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4.2 A Educação Infantil na instituição “Espaço do Saber”

4.2.4 A proposta pedagógica da Instituição

Para orientar o trabalho pedagógico com as crianças, não há na instituição uma proposta pedagógica. De acordo com as professoras, como a escola é nova, não tem uma proposta pedagógica, porque ainda não há na escola o projeto político pedagógico, o PPP. Sobre o PPP Rosa, esclareceu: “desde o ano passado [2008] que ele está sendo construído”. Ainda segundo elas, somente as professoras efetivas são convidadas a participar da reunião de elaboração desse Projeto. Referindo-se à participação como

professora efetiva, Catarina disse: “a gente vai porque não pode deixar de ir, mas a gente não fala nada, a gente da Educação Infantil não tem vez”. A escola parece reconhecer a importância da participação de todos na elaboração do Projeto, mas não a concretiza quando não dá espaço para todos.

Sem contar com uma proposta pedagógica para orientar as ações educativas, o trabalho desenvolvido com as crianças é realizado com base em uma grade curricular proposta pela Secretaria Municipal de Educação (SME) para todas as escolas, sem a participação das professoras, que não têm autonomia para escolher o que trabalhar. Sobre isso, a professora Catarina assinala:

Se é a prefeitura que mandou eu não sei, só sei que é igual pra todo mundo. A supervisora e a coordenadora participam de uma reunião na semana pedagógica, no início do ano e apresentam a grade para a gente.

Essa grade curricular, definida pela professora Rosa como grade de conteúdos e de horários, sem estratégias nem objetivos, é entregue no início do ano para que as professoras “passem” (termo utilizado pela própria coordenadora) para seus planejamentos. Composta de conteúdos relacionados às diferentes áreas do conhecimento, dentre as quais a Linguagem, Matemática, Artes e Ciências Sociais e Naturais, a grade curricular também inclui conteúdos de integração social e as datas comemorativas selecionadas como significativas. Todos os conteúdos sugeridos para cada grupo devem ser distribuídos ao longo de todo o ano letivo e incluídos nos planejamentos de cada professora. Apesar da diversidade de áreas propostas, de forma geral, o que foi observado nas salas é que há uma predominância de atividades relacionadas à área da Linguagem. As palavras da professora Catarina do Jardim II confirmam essa prática: “meu negócio é a leitura e a escrita. O resto eu deixo um pouco de lado”.

No calendário da escola, estão previstos dois sábados alternados para planejamento e, de dois em dois meses, um sábado para estudos. Esse sábado para estudar é uma determinação da Secretaria Municipal de Educação (SME) para repor a semana pedagógica do início do ano, que não ocorreu em decorrência de uma greve. Para o encontro, a SME envia um texto, de conteúdo bem geral, que deve ser trabalhado com todos os professores, do Ensino Fundamental e da Educação Infantil. De acordo com a coordenadora responsável por esse momento, é ela que sugere o texto e coordena o estudo. Perguntada sobre a escolha dos textos, a coordenadora disse: “eu tenho muitos textos bacanas, de algumas formações que eu participei. Como tem que servir para toda

a escola, eu escolho um bem geral. Da última vez o texto foi sobre disciplina”. Sobre esse sábado de estudo, as professoras de Educação Infantil disseram que gostam, porque é um encontro com toda a escola, mas acrescentaram que pouco participam. “A gente só escuta nos grupos e bate muito papo.” (Professora Catarina)

As reuniões de planejamento ocorrem duas vezes por mês e são organizadas em dois momentos: um em que todas as professoras da escola se reúnem com a diretora, vice-diretora e coordenadoras para tratar dos assuntos administrativos, e outro, no qual as professoras do mesmo grupo se juntam para planejar as atividades da quinzena. Com relação às professoras de Educação Infantil, as observações e os seus depoimentos evidenciaram que esse planejamento se realiza individualmente, cada professora fazendo o seu. A professora Rosa assinalou que: “o desenvolvimento deveria ser em equipe, para haver a troca de ideias... o que acontece é que a gente copia o que está previsto na grade e cada uma faz do seu jeito”. Para a professora Catarina, “o planejamento é muito falho, é tudo muito solto, falta uma coordenação pedagógica para a Educação Infantil”.

É possível supor que na escola ainda não há o reconhecimento da importância do planejamento para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade, isto é, parece não haver o entendimento de que essa é uma questão central, que deve ser assumida como “um processo de reflexão que envolve todas as ações e situações do educador no cotidiano do seu trabalho pedagógico.” (OSTETTO, 2000, p.177).

A presença maciça das professoras a essas reuniões de planejamento, com todos os aspectos negativos apontados, causou-me estranhamento, explicado após ter conhecimento da exigência da direção no que concerne à assiduidade de todos os professores, com cobrança de assinatura no livro de ponto.

No próximo capítulo, apresentarei as professoras diretamente envolvidas no trabalho e detalharei suas práticas.

5 EM FOCO: AS PROFESSORAS E SUAS TURMAS

“Fui andando... Meus passos não eram para chegar porque não havia chegada Nem desejos de ficar parado no meio do caminho. Fui andando...” (MANOEL DE BARROS) A finalidade deste capítulo é apresentar as professoras que participaram do trabalho, enfocando cada uma com características pessoais, os saberes profissionais e suas experiências educativas desenvolvidas em sala com as crianças, no tempo anterior à intervenção.

Todos os dados decorrem de coletas realizadas mediante observações, entrevistas e questionário. Em complementação às observações realizadas, e para avaliar mais acuradamente a ação das professoras junto às crianças, as interações realizadas nos diferentes momentos da rotina, e, em especial, com relação à sua sensibilidade para ouvir e atender às necessidades das crianças e à sua capacidade de estimular a construção de conhecimentos e desenvolver a crescente autonomia das crianças, foi utilizada a Escala de Empenhamento do Adulto. O objetivo era poder identificar, com outra aplicação da escala no momento em que as professoras desenvolveram projetos com as crianças, alguma possível mudança no estilo de interação das professoras. As gravações em vídeo referentes ao primeiro momento de aplicação da escala foram realizadas com somente duas das três professoras participantes, professoras Rosa e Catarina. A professora Ilma, até esse momento ainda se recusava a desenvolver projeto com as crianças.

É importante esclarecer que as professoras a serem apresentadas nessa quadra da tese são as que permaneceram no grupo até o final de todo o processo. Durante a fase de vivência de um projeto pelas professoras, até o segundo encontro de formação, o grupo funcionava com seis professoras, quatro efetivas e duas substitutas. Ao longo das reuniões iniciais, no entanto, em ocasiões diferentes, três das professoras saíram do grupo: a professora Marta, afastada por motivo de doença; professora Carmem, por ter somente um horário na escola, e professora Sávia, que saiu para gozar licença-prêmio. Ficaram, então, as professoras Catarina, Ilma e Rosa. O grupo, contudo, não sofreu só perdas. A coordenadora Gorete, das séries iniciais do Ensino Fundamental,

provisoriamente destinada para a Educação Infantil, se interessou em participar do grupo, fazendo isto de uma forma não muito sistemática, de acordo com seus horários.