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A preocupação em apreender a percepção das professoras sobre todo o trabalho desenvolvido sempre esteve presente ao longo de todo o processo. Na ocasião de vivência do projeto com elas, isso era facilitado pelas avaliações escritas realizadas a

cada encontro, e no instante de desenvolvimento dos projetos com as crianças, por meio dos encontros de planejamento, onde eram retomadas todas as ações realizadas.

Nos passos finais de trabalho com o grupo, para falarem sobre sua participação em todo o processo, as professoras participaram de entrevistas individuais, que ocorreram ao longo do tempo em que os projetos estavam sendo desenvolvidos, de uma entrevista coletiva, bem como responderam a um questionário. É provável supor, pela demora de entrega desse questionário e pela necessidade de sua cobrança sistemática, que as professoras sentiram dificuldades em respondê-lo. Questionadas diretamente sobre essa demora, as professoras deram como justificativas a falta de tempo e a dificuldade que têm para escrever.

A entrevista coletiva foi realizada em um encontro de avaliação, adiado duas vezes, e que aconteceu exatamente no último dia das professoras na instituição, quando, então, iriam entrar em gozo de férias. Os adiamentos decorreram dos conhecidos entraves organizacionais já constatados na instituição.

Embora tudo tivesse sido antecipadamente combinado para a reunião de avaliação, ainda deparei-me com muitos obstáculos: encontrei as professoras cada uma em sua sala realizando várias atividades, segundo elas, urgentes: Catarina finalizando as arrumações da sala para o próximo ano letivo, em especial, a decoração, incluindo calendário, quadro de vogais e letras do alfabeto. Ilma escrevendo os relatórios de avaliação das crianças e preenchendo a agenda escolar, que deveria ser preenchida diariamente com os conteúdos trabalhados durante o semestre. Conforme ela mesma disse, “estou botando em dia a agenda escolar”. Somente Rosa aguardava o momento da reunião. Justificando as ações das demais professoras, Rosa disse: “tem uma ordem da direção que só entra de férias quem estiver com tudo em dia: as salas, as agendas e os relatórios das crianças”. É possível constatar que, mesmo quando a realização dos acordos não depende da instituição, as professoras parecem ter dificuldades em cumprir os contratos estabelecidos. Isto é, combinamos dois dias para conversarmos, fui avisada de que seria somente um dia porque fora antecipada a data de término do semestre e, mesmo assim, no dia aprazado, Ilma e Catarina não acharam importante adiantar suas tarefas a fim de estarem disponíveis para a reunião.

Muito ocupadas, essas duas professoras não pareceram muito entusiasmadas com minha chegada. Com muito custo, consegui reunir todas na sala de Catarina, que disse não poder se afastar de seu “serviço,” porque ainda tinha muita coisa para fazer. Também deixou claro que ficaria a sua mesa, trabalhando, assistindo à reunião de longe.

Só se integrou ao grupo no momento em que todas as professoras já haviam falado, faltando somente ela. Até o último dia de nossa experiência coletiva, Catarina havia testado minha perseverança e tenacidade em não desistir dela66 e, até nesse momento, demonstrou sua dificuldade em se afastar de sua mesa. Parece que somente dali, de sua mesa, Catarina consegue sentir-se professora e segura!

Toda essa insistência de Catarina em participar do grupo desde sua mesa trouxe a necessidade de alguns arranjos referentes à melhor forma de usar os instrumentos escolhidos para registrar a ocasião: na videogravação, houve a dificuldade de enquadrá- la juntamente com o grupo, tendo sido preciso ajustes no gravador para não perder sua fala nesse momento. A gravação em vídeo e em áudio foi fundamental nesse momento em que interagia com as professoras e coordenadora, possibilitando uma leitura mais completa da participação de todas, pormenorizando os gestos, as falas, as formas de escuta. Como não podia contar com Celiane nesse momento, tive que organizar sozinha todo o aparato tecnológico.

A coordenadora Gorete também fez questão de participar dessa oportunidade de avaliação do trabalho do grupo e começou sua fala dizendo que tinha gostado muito de participar de alguns encontros. Também ressaltou a importância do trabalho desenvolvido e a participação das professoras.

A reunião desenvolveu-se em dois módulos. No primeiro, o grupo de professoras fez uma retrospectiva geral sobre toda a experiência desenvolvida, avaliando, nas diferentes etapas, possíveis repercussões de todo o processo em suas práticas; as diferenças entre as ações realizadas no desenvolvimento, por elas, de um projeto e de projetos com as crianças; as novidades e dificuldades encontradas nesses momentos, expressando o significado dos instantes vivenciados para o desenvolvimento pessoal e profissional de cada uma delas.

No outro módulo da reunião, as professoras analisaram os vídeos produzidos na ocasião de desenvolvimento dos projetos com as crianças. Essa análise aconteceu com base numa sinopse (apêndice 7) escrita e entregue a cada participante, que apontava os pontos mais importantes relacionados ao trabalho com projetos, tais como a importância do trabalho com projetos para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças e o papel

66 Mostrando sua importância para o grupo e compreendendo suas atitudes quando saía constantemente da

sala nos momentos das discussões; seus bocejos irreprimíveis e seus esquecimentos de suas responsabilidades com relação ao cumprimento das ações planejadas coletivamente, por exemplo. Tais atitudes me eram familiares e foram encontradas em muitas outras professoras nas diferentes experiências de formação continuada vivenciadas (algumas relatadas na Introdução desta Tese).

dos envolvidos no desenvolvimento de um projeto (criança e professora). O objetivo era que as professoras identificassem nas próprias ações desenvolvidas, na sua prática de projeto junto às crianças, aspectos comuns apontados na sinopse e relatassem suas impressões e dificuldades em tais circunstâncias.

8.2 A percepção das professoras sobre a experiência com projetos: uma