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Num de seus primeiros textos de teor filosófico, Realismo e Idealismo, publicado em 23 de maio de 1872, no jornal O Movimento, Romero faz críticas ao positivismo, à metafísica, e ao socialismo. Já crítico dos grandes sistemas, defensor da “verdade atual”, Romero proclama o desaparecimento próximo da religião, e da poesia empolada e metafísica de hoje.

O sergipano afirma também que a ciência é diferente da arte, pois a primeira é uma fábrica organizada, e a segunda possui excentricidade, matéria. Por isto, Sílvio Romero critica o uso do realismo e do idealismo pela poesia. Afirma Romero, que desde Hegel, sabe-se do caráter relativo da verdade, e desde Comte houve sua divulgação. “As ideias absolutas sobre poesia são uma herança da velha metafísica, e absurda como uma tese de astrologia”. Na antiguidade, as coisas tinham uma razão de ser, não havia a racionalidade, a ciência a iluminar, como na civilização complexa.

Entretanto, o ideal é também relativo, não se concebe a priori, depende das ideias que formamos de tudo (contra visão metafísica). O real não deve ser fotógrafo. Reproduzir o que parece certo, real, para as inteligências (variável). As ideias diversas de cada um de nós trarão o ideal, o realismo o que de positivo a ciência for apontando (necessidade). A poesia precisa fazer um consórcio entre o realismo e o idealismo. Só desta maneira, a poesia poderia ser fundada na ciência, sem perder sua excentricidade e criatividade.

Em 1873, Sílvio Romero apresentou sua monografia para finalização do bacharelado em Direito, com o título de Se a economia política é uma ciência, consistindo numa crítica ao espírito doutrinal da Faculdade de Direito do Recife, o que impediria a entrada do bando de ideias novas. A faculdade representava as ideias atrasadas com a autoridade formal do conhecimento.

Antes de se perguntar se a Economia Política era uma ciência, Romero critica a visão lógica ou transcendentalista da ciência, baseada na escolástica, que considerava a ciência contemplativa e verbal. Mudanças dos princípios e das ciências morais. O socialismo, a crítica religiosa, e o positivismo, abalaram os fundamentos da economia política, da teologia, e da metafísica. Eles possuem, como princípio em comum, a imanência e evolução. E como distância: a ordem diversa dos assuntos, e os seus objetivos.

A teologia transcendental é uma ciência impossível, porque a inquirição do sobrenatural não tem base positiva. Mas demonstra também a ciência, ao contrário, que o sentimento

religioso é sempre persistente na alma humana, e este é o único dado positivo possível de dedução. Cabe às luzes da razão, ciência, e moral guiar o novo espírito a partir dos dados positivos. Neste sentido, ele nos afirma que “Quando o crítico toma-se corpo a corpo com a teologia mostra-lhe a origem humana e natural dos dogmas divinos, ele não pretende fazer religião, mas ciência” (ROMERO, 2002: p. 27).

Sílvio Romero afirma que o positivismo acabou, mas deixou boa direção. É ainda superior a ideia de revolução. Uma das vantagens do Positivismo seria a morte da metafísica, a expulsão do absoluto das relações humanas, e a absorção dos fatos positivos. Entra suas desvantagens, estariam: a falsa ideia sobre a vida, a tentativa de parar a marcha do tempo com uma doutrina, o amor pelo sistema, à obstinação em considerar impossível qualquer estudo psicológico.

Dentro deste contexto, Romero vê dificuldades na classificação da economia política como ciência, pois o economista tem que criar o objeto de que se ocupa (gerar e multiplicar riqueza). Portanto, a economia política seria mera discrição? O sergipano enxerga como positivo nesse saber o apriorismo da ordem social. Ou seja, se, por um lado, a economia política cria seu próprio objeto, ela também abre mão de abstrações, e tem como primado a ordem social. Ele afirma:

“Todas as ciências, todas as forças uteis da humanidade, em evolução constante, a vão levando a um próspero estado moral e mesmo material. A parte que aí toca à economia política é muito diminuta. E, ainda quando fosse muito grande, não bastaria para dar-lhe o distintivo da ciência. O economista é um astrônomo que pretende fazer os astros de seu firmamento. Não se contenta com a descrição, a análise e o estudo; como cegos da alquimia, ele intenta fazer o outro” (ROMERO, 2002: p.28).

Romero também critica o socialismo, pois, derrotou a economia clássica, e quis fazer-se ciência (algumas ideias políticas e sociais que lhe alimentam). A economia política não possui bases positivas, mas nasceu por uma necessidade do espírito humano, uma solução prática para os problemas da ordem social, nascendo da vacuidade das doutrinas econômicas. Romero nega que o avanço e as conquistas materiais seja resultado do saber da Economia Política, mas sim, da ciência. O sergipano reflete:

“Não significa isto que a riqueza não esteja também entregue a uma lei natural, e ainda que esta lei não possa um dia ser conhecida”. “O economista dirige-se a um alvo inatingível e trata de um assunto que

lhe escapa; pelo menos que lhe não entra tanto nas mãos que possa por elas ser dirigido” (ROMERO, 2002: p.30).

O maior problema com a Economia Política é que ela permanece – em parte – metafísica. A mobilidade do caráter da riqueza, a divinização do capital amontoado e as condições do progresso humano buscam-se em outra ordem de ideias. A Economia Política, enquanto valorativa e flutuante, impede a ciência, não ocorrendo à demonstração científica. Ainda assim, Romero classifica-a, provisoriamente, entre as ciências que estudam os fenômenos em si mesmos, considerados em seu todo, como a sociologia, a geologia, psicologia, de acordo com a classificação de Spencer.

2.5. A Escola do Recife perante a elite letrada: os intelectuais, a ação humana e as