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3 PROVAS NO PROCESSO DO TRABALHO

3.2 OBJETO DA PROVA

O objeto da prova são os fatos em se fundam a ação ou a defesa, ou seja, aqueles que são relevantes ou pertinentes para a ação. São relevantes e pertinentes os fatos que, ao serem demostrados, podem causar influência na decisão do processo.

Assim, se o fato é irrelevante ou impertinente, cabe ao magistrado rejeitar o pedido de produção de provas sobre eles, para evitar atividade inútil no processo. (GRECO FILHO, 2009).

O Código de Processo Civil lista os fatos que não necessitam de prova em seu artigo 334:

Art. 334. Não dependem de prova os fatos: I - notórios;

II - afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária; III - admitidos, no processo, como incontroversos;

IV - em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade. (BRASIL, 1973a).

Contudo, o diploma legal não traz a definição de cada um deles, de maneira que se faz necessário um breve estudo destes fatos:

a) fatos notórios: são aqueles de conhecimento geral. Para ser considerado notório, não há necessidade de que este seja conhecido por todos, basta que seja de conhecimento local ou regional. Segundo, Theodoro Júnior (2012, p.440), são aqueles que “entram naturalmente no conhecimento, na cultura ou na informação os indivíduos, com relação a um lugar ou a um círculo social, no momento em que o juiz tem que decidir.”

b) fatos afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária: são aqueles que a parte contrária admitiu ou ainda não impugnou, e desta forma não há controversa sobre eles e por isso não precisam ser provados.

c) fatos admitidos no processo como incontroversos: como ensina Gonçalves neste caso “há consenso entre os litigantes a respeito de determinado fato”, não havendo necessidade de prova; (GONÇALVES, 2012, p. 335).

d) fatos em cujo fator milita presunção legal de existência ou de veracidade: é quando a lei considera como verdadeiro determinado fato. A presunção poderá ser absoluta, não necessitando que a parte prove. É o caso da revelia. Já a presunção relativa inverte o ônus da prova. Ela milita somente para uma das partes e esta não precisa provar, “incumbindo a parte contrária o ônus de produzir, se for o caso, a prova contrária.” (GRECO FILHO, 2009, p. 196).

Quanto aos incisos II e III do artigo 334, cumpre, ainda, fazer uma observação importante. Ensina Schiavi, que existem situações em que fatos mesmo não contrariados podem ser objeto de prova. São casos em que o juiz pode exigir prova pelo fato de “não parecer verossímeis pelo padrão médio da sociedade e também fatos impossíveis e pouco prováveis” (SCHIAVI, 2014a).

3.3 PRINCIPAIS PRINCÍPIOS REITORES DA PROVA NO PROCESSO DO TRABALHO

Os princípios jurídicos são ferramentas essências para a promoção da justiça. Com relação ao papel dos princípios no ordenamento jurídico, Delgado aponta duas funções. Primeiramente, teriam a função de “proposições ideais informadoras da compreensão do fenômeno jurídico” (DELGADO, 2012, p. 169). Em segundo lugar, seriam fontes supletivas do direito para preenchimento de lacunas da legislação processual. O autor salienta ainda, que o ordenamento jurídico permite esta utilização subsidiária dos princípios como fonte subsidiária do direito.

A CLT, prevê em seu artigo 8° a possibilidade da aplicação de princípios nas decisões da Justiça do Trabalho, in verbis:

Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público. (BRASIL, 1943).

Schiavi ensina que os princípios tem função de dar equilíbrio ao sistema jurídico, proporcionando harmonia, sentido e coerência sempre que ocorrem mudanças na sociedade e legislação (SCHIAVI, 2014a).

A prova no processo do trabalho é regida pelos princípios a seguir estudados.

3.3.1 Princípio da necessidade da prova

Este princípio preceitua que as partes devem comprovar suas alegações em juízo, não bastando simplesmente a afirmação dos fatos trazidos ao processo. Sobre este princípio, Nascimento, assinala que a sentença deve ser baseada nas provas, pois “o juiz deve julgar de acordo com o alegado e provado, porque aquilo que não consta no processo não existe no universo jurisdicional” (NASCIMENTO, 2012, p.620).

Nesta ótica, os fatos precisam ser demostrados pelas partes através das provas e para que possam ser considerados pelo juiz na decisão da lide.

Desta forma a adoção deste princípio pelo direito processual visa além de forçar as partes a produzirem provas, garantir que as decisões judiciais não sejam baseadas em convicções injustificadas.

As palavras de Teixeira Filho sintetizam a importância da aplicação deste princípio no Direito Processual do Trabalho: “a necessidade está em que o juiz não se pode deixar impressionar com meras alegações expendidas pelas partes, exigindo-lhe a lei que decida, que forme a sua convicção, com apoio na prova produzida nos autos” (TEIXEIRA FILHO, 2003, p. 68).

3.3.2 Princípio da aquisição da prova no processo do trabalho

Este princípio determina que a prova produzida pertence ao processo. De maneira que mesmo produzida por apenas uma das partes, ela passará a integrar o corpo processual, podendo beneficiar ou prejudicar qualquer dos litigantes. (SCHIAVI, 2014a).

Nesta esteira, o juiz poderá utilizar as provas constantes no processo para formar o seu convencimento, sem precisar considerar qual das partes a produziu.

Sobre o princípio em questão tratou o Desembargado Edson Bueno, em decisão de Recurso Ordinário do Tribunal Regional do Trabalho 23ª, da qual se extrai o trecho abaixo:

O processo contemporâneo é informado pelo princípio da aquisição processual, segundo o qual pouco (ou nada) importará ao juiz quem tenha trazido aos autos do processo a prova. Sendo legítima (não tendo sido obtida por meio ilícito) e legal (vinda aos autos no momento oportuno, isto é, sem que se tenha operado a

preclusão, ou ordenada pelo juiz a qualquer tempo), a prova ao ser produzida passa a integrar os autos do processo automaticamente, ao mesmo tempo em que perde o vínculo com quem a produziu, e por isso não pode ser desentranhada nem questionada sobre sua autoria ou ônus. (MATO GROSSO, 2009).

Das sábias palavras acima, pode se concluir que a prova sendo legítima, ela cumprirá o seu fim, que é o convencimento do juiz, seja de maneira negativa às pretensões da parte que a produziu ou de maneira positiva. Logo, a parte ao produzir a prova deve ter consciência de que esta dirá respeito também à parte contrária que poderá utiliza-la em seu favor.

3.3.3 Princípio da lealdade da prova

A lealdade, de acordo com Schiavi “é conduta honesta, ética, segundo os padrões de conduta aceitos pela sociedade. É agir com seriedade e boa fé” (SCHIAVI, 2014a, p. 56).

De posse deste entendimento, podemos concluir que este princípio estabelece que a prova processual deve ser produzida pelas partes com intuito de demonstrar a realidade dos fatos de forma leal, sem buscar subterfúgios para alcançar seus objetivos, atendendo aos limites estabelecidos pela lei e pela ética. Isto posto, a prova não pode ter sido obtida por meios ilícitos e nem objetivar comprovar fatos falsos.

Cumpre mencionar, que o presente princípio decorre da previsão contida no Código de Processo Civil, que determina que é dever das partes e de todos os que participam do processo agir com lealdade processual e boa fé, bem como expor fatos verdadeiros em juízo (BRASIL, 1973a). Além disso, a Constituição Federal também proíbe a admissão no processo de provas admitidas por meios ilícitos, em seu artigo 5°, inciso LVI (BRASIL, 1988).

Teixeira Filho aponta que, infelizmente, nem sempre o objetivo de transpor a verdade para os autos é prioridade das partes, pois em determinadas circunstância a “verdade não lhes convém.” No mesmo sentido, Nascimento, afirma que no processo do trabalho este princípio não é observado em certas ocasiões e dá como exemplo, o caso da falta de autenticidade de determinados documentos (NASCIMENTO, 2012, p. 621).

A atitude desleal da parte no processo, bem como dos demais envolvidos como as testemunhas, por exemplo, prejudica a lide. Podendo gerar problemas tais como a demora do processo e decisões baseadas em provas que não demonstram a realidade. A consequência disso é a oneração indevida da parte contrária.

Logo este princípio é de extrema importância para a promoção da justiça nos processo trabalhista.

3.3.4 Princípio do contraditório e ampla defesa

O contraditório e ampla defesa, como princípio probatório, consiste no direito da parte contrária manifestar-se no processo a respeito de provas produzidas pela parte contrária a fim de garantir seu direito a ampla defesa. Tem origem da expressão latina “audiaur et altera pars” que significa “que a parte seja ouvida” (FELIPPE, 2010, p. 275).

De modo que, a parte por este princípio tem o direito de produzir as provas que a lei lhe permite, e ainda à parte contrária sempre deve ser dado o direito de ser ouvida sobre o que a outra parte produziu contra ela (SCHIAVI, 2014a).

Por óbvio, tal princípio não é de aplicação exclusiva das provas e sim do processo em geral. Segundo Teixeira Filho (2003, p.70) “é uma das características mais profundas do processo.” Tanto é verdade que o direito a ampla defesa e contraditório é garantido aos litigantes por força da Constituição Federal, em seu artigo 5°, inciso LV: “LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (BRASIL, 1988). Por este motivo este princípio deve ser aplicado em todo e qualquer processo judicial no Brasil, sob pena de causar a nulidade absoluta do ato processual.

3.3.5 Princípio da igualdade de oportunidade de prova

Este princípio garante “às partes idênticas oportunidade para pedir a realização de uma prova ou exercitá-la” (NASCIMENTO, 2012, p. 621). Sendo um dever do juiz do processo assegurar este tratamento igualitário às partes, conforme determina o artigo 125, inciso I do Código de Processo Civil.

Contudo, Teixeira Filho, assevera que a lei não obriga as partes a produzirem provas, o que ela determina é que seja assegurado o direito de oportunidade para a produção se ela assim o desejar (TEIXEIRA FILHO, 2012).

3.3.6 Princípio da legalidade

O princípio da legalidade aplicado às provas no processo do trabalho determina que havendo uma forma prescrita em lei para a produção de uma prova, esta deverá ser seguida pela parte.

Deste modo, a parte se obriga, se deseja produzir a prova, a produzi-la pelo meio correto e no prazo determinado pela lei. Além de em local previsto, porque o Código de processo Civil determina que as provas sejam produzidas, em principio em audiência.

Logo a parte, não tem total liberdade de produzir a prova quando, onde e como desejar, esta deve seguir os requisitos determinados pela legislação.

3.3.7 Princípio da imediação

Cabe ao juiz da causa dirigir o processo, acompanhando, fiscalizando as atividades das partes, principalmente no que tange a produção das provas. Atuando, desta forma, como sujeito do processo. Pois o magistrado deve manter contato pessoal com as provas (TEIXEIRA FILHO, 2003).

O poder de direção do juiz no processo está previsto no artigo 765 da CLT: “ Os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas” (BRASIL, 1943).

No mesmo sentido, ensina Martins, que por este princípio as provas devem ser produzidas pelas partes, sempre que possível, diante do juiz da causa (MARTINS).

No processo do trabalho, devido a adoção do princípio da oralidade que determina que as provas deverão ser produzidas preferencialmente em audiência, o contato e a intervenção do juiz nas provas ocorre com maior facilidade.

3.3.8 Princípio da aptidão para a prova

Estabelece este princípio que a prova deve ser produzida pela parte que melhor tem condições para fazê-la. Logo a parte que tem melhor acesso a prova é mais apta a produzi-la (MARTINS, 2012b).

Schiavi (2014a) sublinha que este princípio se enquadra perfeitamente ao processo do trabalho, já que é reconhecida a hipossuficiência do trabalhador, este muitas vezes não tem

as melhores condições de produzir uma determinada prova. Deste modo passando ao empregador o encargo de produzi-la.

Nas palavras de Reis de Paula, “a aplicação do ônus da prova do princípio da aptidão atende ao escopo social do processo, que é eliminar conflitos mediante critérios justos” (PAULA, 2001 apud SCHIAVI, 2014a, p. 52).

Isto posto, poderá determinar que a parte mais apta produza uma prova, avaliando com base nos princípios da razoabilidade de cada caso, a fim de proporcionar maior igualdade entre as partes no processo.