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ESPAÇO, TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE ESTADO, ORGANIZAÇÕES E PODER ALGUNS APORTES CONCEITUAIS.

7. Essa mega organização denominada Estado

Para Azambuja (1971), o homem, desde que nasce está inserido em diversas instituições ou sociedades. A primeira delas, em importância, é a Família, que tem por funções básicas alimentar, proteger e educar. Existem outras sociedades, como a Escola, a Igreja, a Empresa etc. O mesmo autor, também afirma que “além dessas, há uma sociedade, mais vasta do que a Família, menos extensa do que as diversas Igrejas e a Humanidade, mas tendo sobre as outras uma proeminência que decorre da obrigatoriedade dos laços com que envolve o indivíduo: é a sociedade política, o Estado” (AZAMBUJA, 1971, p.1). No grupo social familiar, o homem é forçado a entrar pelo nascimento, mas pode libertar-se pela maioridade. Em todos os demais grupos, ingressa voluntariamente, “da tutela do Estado, o homem não se emancipa jamais” (Ibid. p.4), afirma o referido autor. E é este mesmo Estado personificado em verde e amarelo que atua de forma porosa e pontual nesse imenso território brasileiro. A origem desse ator (Estado) foi estudada por vários pesquisadores.

Para Engels, a formação do Estado, na forma mais pura, isto é, sem a intromissão de violências externas ou internas, mas pela necessidade de se criar uma instituição para proteger as novas riquezas individuais (propriedade privada) contra as tradições comunistas gentílicas, aconteceu primeiramente na Grécia.

Raffestin (1993), destaca que o Estado-nação tem suas origens no deslanchar da Revolução Francesa. Já o conceito moderno de nação pouco tem a ver com sua origem clássica, pois, há muito que a nação deixou de ser fatalidade biológica e étnica. Mas a obra de Ratzel deixou suas heranças.

A Geografia Política, fundada por Friedrich Ratzel, teve influências das mais variadas, o que revelou um produto muito amplo e tão naturalista quanto sociológico, o que não o condenaria. O próprio Ratzel reconhece mais tarde ser equivocada a comparação de Estado com um organismo vivo. A idéia-força da sua obra foi o determinismo, cujo ponto inicial parte da existência de uma estreita ligação entre o solo e o Estado. Daí que, para Ratzel, o elemento fundador, formador do Estado foi o encaixamento no solo das comunidades que exploraram as potencialidades territoriais.

Por isso que, sendo o Estado a expressão formal de uma vontade coletiva, emanada de uma população, radicada numa área geográfica e sobre ela projetada, visando à defesa dos interesses comuns, Azambuja (1971) destaca que ele tem como funções: - implementar a lei (organização social da liberdade); - a ordem (equilíbrio social interno resultante da mediação de conflitos entre indivíduos e entre grupos sociais); - a segurança (defesa do conjunto social contra ameaças externas); - a organização espacial (racionalização da ocupação demográfica e econômica do território); e - o desenvolvimento social (promoção do avanço sustentável dos processos combinados de educação, saúde e saneamento, habitação, ciência e tecnologia, infraestrutura e fomento da estrutura produtiva e do trabalho e renda).

Mas, esse mesmo Estado não está sozinho, independente no mundo. Ele segue uma lógica global, um paradigma, que atualmente é denominado globalização; e esta tem aprofundado a interdependência entre os diversos Estados-nação.

E mesmo nessas condições “o Estado não é ausente, nem menor, apenas se omite quanto ao interesse das populações e se torna mais forte, mais ágil, mais presente, ao serviço da economia dominante”, conforme realça Santos (2005, p.66). Daí que, essa mega organização, ainda, detém o monopólio das normas, que facilitam ou dificultam o acesso dos poderosos fatores externos ao território.

O Estado continua forte ao impor por força normativa, sua vontade (Castro 2005). Nem as empresas transnacionais nem as instituições supranacionais detém tal força. É o Estado nacional que regula o mundo financeiro, o território e constrói infra-estrutura, viabilizando, por vezes, o acolhimento das grandes empresas nacionais e/ou internacionais. Daí que, “a cessão da soberania não é algo natural, inelutável, automático, pois depende da forma como o governo de cada país decida fazer sua inserção no mundo da chamada

globalização”, segundo Santos (2005a p.78). Como conseqüência, prossegue o mesmo autor, “o Estado altera suas regras e feições num jogo combinado de influências externas e realidades internas”, isto é, ordena sua realidade espacial de acordo com uma lógica global, atendendo diversos e conflitantes interesses. Daí a importância do planejamento, que será tratado no próximo capítulo.

E assim como o conceito de Estado é mutável ao longo da história, nação, nacionalidade e nacionalismo sofrem seus enquadramentos temporais. Também não é intenção da presente pesquisa incorrer na conceituação dos termos ora apresentados, mas apenas fazer aparecer que entre eles e o Estado ocorrem relações íntimas, quase mesmo indissolúveis.

O aporte conceitual aqui apresentado, modo algum totalizante, demonstra a importância dos conceitos geográficos utilizados na presente pesquisa. O leitor deste resgate deve estar advertido da importância e variedade da bibliografia que, tem sido produzida sobre o assunto, sob os mais variados ângulos para o qual, aquela contida na presente pesquisa deve ser considerada como um modesto ponto de partida.

Quando se pensa em Amazônia, a noção imediata que surge é aquela de uma região “exótica”, “vazio demográfico”, distante, descolada do restante do País. E essas colocações têm suas origens mesmo antes do “descobrimento”. A história da ocupação da Amazônia brasileira não era pra ser escrita pelos portugueses, mas pelos espanhóis, conforme o Tratado de Tordesilhas. No entanto, coube a Portugal realizá-lo.

Desse modo, do processo resultante do que hoje constitui o território brasileiro, faz parte a atuação, primeiramente, do Império Português no rompimento de Tordesilhas; mais tarde com o Estado nacional ao expandir e delimitar suas fronteiras. E como essa formação territorial se reporta há mais de 500 anos, ou seja, mesmo antes da chegada dos colonizadores, faz-se necessário uma análise das dinâmicas territoriais pretéritas.

Primeiro uma territorialidade nativa, marcada pela ausência do colonizador branco europeu. Em seguida, com a chegada do colonizador, ocorre um processo de dissolução desse território, ou seja, uma reterritorialização. São esses dois processos, não excludentes, mas seqüenciais que irão moldar a dinâmica territorial da Amazônia. Em vista disso, nos próximos capítulos analisa-se como foi o processo de incorporação e seus rebatimentos no território amazônico.

C A P Í T U L O II