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CAPÍTULO 1 O USO DA FORÇA E SUA REGULAMENTAÇÃO

1.3. REALISMO CLÁSSICO, REALISMO NEOCLÁSSICO E NEO-REALISMO

O tema da guerra sempre gerou um assunto a ser debatido e refletido em vários campos, dada a sua importância e as conseqüências advindas da sua prática. Até o momento procurou-se abordar, no campo do direito, as principais contribuições de pensadores ao tema para que se possa ter uma base teórica para as questões atuais, notadamente a partir da criação da ONU. No entanto, sem fugir do propósito do trabalho, necessário se faz o estudo, ainda que sucinto, do realismo, uma das escolas estudadas pelas Relações Internacionais, visto que para essa escola, a guerra é considerada um elemento chave na relação entre os Estados.

Para se ter uma noção do conceito tradicional de realismo clássico, necessário ter como base as seguintes premissas126:

(i) uma visão pessimista de natureza humana;

(ii) uma convicção de que as relações internacionais são necessariamente conflituosas e os conflitos internacionais, são em última analise resolvidos por meio da guerra;

(iii) apreciação pelos valores da segurança nacional e da sobrevivência estatal;

(iv) um ceticismo básico em relação à existência de progresso comparável ao da vida política nacional no contexto internacional.

Nessa concepção, a característica essencial gira em torno da ideia de que todos os homens anseiam pelo poder, independentemente do local e contexto histórico que estejam situados. É da natureza humana a competitividade que faz com que haja uma incessante busca pela ascensão hegemônica de uns em detrimento de outros.

A própria estória da humanidade está repleta de exemplos de civilizações, império, Estados, que fortalecidos em determinado contexto, desejaram se sobrepujar em relação aos demais, subjugando-os, na mais variadas formas (política, social, econômica, cultural, ideológica). Inúmeras são as guerras travadas ao longo da estória, desenvolvendo-se em novos contornos, conforme a sociedade internacional evolui, ou melhor, nesse aspecto, retrocede.

O próprio desenvolvimento da humanidade levou, evidentemente, a um maior intercâmbio entre as diversas “civilizações”, gerando a dominação e/ou a assimilação das mais fortes em relação às mais fracos. Quando se caracteriza uma determinada nação como “mais forte”, estar-se-á focando em dois critérios básicos, quais sejam: o político-militar e o econômico.

126

Desta afirmação se depreende o fato de que é marca indelével da estória mundial a predominância política de grupos que conseguiram empreender um forte sentido organizacional politicamente, tanto na área administrativa, quanto militar, e que encontraram formas eficazes de acumular riquezas.

Na Idade Antiga, marcada pelo mais puro ideal “hobbesiano”, as civilizações “vencedoras” em seus respectivos ciclos de dominação foram aquelas que encontraram, em um dado momento, formas inovadoras de organização administrativa interna, de captação de recursos financeiros e de se obter conquistas militares significativas.

Fatores políticos e decisões pessoais de governantes evidentemente influenciam o destino de povos inteiros, todavia são aspectos econômicos que levam as maiores modificações do cenário global, inclusive influindo na vontade política das classes dirigentes dos Estados nacionais.

Nos sistemas de Estados há uma tensão inevitável entre o desejo de ordem e o desejo de independência. A ordem estabelece a prosperidade e a paz, ao mesmo tempo, limita a liberdade de agir das comunidades e de seus dirigentes. Na medida em que ela é imposta por uma autoridade hegemônica ela pode ser sentida como repressiva e vista como um abuso de poder. O desejo de autonomia e depois independência corresponde ao desejo dos Estados relaxar as limitações e os comprometimentos a eles impostos, o que tem seu preço em termos de insegurança política e militar.127

Pode-se dizer que o pensamento de Tucídides, Maquiavel e Hobbes tinha como fio condutor a noção de que o poder é o elemento central. Toda a filosofia política de Hobbes pode ser interpretada como uma filosofia autoritária da ordem. Mas é uma teoria autoritária singular e de certo modo anômala, porque toma a iniciativa da igualdade entre os homens e deduz a necessidade da obediência incondicional ao soberano por meio de um processo rigorosamente racional 128.

No contexto da Grécia antiga existiam muitas cidades-Estados, as quais frequentemente entravam em guerra umas com as outras, bem como a Grécia e os impérios vizinhos. Mas segundo Tucídides essas cidades-Estados e civilizações não são homogêneas em termos de poder, sendo algumas mais fortes em relação a outras menores. Por isso relevante a decisão política, levando-se em consideração os impactos prováveis que sobre ela advém.

127

WATSON, op. cit., p 28.

128

A previsão, a prudência, a cautela e o julgamento formam a ética política característica do realismo clássico que Tucídides e a maioria dos autores clássicos realistas traçam como características distintivas da moralidade privada e do princípio de justiça. Em seu famoso e já citado dialogo entre os líderes atenienses com os de Melos, Tucídides aponta que:

O padrão de justiça depende da igualdade de poder para coagir e, de fato, os fortes fazem o que têm o poder de fazer e os fracos aceitam o que têm de aceitar...Essa é a regra certa – enfrentar seus iguais, se comportar em consideração aos seus superiores e tratar seus inferiores com moderação...discutam acerca do destino de seu país, vocês só tem um Estado e seu futuro depende, bem ou mal, dessa única decisão que vocês tomarão.129

O conceito de política para Maquiavel constitui, sem dúvida, uma ideologia da força como elemento constitutivo e legitimador do Estado, sendo reduzida a mero instrumento de domínio. Maquiavel na sua obra “O Príncipe” propõe um conceito de "virtude" política tão flexível que pode ser lido, na linguagem da ciência moderna, como apenas uma variável do contexto em que se realize o papel de líder.

(...) e nas ações de todos os homens, e máxime dos príncipes, quando não há indicação à qual apelar, se olha ao fim. Faça, pois, o príncipe por vencer e defender o Estado: os meios serão sempre considerados honrosos e por todos louvados (Príncipe, XVIII). 130

Maquiavel sustentava que "para retomar o Estado (ou seja, para conservar o poder) era necessário periodicamente espalhar aquele terror e aquele medo nos homens que o tinham utilizado ao tomar o poder" (Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, III, I). De acordo com o pensamento de Maquiavel o poder (leão) e a decepção (raposa) são os dois meios necessários para a conduta de política externa. Para manter a segurança e a sobrevivência do Estado é necessária a força, eis que se um Estado não é forte torna-se uma presa fácil para os demais países131.

A premissa de Maquiavel é a de que o mundo é um local perigoso, mas que gera oportunidades. Para sobreviver é necessário astúcia para reconhecer as oportunidades apresentadas aos Estados, ainda que seja necessário recorrer a uma crueldade maior do que seus rivais. A conduta da política externa passa a ser uma atividade instrumental

129

JACKSON; SØRENSEN, op. cit., p. 107.

130

BOBBIO, op. cit., p. 714.

131

(“maquiavélica”), com base no cálculo inteligente do poder e do interesse de alguém contra o poder e o interesse de seus rivais e competidores. Para o autor, as máximas de moral são o ápice da irresponsabilidade política, visto que os lideres políticos que agem conforme os valores da ética cristã estão fadados em fracassar. Para que isso não ocorra é necessário sacrificar se preciso a liberdade e até a vida de seus cidadãos, que dependem da política.132

Hobbes analisa a dinâmica das paixões do homem em um estado puro (a disputa pela vantagem, a desconfiança pela segurança, a glória pela reputação), causadoras do estado de guerra de cada um contra todos. Assim, para Hobbes, no estado de natureza existe apenas "o domínio das paixões, a guerra, o medo, a pobreza, a desídia, o isolamento, a barbárie, a ignorância, a bestialidade" (De cive, X, I), e "a vida do homem é solitária, mísera, repugnante, brutal, breve" (Leviathan, XIII)133.

O estado de natureza é caracterizado negativamente pela ausência de um poder legal, constituído por contrato, capaz de controlar e obrigar os membros da sociedade, caracterizado pela falta de monopólio legal da força. Por tal motivo, o estado de natureza é um estado de igualdade, em que a superioridade física ou intelectual não confere especial direito ao poder, podendo contrabalançar-se no plano dos acontecimentos; é também um estado de liberdade, onde liberdade equivale a uma condição de independência, ao domínio de si próprio.

No estado de natureza não há, pois, nem soberanos nem súditos, nem senhores nem servos, mas uma força eternamente potencial e em estado difuso: “(...) nenhuma arte; nenhuma carta; nenhuma sociedade e, pior de tudo, o medo contínuo e o perigo de morte violenta; e a vida do homem, solitária, pobre, detestável, bruta e curta”134.

Hobbes entende ser o consenso a origem do Estado e seu fundamento a capacidade coercitiva de obter a obediência dos súditos por meio de sanções, coincidindo o direito com a força. Para Hobbes, a soberania era vista como mera capacidade de se obter, por meio do consenso ou da coação, obediência às próprias normas; assim, os indivíduos se submetem incondicionalmente a um soberano. Para ele, a instituição do Estado soberano é movida não pela razão, mas pela paixão, visto que os homens em busca da paz, da segurança e da ordem se unem para criar o Estado, detentor da autoridade e força, capaz de protegê-los do medo, da violência e da desordem.

A própria instituição do Estado cria outro estado de natureza entre os países, gerando o conhecido “dilema da segurança” na política mundial, eis que a necessária segurança pessoal

132

JACKSON; SØRENSEN, op. cit., p. 108-9. 133

BOBBIO, op. cit., p. 274.

134

e nacional fornecida pelo Estado é acompanhada pela insegurança internacional enraizada na anarquia do sistema estatal. Essa inevitabilidade se dá pela impossibilidade de um governo mundial, pois os Estados não estão dispostos a abrir mão de sua independência em prol de qualquer garantia de segurança global. Esse estado de natureza internacional é uma condição de guerra real ou potencial, uma vez que a paz permanente não é possível. Apesar do Direito Internacional moderar o estado de natureza internacional, ele só será cumprido se favorecer o interesse e sobrevivência estatal, caso contrario a lei será ignorada.135

Para Hobbes, o soberano, estabelecido para manter a paz, há de gozar de impunidade em tudo o que fizer, uma vez que só ele possui o direito de julgar sobre o que é bom ou é mau para o Estado; a única sanção cabível neste caso depende da sua incapacidade de manter a ordem. O Estado se constitui quando os homens renunciam a fazer uso da força individual para se submeterem a um poder soberano ao qual se reconhece o direito de impor as próprias regras, podendo fazer uso da força, se necessário. Ainda sobre o estado de natureza, Hobbes analisa:

Nada pode ser injusto. As noções de moralmente bom e de moralmente mau, de Justiça e injustiça não têm lugar nesse conceito. Portanto, antes que os termos 'justo' e 'injusto' encontrem nele um lugar, deve haver um certo poder que obrigue os homens a obedecerem de maneira uniforme a suas convenções pelo terror, alguma punição de maior importância do que os benefícios que poderiam esperar-se da ruptura de seu compromisso (Leviathan, caps. XIII e XIV). 136

Discorre Hobbes em sua obra “Leviatã”: "O domínio adquirido com a conquista ou com a vitória bélica é o que alguns escritores chamam despótico, de despótes, que significa senhor ou patrão, e é o domínio do patrão sobre o servo". Esse contrato político entre os homens faz com que eles cedam seus direitos a um soberano, cuja obrigação é protegê-los, dando-lhes segurança: “Para que reine a paz, bem supremo, cada um fez ao soberano entrega do direito natural absoluto sobre todas as coisas” e “A renúncia a um direito absoluto não pode deixar de ter sido absoluta”137.

Deixar o estado de natureza, onde não há um direito objetivo universalmente válido, para a formação de um Estado fundado em um ato jurídico, como é o pacto por meio do qual os indivíduos se associam, atribuindo poder ao soberano, que se torna fonte exclusiva do Direito positivo. Para Hobbes, o poder soberano não é um poder arbitrário, na medida em que

135

JACKSON; SØRENSEN, op. cit., p. 111-2.

136

BOBBIO, op. cit., p. 663.

137

suas ordens não dependem de uma vontade, mas são imperativos produzidos por uma racionalidade técnica conforme as necessidades circunstanciais. São instrumentos necessários para que seja alcançado o máximo objetivo político, a paz social exigida para a utilidade de cada um dos indivíduos138.

No plano internacional, até mesmo Rousseau admite a inevitabilidade da guerra em uma sociedade de Estados, uma vez que considera que inexiste um equivalente do contrato para o universo das relações entre Estados, afirmando no final do seu livro que seria um “objeto amplo demais para a minha curta vida139”.

Hobbes foi quem mais influenciou o pensamento realista, traçando as diretrizes para a análise realista das relações internacionais contemporâneas. Segundo a concepção hobbesiana, não obstante os Estados terem que se relacionar mutuamente, tal fato não torna necessariamente uma sociedade de Estados, podendo viver em um estado de natureza no plano internacional.

Nesse estado de anarquia, face a ausência de um poder soberano mundial cada Estado busca elevar o seu poder de intimidar os mais fracos. O homem escapa da guerra de todos contra todos instituindo a sociedade, mas isso não é suficiente para se evitar permanentemente a possibilidade da guerra travada entre os Estados. A partir dessa premissa, os realistas contemporâneos acreditam que a história ensina que os homens são, por natureza, egoístas e eticamente defeituosos, cuja luta pelo poder, pela segurança e pela dominação lhe são inerentes e inevitáveis. Sob essas circunstâncias, a política internacional é vista como uma luta pelo poder.

À essa natureza do sistema internacional, os Estados buscam em primazia a capacitação militar para a segurança e defesa do Estado, sendo que os meios os usos do poder são uma preocupação central da atividade política. Nesse sentido, a política internacional é retratada como uma “política de poder”, isto é, uma arena de rivalidades, conflitos e guerras entre Estados.140 Nesse cenário, a política internacional opera dentro de uma anarquia mundial, na qual os Estados são os atores principais dessa política, sendo as ONGs, indivíduos e organizações de pouquíssima relevância

À essa visão, os Estados quando se deparam com um conflito devem estar preparados para sacrificar qualquer acordo internacional de que faça parte em função do interesse nacional, isto é, os “os fins justificam os meios”. Para a visão realista, o que importa são os

138

BOBBIO, op. cit. p. 1183. 139

ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social e outros escritos. Introdução e tradução de Rolando Roque da Silva. São Paulo: Cultrix, 2004, p. 70.

140

valores da segurança e da sobrevivência estatal, que são o núcleo normativo do realismo, sendo a guerra o árbitro final. Em geral, os teóricos não acreditam que haja obrigações internacionais no sentido moral entre os Estados. Não crêem na existência de uma relação amigável no âmbito das relações internacionais, apenas em parcerias transitórias, formadas com o único intuito de cumprir o objetivo de conter uma força hegemônica.

O teólogo protestante norte americano, Reinhold Niebuhr em sua obra “Moral Man and Immoral Society” (1932) nos diálogos com os liberais religiosos e laicos, em especial

com Kant, sustentou que não há como esperar comportamentos fundamentados em regras morais da parte de grupos, mas tão somente em relação aos indivíduos. Em um meio naturalmente conflituoso das relações internacionais, os Estados realizam suas condutas em busca de poder, sendo que a paz só se torna possível caso os Estados conciliem seus interesses nacionais.

Traçadas as linhas gerais sobre o realismo, passar-se-á a analisar os principais nomes que contribuíram para o desenvolvimento do realismo neoclássico e neo-realismo do século XX:

Edward Hallet Carr141 em sua obra clássica, publicada em 1939, “The Twenty Years

Crisis 1919 - 1939” confrontou as teses idealistas e as realistas, sustentando que os liberais

fracassaram nas relações internacionais por não terem dado atenção à luta pelo poder, visto que, o contexto histórico da época favorecia o entendimento de que a paz não se concretizou diante dos acordos armistícios travados entre os países e da fracassada Liga das Nações. A eclosão da Segunda Guerra mundial veio a confirmar tal posicionamento.

A guerra de 1914-18 pôs um fim na opinião de que a guerra é um assunto que afeta unicamente soldados profissionais e, fazendo isso dissipou a impressão correspondente de que a política internacional podia ser deixada com segurança nas mãos de diplomatas profissionais.142

Adotando a linha de raciocínio do realismo clássico, Carr sustenta que a política no sistema internacional traduz-se em uma política de poder, sendo a guerra o último recurso utilizado pelos Estados em prol de seus interesses. O uso da força não consegue ser

141

Edward Hallet Carr nasceu em Londres em1892, fez graduação na Universidade de Cambridge e entrou para o Foreign Office (Ministério das Relações Exteriores Britânico) antes da ocorrência da Primeira Guerra Mundial. Participou da Conferência de Paz de Paris, o que contribuiu para a sua análise das relações internacionais em sua obra clássica, publicada em 1939, “The Twenty Years Crisis 1919 – 1939”.

142

CARR, Edward Hallet. Vinte Anos de Crise: 1919-1939. Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 2001, p. 4.

substituído por princípios morais ou por debates internacionais, considerados uma grande falácia, que induziria o sistema internacional, à instabilidade:

A política é, em certo sentido, sempre política de poder. Normalmente não se aplica o termo ‘política’ a todas as atividades dos Estados, e sim às questões envolvendo um conflito de poder (...) Embora não se possa definir política exclusivamente em termos de poder, é seguro dizer-se que o poder é sempre um elemento essencial da política.143

(...) O pressuposto da eliminação da força política só poderia ser o resultado de uma atitude acrítica em relação aos problemas políticos. Nos assuntos da liga das Nações, a igualdade formal e a participação de todos no debate não tornam o fator poder nem um pouco menos decisivo.144

Para ele, a política é composta de dois elementos, utopia e realidade, pertencentes a dois planos diferentes que jamais se encontram. A antítese utopia-realidade corresponde a uma balança que sempre se aproxima e se afasta do equilíbrio, jamais o atingindo145. Em conseqüência dessa política de poder, a soberania é vista pelo autor como um poder derivado dependente da disputa pelo poder. Assim sendo, cada Estado soberano tem a capacidade, a partir de seus interesses, de decidir pelo recurso ou não à guerra:

O conceito de soberania deve tornar-se, no futuro, ainda mais toldado e indistinto do que é atualmente. O termo foi inventado, após a ruptura do sistema medieval, para descrever o caráter independente da autoridade reivindicada e exercida pelos estados que não mais reconheciam sequer a supremacia formal do Império. Nunca passou de um rótulo conveniente; e, quando começaram a ser estabelecidas distinções entre soberania política, legal e econômica, ou entre soberania externa e interna, estava claro que o rótulo deixara de exercer a função, para o qual era apto, de marca distintiva para uma única categoria de fenômenos.146

Decorrente do entendimento de que a soberania é derivada da política de poder, Carr argumenta que na realidade o que prevalece são os interesses dos países mais fortes, visto que os países mais fracos não dispõem de soberania para se impor no cenário mundial. Exemplifica referida situação, citando a famosa frase de Theodore Roosevelt, na época da crise do Panamá: “Dane-se o direito, eu quero o Canal construído”. Ou seja, não se pode negar a prevalência do interesse do mais forte, em um mundo assimétrico, pois a

143

CARR, op. cit., p. 177. 144 Ibid., p. 106. 145 Ibid., p. 165 146 Ibid., p. 337.

pressuposição de uma igualdade formal implicaria em desacreditar o próprio Direito Internacional, que não pode ser encarado de forma a dissociar a questão do poder.

Mesmo se a igualdade entre indivíduos de diferentes países fosse reconhecida, ainda assim as desigualdades entre Estados seriam flagrantes. As desigualdades existentes entre um punhado de Estados conhecidos, não sujeitos a controles externos, são infinitamente mais evidentes, mais