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O surgimento do rádio, a economia e a construção de um modo de regulação

4 O MODO DE REGULAÇÃO DA RADIODIFUSÃO NA VENEZUELA

4.1 O surgimento do rádio, a economia e a construção de um modo de regulação

O rádio surge na Venezuela em 1924 sob os auspícios da ditadura do general Juan Vicente Gómez41. Naquele ano, foi outorgada a primeira licença especial de autorização, mas, somente em 1926, a Rádio AYRE iniciou oficialmente suas atividades. A iniciativa foi comandada por Roberto Scholtz e Alfredo Moller com o apoio político e econômico do coronel Arturo Santana, chefe da guarda do filho do ditador, que contou com o aval do general Gómez. “No conocemos la forma como Scholtz expuso el proyecto al coronel Santana, más lo cierto fue que éste, consciente de su importancia y dada su situación en el ejército y desde luego en la política, le presta su apoyo y a la vez obtiene otros altamente significativos” (CAMRADIO, 1998, p. 7). Bisbal (1991) explica que a permissão especial, dada pelo general Gómez, com base na Constituição de 1922 e na Lei de Telégrafos e Telefones de 1922, atribuía ao coronel Arturo Santana a faculdade de criar, vender e arrendar na Venezuela aparatos para o serviço de rádio-concerto. Assim, o rádio nasceu fortemente vinculado ao regime ditatorial em vigor. O financiamento era feito seguindo o modelo de rádio club, como foi inicialmente também no Brasil. Cada ouvinte pagava uma taxa de 20 bolívares (Bs.). Apesar dos esforços empreendidos por Sholtz e Moller, a rádio AYRE encerrou suas transmissões em 1928 devido à dificuldade de manter-se economicamente. “Essa licença dada por Gómez marcou o início da conformação de oligopólios privados nas atividades e no controle dos meios radielétricos venezuelanos” (DÍAZ, 2007, s/p).

Já em novembro de 1930, foi criada a rádio Broadcasting Caracas (1-BC)42, inaugurando no país um sistema privado e comercial que, pela primeira vez, disponibilizou uma programação regular. As emissões atingiam a região de Caracas por Amplitude Modulada (AM) e se estendiam até a meia noite. Antonio Paquali (1990) explica que a emissora nasceu no teto de um armazém de um estrangeiro, o “Almacén Americano”, e que os locutores subiam no terraço para fazer a locução. O local pertencia à família de William H. Phelps e era um estabelecimento dedicado a negócios de exportação e importação e venda de mercadorias e frutas, assim como representava

41 Gómez assumiu o poder em 1908, após dar um golpe de Estado que destituiu do governo o general Cipriano

Castro.

comerciantes, produtores e fabricantes estrangeiros no país. “Como puede observarse, la vinculación con otros países es fundamental en sus comienzos” (SALDIVIA; ALGARA, 1988, p. 165). Segundo Díaz (2007), a nova rádio serviria, segundo justificativa apresentada por Phelps ao general Gómez, para difundir anúncios oficiais, transmitir músicas e, principalmente, oferecer os produtos que eram vendidos no Armazém.

Phelps convenció al dictador de los estupendos resultados que en Estados Unidos había conseguido la radio comercial. El estadounidense sirvió de punta de lanza a las trasnacionales de su país, activó una fuerte campaña contra el modelo de desarrollo basado en la agricultura y elaboró mensajes radiales dirigidos a fortalecer el modelo productor y exportador de materias primas y del comercio importador (DÍAZ, 2007, s/p).

Os negócios foram fundamentais para que em 1929 fosse fundado o Sindicato Phelps C.A., grupo empresarial criado para se dedicar ao setor imobiliário e que se tornou posteriormente um dos principais grupos empresariais no âmbito da radiodifusão. Durante os primeiros dez anos, o rádio na Venezuela era exclusivamente comercial e não contava com tipo algum de regulamentação, sendo as licenças concedidas de acordo com os interesses políticos e econômicos do regime gomezcista.

O século XX foi para o país um período de mudanças estruturais do ponto de vista político e econômico. Durante o regime de Vicente Gómez, a Venezuela foi unificada43 e a administração pública centralizada. Além disso, o país passou por um rápido processo de urbanização e desenvolvimento de um mercado nacional, sobretudo após a década de 1920, quando se tornou um importante produtor de petróleo, chegando em 1928 à posição de segundo produtor mundial e principal exportador44. Miguel Lacabana (2006) explica que antes da exportação petroleira, a Venezuela era um país marginal para o capital estrangeiro, com exportações agrícolas (café, cacau e couro) pouco estratégicas e um mercado interno reduzido, uma sociedade paupérrima e imóvel. Segundo Gilberto Maringoni (2004), os fazendeiros e exportadores concentravam a maior parte da riqueza, relegando a maioria da população (85% se encontrava nas zonas rurais) à miséria crônica. “A crise batia às portas, com uma dívida pública equivalente a quatro vezes o orçamento interno nacional” (MARINGONI, 2006, p. 86). Para garantir a repressão, logo ao assumir o poder, Gómez solicitou aos EUA proteção e apoio militar;

43 De acordo com Lucca (2007), a Constituição Nacional de 1909 devolveu à República os vinte estados fixados na

Carta Magna de 1864, reduziu o período presidencial para quatro anos, criou um Conselho de Governo, e eliminou o voto direto.

a contrapartida foi abrir o país ao capital estrangeiro45. Em 1919, a empresa norte-americana Standart Oil recebeu do ditador venezuelano cinco concessões para operar no Lago Maracaibo, uma das regiões petroleiras mais produtivas do país. Assim, encontravam-se no país os dois maiores conglomerados de exploração do petróleo, que disputavam em âmbito internacional a hegemonia da produção. Atendendo a reivindicações das empresas estrangeiras, Gómez implementou a Lei de Hidrocarburantes, assegurando, conforme explica Maringoni (2006), uma estabilidade política, administrativa e fiscal, além de definir critérios para as concessões, royalties e impostos. Por outro lado, o Estado era proprietário exclusivo das jazidas e recebia 15% do total produzido. As concessões eram de três anos. Segundo Oliveira (2009), em 1922 foi elaborada uma nova legislação que ampliou os benefícios das empresas exploradoras, reduzindo o pagamento de royalty para 10% e ampliando as concessões para 40 anos, embora reduzisse a área de concessão para 10 mil hectares.

A implantação do rádio seguiu as determinações autocráticas do governo Gómez. Capriles (1976) explica que, nesse contexto, a imprensa tradicional, até então estritamente política, passa a atuar também de acordo com interesses comerciais. O aumento expressivo de afluxo de capitais e da capacidade de consumo interno tornaram a publicidade um grande negócio. “El Estado se ha convertido rápidamente en uno de los mejores clientes de comerciantes o de los primeros industriales, y esta es una de las razones que van a explicar la actitud del Estado hacia los medios de difusión masiva” (CAPRILES, 1976, p. 80). No campo das comunicações, a preocupação do Estado será dotar o país de infraestruturas destinadas a permitir o desenvolvimento da exploração petroleira, da importação comercial e o desenvolvimento da indústria de construção, setores prioritários para o capital financeiro internacional e a burguesia interna. Assim, a construção de estradas e o desenvolvimento do telégrafo e do telefone foram realizados seguindo os interesses da distribuição de bens, sobretudo os importados, e sem um planejamento econômico de longo prazo.

Seguindo essas diretrizes, em 1930 foi criada a Compañía Anónima Nacional Teléfonos de Venezuela (Cantv). Naquele ano, o então Ministro de Fomento, Gumercindo Torres, outorgou ao comerciante Félix Guerrero uma concessão para construir e explorar uma rede telefônica no

45 A prospecção petroleira começou em 1878 na província de Táchira. Segundo Mariana Oliveira (2009), a história

petroleira do país se iniciou em 1907, no governo do general Cipriano Castro, quando milhares de hectares de terras foram concedidos aos grandes trustes do petróleo. A Royal Dutch Shell, consórcio empresarial britânico-holandês, foi a primeira a chegar ao país. A empresa recebeu uma concessão de 50 anos já que, não havendo legislação específica, Gómez a fez com base na legislação de concessões de petróleo para asfalto (OLIVEIRA, 2009, p. 18).

Distrito Federal e nos demais estados da união. Para fundar a empresa, Guerrero se associou ao também comerciante Manuel Pérez Abascal e ao advogado Alfredo Damirón. No mesmo ano, a Cantv comprou a Compañía de Teléfonos de Maracaibo e a Venezuelan Telephone and Electrical Appliances Company Limited, empresa de capital inglês.

Lacabana (2006) explica que o petróleo alterou substancialmente as relações de poder existentes, uma vez que os setores tradicionais vinculados à agricultura foram perdendo espaço para os setores capitalistas; o Estado assumiu um posicionamento de dono das reservas naturais e captador das inversões internacionais e, através de uma maior distribuição de renda permitida pelos recursos petroleiras, tornou-se eixo estruturador da economia nacional, seguindo os interesses do capital externo. Assim, o Estado assumiu a função de desenvolver a infraestrutura necessária à unificação do país e à expansão do mercado interno, mas sem deixar de reprimir os grupos oposicionistas.

En la medida en que las relaciones capitalistas de producción se volvían dominantes, las relaciones de clase se reordenaron alrededor del Estado. La burguesía extranjera, representada fundamentalmente por el capital petrolero, es la fracción dominante dentro del bloque de poder, pero simultáneamente se conformaban como sectores dominantes: los terratenientes que se enriquecieron tanto por la venta de tierras rurales a las compañías petroleras previo a obtener concesiones para la explotación petrolera en sus tierras, como por la especulación inmobiliaria con tierras urbanas en el marco de la rápida urbanización y concentración de la población en las principales ciudades del país; la burguesía comercial importadora, fuertemente ligada al capital extranjero; y una burocracia política compuesta de altos funcionarios públicos que utilizaron su posición para acumular riqueza, especialmente a través de las concesiones petroleras (LACABANA, 2006, p. 5).

Assim, a burguesia venezuelana nasce diretamente vinculada ao capital petroleiro estrangeiro. De acordo com Oliveira (2009), o país passou a desempenhar um importante papel na divisão imperialista do mundo após a Primeira Guerra Mundial. A definição das políticas públicas seguiu os interesses do capital estrangeiro em detrimento das classes dominantes internas, o que atrasou o desenvolvimento da agroexportação e da indústria venezuelana. O vertiginoso crescimento do consumo, consequência dos recursos petroleiros, significou, na mesma proporção, o aumento das importações. Como afirma Lacabana (2006), foi gerado um padrão de consumo que reproduzia o dos países dominantes, sustentado em uma distribuição de renda concentrada e regressiva, que dava à elite uma alta capacidade de compra dos produtos importados. Em menor escala, esse padrão de consumo também atingiu as camadas menos abastardas, sobretudo os setores médios.

Em 1926, a Venezuela contava com uma população de três milhões de habitantes. Conforme Maringoni (2006), embora tenha havido uma migração de trabalhadores das áreas rurais para os campos petrolíferos, o regime latifundiário não perdeu forças, mas, dominando 80% das terras privadas, conviveu e complementou a nova fonte de riqueza. “A sólida aliança entre as classes dominantes internas – burguesia comercial, bancária e latifundiária – e os monopólios estrangeiros dedicados ao negócio do petróleo, materializada na política de concessões, perdurou até a morte natural do ditador” (MARINGONI, 2006, p. 87). Em dezembro de 1935, Gómez faleceu deixando um modelo de desenvolvimento assentado na indústria petrolífera. Com ele, surgiram novas classes sociais: um proletariado vinculado à produção de petróleo, uma incipiente burguesia industrial, além de pequenos e médios proprietários rurais.

Ano Café e cacau Petróleo e derivados Outros

1910 78% -- 22% 1920 92% 2% 6% 1930 15% 83% 2% 1940 4% 94% 2% 1950 3% 96% 1% 1960 2% 90% 2%

Quadro 2: Evolução da composição das exportações venezuelanas Fonte: BARROS, 2007, p. 66. apud FIGUEROA, 1974, p. 65.

No mesmo mês, contrariando os interesses de alguns membros da família de Gómez, o Gabinete Executivo designou o Ministro de Guerra e Marinha, Eleázar Lopes Contreras para assumir o Poder Executivo até o fim do período presidencial46, em 1936. Segundo Maringoni (2006), o novo presidente assumiu o poder em um processo de decadência de uma economia agrícola, em que a maioria da população encontrava-se numa situação de miséria extremada, ampliada pelas conseqüências da crise internacional de 1929. Por outro lado, as estruturas sociais do país haviam se tornado mais complexas, com a urbanização e o surgimento de uma reduzida classe trabalhadora, que começava a se organizar. “Um fenômeno novo se apresenta diante do poder de Estado: o movimento de massas. Mesmo assim, a intenção de parte das classes dominantes era prolongar a ditadura gomezista sem seu patrono” (Idem, p. 90). Nesse período,

46 Em 1936, Contrera realizou uma reforma constitucional, aprovada pelo Congresso Nacional, que reduzia o período

presidencial de sete para cinco anos. O presidente outorgou-se o direito de ficar no poder até o fim do novo mandato, em 1941.

surgiram os primeiros movimentos políticos. Apareceu o Partido Comunista da Venezuela (PCV), fundado clandestinamente em 1931 e, em 1936, foram criadas a União Nacional Estudantil (UNE) e a Organização Venezuelana (Orve). Diante do avanço político dessas organizações, em 1937, o presidente declarou ilegal qualquer atividade política de esquerda.

O modelo de regulação das comunicações gestado naqueles anos era essencialmente liberalizante e determinado pela forma de governo autocrática engendrada pela classe dominante interna, vinculada ao capital petroleiro internacional. Em 1936, López Contreras criou o Ministério das Comunicações. Capriles (1976) explica que a política estatal era de não agressão aos interesses dos meios de comunicação e uma relação de favores mútuos. Em troca do silêncio e de uma incondicional solidariedade dos meios com as opiniões governamentais, era aceita a violação das escassas legislações. No mesmo ano, o Executivo criou a Radio Nacional Difusora de Venezuela (RNDV), que, operando do alto do Teatro Nacional, assumiu a função de difundir as cerimônias públicas e atos oficias do governo. Pasquali (1991) salienta que, nos seus primeiros 30 anos, a rádio era nacional só no nome, pois atingia apenas a região de Caracas. Ainda que de forma tímida, o rádio tornou-se uma das principais estruturas organizadoras da cultura venezuelana naquele período, difundindo os gostos e as práticas de consumo da burguesia, estruturalmente vinculada ao capital internacional. “Desde sus comienzos, la radio logró imponerse en la mente de todos como una actividad comercial más que, aun difundiendo ideas, constumbres y tipos de comportamiento, nada tenía que ver con los problemas de la cultura e del desarrollo nacional” (PASQUALI, 1990, p. 224). A lógica de desenvolvimento do rádio nos seus primeiros anos era de “intimismo à sombra do poder”. Como explica Coutinho (2005), sob essa condição, o intelectual cooptado não necessariamente é um apologeta do regime social; ele pode em sua expressão cultural manifestar sua intimidade e subjetividade criadora, mas sem que ela ponha em discussão as relações sociais de poder vigentes, com as quais estão comprometidos, optando por manifestações “neutras” e assépticas. De acordo com Luz Neira (2008), em 1940, existiam no país 13 estações de rádio (AM), número que passou para 50 ao final da década seguinte.

Em 29 de junho de 1940, foi promulgada a Lei Orgânica de Telecomunicações que reconhecia a radiodifusão como um serviço público e dava ao Estado o direito de regulamentá-la. Em 5 de março de 1941, faltando pouco mais de um mês para deixar o poder, López Contreras

sancionou o Regulamento de Radiocomunicações. A legislação dava ao Estado o monopólio sobre os chamados serviços radioelétricos.

Artículo 2o. Los servicios radioeléctricos son de la exclusiva competencia del Estado y sólo excepcionalmente se concederá permiso para establecer servicios de esta índole a particulares cuando a juicio del Ejecutivo Federal hubiere razones para ello y siempre cumplan estrictamente las disposiciones de la Ley de Telecomunicaciones, los convenios suscritos por la Nación, las dispociones contenidas en este Reglamento y las que dicte el Ministerio a cuyo cargo estén las radiocomunicaciones de la República (VENEZUELA, 1941, 447).

Contudo, o artigo 41 previa que as estações de radiodifusão podiam ser exploradas com fins comerciais. Nesse caso, a permissão seria feita somente quando “justificada”, tendo um caráter precário. A duração seria de um ano, renovável pelo mesmo período se cumpridos os preceitos legais. No caso das estações de radiodifusão47, a permissão seria de cinco anos, também renováveis por igual período. O fato é que o Regulamento não alterou os padrões de implantação do rádio (CAPRILES, 1976; PASQUALI, 1990), que seguiu tendo um caráter estritamente privatista e comercial, conforme os interesses da burguesia nascente. Por outro lado, a legislação previa o direito do Estado de fiscalizar as emissões, não podendo essas incitar à rebelião e ao desrespeito às leis, instituições e autoridades; subverter a ordem social ou ter conteúdo político quando envolvesse debates polêmicos de pessoas ou partidos (art. 53), cabendo ao Executivo Federal impedir ou proibir tais polêmicas por rádio (art. 57). Assim, ainda que não tenha representado mudanças no modelo de implantação do rádio, a legislação abria oficialmente a possibilidade do Estado intervir na programação quando ela contrariasse a “ordem social”.

De acordo com Oswaldo Capriles (1976), da mesma maneira como o Estado diante do surgimento do petróleo fez uso das leis de minas para assegurar a propriedade sobre o subsolo e assim ceder mais facilmente essa propriedade, “em uma quase venda” aos monopólios estrangeiros, tornando-se um simples distribuidor de sua renda em favor das classes dominantes, assim fez também com a radiodifusão, abrindo mão de uma legislação que estabelece a necessidade de elaboração de políticas de comunicação.

Consecuentemente con la función que le había sido asignada desde Gómez, el Estado post-Gomecista de su sucessor y los subsiguientes gobiernos comienzan a otorgar concesiones que, no solamente no resultaron precarias, sino que se convitieron en ‘derecho adquirido’ insolentemente alegado en inumerables oportunidades. Asi como la

47 O Regulamento diferencia Estação de Radiodifusão e Estação de Televisão, ainda que não houvesse chegado esse

serviço no país. A primeira era considera como a difusão de emissões radiotelefônicas destinadas ao público em geral; já a outra, era definida como a emissão para a visão à distância, de seres ou objetos. O artigo 107 do Regulamento afirma que não serão outorgadas permissões para o serviço de radiotelevisão até que o Executivo Federal regulamentasse esse tipo de serviço.

renta petrolera estatal alimentó para siempre las arcas privadas y de la misma manera como la propriedad pública había alimentado tradicionalmente los recursos de tierras de los grandes latifundistas, aí también la radiodifusión pasará a ser un coto reservado de la iniciativa privada (CAPRILES, 1976, p. 92).

Lacabana (2006) explica que paulatinamente houve um processo de fortalecimento e diversificação do capital local. O crescimento urbano, a necessidade de habitação, a valorização e especulação das terras urbanas, a implementação dos serviços públicos e construção de obras públicas, sobretudo de infra-estrutura, como uma das principais medidas de gastos fiscais, subsidiam o aparecimento de uma fração burguesa ligada à atividade da construção e da especulação urbana. Os lucros desse setor não somente retornam sobre ele mesmo, como também são direcionados para a indústria e o comércio, onde aqueles empresários também têm interesses, gerando assim um setor dominante que se torna cada vez mais monopólico. O processo de acumulação empresarial, uma maior circulação do capital, e o consequente crescimento da capacidade de investimento da população permitem o fortalecimento do setor bancário.

Mientras que el sector tradicional de la burguesía ligado al comercio importador y a la propiedad de la tierra va siendo desplazado desde mediados de los cuarenta será alrededor de las actividades de construcción y sus anexos de producción y comercialización de materiales para la construcción, así como de la actividad bancaria, que se fortalecerán los sectores clave de la burguesía venezolana con el apoyo del Estado, especialmente los peculiares grupos comercial-industriales (LACABANA, 2006, p. 6).

O rádio teve um papel substancial nesse processo de mudanças econômicas, uma vez que era o único meio de atingir um grande número de pessoas ao mesmo tempo de forma rápida. Nesse sentido, para Pasquali (1990), o Estado venezuelano permitiu desde o começo que o rádio fosse explorado integralmente pela lógica da livre empresa. Segundo o autor, as antenas de retransmissão se espalharam pelo país seguindo uma lei de crescimento estabelecida pela pura razão utilitarista e mercantil das áreas com maior capacidade de consumo. Ou seja, as rádios eram implantadas de acordo com a capacidade de consumo de cada região. “La población del país recibió, pues, servicios radiofónicos no en función de sus necesidades sociales, culturales o de bien común, sino en rázon directa de su rentabilidad” (PASQUALI, 1990, 224).

O processo de fortalecimento de uma classe dominante interna e o surgimento do proletariado alteraram as relações do Estado com o capital estrangeiro. Surpreendendo grande parte da população, o governo de Medina Angarita48 adotou medidas que beneficiavam os antigos setores agrários em detrimento dos interesses dos EUA e de seus aliados, os latifundiários, donos

48 Ministro de Guerra e Marinha da gestão López Contreras, Angarita foi eleito pelo Congresso Nacional em 1941