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3.2 Os caminhos trilhados e as escolhas realizadas

3.2.2 Por onde andei e o que encontrei

Depois de todo o tempo empenhado e da frustração em não poder desenvolver o trabalho na instituição com a qual estava envolvida há mais de dois anos, houve a necessidade de rever alguns critérios e tomar decisões metodológicas antes de reiniciar a busca pela instituição: para ser escolhida, a instituição deveria apresentar o mínimo de organização, isto é, contasse com a presença de uma supervisora atuante, preocupada com o planejamento da prática pedagógica, e que se interessasse em participar do trabalho junto às professoras, e, principalmente, tivesse um calendário letivo respeitado, em especial, os sábados letivos e de planejamento. Em razão do fator tempo, outra modificação realizada foi a necessidade de restringir para duas o número de salas escolhidas para serem acompanhadas sistematicamente no momento do trabalho em que as professoras iriam desenvolver projetos com as crianças. A intenção anterior, na instituição em que havia o PARQUE, seria acompanhar três ou quatro das cinco salas envolvidas. Continuavam como critérios o interesse e a vontade da professora em participar, critério mais importante, e a possibilidade de contar com a participação de mais de três professoras, de preferência, como representantes de cada etapa da pré- escola.

Com a participação de técnicas das Secretarias Regionais (SER) I, II, III e VI, com as quais tinha maior relação de afinidade, elaborei uma lista contendo nomes de instituições que poderiam atender aos critérios definidos. De posse dessa lista, realizei visitas a nove instituições: uma na SER I, três na SER II, três na SER III e duas na SER VI. É importante deixar claro que todos os cuidados para assegurar o anonimato das instituições foram tomados.

Das nove instituições visitadas, seis foram excluídas porque não seguiam um calendário proposto pela Secretaria Municipal de Fortaleza (SME), em especial, com relação aos sábados de planejamento e os denominados sábados letivos previstos.

Nessas escolas, os sábados de planejamento, especificamente, foram trocados, após arranjos internos entre as professoras e a supervisora ou diretora, por momentos de planejamento durante a semana, com a dispensa das crianças mais cedo. Para o desenvolvimento da pesquisa, os momentos aos sábados seriam fundamentais, um trunfo diante da determinação da SME de que as crianças não poderiam ser prejudicadas em seus direitos de ir todos os dias à escola, nem que fosse para que as professoras participassem de processos de formação. O fato de a SME programar e distribuir três calendários diferentes para a escolha pelas instituições parece menos uma preocupação com práticas democráticas e mais o reconhecimento de que o cumprimento de um calendário, com os tempos previstos para planejamento e complementação do período letivo, em especial aos sábados: é uma dificuldade apresentada na Rede. Pelo que foi observado nessas andanças, também as responsáveis pelo acompanhamento nas SERs pareciam desconhecer esses arranjos.

Ante tal situação, os esforços para a definição do campo de pesquisa voltaram-se para as duas instituições restantes, que respeitavam o calendário e se adequavam aos critérios propostos, isto é, faziam parte da rede pública municipal; contavam com uma supervisora atuante, e, principalmente, tanto a direção quanto as professoras, manifestaram interesse em participar. Outro fator comum entre as duas instituições era o fato de que ambas eram escolas de Ensino Fundamental, onde funcionavam salas de Educação Infantil. E foi exatamente o número de salas de Educação Infantil que determinou a escolha definitiva, ou seja, a opção deu-se pela escola que possuía oito professoras e dez salas de Educação Infantil 37, distribuídas equitativamente nos dois horários. A escola desconsiderada possuía somente duas salas e duas professoras, e, ainda por cima, passava por uma reforma. Com um universo maior de salas, haveria maior possibilidade de contornar algumas dificuldades que porventura surgissem; dificuldades como mobilidade de professoras, decorrentes de questões relativas à saúde ou a afastamento por licença-prêmio, por exemplo, uma prática que parece ser comum nas escolas municipais.

Todo esse caminho percorrido foi importante porque possibilitou uma reaproximação com a realidade de algumas instituições municipais que atendem a Educação Infantil, em diferentes SERs. O último contato havia ocorrido ainda durante o

37 O número de salas nem sempre corresponde ao quantitativo de professoras, porque existem docentes

com contratos de trabalho diferenciados: professores com um contrato de 120 horas e, por isso, só possuem uma sala por turno, e os professores com um contrato de 240 horas, que possuem duas salas nos dois turnos.

mestrado, em 2003. Com esse reencontro pude captar algumas das diferentes formas de organização da comunidade educativa dessas instituições, bem como ter uma visão cada vez mais clara dos objetivos de pesquisa e do que buscava como campo investigativo, isto em razão da necessidade de explicar para as pessoas o que pretendia fazer na instituição e qual seria a participação de todos. Também pude constatar que muitos dos problemas evidenciados na dissertação, como mobilidade de professores e salas e crianças sem professoras durante o ano letivo, ainda persistiam, demonstrando que a busca por uma Educação Infantil pública de qualidade no Município de Fortaleza ainda é um grande desafio.

3.2.3 Escolher e ser escolhida: a instituição e as professoras, um achado

Na primeira visita realizada à instituição, antecipadamente agendada com a direção, fui encaminhada à sala de professores, onde também trabalham a diretora e a vice-diretora. Fiquei agradável e sinceramente surpresa com a receptividade; com o interesse pelo meu trabalho manifestado pela diretora, vice-diretora e supervisora; com o espaço físico diferenciado da escola e com o clima amistoso entre a direção e as professoras na reunião na sala dos professores. De tudo o que mais me cativou lá foram, porém, a confiança e o destemor das crianças ao buscarem ajuda na sala da diretoria e dos professores e a forma pela qual elas foram escutadas e acolhidas em suas reivindicações. Pensei naquele momento que talvez essas interações ocorressem da mesma forma em toda a instituição, especialmente, nas salas com as professoras. Para quem estava vindo propor um trabalho com base em projetos, essa escuta e a possibilidade de as crianças se manifestarem seriam ações essenciais.

Em conversa particular com a diretora e a supervisora foi apresentado, em linhas gerais, o trabalho: seus objetivos, as ações previstas e a forma de participação das professoras. Sobre a participação das professoras, a supervisora fez questão de apresentar dificuldades com relação ao tempo disponível, principalmente aos sábados de planejamento. Como um sinal de que havia uma organização na instituição, por exemplo, no cumprimento do calendário e das ações previstas, aceitei como positiva a aparente rejeição da supervisora sobre a utilização do sábado de planejamento, porém, argumentei que poderíamos fazer alguns arranjos. A diretora, acreditando nessa possibilidade de estabelecer acordos, entregou-me o calendário letivo da instituição, uma agenda com as salas de Educação Infantil, os nomes das professoras e marcou o dia