contava com poemas, romances e contos. A Minerva Brasiliense trazia uma novidade: a preocupação modernizadora. Na introdução do primeiro número, é publicado um artigo de Torres Homem, intitulado Progresso do Século Atual, onde são narrados os avanços no último século no Ocidente, em direção a “perfectibilidade humana”.

Em 1849, irá surgir a revista Guanabara, dirigida por Joaquim Manuel de Macedo, Gonçalves Dias e Araújo de Porto Alegre, que tinha preocupação central com o desenvolvimento moral e intelectual do homem, diferenciando-se das outras pelas preocupações deontológicas e estéticas.

Na Guanabara, aparece pela primeira afastamentos em relação a visão da corte. No texto de Macedo, Costumes campestres do Brasil, aparecem pela primeira vez a preocupação com o interior, lá residindo o país profundo, ao contrário do cosmopolitismo artificial da corte. E Gonçalves Dias, em seu texto Meditação, antecipa a crítica moral à escravidão.

Outra revista criada na época, em 1859, foi: A Revista Popular: noticiosa, scientifica, industrial, historica, litteraria, artistica, biographica, anedoctica, musical. Ela representava uma transição para uma nova mentalidade, menos romântica e mais histórica, econômica, e científica, trazendo várias traduções de fora, e tendo entre seus mais fieis colaboradores: Fernandes Pinheiro e Joaquim Norberto.

Neste período, as obras de Joaquim Norberto de Souza e Silva ajudavam a consolidar a autonomia cultural do país, desbravando o gênero biográfico, ele faz uma antologia dos perfis femininos da nossa literatura de até então, demonstrando a aliança entre o historicismo romântico e o nacionalismo. Os artigos apresentados na Revista Popular foram publicados em 1862, com o título Brasileiras Célebres, analisando personagens, como a índia Paraguaçu, a beata Joana de Gusmão, Marília de Dirceu, dentre outras, que se destacaram “pelos talentos e virtudes como pelos feitos guerreiros”. Joaquim utiliza a literatura para fornecer um mosaico

dos principais acontecimentos da história do país, do descobrimento ao império, para lhe dar um caráter histórico.

Coerentemente ao compromisso firmado com a pátria, desde a juventude, Joaquim Norberto incorpora o índio à história da literatura brasileira, identificando-o com nossa “exuberante natureza”. Neste período, o índio vai sendo incorporado como uma espécie de mito-símbolo do país, dando-lhe um caráter nacional. Ao criar a historiografia literária brasileira, os românticos criaram também a literatura nacional, sua origem, seu sistema, obtendo uma identidade nacional, ao mesmo tempo em que, o império criava o estado nacional.

O indianismo romântico recuperou os símbolos do colonizador épico e do bom selvagem, porém retratados de maneira unívoca, superficial, macaqueando a realidade. No lugar dos símbolos medievais, os românticos indianistas apresentavam os índios como herói nacional, valorizando um pioneirismo no sentimento nacional, um herói épico como o cavaleiro medieval. A respeito de certos artificialismos, Bernardo Ricúpero coloca:

“Mas não é porque o romantismo brasileiro encontra no índio um instrumento para realizar sua principal aspiração, servindo de mito de fundação nacional, que se deva pensar que a imagem do indígena permaneça, ao longo da história, como essência imutável. Talvez os românticos gostassem que pensássemos assim, mas, na verdade, a representação acerca dos ‘primeiros brasileiros’ variou durante o império e continuou a mudar depois da proclamação da República”. (RICUPERO, 2004: p.154).

Na poesia, o indianismo idealizador do nosso romantismo teve sua expressão máxima em Gonçalves Dias, em seu Canção do Tamoio e no poema épico I-Juca-Pirama, narrando o heroísmo e honra do índio, diante da luta e da morte. Outro livro marcante do indianismo romântico, agora em prosa, foi O Guarani de José de Alencar. Se a língua, e outras