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O xamanismo e as técnicas arcaicas do extâse

O que é o xamanismo? É o nome que foi dado à mais antiga disciplina religiosa, médica e psicológica da antiguidade (WALSH,1993). As mudanças recentes ocorridas no contexto da cultura ocidental, levaram a um maior interesse por culturas não ocidentais, mais especificamente, a partir da popularização da Ioga, do uso de psicoativos e das técnicas de meditação nos anos sessenta do século passado, implicando no que Mckenna intitulou de revivalismo arcaico (MCKENNA,1992; 1993; 1995). Estas técnicas que

96 Talvez essa resistência de Eliade ao uso de psicoativos tenha ligação com seus estudos a respeito da Ioga e das técnicas de EAC por meio da prática de meditação e respiração. Neste sentido, Eliade era conhecido por ser uma pessoa purista e que achava desnecessário o uso de psicoativos para ter acesso ao extâse.

remontam ao xamanismo arcaico vêm sendo reestudadas nos meios acadêmicos sob uma nova ótica.

Antes mesmo de conceitualizar o xamanismo, faz-se importante entender como tem sido o debate acadêmico ao longo dos últimos cem anos a respeito desta que é considerada o embrião das religiões (ELIADE, 1996). Atualmente, a maior parte das primeiras pesquisas desenvolvidas sobre o xamanismo são consideradas ultrapassadas, posto que os dados antropológicos eram insuficientes, consequentemente, as interpretações superficiais, somadas à falta de experiência direta e pessoal nas práticas xamânicas, levaram a um conjunto de distorções na análise do xamanismo. Segundo Harner (1995), as pessoas mais preconceituosas em relação à realidade tida por incomum são as que jamais a experimentaram e, nesse sentido, faz um alerta afirmando que as limitações de entendimento da realidade não estão nos povos que se utilizam destas práticas, mas sim na forma como nós entendemos a natureza de suas experiências.

A psicanálise de inspiração freudiana, por exemplo, enxergou na experiência religiosa um mecanismo de defesa, isso na melhor das hipóteses; na outra ponta da interpretação, viu no êxtase religioso sinal de psicopatologia grave. Para Freud (2010) e uma parte de seus discípulos, as experiências transcendentais eram regressões patológicas de proporção quase psicótica. As experiências místicas eram interpretadas como regressões neuróticas de união com o sexo ou regressão a estágios intrauterinos.

Desta forma, o fenômeno era mal visto e mal interpretado. O fato dos xamãs exibirem um período de conduta “bizarra” quando em treinamento, entrarem em Estado Ampliado de Consciência, terem visões e dizerem que se comunicam com espíritos, foi visto como sinal de distúrbio psicológico da natureza de doenças tais como: a esquizofrenia, a histeria e a epilepsia. Estes eram os diagnósticos mais comuns para explicar as práticas de um xamã, o resultado disto era a negação dos aspectos positivos e a profanação da tradição xamânica.

Os avanços ocorridos durante o século passado nas ciências humanas, criaram um quadro mais independente da psicanálise. Novas escolas são mais simpáticas às experiências religiosas como, por exemplo, a

psicologia de Jung, a escola humanista e a transpessoal que têm influenciado outras áreas do conhecimento humano como a Sociologia, a Antropologia e a História no que toca a análise de fenômenos religiosos tradicionais e contemporâneos (GROF, 2012). Novos campos de pesquisa diretamente vinculados ao xamanismo analisam a cura psicossomática, os vários estados de consciência, o processo do sonho, a meditação, as substâncias psicoativas, as experiências místicas e o efeito placebo que fazem parte do arsenal de técnicas xamânicas.

Todas estas investigações trazem uma nova luz sobre as práticas xamanistas, já que há um crescente número de acadêmicos passando pelo treinamento xamânico. Isto levou a uma melhor condição de análise no sentido de compreender e valorizar estas experiências. E na Sociologia? Ainda pesa muito a tradição dos clássicos, principalmente, Weber e Durkheim. Os trabalhos mais diferenciados no sentido de buscar compreender o fenômeno religioso, sem apelar para estes quadros teóricos, bebem em outras fontes, já que a Sociologia ainda não produziu uma escola para dialogar com este tipo de prática. Aqui neste trabalho, segue-se por este caminho de diálogo com outras áreas, mais especificamente, a Psicologia e a Antropologia.

Mas afinal o que é um xamã? A etimologia da palavra vem de “Saman”, que é um nome ligado ao povo Tungu, natural da Sibéria. Este nome é dado para alguém que está excitado, comovido, elevado e é o termo recorrentemente utilizado por antropólogos para fazer referencia a grupos específicos de curadores. Uma outra forma de se referir a indivíduos que tem prática de buscar a cura é bruxo, curandeiro, mágico, feiticeiro, magos etc. Termos que são considerados na atualidade vagos para expressar a riqueza destas práticas, além de expressar um viés ideológico e estigmatizante que direciona o sentido da interpretação.

Uma outra coisa que define a prática xamânica é o amplo uso na prática religiosa de entrar em EAC. A definição que é dada por Mircea Eliade é: “Ser levado ou afastado do próprio ser ou estado normal, e entrar num estado de sensações intensificados” (1996, p.19). Esta definição é considerada clássica e adotada por quase todos os pesquisadores deste campo, posto que sintetiza o traço distintivo do êxtase xamânico que é a

vivência do voo da alma, a experiência fora do corpo, a vivência em outros mundos, o encontro com outros espíritos (animais e pessoas), vendo a causa e a cura de enfermidades, dialogando com forças adversárias e amistosas, todos estes encontros possibilitados por técnicas que levam aos EAC.

Segundo Roger Walsh (1993) os traços distintivos do xamanismo são: 1. entrar voluntariamente em EAC; 2. se sentir “viajando” para outros mundos; 3. usar essas viagens como meio para adquirir conhecimento ou poder. Michael Harner (1995, p. 21) trabalha em perspectiva semelhante quando diz: “O homem ou a mulher que entra num EAC quando o deseja, para contatar e utilizar uma realidade de hábito oculta a fim de obter conhecimento e poder, e ajudar outras pessoas”. Para este autor o xamanismo é um método e não uma religião com um conjunto de dogmas fixos. Definição que se assemelha a de Eliade (1996) que categoricamente afirma que o xamanismo é uma das técnicas arcaicas de êxtase.

Michael Harner (1995) afirma ainda que o conhecimento xamânico só pode ser adquirido através da experiência individual, por meio da autodisciplina e dedicação. Para este autor, envolver-se com a prática xamânica é aprender técnicas que possibilitem sair do estado comum de consciência e ir para o estado xamânico de consciência, ou seja, o xamã é o indivíduo que tem a capacidade de mover-se entre o estado comum de consciência e o EAC na hora que desejar.

No livro “O caminho do xamã – um guia de poder e cura”, o autor faz uma descrição muito interessante de como entrou no universo do xamanismo. Na época estava realizando uma pesquisa com os Konibos do Peru, porém as informações acerca do seu universo religioso eram escassas e foi alertado por um informante que a chave para conseguir conhecer as práticas religiosas desta etnia era bebendo Ayahuasca. Ele relata uma forte experiência ao beber o chá, ao ponto de dotar o então ateu de novas percepções acerca da realidade. Partiu então em busca de índios experientes no uso da Ayahuasca para entender o que tinha acontecido por meio da experiência.

Quando narrou a experiência para o velho xamã as visões que tinham aparecido, elas foram elucidadas pela experiência do índio em mundos ocultos e sua explicação foi tão clara que fez com que o antropólogo

decidisse estudar o xamanismo. Uma forma que considerou para aprender o universo xamânico foi adotar os mesmos conceitos básicos e a mesma linguagem dos xamãs, ou seja, não procurou decodificar para o universo ocidental a experiência a que estava sendo submetido. O seu processo de iniciação se deu entre os Jivaros e a primeira lição foi compreender que o segredo é a essência do poder xamânico.

Iniciado entre os Jivaros logo entendeu que as viagens xamânicas por outros “mundos” eram necessárias para o processo de aprendizagem e obtenção de poder espiritual. A Iniciação xamânica é um processo gradativo que consiste em aprender a entrar em EAC com o fim de adquirir segurança pessoal e conhecimento do seu espírito guardião. Dentro deste processo, o dialogo com espíritos auxiliares e a aquisição de dardos mágicos são essenciais para desenvolver a capacidade de proteção e cura97. Uma outra coisa é que o indivíduo novato neste “mundo” precisa ser conduzido por uma pessoa experiente e de acentuado poder xamânico.

A experiência xamânica é adquirida com muitos anos e, segundo os xamãs, raramente se completa com apenas uma vida, necessitando de várias vidas para se completar o processo de aprendizagem. Neste processo, os encontros se dão com espíritos em forma de plantas, de animais, formas humanas, seres encantados da floresta etc. O objetivo destas experiências é desenvolver as potencialidades espirituais e aprender com estes outros seres uma forma diferente de inteligência para lidar com situações concretas. Geralmente, os xamãs realizam seus trabalhos por meio de um espírito guardião que lhes auxilia na busca por cura e também lhes protege de outros espíritos. Portanto, dedicam-se especificamente a cura, mas também tratam de adivinhação e clarividência, ou seja, podem ver o que está acontecendo em outro lugar naquele mesmo momento.

Os pesquisadores deste campo de pesquisa tem algumas divergências em relação a algumas técnicas xamânicas no tocante ao seu desenvolvimento, mas todos eles concordam que o xamanismo é o mais difundido e antigo sistema metodológico de tratamento da mente e do corpo. E o papel do xamã funciona fundamentalmente como guardião do equilíbrio

97 Dardos mágicos são poderes adquiridos a partir do consumo de plantas de poder e são utilizados com o objetivo de se defender de ataques de feiticeiros.

psíquico e ecológico do grupo, além de ser um intermediário do mundo visível e invisível.

Neste sentido, Walsh (1994) levanta uma hipótese que os xamãs são os precursores do jogo do mestre98. Existe uma ideia básica que está na raiz de todas as grandes religiões, mas também nas narrativas cosmológicas de sociedades tradicionais, que são aquelas características que antecedem o momento de iluminação por parte de indivíduos (mestres) que fundaram as bases de uma determinada corrente religiosa a exemplo do cristianismo, judaísmo, budismo, islamismo entre outras, assim como de indivíduos que passaram por um treinamento xamânico em sociedades tradicionais. As pessoas que jogam o jogo do mestre seguem os passos destes que alcançaram a iluminação e deixaram um legado para seus discípulos.

Segundo o jogo do mestre, o homem antes da iluminação se encontra adormecido, vivendo em meio a sonhos e ilusões, desligado da consciência universal e rasteja na superfície da concha do ego pessoal. O primeiro passo é recuperar a união com a consciência universal, passar da escuridão da ilusão centrada no ego para a luz do não-ego, que é o verdadeiro objetivo do jogo da religião.

A travessia em busca da iluminação é a meta do jogo do mestre, ensinada por séculos pelos sábios, que permanece ainda incompreendida. É um jogo muito exigente e se constitui em um desafio para o homem contemporâneo que, por meio de um intenso processo de secularização e imerso em muitas distrações, tem pouco contato com o seu próprio mundo interior e está sendo educado a se preocupar com o que é externo a si. Portanto, o jogo do mestre se desenvolve no mundo interior, um território vasto e complexo e que tem como objetivo o verdadeiro despertar.

Este jogo evoluiu ao longo dos milênios, refletindo e moldando a consciência humana. Os primeiros xamãs foram os primeiros jogadores do jogo do mestre, foram os primeiros exploradores da consciência, ainda que suas investigações estivessem limitadas pela época, já que as técnicas e informações que levam ao domínio deste jogo evoluíram ao longo de muitos

98 O autor Roger Walsh se inspira no livro: “The Master Game: pathways to higher councioness” do psicólogo Robert S. de Ropp para compreender a trajetória dos mestres da espiritualidade.

séculos. Para se atingir a meta deste jogo é necessário passar por cinco estágios: o início da vida do herói, o chamado para a aventura e o despertar, o período de disciplina e treinamento, o complemento da busca e a fase final de retorno e contribuição à sociedade.

O jogador no primeiro estágio nasce inserido nas convenções da sociedade, adormecido como a maioria. As crenças da sociedade são absorvidas como reais, como fatos inquestionáveis, é um estágio em que a maior parte das pessoas permanece a vida inteira. O desafio aí é romper com o torpor, com a insensibilidade para o seu próprio ser interior.

O segundo estágio é o chamado para o despertar, geralmente, uma crise de proporções gigantescas, marcada por um forte confronto existencial que põe em cheque as crenças anteriores. Revelando os limites do pensamento e do modo de vida convencional, o que causa no jogador uma intensa busca por respostas.

O terceiro estágio é marcado pela disciplina e o treinamento, onde a busca por um professor se faz necessária para desenvolver as técnicas do êxtase. O treinamento é uma conjunção de várias técnicas como treinos físicos, a compreensão da fisiologia do corpo humano, a contemplação da natureza e do espírito, além da compreensão dos valores da sociedade na qual está inserido. Todas estas técnicas tem o objetivo de treinar e cultivar a mente para os desafios da vida espiritual.

O quarto estágio é o término da busca, é quando a transformação da vida do jogador assume proporções do que ele foi no passado e do que ele é no presente, mostrando uma clara distinção entre as duas fases da vida. O quinto estágio é o de retorno e contribuição à sociedade. Respondidas as próprias perguntas, o desejo de contribuir torna-se central e inspirador, o jogador agora é o mestre e entra no mundo externo disposto a contribuir com outros que queiram jogar o jogo do mestre (ROPP, 2003).

Percebe-se que este jogo é um processo lento, gradual e demorado. Não é um jogo fácil, é um jogo de renúncias e provações, mas também um jogo de conquistas e de aquisição de novos valores. A paciência não é somente uma virtude, mas também uma necessidade. No plano teórico o aprendiz deve se tornar mitólogo e cosmólogo, pois entender a estrutura e a

evolução do universo, assim como a função dos mitos auxilia e fornece diretrizes e um aporte para a estrutura religiosa e social99.

Uma outra questão que exige paciência e constância são as práticas ascéticas. Estas são técnicas que fortalecem e purificam o corpo e a mente, proporcionam resistência física e psicológica, propiciam a clareza e concentração mental. Os xamãs defendem que estas práticas desenvolvem o controle das próprias faculdades e respostas, o poder de suportar as tentações, o poder sobre os espíritos, o poder para servir e beneficiar a terceiros.

No entanto, o ascetismo traz consigo algumas armadilhas como, por exemplo, a sensação de ser o mais correto de todos, a puritana negação da beleza, a negação da alegria de viver e a armadilha do extremismo. Uma outra prática que faz parte do treinamento é o isolamento, o objetivo é retirar as atrações mundanas, redirecionar as forças para o plano espiritual e ficar focado no autoconhecimento.

Apresentadas as características que moldam ao longo do tempo o xamanismo, iremos fazer uma breve análise de como este vem sendo interpretado ao longo do tempo pela cultura ocidental. Segundo Walsh (1994) e Harner (1995), há dois comportamentos xamânicos que precisam ser analisados com cuidado porque na maior parte das vezes foram diagnosticados como patológicos: a crise de iniciação e a viagem astral dos xamãs. A primeira é indicada por sintomas físicos dolorosos e experiências singulares; enquanto a segunda é a experiência-base que propicia sair do corpo e viajar por outros planos. Ainda que a crítica destes autores seja datada do tempo em que foram apresentados os resultados de suas pesquisas acerca do fenômeno do xamanismo, ainda hoje podemos visualizar este tipo de análise entre os meios midiáticos.

Estes dois comportamentos têm sido analisados com desconfiança e descrença pela tradição ocidental, já que a realidade vista pelo xamã é tida como subjetiva e imaginária por este olhar. Um fato que não faz parte da realidade secularizada de uma parte do ocidente é a crença em espíritos e, muitas vezes, este fato foi diagnosticado como um traço psicótico por parte

99 Voltarei a esta questão do jogo do mestre nos capítulos 4 e 7, quando enfocarei a travessia do Mestre Gabriel na criação do CEBUDV.

de quem diz ter contato com seres espirituais. Presa a sua própria rede de pressupostos culturais, a psiquiatria tem uma longa tradição de considerar os místicos loucos, os santos como psicóticos e os sábios como esquizofrênicos.

Que fatores conduziram a esta consideração? Alguns pesquisadores levantam como sinais para estas conclusões a ausência de conhecimento psicológico especializado nestes casos, a ênfase psicanalítica sobre as patologias e a desinformação relativa aos EAC. Por exemplo, a maior parte das crises de iniciação xamânica estão relatadas como casos de epilepsia, porém entre xamãs raramente estas crises são presenciadas, as informações a este respeito são baseadas em recordação e existe pouca ou quase nenhuma evidência de epilepsia orgânica.

Há também 3 tipos de experiência xamânica rotulados por histeria, no caso a crise de iniciação, a mediunidade e a viagem xamânica. Na crise de iniciação há mudanças radicais na consciência, na identidade e no comportamento, no entanto, faltam elementos para um diagnostico mais exato. A dissociação pode ter um papel na crise de iniciação. Ou seja, podem ocorrer sintomas mais psicológicos do que físicos, em que certos pensamentos, emoções, sensações e/ou memórias são ocultados, por serem muito chocantes para a mente consciente integrar.

No caso da mediunidade um ou mais espíritos podem se comunicar usando o xamã como instrumento e este, por sua vez, pode ficar em um estado de completa ausência de consciência pessoal. A psiquiatria explica este processo como uma forma de manifestação de fragmentos de espaços da psique. Ou seja, é como se a memória não se conectasse por inteiro, funcionasse somente por fragmentos, que é o que acontece em pessoas diagnosticados com histeria. A questão é que rotular de histeria impediria de investigar uma incapacidade incomum da mente.

A viagem xamânica envolve três fases: a preparação e purificação, a indução em EAC e a viagem em si. Na preparação e purificação há um período de isolamento, em que o xamã pratica o jejum e o celibato. A viagem geralmente é feita no período noturno, onde a iluminação reduzida facilita a percepção das visões. Os EAC são tidos como uma alteração qualitativa do padrão geral de funcionamento mental, percebidas pelo experimentador

como sendo um estado de consciência diferente da maneira como funcionamos normalmente (FURST, 1980).

Existem algumas maneiras de se atingir os EAC. Algumas formas são mais dolorosas, tais como: automutilação, tortura, sede, insônia, danças incessantes, imersão em tanques gelados, laceração com espinhos e/ou ossos de animais; já há outras maneiras de se chegar aos EAC sem sofrer algum tipo de dor, tais como: a hipnose, a meditação, cânticos e o uso de tambores. Investigações científicas apontam que estes processos elencados de EAC levam o corpo a produzir uma química no cérebro, cujas moléculas têm em sua estrutura e em seus efeitos semelhanças com captadores opiáceos, tais como: a morfina e a heroína (WALSH, 1994; GROF, 2010).

A viagem para outros planos por meio de EAC, tem o objetivo de fazer contato com outros seres espirituais e, consequentemente, levar o xamã a experiências visionárias. É importante ressaltar que as viagens a outros planos são culturalmente sancionadas e valorizadas.

Uma nova tradição acadêmica tem construído modelos críticos a esta forma de enxergar as práticas xamânica como fruto da esquizofrenia e outras formas de psicose. Argumentam que o diagnostico de psicose dado durante a crise de iniciação é impreciso, já que uma pequena porcentagem de iniciados podem sofrer um episódio psicótico temporário, além do que estes comportamentos apresentados durante a crise de iniciação são inadequados perante normas ocidentais, mas nem sempre o são perante a sociedade em que está acontecendo o rito.

Uma outra coisa que deve ser levada em conta é que os xamãs fazem uma clara distinção entre a crise iniciatória e problemas mentais. Claramente, eles sabem distinguir entre um ser que vive em um mundo à parte, perdido em fantasias particulares, incapaz de distinguir a ilusão da realidade, de um indivíduo que está passando por um processo de transformação espiritual.