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O Uso da força na Idade Contemporânea até os dias atuais

CAPÍTULO 1 O USO DA FORÇA E SUA REGULAMENTAÇÃO

1.1. EVOLUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO USO DA FORÇA

1.1.3. O Uso da força na Idade Contemporânea até os dias atuais

A revolução industrial ocorrida a partir da metade do século XVIII, inicialmente na Inglaterra, foi um dos fatores determinantes para a crise do Antigo Regime e para o estabelecimento definitivo do modo de produção capitalista. Porém, no século XIX, a revolução expandiu-se pela Europa: a Bélgica iniciou sua industrialização a partir 1830; a França por volta de 1850; a Alemanha e Itália após suas respectivas unificação em 1870; o

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WATSON, op. cit, p. 275.

51

Ibid., p. 283.

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Japão na era Meiji (1868-1912) e os EUA (nordeste), após a Guerra de Secessão (1861- 1865).

A doutrina burguesa estava assentada no liberalismo, cuja origem reporta-se ao iluminismo, e este movimento, por sua vez, está relacionado com a Revolução científica do século XVII (racionalismo) e com a Revolução Inglesa (Gloriosa-1688) do mesmo século, de caráter liberal. O iluminismo pode ser entendido como o ápice do movimento renascentista do século XVI.

Como principais características do iluminismo destacam-se: a defesa da liberdade individual, da propriedade privada, da lei da oferta e da procura, da liberdade contratual, da concorrência, da divisão dos poderes, da representatividade limitada, da participação, através de eleições e da constitucionalidade.

Critica-se o direito divino do rei, a intervenção do mesmo na economia, os resquícios feudais e o Estado absolutista. Assim, o Iluminismo abria caminho para o movimento revolucionário burguês, uma vez que suas idéias, à medida que criticavam o Antigo Regime, coincidiam com os interesses da burguesia na tomada do poder político, por meio da Revolução Francesa (1789-1799).

No mês de agosto de 1789, a Assembléia Constituinte cancelou todos os direitos feudais que existiam e promulgou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Este importante documento trazia significativos avanços sociais, garantindo direitos iguais aos cidadãos, além de maior participação política para o povo. Hobsbawm ao discorrer sobre a  Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão aduz:

Este documento é um manifesto contra a sociedade hierárquica de privilégios nobres, mas não um manifesto a favor de uma sociedade democrática e igualitária. ‘Os homens nascem e vivem livres e iguais perante as leis’, dizia seu primeiro artigo; mas ela também prevê a existência de distinções sociais, ainda que ‘somente no terreno da utilidade comum’. A propriedade privada era um direito natural, sagrado, inalienável e inviolável53.

A questão sobre o uso da força ganhou relevo com a Constituição francesa de 1793 que proibia a guerra de agressão. Com a queda de Napoleão, é restaurada no Congresso de Viena de 1815, a política do equilíbrio de poder, abalada pela investida burguesa da revolução. Em decorrência do Congresso de Viena atentou-se para que outros meios sejam utilizados para a solução de controvérsias, sem a utilização do uso da força.

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Entre 1815 a 1854 a balança do poder e a paz na Europa foram preservadas pelo Concerto Europeu, um sistema de consultas recíprocas e conferências internacionais entre as principais potências européias (Grã-Bretanha, França, Rússia, Áustria e Prússia) para manter os acordos do Congresso Viena e definir os ajustes necessários.

Assim, o Concerto Europeu foi caracterizado pelo acordo das cinco maiores potências em exercerem uma hegemonia temperada pelo equilíbrio do poder. Todavia, em um segundo momento tal autoridade coletiva foi afrouxada pelas forças da mudança e pelo desejo nacionalista de independência plena, e guerras de menor expressão ocorreram entre as cinco potências mais fortes.54

Dentre essas guerras mais localizadas e de menor expressão podem ser citadas: a Guerra da Criméia (1854-1856), quando a Rússia foi impedida pela Grã-Bretanha e França de conquistar partes do Império Turco Otomano; as Guerras da Unificação Italiana, quando a Áustria foi derrotada primeiro pela França e Piemonte (1859-1860) e depois pela Itália e Prússia (1866); e as Guerras da Unificação Alemã (1864-1871), quando a Prússia venceu sucessivamente a Dinamarca, a Áustria e a França.

Essas guerras destruíram parte da ordem internacional européia estabelecida pelo Congresso de Viena e resultaram na ascensão de duas novas grandes potências, quais sejam, a Itália e, notadamente, a Alemanha. A partir daí, o equilíbrio do poder foi transformado substancialmente, embora não eliminado. O seu ideal sobreviveu e foram organizadas conferências internacionais para resolver crises diplomáticas ou evitá-las como em 1878 (em torno de um novo conflito entre a Rússia e o Império Otomano), em 1884 (discussão da partilha de territórios africanos) e em 1906 (sobre o futuro do Marrocos).

A guerra ainda era tratada como um tema restrito à moral ou à política, excluída da apreciação do direito. Ela era vista não apenas como um meio de transformação e imposição de mudanças para a sociedade internacional, mas também como um modo de conseguir uma recompensa pelos danos sofridos, à falta de um sistema internacional organizado que provesse tais sanções.55

A Primeira Guerra Mundial (1914-18) ocorreu em um período de prosperidade científica e cultural (“belle epoque”). Porém, havia uma tensão oculta, uma corrida armamentista por parte das potências imperialistas, que visavam à hegemonia mundial, tornando o velho continente em um verdadeiro campo militar. A esse cenário denominou-se de paz armada.

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WATSON, op. cit., p. 356.

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Sobretudo, a partir da Conferência de Berlim (1884-1885), a África e a Ásia passaram a ser vítimas de um avassalador imperialismo por parte das potências mundiais, que freqüentemente encontravam-se em conflito devido a várias pendências territoriais nestas colônias.

A Conferência de Berlim realizada entre 15 de Novembro de 1884 e 26 de fevereiro de 1885 teve como objetivo organizar, na forma de regras, a ocupação de África pelas potências coloniais e resultou numa divisão que não respeitou, nem a história, nem as relações étnicas e mesmo familiares dos povos do Continente. A Alemanha, sobretudo a partir do século XX, exigia uma nova divisão colonial, que lhe assegurasse um império, condizente com sua grandeza econômica e militar.

Todavia, outro fator também contribuiu para a desagregação do quadro político mundial: as minorias européias (sérvios, croatas, poloneses, eslovenos, irlandeses, entre outros), baseando-se no exemplo da unificação alemã e italiana, passaram a exigir soberania em relação aos países dos quais faziam parte, sobretudo do Império Turco e do Império Austro-Húngaro. Portanto, os impasses criados pelo jogo capitalista, pelo imperialismo e pelo nacionalismo levaram o mundo à Primeira Guerra Mundial em 1914.

A eclosão da guerra ocorreu por vários motivos hegemônicos e econômicos: o imperialismo, que gerou rivalidades entre as potências européias pelos territórios na África e Ásia; o rompimento do equilíbrio europeu, após as unificações, principalmente alemã; o revanchismo francês, uma vez que a França queria recuperar a rica região de Alsácia-Lorena, perdida durante o processo de unificação alemã; a questão marroquina; o conflito anglo- germânico, devido à Alemanha pretender construir a ferrovia Berlim-Bagdá, que a levaria ao centro petrolífero do golfo Pérsico, até então dominados pelos ingleses; o conflito russo- germânico, já que essa mesma ferrovia deixaria os estreitos de Bósforo e Dardanelos sob domínio alemão; os nacionalismos exaltados que criariam as questões balcânicas; a Sérvia queria anexar países eslavos ao seu território, formando a Grande Sérvia, apoiada pela Rússia que defendia o pan eslavismo, ou seja, a união dos povos eslavos; o pan germanismo, ou seja,

a união dos povos germânicos, liderados pela Alemanha; o Império Austro-Húngaro e o Império Turco-Otomano por sua vez, opunham-se à essa política russa, pois dominavam vários povos de origem eslava, que acabariam por buscar suas independências.

Percebe-se que os motivos ensejadores da Primeira Grande Guerra foram políticos e, sobretudo, econômicos, uma vez que as potências desejavam obter o controle de locais estratégicos e ricos para expandirem sua hegemonia. Tantos interesses contrários acabaram por ruir definitivamente a paz européia.

No final da guerra foram assinados os tratados de paz, através dos 14 pontos de Wilson, presidente norte americano. O Império Áustro-Húngaro foi desmembrado e dividido em cinco países: Áustria, Hungria, Polônia, Tchecoeslováquia, Iugoslávia, segundo o Tratado

Saint Germain. À Alemanha foi imposto o humilhante tratado de Versalhes no qual o país

perdia a região da Alsácia-Lorena, as suas colônias, a sua marinha e sua força de guerra; foi ainda obrigada a se desmilitarizar (seu exército foi reduzido para um máximo de cem mil homens), além de pagar indenizações à vários países. Essa situação levou a Alemanha passar por uma crise nacional, chegando a possuir uma altíssima inflação em 1923.

As principais conseqüências da guerra foram: milhares de mortos, a destruição européia, o caos alemão, o crescimento acelerado dos EUA e Japão, a difusão do socialismo, a desagregação do Império Áustro-Húngaro e Turco otomano, a depressão econômica de 1929, ascensão dos regimes totalitários e a criação da Liga das Nações (1920). As despesas bélicas não apresentavam termos de comparação com as das guerras precedentes e as devastações sofridas pelos países, cujos territórios foram destruídos pelas operações militares ou pela campanha submarina, alcançaram números vertiginosos. Estima-se cerca de treze milhões de mortos e vinte milhões de feridos56.

Gradativamente, a opinião pública torna-se mais crítica e preocupada em relação à guerra, que se tornava repulsiva e impopular. A criação da Sociedade das Nações Unidas completa a transformação do instituto da guerra, tornando-o matéria de debate público por excelência. O conceito jurídico de guerra era algo indeterminado, a ponto de muitos Estados não terem admitido a existência de um estado de guerra, não obstante a presença do uso de forças armadas. Em decorrência disso em 1927, o Secretário da Sociedade das Nações, acerca da existência do estado de guerra entre dois Estados, afirma que o mesmo “depende de suas intenções e não da natureza de seus atos.” 57

A Liga das Nações Unidas foi formada entre as potências mundiais, cujas relações internacionais passariam a ser reguladas por meio de regras comuns de Direito Internacional, sendo que seus membros se comprometeriam a tomar medidas para assegurar suas intenções pacíficas, dentre elas a arbitragem, instituída pelos artigos 12, 13 e 15 do Pacto.

Todavia, a Liga das Nações não conseguiu tornar-se eficiente: o Tratado de Paz de Versalhes entre a Rússia e a Alemanha não foi concluído e suas relações com a Liga foram sempre tensas. O Japão entrou em Guerra contra a Manchúria, a Rússia foi expulsa por ter entrado em guerra contra a Finlândia, a França e a Grã Bretanha se recusavam a configurar

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CROUZET, Maurice. História geral das civilizações. v 15, p. 45.

57 Ibid.

suas políticas exteriores conforme o pactuado no acordo, a União Soviética não fazia parte do acordo e, sobretudo o senado norte americano recusou-se a ratificar o acordo da Liga.

Contudo, o Pacto das Nações Unidas representou a preocupação política da comunidade internacional no tocante aos impactos devastadores da guerra, sem grandes pretensões de natureza jurídica. Nesse sentido, o artigo 11 do Pacto, transforma a guerra em tema de interesse e importância para todos os Estados, uma vez que o rompimento da paz não traz conseqüências apenas para os países participantes da mesma, mas sim para toda a comunidade internacional.58

Uma das conquistas mais significativas desses esforços para a construção da paz foi o Pacto Kellogg-Briand de 1928. Trata-se de um acordo internacional, fruto de negociações bilaterais, notadamente, entre EUA e França, desvinculado, portanto, da Sociedade das Nações, mas cujo objetivo era abolir ao máximo a guerra, somente justificada nos casos extremos de autodefesa, formando, dentro do sistema internacional, a opinio juris de que a guerra era ilegal.

O Pacto Kellogg-Briand, também conhecido como Pacto de Paris ou Tratado Geral de Renúncia à Guerra, recebeu o nome do Secretário de Estado estadunidense Frank B. Kellogg e do Ministro francês das Relações Exteriores Aristide Briand. Referido pacto foi inicialmente firmado por quinze países e acabou sendo ratificado por sessenta e dois. O senado norte americano, todavia, o ratificou, ressaltando que qualquer interferência européia no hemisfério ocidental seria considerada uma ameaça a segurança dos Estados Unidos, consoante com a Doutrina Monroe.59

Após o Pacto de Paris até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, vários tratados bilaterais de amizade e não agressão foram celebrados pelos Estados, renunciando ao direito de guerra de agressão ou à conquista de territórios por meio do uso da força. Todavia, dada a fragilidade política e jurídica do Pacto das Nações e a ausência de um sistema de segurança coletiva, a comunidade internacional presenciaria uma guerra mundial de proporções ainda maiores em relação à anterior, tomada pela maior parte dos Estados que nela tomaram parte, como uma guerra de defesa coletiva da sociedade internacional contra uma agressão injusta e ilegal.60

A Segunda Guerra Mundial deixou um custo material superior a um bilhão e trezentos milhões de dólares, mais de trinta milhões de feridos, mais de cinqüenta milhões de mortos e

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HUCK, op. cit., p. 73-4. 59

A Doutrina Monroe (1823), “A América para os americanos”, corporificou politicamente a expansão econômica internacional dos Estados Unidos, fundamental para a expansão do capitalismo no país.

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outras perdas incalculáveis. A União Soviética perdeu mais de vinte milhões de habitantes, a Alemanha cinco milhões e meio, o Japão um milhão e meio e cerca de cinco milhões de judeus foram mortos, grande parte nos campos de concentração nazistas.

(...) Antes de serem instituições penais ou fábricas de cadáveres, o Gulag soviético e o Lager nazista foram gigantescas máquinas de despersonalização de seres humanos. Ao dar entrada num campo de concentração nazista, o prisioneiro não perdia apenas a liberdade e a comunicação com o mundo exterior. Não era, tão-só, despojado de todos os seus haveres: as roupas, os objetos pessoais, os cabelos, as próteses dentárias. Ele era, sobretudo, esvaziado do próprio ser, da sua personalidade, com a substituição altamente simbólica do nome por número, freqüentemente gravado no corpo, como se fora a marca de propriedade de um gado. O prisioneiro já não se reconhecia como ser humano, dotado de razão e sentimentos: todas as suas energias concentravam-se na luta contra a fome, a dor e a exaustão. E nesse esforço puramente animal, tudo era permitido: o furto da comida dos outros prisioneiros, a delação, a prostituição, a bajulação sórdida, o pisoteamento dos mais fracos61.

Após esse saldo devastador, a carta das Nações Unidas foi redigida pelos representantes de cinqüenta países, reunidos em São Francisco (EUA) entre 25 de abril e 26 de junho de 1945. A Organização das Nações Unidas (ONU) passou a existir oficialmente no dia 24 de outubro de 1945, com o escopo de manter a paz e a segurança internacionais e de desenvolver a cooperação entre os povos na busca de soluções dos problemas econômicos, sociais, culturais e humanitários, promovendo o respeito aos direito humanos e às liberdades fundamentais.

Embora fundamentada na igualdade soberana de todos os membros, a forma como a ONU foi estruturada, como adiante será analisada pormenorizadamente, impôs a supremacia das grandes potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial, uma vez que o Conselho de Segurança, órgão responsável pela questão da paz e da segurança internacionais, é composto por cinco membros permanentes (EUA, antiga URSS e atual Rússia, Franca, Inglaterra e China) que possuem direito a veto, ou seja, a prerrogativa de impugnar qualquer decisão do Conselho.

Ideologicamente, o mundo pós Segunda mundial ficou bipolarizado entre EUA, liderando o bloco capitalista e URSS, liderando o bloco socialista. A Europa, sendo o palco da

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COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 22- 3.

guerra, estava totalmente destruída, portanto, o perigo do avanço do socialismo naquela região fazia-se presente, assim como no Japão, após o ataque nuclear em Hiroxima e Nagasaki.

A guerra fria desenvolveu-se em um cenário de incerteza e insegurança em relação a uma possível guerra nuclear, desembocando em uma Terceira Guerra Mundial com conseqüências devastadoras para toda a humanidade. Inicia-se então uma guerra não declarada entre as duas potências (EUA e URSS) que visavam à hegemonia mundial, através da tentativa de manter o resto dos países sob suas áreas de influência.

Tal objetivo desencadeou uma corrida armamentista, o que fez com que o poderio bélico dessas potências se tornasse assustadores, capazes de provocar o fim do mundo. Esse cenário denominado de guerra fria foi oficializado com a doutrina Truman, em 194762. O eventual confronto nuclear permanente baseado na suposição de que só o medo da destruição mútua inevitável (Mutually Assured Destruction - MAD) impediria de dar o sempre pronto sinal para o planejado suicídio da civilização, embora não tenha ocorrido, por cerca de quarenta anos pareceu uma possibilidade diária.63

As duas organizações militares criadas foram a OTAN liderada pelos EUA, em 1949 e o Pacto de Varsóvia, liderado pela URSS, em 1955. Assim, a guerra que não existiu diretamente entre as potências se fez presente em outras partes do mundo. O recurso a força foi excluído do centro para fora e de cima para baixo, longe da aniquilação nuclear e rumo aos “conflitos de baixa intensidade” e das operações de guerrilha.

Em 1950-53, a Coréia passava por uma guerra que resultou na formação da Coréia do norte, socialista, e na Coréia do sul, capitalista. A China sob a liderança de Mao Tsé Tung passava por uma revolução, em 1949, formando a China Popular, comunista, e Formosa, capitalista. O Vietnã que após sua independência, em 1955, tornou-se socialista com a liderança de Ho Chimin atravessou uma guerra (1960-75) na qual saiu vitorioso frente aos EUA, que insistiram em manter a guerra até as últimas conseqüências.

É nesse contexto que se inicia a descolonização africana. Como as metrópoles européias estavam enfraquecidas com a guerra, o processo de independência dos países africanos em relação aos países europeus tornou-se viável, à medida que dispunham do apoio dos EUA ou da URSS interessados em aumentar suas áreas de influência.

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O presidente norte americano, Harry Truman, em um discurso no Congresso, afirmou que os EUA se posicionariam a favor das nações livres que desejassem resistir as tentações da dominação, tendo como meta o combate ao comunismo e à influencia da URSS.

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HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 224.

No Oriente Médio era criado, em 1948, o Estado de Israel, reunindo os judeus que após a diáspora estavam espalhados pelo mundo. Porém, como lá já habitavam os árabes palestinos, tornaram-se inevitáveis os choques entre esses povos. As guerras que se sucederam foram: a guerra de independência de Israel (1948), a guerra dos Seis Dias (1967), a guerra Yam Kippur (1973). Em 1979 foram assinados os acordos de paz de Camp David no qual Israel devolve ao Egito o Sinai, perdido na guerra dos seis dias. Em 1982, Israel ocupou o sul do Líbano, atualmente área de atuação do Hezbollah. Em 1993, foram assinados novos acordos de paz (acordos de Oslo) entre a Organização para Libertação da Palestina (OLP) e Israel que entregou a faixa de Gaza e Jericó, na Cisjordânia à Palestina, sendo que essa questão é alvo de discórdia e conflitos armados até os dias atuais.

Na América Latina floresceram as ditaduras militares com a intervenção indireta ou direta norte americana, através da política do big stick. Porém, Cuba a partir de 1959, tornou- se socialista, tendo forte apoio da URSS, o que provocou a crise dos mísseis, em 1962. Outro país que se tornou socialista foi a Nicarágua, mas foi combatida pelos contras que contavam com apoio norte americano até 1990.

Com queda do muro de Berlim, em 1989, e com o fim da URSS, estava findada a guerra fria, dando origem à multipolarização mundial, com a ascensão de novas potências que passaram, cada vez mais, a se unirem em blocos regionais econômicos para poderem disputar as áreas de influências do espaço mundial, com o desenvolvimento da globalização. Segundo Habermas:

A Guerra Fria é continuada pelos meios da historiografia ainda hoje, sendo indiferente se o fio da argumentação provém do desafio da união Soviética ao Ocidente capitalista (Eric Hobsbawm), ou da luta do Ocidente Liberal contra os regimes totalitários (François Furet). Ambas as interpretações explicam de um modo ou de outro o fato de os Estados Unidos terem saído de duas guerras mundiais reforçados do ponto de vista econômico, político e cultural64 e de terem sobrevivido ao fim da Guerra Fria como a única grande potência. Esse resultado atribuiu ao século XX o nome de ‘americano’.65

Todavia, os lados perversos da globalização manifestavam-se por meio da crescente desigualdade social e da concentração de riquezas que separava de forma progressiva os países mais fortes dos mais fracos. Assim, paralelamente aos benefícios que o avanço da

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O triunfo da cultura se estadunidense inicia e se consolida a partir de 1945, portanto já anteriormente ao atual processo de globalização.